Vasos de Honra

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O SEXTO MANDAMENTO



“Eu sou o Senhor teu Deus... Não matarás” Ex. 20:2,13.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, pois Ele é o nosso Legislador. “O Sexto Mandamento exige todos os esforços lícitos para conservar a nossa vida e a dos nossos semelhantes” Resposta 68 do Breve Catecismo. No estudo deste e dos demais do Decálogo, é necessário que observemos a 2ª Regra contida na Resposta 99 do Catecismo Maior. “Que a lei é espiritual, e assim se estende tanto ao entendimento, à vontade, às afeições e a todas as outras potências da alma, quanto às palavras, às obras e ao procedimento, Rm.7:14; Mt.22:37-39; 12:36-37.” Cristo reconheceu a abrangência deste princípio quando comentou o Sexto Mandamento, afirmando que as atitudes da alma, tais como ira, insultos, e zombarias, são aspectos da transgressão deste mandamento, e recebem igual castigo, “o inferno de fogo”Mt.5:21-22
           
1. A Exposição do Mandamento.  Parte do fruto do Espírito Santo é o “domínio próprio”. Pelo poder do Espírito de Deus, que habita em todos que crêem em Jesus Cristo, temos forças para controlar nossas reações diante das circunstâncias negativas desta vida. O nosso lema é: “Não por força nem por poder, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” Zc.3:6. Ou, nas palavras do Apóstolo: “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia, mas de poder, de amor e de moderação” 2Tm.1:7. Pergunta 105. “O que Deus exige no Sexto Mandamento?” Resposta. “Eu não devo desonrar, odiar, ofender ou matar meu próximo, por mim mesmo ou através de outros. Isso não posso fazer nem por pensamento, palavras ou gestos e muito menos por atos. Mas devo abandonar todo desejo de vingança, não fazer mal a mim mesmo ou, de propósito, colocar-me em perigo. Por isso as autoridades dispõem das armas para impedir homicídios.”
            Na exposição deste mandamento, o Catecismo de Heidelberg nos aponta para cinco possíveis áreas de transgressão desta lei.
            a) Atitudes negativas de gênio. Quantas vezes se ouve: “Eu não consigo me controlar!” Esta falta de domínio próprio pode ser a característica do “gênio”, porém, não é típica do crente em Cristo Jesus. Este se revestiu do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade, Ef.4:17,24. Atitudes tais como desonrar, odiar e ofender são, muitas vezes, os elementos que precedem o ato mais sério, o de matar, Mt.5:21-22; I Jo.3:15. Não apenas a agressão física é condenada no Sexto Mandamento, mas também o mau gênio que a precede. A pessoa que manda matar alguém é réu do próprio crime, 2 Sm.12:9.
            b) Atitudes de agressão mental, verbal e física não podem ser escondidas dos olhos penetrantes do Deus que sonda e conhece o que se passa no coração do homem, Sl.44:21; Pv.4:23; Mc.7:21.
            c) Atitudes de vingança, tomando a lei em suas próprias mãos, pagando o mal com o mal. Este pecado é condenado em ambos os Testamentos. Vingança é um atributo que pertence exclusivamente à jurisdição divina. “A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor” Lv.19:18; Rm.12:19. Este pecado é especialmente afrontoso, porque despreza as autoridades que foram instituídas por Deus para executar a vingança, Rm.13:4.
            d) Atitudes de desrespeito à própria vida. Há muitas maneiras para desrespeitar a própria vida: glutonaria, bebedeira, alimentos que prejudicam a saúde, narcóticos; e, devemos mencionar os chamados “esportes radicais”, que estão se tornando tão populares em nossos dias. A vida é dom de Deus e deve ser valorizada e preservada para a glória de Deus, 1Co. 6:19-20. O suicídio é também a transgressão do Sexto Mandamento, Gl.5:19-21; Tm.1:8-11. Os nossos Catecismos dão uma lista dos pecados proibidos por este mandamento. Veja a Resposta 136 do Catecismo Maior.
            e) É interessante como o Catecismo de Heidelberg faz repetidas referências às autoridades como os ministros de Deus. “Por isso as autoridades dispõem das armas para impedir homicídios” Gn.9:6; Ex.21:14; Rm.13:4.
           
2. A Expressão do Mandamento. Temos de reconhecer as multiformes expressões do homicídio. Tudo começa no coração, através de atitudes repreensíveis. “Cada um é tentado pela sua própria cobiça, quando esta o atrai e seduz. Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado, e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” Tg.1:14-15. Pergunta 106. “Esse Mandamento trata somente de matar?” Resposta. “Não, proibindo o homicídio, Deus nos ensina que Ele detesta a raiz do homicídio, a saber: a inveja, o ódio, a ira, e o desejo de vingança. Ele considera tudo isso homicídio”. O Catecismo fala da “raiz do homicídio”, porque o ato da agressão é a realização de algo que já existia no coração. Portanto, estes são os elementos que têm de ser eliminados a fim de evitar o derramamento de sangue.
            a) O problema da inveja. O que é inveja? O Dicionário Aurélio define: “Desgosto ou pesar pelo bem ou pela felicidade de outrem. Desejo violento de possuir o bem alheio”. Este “sentimento” sempre produz uma atividade negativa. Alguns dos crimes mais atrozes começaram com uma simples inveja. Veja algumas colocações bíblicas: “O ânimo sereno é a vida do corpo, mas a inveja é a podridão dos ossos” Pv.14:13. “Cruel é o furor, e impetuosa, a ira, mas quem pode resistir à inveja?” Pv.27:4. “Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras. Se, pelo contrário, tendes em vosso coração inveja amargurada e sentimento faccioso, nem vos glorieis disso, nem mintais contra a verdade” Tg.3:13-14. Inveja é extremamente prejudicial, I Tm.6:3-5. Por que os patriarcas venderam seu irmão? Por causa da inveja, At.7:9. Porque Jesus foi entregue a Pilatos? Por causa da inveja, Mt.27:18. Porque os judeus blasfemavam e contradiziam o que Paulo falava? Por causa da inveja, At.13:45. Cristo nos deu um bom princípio para seguir: “Limpa primeiro o interior do corpo (coração), para que também o seu exterior fique limpo” Mt.23:26.
            b) O problema do ódio. “Paixão que impele a causar ou desejar mal a alguém. Aversão a pessoa, desprezo, repulsão” Dicionário Aurélio. A Bíblia é enfática quando revela a verdadeira natureza do ódio: “Todo aquele que odeia a seu irmão é assassino; ora, vós sabeis que todo assassino não tem a vida eterna permanente em si” I Jo.3:15. Ódio é uma das manifestações mais marcantes da nossa natureza deformada pelo pecado. “Pois nós também, outrora, éramos néscios, desobedientes, desgarrados, escravos de toda sorte de paixões e prazeres, vivendo em malícia e inveja, odiosos e odiando-nos uns aos outros” Tt.3:3. Somos agradecidos, porque dentro desta deploração, Deus manifestou a sua benignidade, Tt.3:4-7.
            c) O problema da ira. Ira, em sua primeira manifestação, não é necessariamente um sentimento pecaminoso. Somos emotivos, reagimos diante dos acontecimentos desta vida. Uma benção recebida da mão de Deus é motivo de grande alegria e ações de graça; porém, quando recebemos ou testemunhamos uma injustiça, sentimos uma ira nascendo no coração, uma santa repulsa do ato. Se não tivéssemos esta reação, como poderíamos dizer que tememos a Deus e rejeitamos o pecado? O problema não está na reação contra as injustiças; é a ira descontrolada que causa a transgressão do Sexto Mandamento. Por isso, a advertência bíblica: “Irai-vos e não pequeis; não se ponha o sol sobre a vossa ira, nem deis lugar ao diabo” Ef. 4:26-27. Uma ira prolongada pode se degenerar em pecado culposo. Quando nos sentimos movidos pelas injustiças, a reação certa é: lançar sobre Deus toda a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de nós, 1 Pe.5:7.
            d) O problema da vingança. Basta lembrar que a vingança pertence exclusivamente a Deus, Rm.12:19. O ato de nos vingarmos a nós mesmos nos faz culpados do Sexto Mandamento. Deus considera tudo isso homicídio.
           
3. A Expedição do Mandamento.  É importante observar a 4ª Regra contida na Resposta 99 do Catecismo Maior: “Onde um dever é ordenado, o pecado contrário é proibido; e onde o pecado é proibido, o dever contrário é ordenado; assim, onde uma promessa está anexa, a ameaça está inclusa; e onde a ameaça está anexa, a promessa contrária está inclusa.” Neste espírito, o Catecismo de Heidelberg orienta: Pergunta 107.  “Mas é suficiente não matar o nosso próximo?” Resposta.  “Não, porque Deus condena a inveja, o ódio, e a ira, manda que amemos nosso próximo como a nós mesmos e mostremos paciência, paz, mansidão, misericórdia e gentileza para com ele. Devemos evitar seu prejuízo, tanto quanto possível e fazer bem até aos nossos inimigos.” Eis a nossa expedição, somos enviados para que os homens vejam as nossas boas obras e glorifiquem a nosso Pai que está nos céus, Mt.5:16. Não é suficiente uma mera limpeza, só deixando de revelar atitudes negativas; a nossa vida tem de ser remobiliada com novas atitudes, Lc.11:24-26.
            A Bíblia nos apresenta vários contrastes, a fim de inculcar certos princípios inegociáveis. É Cristo em nós que faz a diferença: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” 2 Co. 5:17. O homem natural, em seu estado adâmico, sem Deus e sem esperança, vive projetando a sua inveja, ódio e ira contra todos; porém, aquele que se revestiu de Cristo, já se despojou do velho homem, que se corrompe segundo as concupiscências do engano; e se revestiu do novo homem, criado segundo Deus, em justiça e retidão procedentes da verdade, Cl.4:22-24. O fruto do Espírito é contrastado com as obras da carne. Portanto, “os que são de Cristo Jesus crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências. Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.” Gl.5:16-25. Uma parte do cumprimento do Sexto Mandamento consiste em atos positivos; além de não prejudicar a vida do nosso próximo, fazemos o tanto quanto possível para o seu bem, inclusive até aos nossos inimigos, Mt.5:43-48; Rm.12:17-21.         

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