“Eu sou o Senhor teu Deus... Lembra-te do dia de sábado, para santificar. Seis dias trabalharás e farás toda a tua obra. Mas o sétimo dia é o sábado do Senhor, teu Deus; não farás nenhum trabalho, nem tu, nem o teu filho, nem a tua filha, nem o teu servo, nem a tua serva, nem o teu animal, nem o forasteiro das tuas portas para dentro; porque em seis dias, fez o Senhor os céus e a terra, o mar e tudo que neles há e, ao sétimo dia, descansou; por isso, o Senhor abençoou o dia de sábado e o santificou” Ex.20:2, 8-11.
O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, pois Ele é o nosso Legislador. “O Quarto Mandamento exige que consagremos a Deus os tempos determinados em sua Palavra , particularmente um dia inteiro em cada sete dias, para ser um dia de santo descanso a Ele dedicado” Resposta 58 do Breve Catecismo. O Quarto Mandamento não se refere apenas à liturgia religiosa, sem maiores implicações; antes, o seu propósito é moral, o homem precisa deste dia para que chegue à devida varonilidade moral e espiritual, pois, sem esta, ele permanece na imaturidade, agitado por todo vento de doutrinas destruidoras, Ef. 4:27-18. Por isso, Cristo disse: “O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do homem é o Senhor também do sábado” Mc.2:27-28. Não é o sábado que é carente e sim, o homem. Esta necessidade existia antes do pecado, pois, mesmo na inocência do Jardim do Édem, o homem precisava deste alento restaurador; e o Senhor, em sua providência sábia, deu-lhe um dia em cada sete, para descansar.
1. A Consagração Pública do Dia. É importante que entendamos o uso do termo: “O Senhor descansou”. Isto é, cessou de fazer as obras da criação, (chamando à existência as coisas que não existiam) contudo, não entrou num estado de inatividade; antes, logo começou com as suas atividades de providência, manutenção e governo da criação. Em relação ao sábado, Cristo informou: “Meu Pai trabalha até agora (nunca parou), e eu trabalho também” Jo.5:17. Semelhantemente, o homem trabalha durante seis dias, realizando todos os seus interesses seculares, mas no dia de descanso, ele não faz mais este tipo de atividade; o sétimo dia é dedicado ao serviço do Senhor. Não é um dia de inatividade, ao contrário, o tempo todo é tomado de exercícios espirituais. No Antigo Testamento, estas atividades foram relacionadas ao ministério espiritual do Templo. “Na verdade, amas ao povo; todos os teus santos estão na tua mão; eles se colocam a teus pés e aprendem as tuas palavras” Dt.33:3. E, de forma semelhante, as atividades do povo de Deus no dia do Senhor, o nosso Domingo, são relacionadas ao ministério da Igreja. “No primeiro dia da semana, estando nós reunidos com o fim de partir o pão... Paulo exortava-os” At.20:7; I Co.16:2. Devemos lembrar de uma frase inseparavelmente ligada ao dia do Senhor: “Para o santificar.” Santificar tem um duplo sentido: separar dos demais, colocar à parte, ficando, assim, totalmente distinto e singular. Mas essa separação é para um fim, é separado e consagrado ao Senhor, Ex.31:15. Por isso, o Catecismo de Heidelberg orienta: Pergunta 103. “O que Deus ordena no Quarto Mandamento?” Resposta. Primeiro: o ministério do Evangelho e as escolas cristãs devem ser mantidas (uma referência às atividades dominicais das Igrejas locais: os cultos em horários anunciados, classe de catecúmenos e serviços diretamente ligados à nossa obediência, próprios para o dia do Senhor), e eu devo reunir-me fielmente com o povo de Deus, especialmente no dia de descanso, para conhecer a Palavra de Deus, para participar dos sacramentos, para invocar publicamente ao Senhor Deus e para praticar caridade cristã para com os necessitados.” Observemos os motivos de nos reunirmos com o povo de Deus: a nossa edificação espiritual é de suma importância para que tenhamos forças para perseverar na vida cristã. E a prática da caridade cristã para com os necessitados, tal como visitas de apoio fraternal, é igualmente importante como parte do nosso testemunho. Alguns reclamam dizendo que o dia do Senhor é “cansativo”, “não tenho o que fazer”. Ora, os dias da semana, normalmente, são cheios e repletos de realizações. Por quê? Porque são programados, sabemos o que temos de fazer durante o decorrer do dia. Da mesma forma, devemos planejar as nossas atividades para o Domingo e para a glória do Senhor. Assim, o dia não será “cansativo” e, como recompensa, seremos grandemente abençoados. Convém lembrar: o sábado (dia do Senhor) foi instituído para o bem total do homem; ele precisa das providências especiais deste repouso e, de uma maneira concentrada, deve se submeter ao senhorio que Jesus Cristo tem sobre o seu dia. A pessoa que faz pouco caso das normas cultuais do Domingo, faz pouco caso do Senhor deste dia. E as conseqüências deste desprezo são demasiadamente terríveis para tentar qualquer desobediência. Israel foi arruinado e desterrado por causa da transgressão do Quarto Mandamento, Ne.13:17-18.
a) Uma atitude de arrependimento. Todos os dias da nossa vida devemos conscientemente “desistir das más obras”. Devemos vigiar e orar para não cair em tentação. É tão fácil praticar certas negligências que, na verdade, são formas de desobediência. Ora, “o pecado é a transgressão da lei” I Jo. 3:4. Mas, no dia do Senhor, estamos especialmente expostos à prática destas “obras más”, tais como: cuidar dos nossos próprios interesses; desonrar o dia seguindo os nossos próprios caminhos; fazer a nossa própria vontade; e, falar palavras vãs, assuntos que não têm nenhuma referência aos interesses de Deus. Arrependimento significa não apenas tristeza pelo pecado, mas, também, o abandono definitivo do mesmo, Is.58:13.
b) Uma dependência do ministério do Espírito Santo. “Pois todos os que são guiados pelo Espírito de Deus são filhos de Deus” Rm.8:14. O Espírito Santo tem uma única maneira para nos guiar. Ele toma as Escrituras e aplica os seus ensinos às nossas necessidades diárias. Por isso a importância da leitura assídua da Palavra de Deus, At.28:5; I Co.2:10-14.
c) Uma preparação para a vida vindoura. O dia do Senhor é um descanso, um refrigério para podermos continuar firmes e inabaláveis na fé. Através deste dia, podemos experimentar as primícias da vida vindoura, o descanso eterno, Hb.4:9-10. Quando este dia é devidamente observado, será um tempo santo e deleitoso, e qual o resultado? Deus prometeu: “Eu te farei cavalgar sobre os altos da terra e te sustentarei com a herança de Jacó, teu pai, porque a boca do Senhor o disse” Is.58:14. Deus tem uma benção especial reservada àqueles que reconhecem a santidade deste dia.
3. A Consagração Perpétua do Dia. O sétimo dia tem seu aspecto temporal, porque é a experiência do povo aqui na terra; contudo, seu sentido maior é espiritual e se estende pela eternidade, Ex.31:16; Hb.4:9. Devemos estudar para entender o que Deus está dizendo através da observância desta lei. Certamente é muito mais do que um mero descanso semanal. O mandato da criação é: “Seis dias se trabalhará, porém o sétimo dia é o sábado do repouso solene, santo ao Senhor” Ex.31:15. Observemos a seqüência: seis dias de trabalho e um de “repouso solene”. Este é um dia separado dos demais, pois pertence exclusivamente aos interesses do Senhor; é Ele que o administra, preparando o seu povo para o descanso eterno. Esta vida é “de trabalhos e fadigas”, por isso, somos alimentados com a esperança de algo melhor, “um repouso para o povo de Deus” Gn.5:29; Hb.4:1-11. “O sábado é um símbolo da soberania de Deus sobre todo o universo criado (Ex.20:8). Recorda a redenção que Deus propicia a seu povo (Dt.5:12) e é uma representação da esperança de descanso eterno, na consumação (Hb.4:9). Jesus como Senhor do sábado cumpre todos os aspectos do significado (Cl.2:16-17).” Bíblia de Genebra, nota sobre Mt.12:2.
Por que, no Novo Testamento, o primeiro dia da semana é observado para prestar culto a Deus, em vez do sábado, como no Antigo Testamento? Os dois Testamentos descrevem duas formas diferentes de administrar os propósitos redentores de Deus entre a humanidade. O Antigo é prospectivo, preparando o povo para o prometido Salvador. Este preparo envolvia a vida total, social e religiosa. O Novo Testamento é retrospectivo, ensinando o povo a contemplar o cumprimento das promessas salvadoras através da morte vicária e da ressurreição vencedora de Jesus Cristo.
A mudança administrativa do Antigo para o Novo Testamento é implícita, e não explícita. O próprio Deus, em seu governo soberano, efetuou as mudanças necessárias. Todo o sistema levítico foi abolido com a destruição do Templo em Jerusalém, o centro do culto vétero-testamentário. O sábado, como um dia de calendário, juntamente com seus rituais, também desapareceu. Mas, o Quarto Mandamento, o dia de descanso semanal, continua, consagrando o Domingo para prestar culto a Deus, porque todas as aparições do Cristo ressurreto aconteceram exclusivamente no primeiro dia da semana, Jo.20:1,26; At.20:7; I Co.16:2. Este dia foi consagrado “Dia do Senhor”em virtude da ressurreição de Cristo e da sua vitória sobre o pecado e a Morte, Ap.1:10. A transição tem essa explanação bíblica: “Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança, por causa da sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nunca aperfeiçoou coisa alguma), e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a Deus” Hb. 7:18-19. “Remove o primeiro para estabelecer o segundo” Hb. 10:9.
Nenhum comentário:
Postar um comentário