Vasos de Honra

segunda-feira, 26 de dezembro de 2016

AS OBRIGAÇÕES DO AMOR


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Romanos 13:8-10

Introdução: É fácil discernir a transição dos versículos 1 a 7 para 8 a 10. O V.7 fala sobre a nossa dívida diante das autoridades civis, e o V. 8 fala sobre a nossa dívida diante do nosso próximo. Se amamos a Deus, amaremos as suas instituições, cumprindo os nossos deveres perante elas. E, semelhantemente, se amamos a Deus, amaremos o nosso próximo, cumprindo os nossos deveres perante ele. A Bíblia diz: “Ora, temos, da parte de Deus, este mandamento: que aquele que ama a Deus ame também a seu irmão em Cristo” (1Jo. 4:21). É o amor ao irmão que define o nosso amor a Deus. “Aquele que ama seu irmão permanece na luz, e nele não há nenhum tropeço. Aquele, porém, que odeia a seu irmão está em trevas, e não sabe por onde vai, porque as trevas lhe cegam os olhos” (1Jo. 2:10-11). Em Romanos 12:9-21, aprendemos como amar o nosso próximo; e em capítulo 13:8-10, somos ensinados quais são as obrigações do amor.

1) A Persistência do Amor, V8. Temos que persistir na prática do amor. O Ap. Pedro perguntou: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu lhe perdoe?  Até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete” (Mt. 18:21-22). O texto está ensinando que, se amarmos uns aos outros, teremos o poder para perdoar todas as ofensas contra nós, sem qualquer limitação. “O amor é paciente e benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses, não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas  regozija-se com a verdade, tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba” (1Co. 13:4-8).  Essa é a natureza do amor que devemos ao nosso próximo.

O nosso texto diz: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que vos ameis uns aos outros;  pois quem ama o próximo tem cumprido a lei”. Esse versículo ensina pelo menos duas verdades, uma negativa e uma positiva.

a)      A verdade negativa. “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor”. A única dívida permitida é o amor que devemos a todos. Pagamos essa dívida amando o nosso próximo com um amor persistente, que nunca desiste. As demais dívidas são proibidas. Está implícita nessa palavra uma advertência quanto à nossa vida financeira. Não devemos acumular dívidas perante as autoridades. A ordem é: “Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto, imposto”. Devemos  perguntar: Por que pessoas têm dívidas? Uma das razões é que há um desejo de possuir mais e mais, por isso  vivem além de suas entradas, e isso é pecado.  Outra coisa é a intensa propaganda para comprar com pagamentos fáceis durante tantos meses; ou,  tomar um empréstimo a fim de adquirir mais rapidamente aquele sonho do coração. Tudo parece tão fácil! Mas, e o pagamento das mensalidades? E se acontecer uma doença,  exigindo despesas  inesperadas? Tomar outro empréstimo? Temos que  saber como cuidar de nossas finanças. É tão fácil perder o nosso testemunho cristão por causa de dívidas não pagas na hora certa. Cuidar das nossas finanças é uma maneira importante para glorificar o nome de nosso Deus. Temos que resistir as tentações do consumo e do pecado da cobiça.
b)      A verdade positiva. Não tendo preocupações com dívidas, seremos livres para amar o  nosso próximo sem restrições, assim como “ Cristo nos  amou e se entregou a si mesmo por nós” (Ef. 5:2). Dessa maneira, o amor é o cumprimento da lei.

2. A Persuasão do amor, V9. Somos persuadidos pelo  amor a obedecer aos mandamentos que Deus nos deu no Decálogo. Jesus recebeu esta pergunta: “Mestre, qual é o grande mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. O segundo, semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt. 22:36-40). Todas as leis morais são resumidas magistralmente nessa resposta. O Apóstolo cita apenas quatro dessas leis a fim de demonstrar a persuasão do amor. Em Mateus 5, Cristo descreveu a abrangência da lei. Ela alcança não apenas o ato  físico, mas, também, os desejos íntimos do coração. “Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção impura, no coração, já adulterou com ela” (Mt. 5:28). Vamos examinar as quatro leis citadas pelo Apóstolo.

a)      “Não adulterarás”. Cremos que Satanás foi “homicida desde o princípio e jamais se firmou na verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo. 8:44). Ele emprega a sua depravação moral para incitar a humanidade, já prejudicada por uma natureza corrompida, para praticar todo tipo de perversão sexual, sabendo que, desta maneira, ela será destruída física e espiritualmente. Nesse contexto, o Apóstolo exorta “que cada um de vós saiba possuir o próprio corpo (o membro sexual) em santificação e honra” (1Ts. 4:3-6). O Breve Catecismo da nossa Igreja, por meio de perguntas e respostas, nos dá uma exposição: “Que exige o sétimo mandamento? O sétimo mandamento exige  a preservação da nossa própria castidade (pureza sexual), e da de nosso próximo, no coração, nas palavras e nos costumes. Que proíbe o sétimo mandamento? O sétimo mandamento proíbe todos os pensamentos, palavras e ações impuras”.
b)      “Não matarás”. Notemos que Cristo não fala nada do ato físico em sua exposição (Mt. 5:21-26), antes, Ele destaca o problema das atitudes erradas diante do próximo: “Eu, porém, vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra o seu irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: tolo (imprestável), estará sujeito ao inferno de fogo” (Mt.5:22). Notemos como o perigo desse pecado se intensifica: julgamento, julgamento do tribunal e inferno de fogo. É impossível servir a Deus se tivermos qualquer desgosto em nosso coração contra o nosso irmão, (Mt. 5:23-26). Para obedecer ao sexto mandamento, o Breve Catecismo destaca a importância de “preservar a nossa própria vida e a de nossos semelhantes”. E proíbe o atentado contra a nossa própria vida ou a do nosso próximo. O Catecismo ainda acrescenta a proibição do uso “imoderado de comida, bebidas, trabalho e recreios; as palavras provocadoras... e tudo o que tende à destruição da vida de alguém”.
c)      “Não furtarás”. O Apóstolo escreveu: “Aquele que furtava não furte mais; antes, trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que acudir ao necessitado” (Ef. 4:28). E, em outro lugar, acrescenta: “Se alguém não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3:10). O trabalho honesto impede a prática de muitos pecados. “Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas, e o ser estimado é melhor do que a prata e o ouro” (Pv. 22:1).
d)     “Não cobiçarás”. Esse é o único mandamento que se refere diretamente à nossa vida interior, às disposições do nosso coração; todos os demais se referem a atos físicos: “Não matarás”. Novamente, deixamos o Breve Catecismo falar: “O décimo mandamento proíbe todo descontentamento com a nossa própria condição, toda inveja ou pesar à vista da prosperidade de nosso próximo”. A cobiça, ambição de possuir o que é de outro, é a causa de tantos crimes arrepiantes. O Ap. Paulo podia confessar: “Quanto à justiça que há na lei, irrepreensível” (Fp. 3:6). Ele não era um homem culpado de pecados abertos, antes, era homem moralmente correto. Contudo, quando o Espírito Santo começou agir em sua vida, ele confessou: “Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás” (Rm. 7:7). O Espírito Santo usou o décimo mandamento para convencê-lo da corrupção da sua vida anterior, das suas ambições carnais, em vez de buscar e praticar a vontade de Deus. “Os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra e fica infrutífera” (Mt. 13:22). Há muitas pessoas em nossos dias que têm uma vida moralmente aceitável, porém, serão condenadas por Deus por causa da transgressão do décimo mandamento, por ambições mundanas. O Apóstolo termina essa parte com uma frase retórica: “E, se há qualquer outro mandamento...”. Ele não está questionando a existência de outros mandamentos; está dizendo que esses quatros são suficientes para demonstrar as obrigações do amor, como Cristo disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo. 14:15). Obediência é o fruto primário do amor.

3. A Permanência do Amor, V.10. “Todas as coisas deste mundo hão de passar, porém, o amor jamais acaba” (1Co.13:8). Descrevendo a natureza do amor, o texto afirma: “O amor não pratica o mal contra o próximo”. Voltando para os quatro mandamentos citados, podemos  explicar: “Não adulterarás”. No casamento, o adultério é um mal contra o cônjuge; é uma falta de  fidelidade e amor. Adultério, no sentido mais abrangente e bíblico, é o abuso do propósito original para o sexo; é uma falta de amor a Deus, porque está zombando do que Ele determinou. Se amamos a Deus, seremos constrangidos a não praticar tais desvios. A ordem é esta: “Fugi da impureza (sexual). Qualquer  outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que pratica a imoralidade (perversões sexuais) peca contra o próprio corpo” (1Co. 6:18). E convém lembrar: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl. 6:7). E, também: “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb. 10:31).

O mesmo princípio vale para todos os mandamentos. O amor não faz mal ao próximo, por isso, não matamos, não fazemos nenhuma coisa que possa injuriar o nosso próximo, e nem o que possa prejudicar o seu nome. Respeitamos a sua vida, pois ele também foi criado por Deus. O amor não faz mal ao próximo, por isso, não tentamos roubá-lo. Respeitamos os seus bens, porque reconhecemos que eles pertencem exclusivamente a ele. O amor não faz mal ao próximo, por isso, não cobiçamos o que pertence a ele. O segredo é contentamento com aquilo que Deus tem nos dado, sem ter olhos cobiçosos nos bens de outrem. “De fato, grande fonte de lucro é a piedade com contentamento. Porque nada temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele.  Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1Tm. 6:6-8). O descontentamento com o que Deus tem nos confiado pode levar o ambicioso a ser condenado por causas da transgressão do décimo mandamento.

Se o amor não pode fazer o mal contra o próximo, como podemos perdoá-lo se ele tem nos prejudicado em alguma coisa séria? Se nós somos cristãos de verdade, o amor virá em nosso auxílio, porque somos ensinados: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” (1Pe. 4:8). Por que Deus consegue perdoar os nossos pecados? Porque eles são cobertos pelas perfeições de seu Filho amado,  Jesus Cristo. “Ele é a propiciação (cobertor) pelos nossos pecados” (1Jo. 2:2). O amor de Deus para conosco soube como cobrir o nosso pecado. Ele nos deu o seu próprio Filho, para que nele tenhamos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, (Ef. 1:7). “Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós”(Cl. 3:13). Que possamos deixar o amor alcançar o  seu pleno potencial em nossa vida e ações.


Conclusão: O resumo dos nossos deveres espirituais é: “Amarás  o teu próximo como a ti mesmo, o amor não pratica o mal contra o próximo;  de sorte que o cumprimento da lei é o amor”. E, para nos encorajar: “Porque  este é o amor de Deus: que guardemos os seus mandamentos; ora, os seus  mandamentos não são penosos; porque o que é  nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo. 5:3-4).