Vasos de Honra

segunda-feira, 25 de julho de 2011

A filha de Jairo



Esta leitura é o registro da ressurreição de uma menina com apenas doze anos. Não sabemos o nome dela, mas, para ajudar na compreensão deste milagre, nós a chamaremos de Talita, porque quando Jesus a viu, ele lhe deu uma ordem: “Talita cumi, que quer dizer: Menina, eu te mando, levanta-te,” E, apesar de estar morta, ela ouviu e obedeceu a ordem de Jesus “e pôs-se a andar.” Talita era filha única e muito querida pelos pais. Embora tivesse doze anos, e não fosse tão pequena assim, os pais gostava de chamá-la: “Minha filhinha” um nome que expressava a intensidade de seu amor para com ela.  Talita conquistara o amor de muitas pessoas por causa do seu jeito alegre. Mas, de repente, ela adoeceu e rapidamente piorou, até beirar a morte. Todos ficaram consternados. A doença é uma inimiga implacável, invade a família de todos, ninguém escapa, nem uma filha única, que é muito valorizada e amada pelos pais devotos. Mas, até nisso Talita era uma menina privilegiada, porque nasceu num lar cujos pais temiam a Deus.

No caso de doença, o clamor é sempre: “De onde me virá o socorro?” O pai de Talita sabia como responder, e,  externando a sua fé, disse: “O meu socorro vem do Senhor, que fez o céu e a terra” Sl. 121:1-2. E, com esta esperança, ele se levantou  para expor a  dor de seu coração aos pés de Jesus, que estava ministrando a Palavra de Deus  naquele mesmo local. Ao chegar à presença de Jesus, ele “prostrou-se a seus pés e insistentemente lhe suplicou: Minha filhinha está à morte, vem, impõe as mãos sobre ela, para que seja salva, e viverá.” Jairo tinha muita fé no poder e na compaixão de Jesus. Ele sabia que receberia boa resposta daquele que se compadece das tristezas de seu povo. Mas, a multidão que seguia a Jesus impediu uma chegada mais rápida. A doença fez seu trabalho funesto e Talita morreu. Agora, vamos ver o desenrolar da história:

1. Uma Palavra de Encorajamento, Vs. 35 36 . Jairo recebeu a notícia que temia. Alguém da sua casa chegou e sem qualquer pretexto de consideração, abruptamente lhe disse: “Tua filha já morreu.” Antes de sair da sua casa, Jairo testemunhara da sua fé no poder e compaixão de Jesus. Todos ouviram, porém, sem a mesma confiança. Quando o homem comunicou a notícia da morte de Talita, ele revelou a sua incredulidade, dizendo: “Por que ainda incomodas o Mestre?” É como se estivesse falando: O caso de Talita não tem mais jeito, a morte é o ponto final, ninguém tem  poder sobre a morte; nem o seu Mestre pode desfazer a morte. A incredulidade zomba daqueles que tem fé em Jesus Cristo, porém, o incrédulo sofre de um desespero que é pior do que a própria morte. Neste contexto de tentação, é importante observar a reação de Jesus e como Ele encorajou Jairo a perseverar em sua fé. Cristo não decepciona ninguém.

Em primeiro lugar, Jesus não se incomodou com tais palavras de incredulidade. Ele não deu ouvidos para aquela noticia desorientadora, pelo contrário, bloqueou o impacto dela, dizendo a Jairo: “Não temas, crê somente”. É como se estivesse falando: Não deixe as palavras de incredulidade sacudirem a sua confiança em meu poder. Você chegou a mim cheio de esperança; e eu não vou te desapontar. Basta continuar a crer, porque na vida espiritual, “andamos por fé e não pelo que vemos (ou ouvimos)” 2 Co. 5:7. Assim, Jesus e o pai de Talita caminharam para a casa onde a menina jazia.

“Não temas, crê somente”, e  palavras semelhantes de encorajamento têm sido o alimento espiritual para muitos daqueles que  têm que andar “ pelo vale da sombra da morte,” porque a promessa fortalecedora  é está: “O Senhor está comigo”, Sl. 23: 4.   O apóstolo Paulo  testemunhou do fruto da sua fé quando estava sendo julgado em Roma. Ninguém foi a seu favor, antes, todos o abandonaram. “Mas, o Senhor me assistiu e me revestiu de forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e todos os gentios a ouvissem.” E qual foi o resultado desta fé? “Fui libertado da boca do leão” ( o destino dos condenados em Roma) 2 Tm. 4:17. “E esta é a vitória que vence o mundo, a vossa fé” 1 Jo. 5:4.

2. Uma Palavra de Ensinamento, Vs. 37-40a. Nestes versículos, Cristo demonstra a veracidade de seu ensinamento sobre o seu poder para ressuscitar os mortos. Ao chegar na casa de Jairo, encontrou-a em alvoroço, choro e lástima, uma cena de desespero. Mas, quando Jesus lhes perguntou: “Por que estais em alvoroço e chorais? A criança não está morta.” Aqueles lamentadores logo revelaram a sua incredulidade a respeito de  seu poder, e riram-se dele. Notemos a hipocrisia que reina nesta cena agitada. Do choro lastimoso, eles logo passaram a rir e a zombar de Senhor. Mas, por causa desta falta de crédito na palavra de Jesus, eles tinham que sair da casa e não puderam testemunhar a ressurreição da menina. A incredulidade faz a pessoa perder as bênçãos que Deus derrama sobre aqueles que crêem.

O ensinamento de Jesus sobre a ressurreição é ainda mais especifico no Evangelho segundo João. Quando Ele disse a Marta: “Teu irmão há de ressurgir” e a reação foi espontânea “Eu sei, replicou Marta, que ele há de ressurgir na ressurreição do último dia”.Evidentemente, é mais fácil acreditar num evento futuro do que num milagre imediato. A esta resposta, Jesus deu o ensinamento mais esclarecedor sobre a ressurreição, dizendo: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crer em mim, ainda que morra viverá; e todo o que vive e crer em mim não morrerá eternamente” Jo. 11:23-26. Cristo tem poder para ressuscitar os mortos, uma verdade demonstrada pela ressurreição de Talita, e a de Lázaro foi mais uma prova do seu poder sobre a morte. Estes acontecimentos foram registrados “para que creiais que Jesus é o Cristo ( o prometido Salvador), o Filho de Deus , e para que crendo, tenhais a vida em seu nome” Jo. 20:31. “Não vos maravilheis disto, porque vem a hora em que todos os que se acham nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão”. E, para  qual fim? A fim de que cada um receba  segundo o seu procedimento, Jo. 5:28-29.

3. Uma Palavra de Envolvimento, vs 40b-42. Devemos lembrar que Jesus sempre tinha um envolvimento compassivo com aqueles que sofriam das desventuras desta vida. Por esta razão, Ele podia estender a sua mão para um leproso e purificá-lo, Mt. 8:1-4. Por causa deste envolvimento com a humanidade, Jesus tomou sobre si o pecado de seu povo e o expiou, dando-lhe, assim, o perdão e a esperança de vida eterna. E, por esta mesma razão, vemos Jesus caminhando para a casa de Jairo, onde a sua filha jazia morta. Ele se envolveu com a família enlutada.

Ao chegar na casa de Jairo, Jesus logo expulsou aqueles lamentadores incrédulos. A incredulidade não tem lugar onde o filho de Deus está presente. Em seguida, Jesus, juntamente com os pais de Talita, mais os três discípulos, entraram no lugar onde a menina jazia. Sem qualquer explicação, Jesus aproximou-se da menina, tomou a sua mão, e usando  uma linguagem coloquial  e conhecida, disse-lhe: “Talita  cumi, que quer dizer: menina, eu te mando, levanta-te!”  Certamente a mãe já tinha dito isso antes, chamando a filha para se levantar para começar as tarefas do dia.  Mas, quando Jesus usou estas palavras, a situação era bem diferente. Talita estava morta e o seu espírito já havia partido de seu corpo. Contudo, quando Jesus lhe deu a ordem para se levantar, duas coisas aconteceram: “Voltou-lhe o espírito, e ela imediatamente levantou.” Lc. 8:54-55.

Qual foi a reação de seus pais? Eles ficaram sobremaneira maravilhados. Mais uma vez, Jesus demonstrou que a morte não tem mais poder diante de sua voz. Por causa disso, a Igreja cristã confessa: “Creio na ressurreição do corpo”.Em seguida, “Jesus ordenou-lhes expressamente que ninguém soubesse”. Que ordem estranha! Como poderiam  ficar calados diante de uma dádiva tão singular – a devolução de sua filha? Possivelmente, Jesus estava querendo evitar uma onda de perseguição  que a noticia poderia provocar, como aconteceu com a ressurreição de Lázaro, Jo. 11:53-54. Ele não podia ser morto antes da hora marcada. Na plenitude do tempo, na hora exata, Ele mesmo entregaria a sua vida para ser crucificado, o que aconteceu no jardim de Getsêmani, Jo. 18:4-8. Ficamos maravilhados com o envolvimento de Cristo para adquirir bênçãos espirituais para pecadores.

Conclusão: A história da ressurreição de Talita termina com uma Palavra de Enternecimento. Evidentemente, os pais ficaram tão admirados, vendo a filha andando e cheia de vida, que se esqueceram das necessidades físicas  dela. Durante a doença, Talita não comeu quase nada, mas agora, com boa saúde, estava com fome, e Jesus cheio de enternecimento, “mandou que dessem de comer à menina”.Além disso, o ato de comer seria uma prova da realidade do seu corpo material. Jesus, também, depois da ressurreição, comeu na presença dos discípulos, Lc. 24:39-43.

Quais são as lições que esta história nos oferece? Vemos a natureza de Jesus, e a sua espontaneidade para se compadecer daqueles que dependem da sua graça. Ele tem uma palavra apropriada para cada circunstância: Uma Palavra de Encorajamento para os abatidos de coração; uma Palavra de Ensinamento para os que precisam de orientação espiritual; uma Palavra de Envolvimento para demonstrar o seu poder sobre as desventuras desta vida; e, finalmente, uma Palavra de Enternecimento, para suprir as falhas humanas. Jairo chegou a Jesus cheio de confiança, e nós, também. “Acheguemo-nos, portanto, confiantemente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” Hb. 4:16.


Itajubá, 20 de julho de 2011
Ivan G. G. Ross.