Vasos de Honra

sexta-feira, 17 de junho de 2016

A PAIXÃO (PADECIMENTO) DE CRISTO


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Lucas 18:31-34

Introdução: Primeiro, quero justificar o uso da palavra “Paixão”. Ela é a tradução da palavra grega “Pathein”, que significa “paixão”. E, no Novo Testamento, ela sempre se refere ao “padecimento e morte de Jesus Cristo”. Em português, essa palavra é traduzida como padecido. “Depois de ter padecido, ele (Jesus) se apresentou vivo” (At. 1:3). A Bíblia em Inglês retém a palavra paixão (passion) neste versículo (KJV).

Ao meditarmos sobre o sofrimento e morte de Cristo, devemos lembrar que Ele nasceu “como de cordeiro, sem defeito e sem mácula” (1Pe. 1:19), a fim de “dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc. 10:45).  Ele recebeu o nome de Jesus – Salvador, “porque salvaria o seu povo dos pecados deles” (Mt. 1:21). A morte vicária, ou, substitutiva de Jesus Cristo é tão central para a fé cristã, que Ele mesmo instituiu a Ceia do Senhor, “Que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice anunciais a morte do Senhor, até  que ele venha” (1Co. 11:23-26). Desta maneira, Ele nos deu um ato físico para ajudar-nos a lembrar do preço pago a fim de nos conceder “ a redenção e a remissão dos pecados” (Cl. 1:14).

Para  facilitar a compreensão do assunto, nos limitaremos a mencionar os sete momentos em que Cristo sofreu durante as últimas vinte e quatro horas de sua vida aqui na terra. “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés” (Hb. 10:12-13).

1. O Momento no Cenáculo, Mc. 14:15. O sofrimento de Cristo, de uma maneira sempre crescente, começou dentro deste recinto sagrado, na presença de seus discípulos. “Angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá” (Jo.13:21). Mas, apesar de saber que Ele seria traído, Ele não soltou nenhuma palavra de impedimento, antes, dirigiu-se aos discípulos fiéis, a fim de prepará-los e os fortalecer para que não vacilassem na fé por causa dos horrores prestes a acontecer. E, para isso, falou do seu amor para com eles. “ Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor de seus amigos. Vós sois os meus amigos se fazeis o que eu vos mando” (Jo. 15:13-14). “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a  sua vida por nós; e devemos dar a nossa pelos  irmãos (1Jo. 3:16). O Evangelho é este: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” (1Co. 15:3). Eles teriam que entender que a morte de Cristo seria o cumprimento das Escrituras do Antigo Testamento.

Veja como Ele cuidou  de seus discípulos, e de nós também, no Evangelho segundo João: No capítulo 14, Ele falou do consolo espiritual; da casa de seu Pai e do seu retorno: “Voltarei e vos recebereis para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (Vs. 2-3). No capítulo 15, Ele falou da necessidade de permanecer nele.  Ele nos deu esta promessa: “Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e vos será feito” (V.7). No capítulo 16, temos a promessa do Consolador, o Espírito Santo, a fim de ajudar-nos em nossas tribulações, que são parte da vida cristã. “Se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei ... Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo anunciará” (Vs. 7 e 14). E, no capítulo 17, Cristo orou a seu Pai, relatando do cumprimento da sua missão. Ele também pediu que o trabalho começado continuasse. E, para o nosso consolo, orou por nós. “Não rogo somente por estes (os discípulos imediatos), mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra” V.20.

2. O Momento no Getsêmani, Mc. 14:32. É aqui que começou, de uma maneira mais intensa, a luta invisível e indescritível para destruir o poder das trevas e do pecado. É uma luta que o Senhor Jesus tinha que enfrentar sozinho, pois os discípulos, apesar de estarem presentes, foram excluídos do conflito por um sono irresistível. Quem pode realmente entender o que Cristo estava experimentando naquela hora quando Ele “começou a entristecer-se e a angustiar-se”, confessando: “minha alma está profundamente triste até a morte”? Todavia, devemos sempre lembrar que, “Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo” (1Jo. 3:8).  Nessa hora, parece que o próprio céu ficou fechado contra Ele; pois teria que beber o cálice da ira de Deus contra o pecado, até a última gota. Nesse momento, o nosso Senhor confessou a sua total submissão à vontade de seu Pai: “Faça-se a tua vontade” (Mt. 26:37-42). Mas a luta dentro do íntimo do Senhor continuou sem qualquer alento. “E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lc. 26:44). “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor (o Pai) fez cair sobre ele (o seu próprio filho) a iniqüidade de nós todos” (Is. 53:6). Mas a luta ainda não terminou, decepções e atrocidades ainda o guardavam.

3. O Momento na Traição, Mc. 14:44-45. Quando Jesus e seus discípulos saíram do jardim, eles enfrentaram o traidor: “ Tendo, pois, Judas recebido a escolta e, dos principais  sacerdotes e dos fariseus, alguns guardas, chegou a este lugar com lanternas, tochas e armas” (Jo. 18:3). Ali, Jesus recebeu aquele que o beijou traiçoeiramente, aquele que recebeu os elementos da Páscoa, como se fosse um verdadeiro amigo. O Salmista registrou, profeticamente, o que Jesus sentiu com aquele ato de hipocrisia: “Com efeito, não é o inimigo que me afronta; se o fosse, eu o suportaria; nem é o que me odeia que se exalta contra mim, pois dele me esconderia; mas és tu (Judas), homem meu igual, meu companheiro e o meu íntimo amigo. Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à Casa de Deus” (Sl. 55:12-14). Com esse ato, todos os discípulos fugiram, deixando Jesus sozinho com os seus inimigos, (Mc. 14:50). Mais tarde, Pedro o seguiu de longe, porém, somente para negá-lo três vezes com juramentos. Quem pode descrever a tristeza mordente que Jesus sentiu quando olhou para o seu discípulo medroso? (Lc. 22:54-62). Novamente, Jesus sentia a solidão da sua missão, sozinho teria que receber “o castigo que nos traz a paz” e, sozinho, teria que pagar o preço da nossa redenção e o perdão dos nossos pecados, (Is. 53:4-5).

4. O Momento Perante o Sinédrio, Jo. 18:12-13). Vamos tentar assimilar o que está acontecendo. Jesus Cristo, o Deus conosco, o Deus Forte (Mt. 1:23; Is. 9:6) sendo conduzido, manietado, ao tribunal para ser sentenciado à morte, como se fosse um criminoso perigoso. O Ap. Paulo tentou pôr em palavras a disposição de Jesus nesse momento: “Pois ele,  subsistindo em forma de Deus, não julgou  como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou ... a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz” (Fp. 2:5-8). Deixamos a profecia falar, para que possamos entender melhor o que estava acontecendo: “Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso” (Is. 53:3). O tribunal foi uma farsa da justiça, uma zombaria da santidade imaculada dos princípios da lei de Deus; contudo, desenrolou o processo com uma aparência de normalidade. Mas quando Jesus não respondeu para se defender, o sumo-sacerdote, assumindo uma atitude satânica, lembrando que esta foi a “hora e o poder das trevas” (Lc.22:53), resolveu usar o juramento mais solene diante da lei de Deus: “És tu o Cristo, o Filho do Deus bendito? Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu” (Mc. 14:61-62). Jesus nunca perdeu a visão do seu lugar ao lado de seu Pai na glória e da sua volta para julgar vivos e mortos. Com esta declaração nobre, o ódio dos ouvintes se rompeu numa fúria enlouquecida: “Puseram-se alguns a cuspir nele, a cobrir-lhe o rosto, a dar-lhe murros e a dizer-lhe: Profetiza! E os guardas o tomaram a bofetadas” (Mc. 14:65). Tudo isso aconteceu dentro do local onde a justiça deveria constranger as reações de todos. De fato, Cristo experimentou o horror apavorante do pecado no seu íntimo, agora, Ele está sofrendo a crueldade do pecado em seu corpo físico. Assim, a escritura se cumpriu: “Odiaram-me sem motivo” (Jo. 15:24-25). E as atrocidades aumentarão,  implacavelmente.   

5. O Momento Perante Pilatos, Lc. 23:1-2. Desde o nascimento de Jesus, os poderosos queriam matá-lo. Primeiro foi Herodes. Ele mandou matar todos os meninos “de dois anos para baixo”, na esperança de atingir a vida do “recém-nascido Rei dos judeus” (Mt. 2:2,16). E, durante todo o seu ministério, os judeus procuraram matá-lo, (Jo. 5:18). E, agora, “levantando-se toda a assembléia, levaram Jesus a Pilatos. E ali passaram a acusá-lo, dizendo (mentiras). Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar tributo a César e afirmando ser ele, o Cristo, o rei. Então lhe perguntou Pilatos: És tu o rei dos judeus? Respondeu Jesus: Tu o dizes (ou seja, tu estás falando a verdade)” (Lc. 23:1-3). Com esta resposta, Pilatos o remeteu a Herodes. “Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se de um manto apartoso, e o devolveu a Pilatos” (Lc. 23:11). Pilatos não tinha nenhum desejo de praticar a justiça, contudo, apesar de perguntar a seus acusadores: “Que mal fez ele? De fato nada achei contra ele para condená-lo à morte; portanto,  depois de castigá-lo, solta-lo-ei”. Mas, pergunta-se: por que castigar um inocente? Mas a multidão insisitiu em vê-lo crucificado. “Então Pilatos dicidiu atender-lhes o pedido” (Lc. 23:22-24). Com estas palavras, Jesus foi entregue aos soldados. “Vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça”, e o sujeitaram, incansavelmente, a todo tipo de zombarias e barbaridades. “Então conduziram Jesus para fora, com o fim de o crucificarem” (Mc. 15:16-20). Novamente, perguntamos: Por que tanta crueldade? Este foi o preço necessário para realizar a nossa redenção e conceder-nos  a vida eterna. “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado” (Is. 53:10).

6. O Momento da Crucificação, Mt. 27:31. Mas as desumanidades ainda não pararam. Vamos imaginar a cena: Jesus, totalmente indefeso, pendurado na cruz, mas o povo insistiu em multiplicar as suas dores. “Os que iam passando, blasfemavam dele... De igual modo os principais sacerdotes com os escribas, escarnecendo, entre si diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se; desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e creiamos” (Mt. 15:29-32). Mas, se Cristo tivesse descido da cruz sem completar a sua missão redentora, qual seria o destino espiritual do pecador? Não haveria nenhuma possibilidade de receber o perdão de seus pecados e nem a esperança de entrar na glória do céu; apenas “certa expectação horrível de juízo e fogo vindouro” (Hb. 10:27). As dores da crucificação continuam, e são intensificadas por causa das zombarias lançadas sobre Ele pelo povo. Mas parece que o Pai, não podendo mais suportar aquele escarcéu, interveio, e, “desde a hora sexta até à hora nona houve trevas sobre toda a terra”. O Pai impediu que aqueles zombeteiros testemunhassem Jesus bebendo as últimas gotas do cálice da ira de Deus contra o pecado. “Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lama sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Jesus estava sentindo, naquela hora, o terror de ficar sem Deus e sem o conforto de sua presença, (Mt. 27:45-46.). Mas, logo em seguida, a batalha contra o pecado terminou, e Jesus, com alta voz, exclamou vitoriosamente: “Esta consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito”  (Jo.. 19:30). Por meio de seus sofrimentos, Cristo é, agora, o Autor da salvação de todos aqueles que nele crêem (Hb. 2:10).

7. O Momento na Sepultura, Mt. 27:59-60. A realidade da morte de Jesus Cristo foi um fato incontestável. O seu sepultamento não aconteceu às escondidas, antes, foi um ato público, reconhecido por Pilatos e as autoridades eclesiásticas. Ninguém duvidava da realidade da sua morte, e morte de cruz!

A morte de Cristo despertou a consciência de dois homens piedosos. Até aquela hora, eles tinham escondido a sua fé na messiandade de Jesus; mas, agora, não querendo se ocultar mais, resolveram agir publicamente: “Rogaram a Pilatos lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. Pilatos (depois de ter a certeza da morte de Jesus) lhos permitiu” (Jo. 19:38). Com esse ato de devoção, tomaram o corpo e lhe deram um sepultamento honrado, (Lc.23:52-53).

Parece que a possibilidade de uma ressurreição inquietava a consciência dos religiosos. Porventura, lembraram da recente ressurreição de Lázaro? Mas, seja qual for o verdadeiro motivo, solicitaram a Pilatos que providenciasse uma escolta para guardar o tumulo “com segurança” (Mt. 27:64), na esperança de impedir tal possibilidade. Mas a ressurreição corpórea de Jesus Cristo, como um fato incontestável, pertence a outro estudo...


Conclusão: Como podemos resumir o que temos abordado nesta reflexão? Citamos alguns textos das Escrituras para nos ajudar. Em primeiro lugar, a intervenção soberana da misericórdia de Deus: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm. 5:8). Por que Cristo, o Cordeiro de Deus, tinha que sofrer a morte? Quando Ele assumiu o nosso lugar diante da lei de Deus, “aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós (tratando-o como se fosse Ele o pecador), para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co. 5:21). Agora, qual é a nossa esperança espiritual? A Bíblia responde: “De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo. 6:40). E, se realmente crermos, poderemos confessar: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”, (Rm. 5:1).

terça-feira, 14 de junho de 2016

CRISTO – O NOSSO MEDIADOR


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Hebreus 4:14-16

Introdução: Um mediador é aquele que se interpõe entre dois inimigos, buscando uma reconciliação entre os dois. E, no uso bíblico, o mediador é aquele que se interpõe entre o Deus santo e o homem pecador. Deus é “tão puro de olhos, que não pode ver o mal e a opressão não pode contemplar” (Hc 1:13). Em outras palavras, o homem, vivendo em seus pecados, não tem nenhum acesso à presença de Deus, sem a intercessão de um mediador. Graças a Deus, em Cristo Jesus, temos um Mediador, que nos dá acesso ao trono da graça. “Porquanto, há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm. 2:5). O mediador não pode ser um homem qualquer, vivo ou morto, porque todos são pecadores e, por isso, barrados da presença de Deus. Tinha que ser um homem sem qualquer pecado. E existe um só, que jamais transgrediu a santa lei de Deus, Jesus Cristo; “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado” (Hb.4:15).

As obras do pecador, bem como as suas orações, não são reconhecidas por Deus, sem a interposição do Mediador, Jesus Cristo. Quando oramos, sempre o fazemos em Nome de Jesus Cristo, porque, sem o seu intermédio, jamais seríamos ouvidos. E, semelhantemente, o nosso serviço, seja qual for a área, por ser uma atividade maculada por nossa natureza pecaminosa, mesmo sendo a nossa oferta melhor, por si só, não pode ser aceitável pela santidade de Deus. Somos totalmente dependentes da intercessão de Jesus Cristo. É Ele que purifica as nossas ofertas, fazendo-as aceitáveis na presença do Pai. O Ap. Paulo expressou essa verdade, dizendo: “E tudo o que fizerdes, seja em palavras, seja em ação, fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Cl. 3:17). Foi o próprio Cristo que estabeleceu a necessidade de depender da virtude de seu Nome a fim  de sermos atendidos pelo Pai: “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja glorificado no Filho” (Jo. 14:13). Confiando na obra mediana de Jesus Cristo, teremos coragem para tomar posse desta preciosa promessa: “Acheguemo-nos, portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb. 4:16). Vamos examinar, mais de perto, esta verdade: Cristo, o  nosso Mediador.

1. A Prontidão do Mediador. Quando o homem caiu no pecado, ele perdeu todos os seus direitos de ter livre acesso à presença de Deus. Como o profeta Isaías disse: “Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça” (Is. 59:2). Mas Deus é misericordioso e não quis abandonar a sua criatura rebelde e desviada. Por isso, Ele, em toda a sua plenitude, Pai, Filho e Espírito Santo, elaborou um meio, pelo qual um número predeterminado de pessoas seria redimido do meio de todas as nações, povos e línguas. E, para realizar esse plano, o Pai escolheria as pessoas a serem favorecidas; o Filho seria o Mediador, investido com as atribuições de Profeta, Sacerdote e Rei; e o Espírito Santos aplicaria as obras medianas de Cristo ao povo escolhido, para que recebesse a salvação. Observemos que cada uma das Pessoas da Divindade tem uma parte ativa na salvação de pecadores.

Vamos limitar a nossa mensagem às atribuições da Pessoa de Jesus Cristo. Ele, como o escolhido pelo Pai para ser o Mediador, tem a autoridade para representar e preparar o seu povo para que seja aceito na presença do Pai. E, para isso, Cristo exerce os ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei. Como Profeta: Ele veio para revelar a natureza e os propósitos do Pai. “Ninguém jamais viu a Deus, o Deus unigênito (Jesus Cristo), que está no seio do Pai, é quem o revelou” (Jo. 1:18). Pelo ministério profético de Cristo, conhecemos quem é o nosso Deus. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo. 17:3). Como Sacerdote: Este ministério é semelhante ao do sumo sacerdote do Antigo Testamento, a saber: oferecer sacrifícios pelo povo e interceder por ele. Quanto ao sacrifício de “Cristo, tendo se oferecido uma vez para sempre para tirar os pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a salvação”  (Hb. 9:28). E a Bíblia acrescenta: “Por isso (em virtude da eficácia do sacrifício de si mesmo) também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles” (Hb. 7:25). Como Rei:  Cristo tem domínio absoluto sobre todas as atividades deste mundo; uma soberania que é usada para arrebanhar o seu povo para a salvação eterna de cada um. Por isso, ao entrar em Jerusalém, o povo cantava: “Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas maiores alturas!” (Lc. 19:38). Graças  a Deus, temos um Mediador que exerce os ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei, perfeito em todas as suas atribuições!

2. A Prole do Mediador. Devemos fazer uma pergunta importante: Qual é a condição espiritual do homem em seu estado natural, antes de seu encontro salvador com Cristo? Sim, ele é morto em seus delitos e pecados, (Ef. 2:1). Mas, qual é o efeito dessa condição sobre a sua disposição espiritual? Ele se tornou um ateu prático. Uma declaração formal não é necessária para descobrir o porquê do procedimento do homem. A Bíblia esclarece: “Diz o insensato em seu coração: Não há Deus!”. Ele não disse publicamente: Eu não acredito na existência de Deus. Mas o seu modo de viver sempre revela o que está no coração. O texto continua a descrever esses ateus disfarçados: “Corrompem-se e praticam abominações; já não há quem faça o bem”. Agora, como é que Deus toma conhecimento do que está acontecendo aqui na Terra? “Do céu olha o Senhor para os filhos dos homens, para  ver se há quem entenda, se há quem busque a Deus”. E qual foi a conclusão dessa pesquisa? “Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer” (Sl. 14:1-3).

Em Romanos 3:10-12, lemos: “Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer”. Agora, fazemos mais uma pergunta: Se não há quem busque a Deus, como pode o pecador ser salvo? Cristo responde: “Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível” (Mt. 19:25-26).

Qual foi a resposta de Deus diante dessa corrupção moral e espiritual? Ele usou a sua soberania para eleger uma prole, que seria entregue a seu Filho, a fim de que Ele a redimisse e purificasse. “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor. Porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória do nosso Senhor Jesus Cristo” (2Ts. 2:13-14). A verdade da eleição é motivo de muitas graças a Deus. “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça” (Rm. 11:5). Agora, mais uma pergunta: Como podemos identificar esses eleitos? Cristo responde: “As minhas ovelhas (o povo que o Pai me deu) ouvem a minha voz; eu as conheço e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo. 10:27-28). Reconhecemos a nossa eleição mediante o nosso apego a Jesus Cristo, conformando-nos a Ele.

3. A Proficiência do Mediador. Deus, o Pai, escolheu, desde toda a eternidade, uma prole, para que, no devido tempo, fosse, por seu Filho Jesus Cristo, remida, chamada, justificada, santificada e glorificada. Cada um desses itens são partes essenciais e insubstituíveis para que sejamos salvos de verdade. Vamos explicar, separadamente, cada um desses itens:

a)      Remido. Por ser um pecador, o homem está numa prisão fechada, condenado à morte eterna e sem esperança de livramento. E, para sair desse reino de trevas e entrar no reino celestial, alguém de fora, que tem uma autoridade soberana, teria que intervir. Além disso, esse alguém teria que assumir as atribuições de um fiador, pagando a dívida que o favorecido tem perante a lei; isto é: uma obediência perfeita e a pena de morte. Reconhecemos que não existe homem algum que possa pagar essa dívida e, ao mesmo tempo, vencer com vida. Por isso, todos nós somos dependentes da misericórdia e graça de Deus, que nos amou e deu o seu próprio Filho como o necessário Fiador. Mediante a sua obediência imaculada e a sua morte substitutiva, Cristo pagou plenamente a nossa dívida; não devemos mais nada; estamos, agora, livres para servir o Deus vivo e verdadeiro com vidas purificadas. Essa obra redentora e justificadora é imputada a todos que nela crêem, fazendo com que sejamos aceitos irrestritamente pelo Pai..
b)      Chamado. Cristo nos chama mediante a pregação do evangelho e pela obra do Espírito Santo que o aplica eficazmente à vida de seu povo. “Porque o nosso evangelho não chegou até vós tão somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito Santo e em plena convicção” (1Ts. 1:9). Sejamos ouvintes prudentes, construindo a nossa esperança espiritual sobre a palavra da verdade, assim, jamais seremos confundidos, (Mt. 7:24-27).
c)      Justificado. Passamos a ser justificados quando Deus nos vê vestidos com as virtudes de Jesus Cristo, que Ele adquiriu por nós, mediante a sua obediência imaculada e a sua morte substitutiva na cruz do Calvário. “Justificados, pois, mediante a fé (na suficiência da obra redentora de Jesus Cristo), temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm. 5:1).
d)       Santificado. Cristo nos santifica mediante a nossa união espiritual com Ele. Assim, como Cristo morreu para o pecado, nós, unidos com Ele, também morremos para o pecado. O poder do pecado em nossa vida recebeu um golpe mortífero. E, semelhantemente, unidos com Cristo em sua ressurreição, ressuscitaremos (fomos regenerados) para andar em novidade de vida. Com base na nossa união com Cristo, o Apóstolo declarou confiantemente: “O pecado não terá domínio sobre nós”, porque temos outro poder direcionando a nossa vida: a graça de Deus, mediante o Espírito Santo que habita em nosso coração” (Rm. 6:14). “Digo porém, andai no Espírito (obedecendo-o) e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (Gl. 5:16).
e)      Glorificado. O ápice da nossa glorificação é o dom da vida eterna, quando estaremos para sempre com o Senhor que nos amou e a si mesmo se entregou à morte substitutiva, a fim de nos salvar. Como o Apóstolo comentou: “Ora, se somos filhos, somos também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele sofrermos, também com ele seremos glorificados” (Rm. 8:17).

Conclusão: Cristo, como nosso mediador, não apenas permite que tenhamos acesso à presença de Deus, mas, também, transformou a nossa vida de tal forma que fomos feitos dignos de sermos apresentados à presença do Pai. A nossa Confissão de Fé nos oferece um bom resumo da obra mediana de Jesus Cristo:

“Cristo, com toda certeza, e de forma eficaz, aplica e comunica a salvação a todos aqueles para quem a adquiriu. Isto ele consegue, fazendo intercessão por eles e revelando-lhes na Palavra e pela Palavra os mistérios da salvação, persuadindo-os eficazmente, pelo seu Espírito, a crer e a obedecer, governando os corações deles pela sua Palavra e pelo seu Espírito; subjugando todos os seus inimigos, por meio da sua onipotência e sabedoria, da maneira e pelos meios condizentes com a sua admirável e inescrutável dispensação”  (Cap. 8:8).