Vasos de Honra

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

O ANO DO JUBILEU


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica:  Levítico 25:8-18.

Introdução: Na Bíblia, o Jubileu era uma festa celebrada de cinqüenta em cinqüenta anos, isto é, quarenta e nove anos de atividades normais, dentro dos padrões que Deus estabelecera, e, no qüinquagésimo ano, uma trombeta vibrante anunciava o ano do Jubileu, um tempo de alegria santificado ao Senhor. As características desta comemoração são detalhadas em Levítico capítulo 25. As peculiaridades principais são: desvelo, desprendimento, desafios e descanso; tempos de bênçãos espirituais que “o Pai de misericórdias e o Deus de toda consolação” derramou sobre o seu povo, (2.Co. 1:3).

Nesse contexto, podemos pensar no israelita pobre que, por circunstâncias adversas, ficou pesarosamente endividado, tendo perdido a sua propriedade, inclusive a sua própria liberdade e sendo obrigado a trabalhar como um “jornaleiro e peregrino”, a fim de saldar a sua dívida. Contudo, os anos se passaram e a dívida continuava insolúvel, impossível de ser resolvida com esses trabalhos. Mas, chegando o ano do Jubileu, tudo seria perdoado. Ele seria, não apenas livre dessa dívida, mas, também, libertado desse trabalho servil. Assim, ele seria livre para tomar posse da sua propriedade e cuidar da sua própria família. É fácil imaginar como a expectativa do ano Jubileu alimentava o coração desse homem infeliz.

O Capítulo em Levítico registra, pelo menos, quatro princípios espirituais para todos aqueles que estão celebrando cinqüenta anos de experiência. São princípios que, quando praticados, evocam as bênçãos do Deus Todo-poderoso. Não é uma data em que podemos dizer: Basta, vou parar. Já cheguei! Como cristãos, temos que perseverar na prática desses princípios relacionados com o jubileu. Agora, qual é o primeiro passo?

1. O Jubileu Fala de Desvelos, a necessidade de considerar o necessitado com carinho. Quanto a essa pessoa, o texto prescreve: “Não lhe darás o teu dinheiro com juros, nem darás o teu mantimento por causa de lucro” (V.37). E ainda determina: “Não te assenhorearás dele com tirania; teme, porém, ao teu Deus” (V.43). Esses dois princípios estão implícitos no segundo “grande mandamento”: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que estes” (Mc. 12:30-31). Nesse sentido, o Apóstolo esclarece: “O amor não pratica o mal contra o próximo (males tais como juros exorbitantes, lucros exagerados e despotismo, v. 43), de sorte que o  cumprimento da lei é o amor” (Rm. 13:10). O Ap. João ilustra esse desvelo, dizendo: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar a nossa vida pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de língua, mas de fato e de verdade” (1Jo. 3:16-18).

Não devemos subestimar a importância de praticar os desvelos. A falta deles causará uma separação entre justos e  injustos no Dia do Juízo Final. Cristo explicou aos justos: “Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes (os desvelos) a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” E qual foi o galardão? Eles receberam este convite: “Vinde benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”. E qual foi o destino daqueles que negligenciaram a prática desses desvelos, que não cuidaram “destes mais pequeninos”, e não serviram a Cristo através dos desvelos? Por isso, Ele pronunciou: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno preparado para o diabo e seus anjos” (Mt. 25:31-46). Veja como o Apóstolo elogiou os tessalonicenses. “ No tocante ao amor fraternal, não há necessidade de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus instruídos que deveis amar-vos uns aos outros” (1Ts 4:9). Agora, para poder praticar os desvelos:

2. O Jubileu Fala de Desprendimento, a necessidade de ter uma mão aberta diante das necessidades do nosso irmão. O texto estabelece: “Também a terra não venderá em perpetuidade, porque a terra é minha, pois vós sois para mim estrangeiros e peregrinos” (V.23). E, quanto àquele que se empobreceu, a lei determinou: “Até ao Ano do Jubileu (o endividado) te servirá; então, sairá da tua casa, ele e seus filhos com ele, e tornará à sua família e à possessão de seus pais” (Vs. 40-41). Não devemos ser possessivos com os bens deste mundo, pensando que pertencem a nós, somente a nós. Temos que praticar o desprendimento, porque tudo o que temos foi entregue como se fosse um empréstimo, para ser administrado para a glória de Deus. Jó, o piedoso, confessou: “Nu saí do ventre da minha mãe e nu voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jó. 1:21). O Senhor Deus não é somente o dono de todos os bens deste mundo, mas, também, é o soberano distribuidor deles. Por isso, Cristo disse: “ De graça recebestes, de graça dai” (Mt. 10:8).

Quanto à prática desse desprendimento, devemos seguir o exemplo de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. O Ap. Paulo escreveu: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou (esse é o verdadeiro desprendimento, não ficar apegado a seus direitos), assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz”. Mas o desprendimento de Cristo foi reconhecido pelo Pai? Sim, pois a exposição continua: “Pelo que também Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fl. 2:5-11). Veja como o Ap. Paulo praticava esse desprendimento: “ Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma” (2Co. 12:15). E à Igreja em Corinto, que praticava esse desprendimento, o Apóstolo encorajou: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co. 15:58). Agora, para poder praticar esse desprendimento:

3. O Jubileu Fala de Desafio, a necessidade de receber, pela fé, as promessas que Deus nos dá quanto à sua providência  para suprir cada uma das nossas necessidades. Ao entrar na terra prometida, Israel recebeu uma lei que desafiava o povo para usar a sua fé na providência de Deus. “Seis anos semearás o teu campo, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás os seus frutos. Porém, no sétimo ano, haverá sábado de descanso solene para a terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo, nem podarás a tua vinha” (Vs 3,4,11). À luz dessa lei, o povo, preocupado, logo perguntou: “Que comeremos no ano sétimo, visto que não havemos de semear, nem colher a nossa messe?” O Senhor respondeu dando-lhes uma promessa de providência infalível; uma promessa que  teria de ser experimentada pela fé. “Então eu vos darei a minha benção no sexto ano, para que dê por três anos. No oitavo ano, semeareis e comereis da colheita anterior até o ano novo, até que venha a sua messe, comereis da antiga” (Vs. 20-22). Em nossa vida com Deus, Ele sempre pediu que usássemos a fé “De fato, sem fé, é impossível agradar a Deus” (Hb. 11:6). Deus é honrado e glorificado quando cremos na sua fidelidade para cumprir cada uma de suas promessas.

Hebreus capítulo onze descreve, não apenas a natureza da fé, mas, também, oferece-nos exemplos de como ela deve ser utilizada. Abel é o primeiro exemplo. “Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus quanto às suas ofertas” (Hb. 11:4). O sacrifício de Abel foi melhor, porque ele obedeceu a Deus e ofereceu um cordeiro, como indicado pelo exemplo de seu Criador, (Gn. 3:21). Por que um cordeiro tinha que ser sacrificado? Porque Abel creu que: “quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem o derramamento de sangue, não há remissão” (Hb. 9:22). Em nossos dias, não é o sangue de cordeiro que garante o perdão dos nossos pecados; tem que ser um sangue específico, o “precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe. 1:19). Esse é o sangue, e somente esse, que “nos purifica de todo pecado” (1Jo. 1:7). Para recebermos a salvação, Deus pede um único ato, fé em Jesus Cristo. O jovem Timóteo tornou-se “sábio para a salvação”. Como? “Pela fé em Jesus Cristo” (2Tm. 3:15). Em todas as partes da Bíblia, somos desafiados para crer na fidelidade de Deus para cumprir, infalivelmente, cada uma das suas promessas de providência para o bem de seu povo. Agora, para aceitar esse desafio e crer nas promessas de Deus:

4. O jubileu Fala de Descanso, a necessidade de entender que Deus preparou um descanso espiritual para o seu povo, um descanso refrescante que jamais terá fim. O contexto do ano  do Jubileu ofereceu um descanso, tanto para a terra, bem como para o homem. “Um sábado ao Senhor – um descanso solene” (V.4). Por que a ênfase sobre o descanso? O Jubileu foi um ano de valores espirituais, tais como o “Dia da Expiação” (V.9), que falava do perdão dos pecados.

Quanto à comemoração desses tempos especiais, o Novo Testamento esclarece: “Ora, visto que a lei (comemorações, etc.) tem sombra dos bens vindouros, não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes, como os mesmos sacrifícios que ano após ano, perpetuamente oferecem”(Hb. 10:1). Com referência às leis do “Dia da Expiação”, elas apontavam para um sacrifício superior, aquele de Jesus Cristo, carregando Ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1Pe. 2:24). Portanto, em Cristo, “temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef. 1:7). A Bíblia fala da bem-aventurança daqueles cujos pecados são cobertos, retirados da presença de Deus e lançados para trás dele, (Rm. 4:7; Is. 38:17). Temos uma “alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da nossa fé: a salvação da nossa alma” (1Pe. 1:8-9).

Quanto à comemoração desses Sábados, Dias de descanso, todos apontavam para um descanso superior, aquele que vem de Jesus Cristo, aquele que nos convida: “Vinde a mim (...) e achareis descanso para a vossa alma” (Mt. 11:28-30). Podemos descrever esse descanso estabelecendo uma clara distinção entre as obras da lei (que não dão nenhum descanso à nossa alma), e uma dependência total em Jesus Cristo (que nos dá um descanso verdadeiro). “Portanto, resta um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras (as obras que Cristo realizou a fim de adquirir a salvação eterna para o seu povo), como Deus das suas. Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso”, aquele que Cristo adquiriu para o seu povo que crê, (Hb. 4:9-11). Devemos conhecer o plano de Deus para a nossa salvação: “Sabendo, contudo, que o homem não é justificado (salvo) por obras da lei e sim mediante a fé em Jesus Cristo (...) pois por obras da lei, ninguém será justificado” (Gl. 2:16). Eis o verdadeiro descanso, salvação pela fé nos méritos consumados de Jesus Cristo. Podemos descansar em nosso Salvador, acreditando na suficiência do preço que Ele pagou quando deu a sua própria vida em resgate por muitos, a fim de nos conceder, gratuitamente, a salvação. Este é o prometido descanso.

Conclusão:  O Jubileu, tanto na Bíblia, bem como em nossa própria experiência, é um ano que merece muita atenção. Por que? Porque fala da nossa idade avançada e da necessidade de pensar nos princípios espirituais relacionados com o Jubileu Bíblico. Falamos sobre quatro princípios que devem ser parte inseparável do nosso estilo de vida. O princípio de praticar desvelos, a necessidade de contemplar o irmão necessitado com carinho. O princípio de ter um desprendimento, a necessidade de ter uma mão aberta, uma generosidade diante das necessidades do nosso irmão. O princípio de desafio, a necessidade de receber, pela fé, as promessas de providência que Deus concedeu a seu povo. O princípio de descanso, a necessidade de entender como Deus preparou  um descanso espiritual para o seu povo, isto é, uma salvação eterna que Ele concede, gratuitamente, a seu povo, sem a necessidade de praticar obras meretórias. Dessa maneira, Ele recebe toda a glória quando recebemos a salvação.Terminamos citando a declaração do Autor da nossa salvação: “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvador. Eu anunciei a salvação, realizei-a e a fiz ouvir (...) Ainda antes que houvesse dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, quem impedirá?” (Is. 43:11-13). Assim, que Deus abençoe cada um de vocês nesta hora. Amém.