O ANO DO JUBILEU
Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura Bíblica:
Levítico 25:8-18.
Introdução: Na
Bíblia, o Jubileu era uma festa celebrada de cinqüenta em cinqüenta anos, isto
é, quarenta e nove anos de atividades normais, dentro dos padrões que Deus
estabelecera, e, no qüinquagésimo ano, uma trombeta vibrante anunciava o ano do
Jubileu, um tempo de alegria santificado ao Senhor. As características desta
comemoração são detalhadas em Levítico capítulo 25. As peculiaridades
principais são: desvelo, desprendimento, desafios e descanso; tempos de bênçãos
espirituais que “o Pai de misericórdias e o Deus de toda consolação” derramou
sobre o seu povo, (2.Co. 1:3).
Nesse contexto, podemos pensar no israelita pobre que,
por circunstâncias adversas, ficou pesarosamente endividado, tendo perdido a
sua propriedade, inclusive a sua própria liberdade e sendo obrigado a trabalhar
como um “jornaleiro e peregrino”, a fim de saldar a sua dívida. Contudo, os
anos se passaram e a dívida continuava insolúvel, impossível de ser resolvida
com esses trabalhos. Mas, chegando o ano do Jubileu, tudo seria perdoado. Ele
seria, não apenas livre dessa dívida, mas, também, libertado desse trabalho
servil. Assim, ele seria livre para tomar posse da sua propriedade e cuidar da
sua própria família. É fácil imaginar como a expectativa do ano Jubileu
alimentava o coração desse homem infeliz.
O Capítulo em Levítico registra, pelo menos, quatro
princípios espirituais para todos aqueles que estão celebrando cinqüenta anos
de experiência. São princípios que, quando praticados, evocam as bênçãos do
Deus Todo-poderoso. Não é uma data em que podemos dizer: Basta, vou parar. Já
cheguei! Como cristãos, temos que perseverar na prática desses princípios
relacionados com o jubileu. Agora, qual é o primeiro passo?
1. O Jubileu Fala de Desvelos, a necessidade de considerar o necessitado com carinho.
Quanto a essa pessoa, o texto prescreve: “Não lhe darás o teu dinheiro com
juros, nem darás o teu mantimento por causa de lucro” (V.37). E ainda
determina: “Não te assenhorearás dele com tirania; teme, porém, ao teu Deus”
(V.43). Esses dois princípios estão implícitos no segundo “grande mandamento”:
“Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que
estes” (Mc. 12:30-31). Nesse sentido, o Apóstolo esclarece: “O amor não pratica
o mal contra o próximo (males tais como juros exorbitantes, lucros exagerados e
despotismo, v. 43), de sorte que o
cumprimento da lei é o amor” (Rm. 13:10). O Ap. João ilustra esse
desvelo, dizendo: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós;
e devemos dar a nossa vida pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste
mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como
pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, nem de
língua, mas de fato e de verdade” (1Jo. 3:16-18).
Não devemos subestimar a importância de praticar os
desvelos. A falta deles causará uma separação entre justos e injustos no Dia do Juízo Final. Cristo
explicou aos justos: “Em verdade vos afirmo que, sempre que o fizestes (os
desvelos) a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes” E qual foi o
galardão? Eles receberam este convite: “Vinde benditos de meu Pai! Entrai na
posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”. E qual foi o
destino daqueles que negligenciaram a prática desses desvelos, que não cuidaram
“destes mais pequeninos”, e não serviram a Cristo através dos desvelos? Por
isso, Ele pronunciou: “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno
preparado para o diabo e seus anjos” (Mt. 25:31-46). Veja como o Apóstolo
elogiou os tessalonicenses. “ No tocante ao amor fraternal, não há necessidade
de que eu vos escreva, porquanto vós mesmos estais por Deus instruídos que
deveis amar-vos uns aos outros” (1Ts 4:9). Agora, para poder praticar os
desvelos:
2. O Jubileu Fala de Desprendimento, a necessidade de ter uma mão aberta diante das
necessidades do nosso irmão. O texto estabelece: “Também a terra não venderá em
perpetuidade, porque a terra é minha, pois vós sois para mim estrangeiros e
peregrinos” (V.23). E, quanto àquele que se empobreceu, a lei determinou: “Até
ao Ano do Jubileu (o endividado) te servirá; então, sairá da tua casa, ele e
seus filhos com ele, e tornará à sua família e à possessão de seus pais” (Vs. 40-41).
Não devemos ser possessivos com os bens deste mundo, pensando que pertencem a
nós, somente a nós. Temos que praticar o desprendimento, porque tudo o que
temos foi entregue como se fosse um empréstimo, para ser administrado para a
glória de Deus. Jó, o piedoso, confessou: “Nu saí do ventre da minha mãe e nu
voltarei; o Senhor o deu e o Senhor o tomou; bendito seja o nome do Senhor!” (Jó.
1:21). O Senhor Deus não é somente o dono de todos os bens deste mundo, mas,
também, é o soberano distribuidor deles. Por isso, Cristo disse: “ De graça
recebestes, de graça dai” (Mt. 10:8).
Quanto à prática desse desprendimento, devemos seguir o
exemplo de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. O Ap. Paulo escreveu: “Tende
em vós o mesmo sentimento que houve em Cristo Jesus, pois ele, subsistindo em
forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo
se esvaziou (esse é o verdadeiro desprendimento, não ficar apegado a seus
direitos), assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de homens; e
reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até
a morte e morte de cruz”. Mas o desprendimento de Cristo foi reconhecido pelo
Pai? Sim, pois a exposição continua: “Pelo que também Deus o exaltou
sobremaneira e lhe deu um nome que está acima de todo nome, para que ao nome de
Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda
língua confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai” (Fl.
2:5-11). Veja como o Ap. Paulo praticava esse desprendimento: “ Eu de boa
vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma” (2Co.
12:15). E à Igreja em Corinto, que praticava esse desprendimento, o Apóstolo
encorajou: “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes inabaláveis e sempre abundantes
na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co.
15:58). Agora, para poder praticar esse desprendimento:
3. O Jubileu Fala de Desafio, a necessidade de receber, pela fé, as promessas que Deus
nos dá quanto à sua providência para
suprir cada uma das nossas necessidades. Ao entrar na terra prometida, Israel
recebeu uma lei que desafiava o povo para usar a sua fé na providência de Deus.
“Seis anos semearás o teu campo, e seis anos podarás a tua vinha, e colherás os
seus frutos. Porém, no sétimo ano, haverá sábado de descanso solene para a
terra, um sábado ao Senhor; não semearás o teu campo, nem podarás a tua vinha”
(Vs 3,4,11). À luz dessa lei, o povo, preocupado, logo perguntou: “Que
comeremos no ano sétimo, visto que não havemos de semear, nem colher a nossa
messe?” O Senhor respondeu dando-lhes uma promessa de providência infalível;
uma promessa que teria de ser
experimentada pela fé. “Então eu vos darei a minha benção no sexto ano, para
que dê por três anos. No oitavo ano, semeareis e comereis da colheita anterior
até o ano novo, até que venha a sua messe, comereis da antiga” (Vs. 20-22). Em
nossa vida com Deus, Ele sempre pediu que usássemos a fé “De fato, sem fé, é
impossível agradar a Deus” (Hb. 11:6). Deus é honrado e glorificado quando
cremos na sua fidelidade para cumprir cada uma de suas promessas.
Hebreus capítulo onze descreve, não apenas a natureza da
fé, mas, também, oferece-nos exemplos de como ela deve ser utilizada. Abel é o
primeiro exemplo. “Pela fé, Abel ofereceu a Deus mais excelente sacrifício do
que Caim; pelo qual obteve testemunho de ser justo, tendo a aprovação de Deus
quanto às suas ofertas” (Hb. 11:4). O sacrifício de Abel foi melhor, porque ele
obedeceu a Deus e ofereceu um cordeiro, como indicado pelo exemplo de seu Criador,
(Gn. 3:21). Por que um cordeiro tinha que ser sacrificado? Porque Abel creu
que: “quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e sem o
derramamento de sangue, não há remissão” (Hb. 9:22). Em nossos dias, não é o
sangue de cordeiro que garante o perdão dos nossos pecados; tem que ser um
sangue específico, o “precioso sangue, como de cordeiro sem defeito e sem
mácula, o sangue de Cristo” (1Pe. 1:19). Esse é o sangue, e somente esse, que
“nos purifica de todo pecado” (1Jo. 1:7). Para recebermos a salvação, Deus pede
um único ato, fé em Jesus Cristo. O jovem Timóteo tornou-se “sábio para a
salvação”. Como? “Pela fé em Jesus Cristo” (2Tm. 3:15). Em todas as partes da
Bíblia, somos desafiados para crer na fidelidade de Deus para cumprir,
infalivelmente, cada uma das suas promessas de providência para o bem de seu
povo. Agora, para aceitar esse desafio e crer nas promessas de Deus:
4. O jubileu Fala de Descanso, a necessidade de entender que Deus preparou um descanso
espiritual para o seu povo, um descanso refrescante que jamais terá fim. O
contexto do ano do Jubileu ofereceu um
descanso, tanto para a terra, bem como para o homem. “Um sábado ao Senhor – um
descanso solene” (V.4). Por que a ênfase sobre o descanso? O Jubileu foi um ano
de valores espirituais, tais como o “Dia da Expiação” (V.9), que falava do
perdão dos pecados.
Quanto à comemoração desses tempos especiais, o Novo Testamento
esclarece: “Ora, visto que a lei (comemorações, etc.) tem sombra dos bens vindouros,
não a imagem real das coisas, nunca jamais pode tornar perfeitos os ofertantes,
como os mesmos sacrifícios que ano após ano, perpetuamente oferecem”(Hb. 10:1).
Com referência às leis do “Dia da Expiação”, elas apontavam para um sacrifício
superior, aquele de Jesus Cristo, carregando Ele mesmo em seu corpo, sobre o
madeiro, os nossos pecados” (1Pe. 2:24). Portanto, em Cristo, “temos a
redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua
graça” (Ef. 1:7). A Bíblia fala da bem-aventurança daqueles cujos pecados são
cobertos, retirados da presença de Deus e lançados para trás dele, (Rm. 4:7;
Is. 38:17). Temos uma “alegria indizível e cheia de glória, obtendo o fim da
nossa fé: a salvação da nossa alma” (1Pe. 1:8-9).
Quanto à comemoração desses Sábados, Dias de descanso,
todos apontavam para um descanso superior, aquele que vem de Jesus Cristo,
aquele que nos convida: “Vinde a mim (...) e achareis descanso para a vossa
alma” (Mt. 11:28-30). Podemos descrever esse descanso estabelecendo uma clara
distinção entre as obras da lei (que não dão nenhum descanso à nossa alma), e
uma dependência total em Jesus Cristo (que nos dá um descanso verdadeiro).
“Portanto, resta um repouso para o povo de Deus. Porque aquele que entrou no
descanso de Deus, também ele mesmo descansou de suas obras (as obras que Cristo
realizou a fim de adquirir a salvação eterna para o seu povo), como Deus das
suas. Esforcemo-nos, pois, por entrar naquele descanso”, aquele que Cristo
adquiriu para o seu povo que crê, (Hb. 4:9-11). Devemos conhecer o plano de
Deus para a nossa salvação: “Sabendo, contudo, que o homem não é justificado
(salvo) por obras da lei e sim mediante a fé em Jesus Cristo (...) pois por
obras da lei, ninguém será justificado” (Gl. 2:16). Eis o verdadeiro descanso,
salvação pela fé nos méritos consumados de Jesus Cristo. Podemos descansar em
nosso Salvador, acreditando na suficiência do preço que Ele pagou quando deu a
sua própria vida em resgate por muitos, a fim de nos conceder, gratuitamente, a
salvação. Este é o prometido descanso.
Conclusão: O Jubileu, tanto na Bíblia, bem como em nossa
própria experiência, é um ano que merece muita atenção. Por que? Porque fala da
nossa idade avançada e da necessidade de pensar nos princípios espirituais
relacionados com o Jubileu Bíblico. Falamos sobre quatro princípios que devem
ser parte inseparável do nosso estilo de vida. O princípio de praticar
desvelos, a necessidade de contemplar o irmão necessitado com carinho. O princípio
de ter um desprendimento, a necessidade de ter uma mão aberta, uma generosidade
diante das necessidades do nosso irmão. O princípio de desafio, a necessidade
de receber, pela fé, as promessas de providência que Deus concedeu a seu povo.
O princípio de descanso, a necessidade de entender como Deus preparou um descanso espiritual para o seu povo, isto
é, uma salvação eterna que Ele concede, gratuitamente, a seu povo, sem a
necessidade de praticar obras meretórias. Dessa maneira, Ele recebe toda a
glória quando recebemos a salvação.Terminamos citando a declaração do Autor da
nossa salvação: “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há salvador. Eu
anunciei a salvação, realizei-a e a fiz ouvir (...) Ainda antes que houvesse
dia, eu era; e nenhum há que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu,
quem impedirá?” (Is. 43:11-13). Assim, que Deus abençoe cada um de vocês nesta
hora. Amém.
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