Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura
Bíblica: 2 Timóteo 1:3-9
Introdução:
Timóteo era um jovem que se tornou “sábio para salvação pela fé em Cristo
Jesus” (2Tm.3:15). A sua fé era verdadeira e “sem fingimento”. Porém, como
jovem, ele sentia receios para enfrentar diversas responsabilidades inerentes à
vida cristã. Por isso, o Ap. Paulo o exortou: “Por esta razão, pois, te
admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti”. Esse dom que ele recebeu é,
em primeiro instante, a dádiva da fé. Por razões diferentes, essa fé pode
experimentar inibições diante de situações difíceis. Por exemplo, no caso de
doenças. A doença tem a tendência de ocupar todos os nossos pensamentos, não
deixando lugar para o exercício da fé. Não devemos permitir que o problema nos domine,
antes, é a fé que deve nos controlar. A fé não é um mero sentimento, pelo
contrário, é uma ação positiva. “Pela fé, Abraão quando chamado, obedeceu, a
fim de ir para um lugar que devia receber por herança, e partiu sem saber aonde
ia” (Hb. 11:8). Ele agiu, sabendo que Deus iria cuidar dele. Vamos ilustrar o
uso desta dádiva de Deus. Temos o caso
de certo homem que tinha muito medo de compromissos financeiros. Mas ele
recebeu uma herança de muito dinheiro que iria resolver toda a sua insegurança.
Contudo, quando as contas mensais começaram a chegar, ele entrou novamente em
pânico, perguntando a si mesmo: Como posso pagar tantas contas? Ele não se
lembrou da sua herança até que alguém o desafiou: Não seja tolo, por que você
não está usando a sua herança? Semelhantemente, Jesus disse a seus discípulos:
“Onde está a vossa fé?” (Lc.8:25). Como se estivesse perguntando: Por que não
estão usando a vossa fé que Deus lhes deu? Não devemos deixar as dificuldades
do momento impedirem o uso da nossa fé. “Quem é que vence o mundo, senão aquele
que crê ser Jesus o Filho de Deus? (1Jo. 5:5). Seja qual for o desafio, agimos
de acordo com a necessidade, acreditando que Deus há de nos auxiliar, conforme
a sua promessa. A fé, quando devidamente usada, sempre nos conduz à presença de
Cristo Jesus. Eis a direção que devemos seguir: “Não andeis ansiosos de cousa
alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus, as vossas petições,
pela oração e pela súplica, com ações de graça. E a paz de Deus, que excede
todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus”
(Fl. 4:6-7).
Vamos
examinar o versículo sétimo da nossa leitura que nos dará as razões pelas quais
podemos viver a vida cristã de maneira que glorifique o nosso Deus. “Porque
Deus não nos tem dado espírito de covardia (ou temor), mas de poder, de amor, e
de moderação (ou, domínio próprio, equilíbrio).”
1.
A Dádiva de Poder. Notemos o que Deus não tem nos dado. Ele não tem nos
dado um espírito de covardia, ou de temor. Então, o que é que Deus nos tem
dado? Ele tem nos dado um espírito de poder, pelo qual podemos enfrentar,
corajosamente, toda e qualquer situação, seja a perseguição, o serviço de Deus,
a doença ou a morte. Como o Apóstolo tem dito: “Em todas estas coisas, porém,
somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”, Jesus Cristo. (Rm.
8:31-37).
Timóteo
é encorajado a participar, sem temores, dos sofrimentos do Ap. Paulo “como bom
soldado de Jesus Cristo” (2 Tm 2:3). Ora, o soldado não pode demonstrar sinal
de covardia em sua profissão. Se isso acontecer, ele vai prejudicar não apenas
a sua própria segurança, mas, também, aquela de seus colegas. De onde vem a
coragem do cristão? Ele vive “embraçando sempre o escudo da fé, com o qual
podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” (Ef. 6:16). Armado
assim, ele tem poder para enfrentar vitoriosamente qualquer situação, inclusive o sofrimento que
pode afligi-lo no exercício de sua profissão. Deus é honrado quando usamos as
suas dádivas, aquelas de poder, para a sua glória.
Timóteo
é exortado a manter “a fé e a boa consciência, porquanto alguns, tendo
rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé” (1Tm. 1:19). O nosso
poder na vida cristã depende da nossa fé. Como podemos manter a nossa fé acesa?
Temos que alimentá-la com a leitura e o estudo da Palavra de Deus. Nas
Escrituras, descobrimos a vontade de Deus para resolver toda e qualquer
situação. E, uma vez reconhecendo a vontade de Deus, temos que agir de acordo.
A exortação é esta: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente
ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg. 1:22). Devemos lembrar da observação
do Apóstolo: “Não vos sobreveio tentação (situação difícil) que não fosse
humana (algo deste mundo e não do outro); mas Deus é fiel e não permitirá que
sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a
tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1Co.
10:13). E qual é essa providência? O dom de poder que Deus tem concedido a
todos os seus filhos e filhas que Ele
mesmo recebeu por adoção.
Timóteo
é incentivado a ser diligente no exercício de seu ministério: “Conjuro-te,
perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela manifestação
e pelo seu reino; prega a palavra, insta (insistir, teimar) quer seja oportuna, quer não; corrige,
repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina” (2 Tm. 4:1-2). Como
testemunhas de Jesus Cristo, todos nós temos que praticar uma diligência
semelhante, dentro da esfera do nosso ministério particular. “Tudo quanto
fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Cl.
3:24). Mas, como podemos exercer essa diligência com a devida fidelidade? Deus
não nos obriga a trabalhar segundo as nossas próprias forças, pelo contrário,
Ele tem nos dado o poder necessário. O Ap. Paulo testemunhou: “Tudo posso
naquele que me fortalece” (Fl. 4:13). Não há necessidade de sentir receios
diante das nossas responsabilidades cristãs, pois, a dádiva de Deus, o seu
poder, é eficaz, seja qual for o desafio que temos que enfrentar e aceitar.
Dons são dados para serem usados para a glória de Deus.
2.
A Dádiva do Amor. Nascidos de novo, temos o
poder para amar a Deus, bem como o nosso próximo. Essa disposição é a
dádiva de Deus, concedida a fim de autenticar a nossa comunhão com Ele. “O amor
de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi
outorgado” (Rm. 8:5b). “Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece
em Deus, e Deus nele” (1Jo.4:16). Com qual intensidade devemos amar a Deus? O
amor não pode ser mesquinho e dividido por causa de outros interesses. O padrão
é este: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e
de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento” (Mt.
22:37:38). Esse amor tem que ser a manifestação da plenitude do nosso ser.
Notemos a tríplice descrição: todo o coração – toda a alma – todo o
entendimento. A plenitude do nosso amor deve
corresponder com a plenitude do amor de Deus. Quando Deus ama, esse amor é derramado
sobre o seu povo; quando Deus teve que dar, Ele deu o seu Filho para redimir o
seu povo. Ele não o poupou. Um amor maior é impossível. Como podemos perceber,
o amor não é um mero sentimento, ele é, antes de tudo, uma ação, o ato de
entregar a própria vida em favor do amado. “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar
nossa vida pelos irmãos” (1Jo. 3:16). Como é bom poder confessar: “Cristo me
amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl. 2:20b).
Devemos
usar o dom desse amor que Deus tem nos dado para servir. O exemplo de Cristo
deve ser imitado. Ele confessou: “ A minha comida consiste em fazer a vontade
daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo.4: 34). E, para agir assim,
temos que praticar a exortação do Ap. Paulo: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas
misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo
e agradável a Deus, que é o vosso culto racional: E não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente para que
experimenteis qual seja a boa e
agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm. 12:1-2). Serviço a Deus sempre
começa com um ato de auto-apresentação. “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a
tua vontade” (Hb.10:9).
Essa
dádiva de Deus tem que ser usada, não apenas para amar a Deus, mas, também,
para amar o nosso próximo. O segundo mandamento semelhante ao primeiro é: “Amarás
o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos (amor a Deus e ao
próximo) dependem toda a lei e os profetas” (Mt. 22:39-40). O Ap. Paulo
observou “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento
da lei é o amor” (Rm. 13:10). O Ap. João comentou: “Amados, amemos-nos uns aos
outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus
e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor”
(1Jo. 4:1-2). Deus nos deu esse amor para que pudéssemos autenticar a nossa
comunhão com Ele.
Novamente,
afirmamos que o amor é muito mais do que um mero sentimento, antes, é uma ação
positiva. Qual é a maneira mais prática para demonstrar essa dádiva de Deus?
“Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar a
nossa vida pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo e vir o
seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer
nele o amor de Deus?” (1Jo.3:16-17). Por que é tão importante praticar esse
amor ao nosso irmão? Porque este será o padrão que Cristo usará no Dia do
Juízo. Quando vemos o nosso irmão com fome, damos-lhe de comer; com sede,
damos-lhe de beber; forasteiro, damos-lhe hospedagem; nu, damos-lhe vestimento;
enfermos, visitamos; preso, damos-lhe apoio. Fazendo assim, estaremos usando a
dádiva de Deus para a sua glória. Notemos que essas coisas devem ser praticadas
como a Cristo. A nossa aprovação, ou, reprovação, será baseada de acordo com a
prática, ou, a negligência, destes atos de amor, (Mt. 25:34-46). Não temos
nenhuma desculpa para não praticar o amor, porque, juntamente com essa dádiva,
Deus nos deu o poder para praticá-la, seja qual for a pessoa.
3.
A Dádiva de Moderação. Este dom que recebemos de Deus, a moderação, foi
dado para ajudar-nos a manter uma prudência e um auto-controle nas variadas
circunstâncias da vida cristã. Apesar de possuir as dádivas de poder e amor,
somos ainda capazes de perder o equilíbrio em nossas reações. Por que? Esse
tesouro (os dons de Deus) está em vasos de barro, peças frágeis que podem ser
danificadas quando recebem maus tratos. Por que Deus age assim? Para que “a
excelência do poder seja de Deus, e não de nós” (2 Co. 4:7). Vamos ilustrar o
uso dessa moderação: O Ap. Paulo está num navio prestes a ser naufragado por
causa de uma grande tempestade. No perigo, para todos, exceto o Apóstolo,
“dissipou-se, afinal, toda a esperança de salvamento”. No meio desse desespero, “Paulo rogava a
todos que se alimentassem (...) pois nenhum de vós perderá nem mesmo um fio de
cabelo” (At. 27:18-36). Por que o
Apóstolo conseguiu manter a moderação, a calma, nessa situação perigosa?
Ele mesmo nos dá resposta: “Eu confio em Deus que sucederá do modo por que me
foi dito” (At. 27:25). O cristão que entra em pânico por causa de qualquer
tempestade, evidentemente, não está usando as dádivas de poder, amor e
moderação que Deus lhe concedeu; e, assim,
Deus não está sendo glorificado no meio da tempestade. Por que algumas pessoas
entram em pânico quando os ventos são
contrários, enquanto outras conseguem manter a moderação? O momento em que
olhamos para a circunstância e deixamos que ela tome conta das nossas emoções,
o resultado não pode ser outro senão o desespero e opressão. Todos nós estamos
lembrando o que aconteceu quando Pedro, “reparando, porém, na força do vento,
teve medo; e, começando a submergir, gritou: Salva-me Senhor!” (Mt. 14:30). Como
evitar essa reação negativa? No momento em que chegar qualquer dificuldade,
devemos reafirmar a nossa confiança na graça sustentadora do nosso Deus e
manter os nossos olhos fixos no Senhor Jesus Cristo, o Autor e Consumador da
nossa fé, (Hb. 12:2). Deus nos deu o dom da moderação, o auto-controle, para
ser usado em toda e qualquer situação. Em nossos dias, será que Jesus tem
necessidade de perguntar: Onde está a sua moderação? Por que não está usando o
dom que Deus lhe concedeu? Não acredita que Deus é poderoso para te socorrer? O
Apóstolo nos advertiu: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em
qualquer de vós o perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus
vivo” (Hb. 3:12). O mesmo princípio opera nos casos de doença grave e morte. O
desespero toma conta porque é o problema que está dominando e impedindo a
intervenção do Deus de toda consolação. Timóteo tinha uma constituição mais frágil, mas em vez de
deixar as doenças dominarem os seus pensamentos, ele tinha que praticar o bom
senso e a moderação. Por isso, o Apóstolo lhe aconselhou: “Não continues a
beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas
enfermidades” (1Tm 5:23). Não tenhamos medo de usar recursos humanos porque
isso não significa uma falta de fé, antes,
é a manifestação dela.
Na
vida cristã, a prática da moderação é de suma necessidade, porque o cristão
vive entre duas possibilidades de
experiências contraditórias. O desânimo, porque, “através de muitas
tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At. 14:22). E, uma alegria
exagerada, “porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas de justiça, e
paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm. 14:17) O que glorifica a Deus é um
procedimento equilibrado, sem excessos de desânimo e sem excessos de alegria.
“Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios e sim, como sábios,
remindo o tempo, porque os dias são maus” (Ef. 5:15-16).
Conclusão:
Deus, em sua misericórdia entranhável, tem nos dado três dádivas
imprescindíveis: poder, para que possamos viver como testemunhas fiéis; amor,
para que possamos amar a Deus e ao nosso próximo de uma maneira convincente,
pois, procedendo assim, autenticamos a nossa comunhão com Deus, seja qual for a
circunstância; moderação, para que tenhamos auto-controle e equilíbrio no meio
de situações provocantes. O Apóstolo faz esta conclusão: “Tendo, pois, ó
amados, tais promessas (e dádivas), purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da
carne como espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2 Co.
7:1).
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