Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura
Bíblica: 1 Timóteo 3:16.
Introdução:
A Igreja primitiva tinha o costume de formular frases curtas, a fim de
facilitar a memorização de verdades importantes no desenvolvimento da piedade.
No versículo da nossa leitura, temos seis dessas verdades. Existem outros
exemplos desse costume nas Cartas Pastorais: Os cinco dizeres: “Fiel é esta
palavra” (Tt. 3:4-8) etc. E, para nós, a memorização de versículos bíblicos tem
o mesmo efeito. O Salmista praticava esse hábito tão edificante. “Guardo no
coração as tuas palavras, para não pecar contra ti” (Sl. 119:11).
Na
parte introdutória do nosso versículo, precisamos explicar o sentido de duas
palavras. A primeira é “mistério”. Um mistério é uma verdade cujo significado
ficou oculto da maioria das pessoas, mas, em termos bíblicos, foi revelado em
Cristo Jesus. As profecias acerca da sua obra redentora no Antigo Testamento
foram mistérios; poucas pessoas descobriram o verdadeiro sentido deles; porém,
com a encarnação do Filho de Deus e a sua morte vicária, essas verdades
passaram a ser reveladas e devidamente compreendidas. A segunda palavra é
“piedade”. No mistério da piedade, o pensamento é: Como podemos explicar esta
mudança no procedimento daquele que era arrogante, mas, agora, anda no temor de
Deus, com uma vida santa e irrepreensível? A resposta é: ele vive de acordo com
as verdades que Deus tem nos revelados, tais como as seis do nosso versículo,
e, outras semelhantes, que falam de Jesus Cristo e o que Ele fez por nós, os
que cremos em seu nome. Vamos ao estudo dessas seis verdades.
1.
“Aquele que foi manifestado na carne”, A frase se refere a Jesus Cristo. “E
o Verbo (o Filho de Deus) se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de
verdade, e vimos a sua glória, glória como do unigênito do Pai” (Jo. 1:14). Por
que Cristo se fez carne? Uma das respostas foi dada a José, seu pai adotivo: “E
lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles”
(Mt. 1:21). Uma outra pergunta se faz necessária: Como é que Cristo conseguiria
salvar o seu povo, visto que já foram condenados ao castigo eterno, por causa
de suas transgressões da santa lei de Deus? Seria mediante o pagamento de um
resgate. “Jesus Cristo, o qual a si mesmo se deu em resgate por todos: -
testemunho que se deve prestar em tempos oportunos” (1Tm. 2:5). Vamos meditar
sobre o valor desse resgate. “Sabendo que não foi mediante coisas corruptíveis,
como prata ou ouro que fostes resgatados do vosso fútil procedimento que os
vossos pais vos legaram, mas, pelo precioso sangue, como de cordeiro sem
defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe. 1:18). Qual é o nosso dever à
luz dessa verdade? Pela fé, cremos na suficiência da morte de Cristo, “no qual temos a
redenção, pelo sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça”
(Ef. 1:7).
2.
“Foi justificado em espírito”. (pelo Espírito, letra maiúscula). O Espírito
Santo sempre acompanhou o ministério de Jesus Cristo. Ele foi ungido pelo Espírito, autorizado e capacitado para
exercer a vontade de seu Pai (Is. 11:2; Mt. 3:16; Jo. 6:38); guiado pelo Espírito,
(Lc. 4:1); e, expulsou demônios pelo Espírito de Deus, (Mt. 12:28). Ele mesmo
confessou: “O Espírito do Senhor está sobre mim, pelo que me ungiu para
evangelizar os pobres; enviou-me para proclamar libertação dos cativos e
restauração da vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos e apregoar o
ano aceitável do Senhor”. Com essa declaração, Ele fechou o livro, devolveu-o
ao assistente e sentou-se. Qual foi a reação de seus ouvintes? “Todos na
sinagoga tinham olhos fitos nele” (Lc. 4:18-20). Podemos sentir o impacto que o
Espírito causou quando as Escrituras Sagradas foram lidas. Ele fez com que os
olhos de seus ouvintes ficassem fixos em Jesus Cristo. Assim, Ele foi
justificado pelo Espírito. Esse é o ministério do Espírito Santo, apontar as
pessoas para Jesus Cristo, glorificando-o como o Salvador daqueles que nele
crêem, (Jo. 16:14). Foi o Espírito Santo que anunciou a Divindade de Cristo,
afirmando que Ele é o Filho de Deus, usando a sua ressurreição dentre os mortos
para justificar a sua declaração, (Rm. 1:4). E, de suma importância, por que
Cristo foi vitorioso em seu sofrimento vicário? Porque Ele foi fortalecido pelo
Espírito eterno, (Hb. 9:14). Vamos sempre lembrar que o mesmo Espírito sempre
auxilia o povo redimido a vencer todas as suas dificuldades, (Rm. 8:26); (Ef.
3:16).
3.
“Contemplado por anjos”. Os anjos são ministradores. Eles contemplaram o
nascimento de Jesus Cristo e, por causa da ocasião, cantaram louvores a Deus,
dizendo: “Glória a Deus nas maiores alturas, e paz na terra entre os homens, a
quem ele quer bem” (Lc. 2:13-14). Por que esse louvor? Eles ficaram
maravilhados com a condescendência de Jesus Cristo, humilhando-se e pronto para
servir a humanidade e dar a sua própria vida em resgate por muitos. “Mas Deus
prova o seu próprio amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós,
sendo nós ainda pecadores” (Rm. 5:8). Os anjos não apenas contemplaram o Senhor
Jesus, eles o ampararam em toda as fases de sua vida, desde o seu nascimento
até a sua morte em favor de seu povo. Em seus primeiros anos de vida, os anjos
acompanharam seus pais adotivos advertindo-os de perigos e guiando-os para os
lugares mais seguros, (Mt. 2:13,19,20). Depois de quarenta dias em jejum,
durante os quais Jesus foi tentado pelo diabo, Ele se sentiu enfraquecido e
necessitado. Mas o tentador, tendo sido derrotado, deixou-o por um tempo, “e
eis que vieram anjos e o serviram” (Mt. 4:11).
Agora,
chegamos ao Getsêmani, e, Jesus, estando em agonia e enfraquecido pelos açoites
que recebera, foi novamente contemplado em sua necessidade. “Então, lhe
apareceu um anjo do céu que o confortava” (Lc. 22:43). Os anjos são “espíritos
ministradores (seres invisíveis), enviados para serviço”, não apenas para
cuidar de Jesus, mas, também, “a favor dos que hão de herdar a salvação” (Hb.
1:14). Deus tem muitas maneiras para proteger e amparar o seu povo, uma delas é
através desses anjos ministradores. O Ap. Paulo experimentou esse encorajamento,
(At. 27:23-24). Sim, somos guardados “como a menina dos olhos de Deus”
(Sl.17:8).
4.
“Pregando entre os gentios”. A Igreja primitiva sempre procurava obedecer à
Grande Comissão: “Ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura”
(Mc. 16:15). E, quando “levantou-se grande perseguição contra a Igreja em
Jerusalém, muitos dos crentes foram dispersos pelas regiões da Judéia e
Samaria”. Por que esses perseguidos não ficaram entristecidos pela perda de
suas propriedades? Porque eles tinham um interesse maior, o desejo de ver o
nome de Jesus Cristo estabelecido em todas as partes do mundo. “Entrementes, os
que foram dispersos iam por toda parte pregando a palavra” (At. 8:1,4). Em
seguida, a Bíblia relata alguns exemplos desse ministério espontâneo. Filipe,
um dos diáconos escolhidos em Atos 6:5 (Filipe, um dos apóstolos, permaneceu em
Jerusalém At. 8:1), “pregava a palavra”. A chave do seu estilo está nesta
frase: “Começando por esta passagem, anunciou-lhe a Jesus”, (At. 8:35). Filipe
sempre usava as Escrituras em suas exposições, porque ele sabia que a Palavra
de Deus é a espada do Espírito para conduzir pecadores aos pés de Jesus Cristo
(Ef. 6:17). Eis aqui qual deve ser a nossa disposição para cumprir a grande comissão: “Procura
apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar,
que maneja bem a palavra da verdade” (2Tm. 2:15). É importante observar uma
certa ênfase que a Igreja praticava: Ela deu muita atenção aos gentios. E,
eles, sabendo dessa ênfase, “regozijavam-se e glorificavam a palavra do Senhor,
e creram todos os que haviam sido
destinados para a vida eterna” (At. 13:48). Nós, que somos gentios, devemos
ficar agradecidos a Deus, porque Ele não se esqueceu de tantas pessoas
necessitadas.
5.
“Crido no mundo”. Essa verdade é o
resultado que temos quando pregamos o
evangelho com fidelidade. Por isso, o
Ap. Paulo encorajou os Coríntios, dizendo: “Portanto, meus amados irmãos, sede
firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no
Senhor, o vosso trabalho não é vão” (1Co. 15:58). Um estudo fascinante é
descobrir como a Igreja se levantou nos diversos países. Pensamos no Brasil. Durante os seus primeiros trezentos anos (1500 a 1700), era
um país fechado para o evangelho bíblico, preso pelos erros de uma religião composta de tradições humanas.
Mas, no início do século dezenove, Deus, em sua sabedoria, deu uma ordem: Ide
para o Brasil! E missionários começaram a chegar, pregando Cristo e este crucificado.
Dois séculos mais tarde, qual é a situação evangélica no Brasil? Com a pregação
do evangelho, milhares e milhares de homens, mulheres e crianças têm crido
nesta boa nova. Muitos não estão mais conosco, porém, outros tantos continuam
como testemunhas fiéis de Jesus Cristo. Todos estes que crêem estão desfrutando
da redenção e do perdão de todos os seus pecados, (Ef. 1:7). Mas o trabalho
ainda não terminou, portanto, vamos continuar com perseverança: “Prega a
palavra, insta, quer seja oportuno, quer não” (2Tm. 4:2). Muitos podem ainda
crer, porém, para que seja assim, têm que ouvir o evangelho. “E, assim, a fé
vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm. 10:17).
6.
“Recebido na glória”. Essa frase subentende alguns eventos que já
aconteceram. De fato, Cristo foi manifestado na carne. Ele veio para dar a sua
vida em resgate por muitos. Assim, morreu, foi sepultado, mas, ao terceiro dia,
ressurgiu dentre os mortos; e, cinqüenta dias mais tarde, subiu para os céus,
onde foi recebido em glória, (Mc. 16:19). O Salmo 24 dramatiza, poeticamente,
esse evento. O V.2 faz uma pergunta pertinente: “ Quem subirá ao monte do
Senhor? Quem há de permanecer no seu
santo lugar?” Parece que o céu, onde o Criador habita, é tão inacessível
aos homens da terra! Contudo, existe um homem, Jesus Cristo, que é
inquestionavelmente digno. Ele esteve morto, mas eis que está vivo pelos
séculos dos séculos, (Ap. 1:8). No Salmo, Jesus está subindo para o Santo
Lugar. De repente, ouve-se a voz de um precursor, ordenando: “Levantai, ó
portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais eternos, para que entre o
Rei da Glória”. Uma multidão de atendentes pergunta: “Quem é o Rei da Glória?”.
O precursor responde: “ O Senhor, forte e poderoso, o Senhor, poderoso nas
batalhas”. Na sua luta contra os seu adversários, o Senhor Jesus foi vencedor,
porém, ainda retém as marcas da sua crucificação, (Jo. 20:27). O precursor
revela uma certa impaciência com os atendentes, por isso, com urgência, repete
a mesma ordem: “Levantai, ó portas, as vossas cabeças; levantai-vos, ó portais
eternos”. Os atendentes, temerosos, perguntam novamente: “Quem é esse Rei da
Glória?”. O precursor, surpreso com tantas hesitações, dá uma resposta que
os convence: “O Senhor dos Exércitos,
ele é o Rei da Glória” (Vs 7-10). A Bíblia registra: “Jesus, porém, tendo
oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra
de Deus” (Hb. 10:12).
Conclusão:
Vamos repetir, em nosso coração, essas seis verdades que falam tão concisamente
da história de Jesus Cristo, e o que Ele fez por nós, como se estivéssemos
repetindo-as para alimentar os nossos motivos de gratidão por tudo o que Ele
experimentou em favor da nossa salvação eterna.
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