Vasos de Honra

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Como tomar posse da salvação




Leitura Bíblica: Atos 2:37-41

Introdução: É necessário que entendamos algo sobre o contexto destes versículos, e, para isto, faremos algumas perguntas:

a) Quais são as pessoas que ouviram esta mensagem? São os judeus e os prosélitos que vieram a Jerusalém a fim de assistir a Festa de Pentecostes. Entendemos que, basicamente, elas foram as mesmas pessoas que freqüentaram a Festa da Páscoa, portanto, são as mesmas que presenciaram e ajudaram na crucificação e morte de Jesus Cristo, por isso, o Apóstolo podia fazer esta acusação: “Vós o matastes, crucificando-o por mãos de iníquos.”

b) Qual foi o assunto principal desta mensagem que elas ouviram? Foi uma exposição das profecias messiânicas do Antigo Testamento. O apóstolo demonstrou que o conhecido “ Jesus, o Nazareno, varão aprovado por Deus diante de vós com milagres, prodígios e sinais ... sendo este entregue pelo determinado desígnio e presciência de Deus, vós o mataste, crucificando-o por mãos de iníquos.” Mas este não foi o fim da história. O Apóstolo acrescenta jubilosamente, “ao qual, porém, Deus ressuscitou, rompendo os grilhões da morte; porquanto não era possível fosse Ele retido por ela.” O próprio Jesus, já ressuscitado, fez os discípulos se lembrarem do seu ensino: “Importava se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” (Lc. 24:44).

c) E qual foi o apelo que o Apóstolo fez? “Esteja absolutamente certo, pois, toda a casa de Israel de que este Jesus que vós crucificaste, Deus o fez Senhor e Cristo.” Não pode haver dúvidas quanto à Pessoa, Obra e Designação de Jesus Cristo.

d) Qual foi o efeito desta mensagem sobre a consciência destes ouvintes? Cada pessoa sentiu, pessoalmente, a sua culpa pela crucificação e morte de Jesus Cristo, o imaculado Filho de Deus. E, com corações compungidos pela culpa e pelo terror do Juízo Vindouro, perguntaram: “O que faremos, irmãos?”  A nossa mensagem é a exposição da resposta que o Apóstolo lhes deu. São os quatro passos básicos que devem ser tomados, a fim de se tomar posse da salvação. “Pois para vós outros é a promessa, para vossos filhos e para todos os que ainda estão longe, isto é, para quantos o Senhor, nosso Deus, chamar. Com muitas outras palavras deu testemunho e exortava-os, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa.”   

1. A Norma do Arrependimento. “Arrependei-vos.” A melhor definição do arrependimento se encontra no Breve Catecismo da nossa Igreja: “Arrependimento para a vida é uma graça salvadora, pelo qual o pecador, tendo um verdadeiro sentimento de seu pecado e percepção da misericórdia de Deus em Cristo, se enche de tristeza e de horror pelos seus pecados, abandonando-os e volta-se para Deus, inteiramente resolvido e presta-lhe nova obediência” (Resp. 87). Uma das atividades principais do Espírito Santo é convencer o pecador da sua culpabilidade; ele tem transgredido a Santa Lei de Deus. Assim, mediante o poder do Espírito Santo, o pecador clamará ao Senhor: “pois eu conheço minhas transgressões, e o meu pecado está sempre diante de mim. Pequei contra ti, contra ti somente, e fiz o que é mal perante os teus olhos” (Sl. 51:3-4). Quando alguém reconhece a sua culpabilidade, ele sentirá a necessidade de confessá-la. É uma determinação e uma parte inseparável do arrependimento. “ Disse, confessarei ao Senhor as minhas transgressões” (Sl. 32:5). Está implícito no ato da confissão o abandono do pecado, porque ele tornou-se nocivo e repugnante, e a volta para Deus, inteiramente resolvido e prestar-lhe nova obediência. A nossa oração é: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro em mim um espírito inabalável” (Sl. 51:10).

2. A Norma do Batismo. “E cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo.” Não é do nosso interesse discutir o modo de administrar o batismo neste momento; antes, queremos saber a razão desse conselho. Desde o Antigo Testamento, Batismo, ou, “diversas ablusões’ (Hb. 9:10), foram ritos de “purificação” (Jo. 3:25). Antes de começar qualquer serviço espiritual, o candidato teve que ser “lavado” (Ex 40:31-32). Portanto, o Apóstolo está exortando o povo acerca da necessidade de ser “purificado” antes de poder servir a Deus aceitavelmente; seus pecados têm que ser perdoados. Esta purificação é recebida somente através de uma identificação, uma união vital com Jesus Cristo. Os salvos no céu estão lá porque “lavaram suas vestiduras e as alvejaram no sangue do Cordeiro” Jesus Cristo, (Ap. 7:14). Devemos sentir a força das palavras do Apóstolo. Ele está acentuando a unicidade de Jesus Cristo, aquele que foi crucificado por mãos de iníquos, como o único que pode conceder aos pecadores a necessária purificação. “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” (At. 4:12). Não devemos nos preocupar indevidamente com ritos externos, antes, devemos fundamentar a nossa esperança espiritual em Jesus Cristo, o Autor e Consumador da nossa salvação, (1 Co. 10:12).

3. A Norma do Perdão. “Para remissão dos vossos pecados.” Antes de ser perdoado, o Salmista confessou: “Enquanto calei os meus pecados, envelheceram os meus ossos pelos meus constantes gemidos todo o dia. Porque a mão do Senhor pesava dia e noite sobre mim (esta foi a obra do Espírito Santo convencendo-o de seu pecado) e o meu vigor se tornou em sequidão de estio.” Ele sentiu alívio somente depois de confessar o seu pecado e quando soube que o Senhor o tinha perdoado, (Sl. 32:3-5). Os ouvintes da mensagem do Ap. Pedro sentiram o mesmo desespero, pois seus corações ficaram compungidos pelo peso da sua culpa, sabendo que eles mesmo foram responsáveis pela crucificação e morte de Jesus Cristo. A pergunta do Salmista  é também a nossa: “Se observares, Senhor, iniqüidades, quem, Senhor subsistirá?” (Sl. 130,3). A conclusão do Profeta foi: “A alma que pecar, essa morrerá” (Ez. 18:4). Diante da lei de Deus, o pecador está perdido. Contudo, no recôndito da consciência  de cada pessoa, existe a esperança de receber misericórdia  da parte do Senhor, por isso o Salmista podia exclamar confiadamente: “Contigo, porém, está o perdão, para que te temam ... pois , no Senhor, há misericórdia; nele, copiosa redenção” (Sl. 130:4,7). Esta foi a esperança que levou os ouvintes do Apóstolo a perguntar: “Que faremos, irmãos?” Queremos que vocês tragam ao nosso coração o que nos pode dar esperança, (Lm. 3:21). E eles não ficaram decepcionados, porque o Senhor estava conduzindo-os à salvação. O Apóstolo lhes deu esta direção: Crê no Senhor Jesus Cristo, e receberá o perdão de todos os seus pecados , pois para este fim, Ele submeteu-se à morte, tomando para si o castigo de seu povo, (Is.53:5). Em Cristo, as nossas transgressões são afastadas de nós; são apagadas e lançadas na pronfundeza de esquecimento divino, (Sl. 103:12, Is. 43:12). Sim, feliz aquele cuja iniqüidade é perdoada, (Rm. 4:7).     

4. A Norma do Espírito Santo. “E recebereis o dom do Espírito Santo.” “Tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef. 1:13-14). Todos aqueles que crêem salvadoramente em Jesus Cristo, recebem o dom do Espírito Santo como o selo e a garantia de que são recebidos por Deus; de que seus pecados são perdoados; e de que têm a salvação. O Espírito Santo é o penhor, ou, podemos dizer, Ele é a primícia de todas as bênçãos celestiais. “Nisto conhecemos que permanecemos nele (em Deus), e Ele em nós: em que nos deu do seu Espírito Santo” (1 Jo. 4:13). Por causa deste dom, podemos confessar: “O Próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm. 8:16).

O dom do Espírito Santo, que habita na vida daqueles que crêem em Jesus Cristo , tem diversas finalidades. No momento, temos que nos limitar a um aspecto só, a saber, a nossa santificação, “sem a qual ninguém verá o Senhor”( Hb. 12:14). Fomos escolhidos, em Cristo, “antes da fundação do mundo para sermos santos e irrepreensíveis perante ele” (Ef. 1:4). O padrão que Deus estabeleceu para todas as pessoas do mundo inteiro é este: “Sede santos, porque eu sou santo” (1 Pe. 1:16). A humanidade não pode ser diferente do seu Criador. O Espírito Santo foi concedido a fim de nos dar o poder para andar segundo os juízos de Deus e os observar, (Ez. 36:27). Pelo Espírito, mortificamos os efeitos negativos do corpo, (Rm. 8:13), e, pelo mesmo Espírito, reproduzimos o seu fruto em nosso procedimento diário, a saber: “Amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio”, (Gl. 5:22-23). A nossa santificação é sempre atribuída à obra do Espírito Santo, (2 Ts. 2:13). Portanto, se vivemos no Espírito, se Ele realmente habita em nossa vida, andemos também no Espírito, (Gl. 5:25).

Conclusão: Se nós precisamos chegar a um determinado lugar, ou  alcançar um objetivo específico, temos que seguir o caminho certo, sem qualquer desvio. Se desprezamos as normas, jamais chegaremos ao destino. O mesmo princípio é verdadeiro na busca da salvação. Começamos reconhecendo a nossa culpabilidade diante da Santa Lei de Deus; temos que nos arrepender do nosso pecado, confessando-o e o abandonando. Temos que crer em Jesus Cristo como o nosso único Salvador, entregando nossa vida aos cuidados dele, a fim de recebermos o perdão dos nossos pecados. Veja como a Confissão de Fé descreve este princípio: “Os principais atos de fé salvadora são: aceitar e receber a Cristo e descansar só nele para a justificação, santificação e vida eterna, isto em virtude do pacto da Graça” (Cap. 14:2) Com estes passos tomados, receberemos o dom do Espírito Santo como a garantia da nossa salvação e o Santificador da nossa vida. Sim, tomemos posse da vida eterna pela fé em Jesus Cristo.

Rev. Ivan G. G. Ross
Itajubá, 12 de Maio de 2012      

domingo, 22 de setembro de 2013

Crescimento Espiritual



"Por isso mesmo, vós, reunindo toda a vossa diligência, associai com a vossa fé a virtude"(...). (2 Pedro 1:3-11).

Crescimento espiritual requer um esforço decidido: “reunindo toda a vossa diligência.” O Ap. Pedro vê o processo do crescimento como se fosse uma corrente, cada elo é parte do outro. Se um elo estiver fraco, a  corrente toda fica enfraquecida.

O Apóstolo nos dá uma lista de oito elos, os quais são as dádivas impreteríveis para o nosso crescimento na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.

“Fé” é a primeira dádiva nessa corrente espiritual e o incentivo para a presença das demais dádivas. Fé é  sempre “em” algo. Pela fé, cremos  “em” Jesus Cristo como o nosso Senhor e Salvador. Nele temos a redenção, o perdão dos nossos pecados e a esperança da vida eterna. A fé nos introduz à vida cristã. Mas, a partir dessa entrada, temos que adornar a nossa vida com muitas outras dádivas, a fim de sermos completos em Cristo.

Temos que “associar com a a nossa fé a virtude”, uma vida santa e irrepreensível, que é a evidência de Cristo direcionando a nossa vida.

Mas, precisamos de mais: “Com a virtude, o conhecimento”. Não podemos viver a vida cristã sem o conhecimento geral da vontade de Deus, que se encontra nas Escrituras Sagradas. Portanto, a necessidade inadiável de uma leitura sistemática e regular da Palavra de Deus.

“Com o conhecimento, o domínio próprio”, a dádiva de discernir a divisa entre a prática dos nossos próprios interesses e a prática  dos interesses de Deus. O nosso coração precisa do domínio próprio, a fim de glorificar a Deus na prática desses dois interesses. Não podemos ser faltosos em nenhum dos dois.

“Com o domínio próprio, a perseverança”. Quando discernimos a vontade de Deus, temos que praticar a perseverança. Andar resolutamente, dia após dia, no cumprimento da vontade de Deus, inclusive no meio de desencorajamentos, o que nem sempre é fácil. Precisamos da dádiva de perseverança, a fim de não  desmaiarmos no caminho.

“Com a perseverança, a piedade”, o temor de Deus constrangendo o nosso procedimento nos atos de culto. “Deus é espírito, e importa que os seus adoradores o adorem em espírito e em verdade”, com uma reverência não fingida.

“Com a piedade, a fraternidade”. No culto público, estamos no meio de outros adoradores, irmãos e irmãs que, juntamente conosco, são herdeiros da mesma graça de vida. A cada um devemos aquele amor fraternal; levantando mãos santas, sem ira e sem animosidade.

“E com a fraternidade, o amor”. O amor é o cumprimento da lei de Deus, que ensina: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lc. 10:27).

Qual é a recompensa em adornar a nossa vida com essas oito dádivas de Deus? Em primeiro lugar, elas demonstram a nossa diligência no desenvolvimento da vida cristã. “Porque estas coisas, existindo em vós e em vós aumentando, fazem com que não sejais nem inativos, nem infrutuosos no pleno conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo”.

E, em segundo lugar, são as evidências de que Deus tem começado uma boa obra salvífica em nossa vida. “Pois aquele a quem estas cousas não estão presentes é cego.” Como podemos nutrir a esperança da vida eterna se não temos em nós os sinais vitais da vida cristã?

Eis a exortação: “Por isso, irmãos, procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição.” Essa confirmação será reconhecida através da presença dessas oito dádivas de Deus agindo eficazmente em nossa vida. “Pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo”. Enquanto associamos uma dádiva com outra, Deus suprirá todas as demais necessidades para que tenhamos uma entrada ampla e vitoriosa no reino eterno do Sustentador da nossa fé. Eis a norma para alcançar a certeza da salvação.


Rev. Ivan G. G. Ross

domingo, 15 de setembro de 2013

OS LIMPOS DE CORAÇÃO




“Bem-aventurados os limpos de coração, porque verão a Deus” ( Mt. 5:8)

A partir da quinta bem-aventurança, até a sétima, discernimos uma ligeira mudança de ênfase. As primeiras quatro descrevem as características constantes em todos os cristãos. As próximas três bem-aventuranças retratam a manifestação  visível de humildade, arrependimento, mansidão e fome espiritual em nossa vida. As nossas disposições externas revelam, infalivelmente, o que está acontecendo no coração.

1. O Encorajamento na bem-aventurança. Experimentamos uma alegria indizível quando percebemos que o nosso coração está se inclinando para a integridade, para “tudo o que é verdadeiro, respeitável, justo, puro, amável e de boa fama” (Fl. 4:8). Como filhos de Deus, aguardamos a manifestação de Jesus Cristo em glória. “E a si mesmo se purifica todo o que nele tem esta esperança, assim como ele é puro” (1Jo. 3:2-3).

2. A Manifestação da bem-aventurança. O limpo de coração é aquele que vigia a pureza do seu homem interior. Somente o limpo de coração tem as condições necessárias para adorar a Deus “em espírito e em verdade” (Jo. 4:23-24). Somente o limpo de coração tem a disposição para amar a seu próximo como o nosso Senhor nos ensinou (Jo. 13:34). Por isso, devemos orar como Davi orava: “Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Sl. 51:10).

3. O Cumprimento da bem-aventurança. Aquele que vigia o seu coração, a fim de não pecar contra o Senhor, terá a recompensa de ver a Deus. Não apenas na escatologia, mas, mesmo afora, pela fé, podemos andar, confiadamente, porque a promessa do Senhor é esta: “A minha presença irá contigo, e eu ti darei descanso” (Ex. 33:14). Feliz a pessoa que pode olhar para o Senhor e confessar: “Não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo” (Sl. 23:4).


Portanto: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb. 12:14).

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

A Preeminência por Cristo




Leitura Bíblica: I Pedro 2:6-10

Introdução: No estudo anterior, estudamos a prática da santidade. Tudo começa com a obra sobrenatural da regeneração. A santificação se realiza em nós em virtude da nossa união vital com a morte e ressurreição de Jesus Cristo. Por causa dessa união, o pecado perde o seu domínio tirânico sobre nós e somos vivificados e fortalecidos em todas as graças salvadoras para a prática da verdadeira santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor. Portanto, falamos sobre a Exigência da Santificação. O pecado tem que ser despojado. Em seguida, falamos sobre a Experiência da Santidade. Depois de despojar do pecado que habita em nós, temos que nos vestir do novo homem e alimentar-nos do “genuíno leite espiritual”. E, terminamos falando sobre a Excelência da Santidade. Cristo, a causa dela, é “eleito e precioso” diante dos olhos do Pai. Portanto, o que é tão estimado pelo Pai, deve ter igual preciosidade diante dos nossos olhos.
Agora, vamos progredir para o próximo estudo, a Preeminência por Cristo. Temos que cultivar o mesmo sentimento que caracterizava a vida do Ap. Paulo: “Será Cristo engrandecido no meu corpo, quer pela vida, quer pela morte.” Vivamos “acima de tudo, por modo digno do evangelho de Cristo.” Fp 1:20,27.

1) A Predileção por Cristo, V. 6: Podemos salientar quatro pontos que justificam a nossa predileção por Cristo. Ele é a dádiva de Deus Pai para a nossa total salvação.

a) “Pois isso está na Escritura.” O tema central das Escrituras é Cristo e o que Ele faria, e fez, a fim de buscar e salvar pecadores. Como é que Cristo apresentou esse tema aos discípulos no caminho de Emaús? “E, começando por Moisés (os primeiros livros da Bíblia), discorrendo por todos os profetas (os demais Livros da Bíblia), expunha-lhes o que a seu respeito está em todas as Escrituras”. Lc 24:27. A partir de Gênesis, temos a promessa de alguém que feriria a cabeça de Satanás, Gn 3:15 com Rm 16:20. A primeira alusão à necessidade de sacrifícios a fim de vestir o homem, dando-lhe as condições necessárias para ter acesso à presença de Deus, está em Gn 3:21 com Rm 13:14. Esse tema continua em todas as partes das Escrituras, e é resumido nestas palavras: “Porventura, não convinha que o Cristo padecesse (e ressuscitasse dentre os mortos ao terceiro dia) e entrasse na sua glória?” Lc 24:26,46.

b) “Eis que eu ponho em Sião uma pedra angular”: Essa “Pedra Angular” sempre se refere a Jesus Cristo. A igreja é composta de “pedras que vivem”, v.5, mas Cristo é a “Pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa.” V.4; “Essa veio a ser a principal pedra angular.” V.7. Ele mesmo declarou: “Sobre esta pedra edificarei a minha igreja.” Mt 16:18. Cristo, como “a pedra angular”, suporta e sustenta a Igreja toda; “Ele é a cabeça do corpo, da Igreja,” Cl 1:18; por Ele, a Igreja “cresce o crescimento que procede de Deus” Cl 2:19. Devemos dar o devido valor àquele que “amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela”. Ef 5:25.

Quando o texto diz: “Ponho em Sião,” está anunciando que o evangelho de Cristo, este crucificado e ressuscitado, seria proclamado primeiramente em Jerusalém, como efetivamente aconteceu no dia de Pentecostes, At 2:14-36. A ordem que os discípulos receberam foi: “Sereis minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda Judéia e Samaria e até aos confins da terra”. At 1:8.

 c) Cristo como a “Pedra Angular, eleita e preciosa” , é o servo de Deus para buscar e salvar pecadores. Ele é eleito, aquele que o Pai escolheu para realizar a redenção do homem, livrando-o dos laços do diabo, tendo sido feito cativo por ele, II Tm 2:26. Por isso, o Ap. Pedro afirmou categoricamente: “E não há salvação em nenhum outro, porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos.” At 4:12. Cristo é singularmente precioso aos olhos do Pai, porque Ele não somente obedeceu a sua vontade em todos os detalhes do plano da salvação de pecadores, mas continuou até ao ponto extremo, a “si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz.” Fl 2:8. Nós devemos valorizar o que Deus valoriza: “O Pai ama ao Filho, e todas as coisas tem confiado às suas mãos.” Jo 3:35. Nós também O amamos e, sabendo que todas as coisas estão em suas mãos, chegamos a Ele confiadamente, “a fim de recebermos misericórdia e acharmos socorro em ocasião oportuna”. Hb 4:16.

d) “E quem nela (Cristo, a pedra que vive) crer não será, de modo algum, envergonhado.” Eis o motivo da nossa predileção por Cristo. Cremos que Ele é poderoso, “por isso também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.” Hb 7:25. Possivelmente, essa frase nos coloca diante do tribunal de Deus, “que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento.” Rm 2:6. Talvez, tenhamos medo por causa do pecado que tenazmente nos assedia. Mas não temos motivo de ter receio, pois, a verdade é esta: “Se, todavia, alguém pecar, temos advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo; e ele é a propiciação pelos nossos pecados.” – que os encobre, I Jo 2:1-2. Ou, talvez, tenhamos medo de não sermos reconhecidos naquele Dia. Novamente, a verdade é esta: O que crê em Cristo, “não será de modo algum, envergonhado.” Jamais seremos decepcionados. Com toda certeza, ouviremos o convite: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo”. Mt 25:34.

2) A Premonição por Cristo. Vs. 7-8:  Nesses dois versículos, a premonição, ou, uma sensação de advertência, está presente. Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito para buscar e salvar o perdido. Portanto, a rejeição de Cristo é um desprezo ao amor de Deus e à sua providência para a salvação de pecadores.

a) Primeiro, uma palavra positiva: “Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade.” A palavra “preciosidade” poderia ser traduzida como “honorabilidade”. Esse sentido se refere às palavras anteriores: “E quem nela crer, não será, de modo algum, envergonhado” – por ter sido enganado. Cristo é honrável, Ele é fiel, e os que confiam nele nunca terão motivo de se sentirem iludidos, ou postos de lado, especialmente no dia do Juízo Final. Os crentes serão reconhecidos como servos e servas do Senhor Todo Poderoso, II Co 6:18; e ouvirão com honrarias: “Muito bem, servo bom e fiel; foste fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do teu senhor”. Mt 25:21.
Mas, o sentido de “preciosidade” é igualmente válido. Cristo é indizivelmente precioso para o seu povo. Ele é a pérola de grande valor, Mt 13: 46. Dele temos recebido toda sorte de benção espiritual. Por causa de tantos benefícios recebidos, temos a mesma disposição do Ap. Paulo: “Pois estou pronto não só pra ser preso, mas até morrer em Jerusalém pelo nome do Senhor Jesus.” At 21:13. E os primeiros cristãos demonstravam a preciosidade de Cristo para as suas vidas, “mesmo em face da morte, não amaram a própria vida”. Ap 12:13. Cristo, por ser tão precioso, merece a totalidade da nossa dedicação. Olhamos para Ele em sua forma humana e confessamos: “Tu és o mais formoso dos filhos dos homens, nos teus lábios extravasou a graça; por isso, Deus te abençoou para sempre”. Sl 45:2. E acrescentamos: “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade.” Hb 10:9.

b) Agora, a parte negativa: “Mas, para os descrentes”. Por que alguns crêem em Jesus Cristo, enquanto outros endurecem o seu coração contra Ele e praticam todo tipo de desobediência? Talvez o problema não seja propriamente a incredulidade, no sentido de não crer em Deus ou não acreditar em uma lei que é superior à própria consciência. Todas as pessoas têm um conhecimento básico da existência de Deus e da sua vontade para o seu procedimento. Nesse sentido, o texto de Romanos 2:14:16 é inconfundível. Todos têm um conhecimento suficiente dessas verdades, por isso, Deus pode julgar a cada um segundo a lei que está gravada no seu coração, sem qualquer exceção. Portanto, o problema principal é uma insubmissão, uma falta de querer. Cristo lamentou: “E vós não o quisestes!” Por isso, somos advertidos: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós o perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo.” Hb 3:12. Como podemos vencer essa falta de querer? Somos dependentes de uma intervenção soberana da graça de Deus. “Porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer, como o realizar, segundo a sua boa vontade.” Hb 2:13. Portanto, em nossa perplexidade, clamamos a Cristo: “Salva-me, Senhor!” Mt 14:30. Ele é o único que pode nos socorrer.

c) As consequências dessa rebelião: “A pedra (Jesus Cristo) que os construtores (a liderança religiosa) rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular e: pedra de tropeço e rocha de ofensa.” O Ap. Pedro citou essa profecia perante o Sinédrio em Jerusalém, na esperança de amolecer a consciência empedernida dessa liderança. E, para enfatizar a unicidade de Jesus Cristo, acrescentou: “E não há salvação em nenhum outro: porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos”. At 4:11-12. De fato, Cristo se tornou “a principal pedra”.

Por que essa rejeição? Por que Jesus se tornou “pedra de tropeço e rocha de ofensa” para tantas pessoas? Porque Cristo, o enviado por Deus, anulava o valor dos esforços orgulhosos para merecer a própria salvação. Como podemos descrever esse plano para merecer a salvação? O Ap. Paulo responde: “Porquanto (os judeus e toda a humanidade) desconhecendo a justiça de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de Deus”. Rm 10:3. Eles não conhecem a justiça que vem de Deus porque não querem obedecer ao claro ensino das Escrituras Sagradas. Estevão acusou os membros do Sinédrio, dizendo: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram os vossos pais, também vós fazeis". At 7:51.

A justiça que vem de Deus foi adquirida mediante a perfeita obediência de Jesus Cristo e a sua morte substitutiva para levar para longe o nosso pecado. Essa justiça é tomada e imputada a todos os que crêem em Jesus Cristo, sem qualquer ato merecedor. Para receber essa justiça, o pecador tem que se humilhar e desprezar todas as suas boas obras, porque ninguém será justificado pelas obras da lei, Rm 3:20. É nesse ponto que tantas pessoas tropeçam. É difícil demais se humilhar e receber, gratuitamente, a justiça que Deus lhe oferece. O orgulho e a auto-suficiência são fortes demais. “São estes os que tropeçam na palavra, sendo desobedientes, para o que também foram postos”.

3) A Preocupação por Cristo: Apesar de Cristo ser “pedra de tropeço” para muitos, para nós, que somos salvos, “poder de Deus”. I Co 1:18. Assim, devemos cultivar uma preocupação por Cristo, um zelo pela santidade de seu nome. Vamos viver de acordo com a nossa elevação espiritual.

a) A nossa vocação: “Vós, porém, sois raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus”. Somos um povo à parte, eleitos por Deus. Por isso, somos exortados: “procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a vossa vocação e eleição”. II Pe 1:10. Confirmamos a nossa eleição quando evidenciamos o poder transformador do evangelho em nosso procedimento diário. Somos “sacerdócio real”, separados do mundo para servir a Deus em santidade. Somos uma “nação santa”, propriedade exclusiva de Deus, um povo que obedece ao seu Redentor. “Porque fostes comprados por preço. Agora, pois, glorificai a Deus no vosso corpo.” I Co 6:20.

b) A nossa missão: “A fim de proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” Glorificamos a Deus quando anunciamos os seus grandes feitos em favor do seu povo, e, especificamente, a obra para a salvação de pecadores: “Mas Deus prova o seu grande amor para conosco, pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores.” Rm 5:8. “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como propiciação pelos nossos pecados”. I Jo 4:10. Essas são as virtudes que temos de proclamar.

c) A nossa experiência: Não apenas ouvimos acerca das virtudes de Deus, mas, também, podemos experimentar a atuação delas em nossa própria vida. Veja como o versículo 10 corrobora com esta realidade: “Vós, sim, que antes, não éreis povo, mas, agora, sois povo de Deus, que não tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançastes misericórdia.” Observemos as duas comparações: o que éramos em nosso estado natural, e, agora, o que somos por causa da intervenção soberana da graça de Deus em nossa vida.

Éramos um povo sem Deus e sem esperança, “como meninos agitados de um lado para o outro e levados ao redor por todo vento de doutrina (filosofias humanas), pela artimanha dos homens, pela astúcia com que induzem ao erro.” Ef 2:12; 4:14. Mas, agora, tudo é diferente, pois, pela fé em Jesus Cristo, obtivemos uma identidade, somos filhos e filhas do Deus Todo Poderoso, II Co 6:18. Que maravilha! Que motivo de gratidão!

Desconhecíamos a misericórdia, e, perante a santa lei de Deus, éramos filhos da ira e merecedores do castigo eterno, por causa do nosso pecado. Mas, pela atuação soberana do Espírito Santo, fomos conduzidos a Jesus Cristo, e, nele, pela fé, alcançamos a misericórdia de Deus. “A ele, pois, a glória eternamente”. Rm 11:36.

Conclusão: Nós, os que cremos em Cristo Jesus, temos alcançado inúmeras bênçãos espirituais, enquanto outros permanecem nas trevas de seus pecados. Portanto, sejamos testemunhas fiéis, “a fim de vivermos de modo digno do Senhor, para o seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus.” Cl 1:10.