Vasos de Honra

sábado, 28 de julho de 2012

OLHANDO PARA CRISTO



Em Hebreus capítulo doze, somos exortados para olhar firmemente para Jesus Cristo. Este olhar tem o pensamento de receber da sua bondade. O Salmista orou: “Pois em ti, Senhor Deus, estão fitos os meus olhos: em ti confio; não desampares a minha alma” (Sl. 141:8). O Salmista estava precisando de um alento para a sua alma oprimida. Portanto, olhamos para Cristo na esperança de:

1. Receber a Salvação. Cristo é o Autor e Consumador da nossa salvação. Foi Ele quem pagou o preço da nossa redenção. Foi Ele quem recebeu “autoridade para perdoar pecados” (Mc. 2:10). Foi Ele quem garantiu: “Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo. 10:28). O Ap. João afirmou: “E nós temos visto e testemunhamos que o Pai enviou o seu Filho como Salvador do mundo” (1 Jo. 4:14). Olhando esperançosamente para Ele, jamais seremos decepcionados. Nele, temos a salvação da nossa alma.

2. Receber o Encorajamento. “Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição de pecadores contra si mesmo, para que não vos fatigueis, desmaiando em vossa alma” (Hb. 12:3). Quando olhamos para Cristo, contemplando o seu sofrimento, recebemos uma comunicação de encorajamento que nos dá forças para perseverar no meio das nossas dificuldades. “Ele dos céus me envia o seu auxílio e me livra” (Sl. 57:3).

3. Receber a Vitória. “Jesus, o qual, em troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à destra do trono de Deus” (Hb. 12:2). Cristo desprezou um momento  de alegria, enfrentou a cruz e  alcançou  a Vida Eterna para todos os que nele crêem. Estamos numa guerra espiritual, mas, com Cristo, “vencerão, também os chamados, eleitos e fiéis que se acham com ele” (Ap. 17:14).

Vamos continuar, confiadamente, olhando, cheios de expectativa, para Jesus Cristo. Ele é quem nos sustenta nas responsabilidades da nossa vida cotidiana.

Rev. Ivan G. G. Ross

sábado, 14 de julho de 2012

A vida de Ana


Leitura Bíblica: 1 Samuel 1:1-18 

Introdução: A Bíblia não nos oferece muitos detalhes sobre a vida de Ana, contudo, lendo as entrelinhas, percebemos uma história bem maior, um drama que tem se repetido muitas vezes, inclusive em nossos dias atuais; pessoas decepcionadas com as circunstâncias inexplicáveis desta vida. 

A primeira impressão que temos de Ana é a de uma “mulher atribulada de espírito”, sobrecarregada de “excesso de ansiedade”. Ela quis agradar ao seu marido, mas, por alguma razão, seus desejos foram frustrados. Por que ela ficou entristecida desta maneira? Ela começou sua vida feliz e cheia de esperanças, porém, aos poucos, as suas aspirações tornaram-se sonhos que não tinham nenhuma realização. Assim, a melancolia nasceu e as lágrimas escaldantes queimavam-lhe o rosto constantemente. 

E, pior ainda, apesar de ser piedosa e assistir com assiduidade aos cultos de costume, ela começou a questionar a atuação de Deus. Será que Ele realmente ouve e atende as nossas orações? Será que Ele tem interesse numa simples mulher, numa mera dona de casa que não consegue agradar ao seu marido como ele gostaria? Vamos examinar esta vida que representa, com as devidas variações, a experiência de muitas pessoas. 

1. A pressão de Ana. Podemos começar com o dia de seu casamento; Ana ao lado de Elcana, seu marido, era jovem alegre e sonhadora. Eles convidaram o sacerdote para pedir a bênção de Deus sobre aquela nova união, na certeza da aprovação divina. Ela ainda não vira a casa nova que Elcana tinha preparado com tanto cuidado e carinho. Ele amava Ana de todo o seu coração e somente o melhor serviria para a sua esposa. E Ana sonhava: eu vou ser a melhor dona de casa e darei uma multidão de filhos para meu marido. 

Mas, infelizmente, os nossos sonhos nem sempre se realizam de acordo com os nossos planos. Sem dúvida alguma, Ana era uma boa dona de casa; mas, e os filhos que ela tanto desejava? Os meses se passaram, porém, não lhe nasceu nenhum filho. O marido começou a fazer perguntas; as amigas da vizinhança também perguntavam, mas Ana não conseguiu lhes dar nenhuma explanação. Assim, por causa das muitas importunações, Ana começou a sentir uma pressão crescente; e desta surgiu um questionamento: “Por que Deus tem encerrado a minha madre? Será que Ele está me castigando por alguma falta? Mas qual é o meu pecado? Procuro andar sempre no temor do Senhor; não sei o que fazer.” 

Neste meio tempo, Elcana também começou a sentir as pressões de uma preocupação crescente. “Por que Ana não está me dando filhos? Eu preciso de filhos. O meu nome não pode desaparecer em Israel. A minha herança tem de passar para os meus filhos. Preciso resolver este problema porque os anos estão passando.” 
Seguindo os costumes de seus pais, Elcana resolveu o problema tomando para si uma segunda esposa. E deu certo! Penina logo lhe deu a desejada família, filhos e filhas. 

Mas, e Ana? Como é que ela se sentiu diante desta mudança? A casa que era a alegria de seu coração foi repartida com uma segunda esposa! Penina soube que Ana era a mais amada, por isso, usou todas as oportunidades para atormentá-la por causa da sua esterilidade. Mas que Ana podia fazer? Era a verdade; a sua madre não se abria para gerar filhos. 

Gradativamente Ana afastou-se da vida familiar. Ela não suportava os olhares provocadores de Penina. E, em seu quarto, sozinha, Ana rasgava o seu coração com perguntas intermináveis: “Por que Deus está me provocando desta maneira? Com efeito, inutilmente conservo puro o coração e lavo as mãos na inocência. Pois de contínuo sou afligida e cada manhã castigada” (Sl.73:13-14). É tão difícil alimentar uma esperança quando, aparentemente, não há nenhuma.  

Quantas pessoas já vacilaram diante das estranhas providências de Deus! Não é fácil manter-se firme na fé quando parece que tudo está agindo contra a nossa felicidade. Davi, apesar de todas as provações que vieram de todos os lados, disse: “Quanto a mim, bom é estar junto a Deus; no Senhor Deus ponho o meu refúgio, para proclamar todos os seus feitos” Sl.73:28. 

2. A Precisão de Ana. Até o presente ponto, qual era a necessidade mais urgente de Ana? Entendemos que até então, Ana nunca declara a sua dependência de Deus. Juntamente com tantas outras pessoas, ela estava lutando sozinha, carregando todas as suas ansiedades, sem buscar o auxílio de Deus. Sim, ela participava dos cultos públicos, porém, nunca aprendera a derramar a sua alma diante do Senhor em oração suplicante. Ela ouvia as promessas de Deus, tal como: “Não temais: aquietai-vos e vede o livramento do Senhor,” porém, nunca conseguiu tomar posse da bondade de Deus, Ex.14:13; Gn.24:12. 

O tempo passou e, mais uma vez, chegou o dia de prestar culto a Deus. Ana foi obrigada a andar com Penina e seus filhos até Siló. E, novamente, Penina não perdeu a oportunidade para caçoar da esterilidade da rival. Era tão difícil suportar estas provocações! Ela não agüentava mais aquelas ofensas.  Chorando, recusou a comida, porém, uma decisão estava se formando em seu coração atribulado. Em seu desespero, ela resolveu tomar uma atitude. O texto diz: “Levantou-se Ana e, com amargura de alma, orou ao Senhor, e chorou abundantemente.” Ela tinha chegado ao fim de seus próprios recursos e resolveu “derramar a sua alma perante o Senhor.” 

Quando os caminhos de Deus parecem tão injustos e incompreensíveis, temos a tendência de ficar estóicos, paralisados por uma impassibilidade sufocante. Porém, tudo muda quando resolvemos agir pela fé e derramar a nossa alma perante o Senhor. “Lançando sobre Ele toda a nossa ansiedade, porque Ele tem cuidado de nós” 1 Pe.5:7. O Salmista passou por experiências incompreensíveis, porém, quando entrou no “Santuário de Deus”, a nuvem de perplexidade se dissipou, Sl.73:17. Ana teve a mesma experiência, orou e Deus ouviu a sua súplica. Um verdadeiro encontro com o Senhor é capaz de resolver todas as nossas ansiedades. Qual foi o efeito imediato desta comunhão espiritual? O texto afirma: “Assim a mulher se foi seu caminho, e comeu, e o seu semblante já não era triste.” Este encontro espiritual sempre se manifesta sensivelmente sobre as nossas disposições interiores, “porque o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” Rm.5:5. Qual foi a precisão de Ana? Qual é a precisão de cada um de nós? Um encontro com o Senhor! Cristo disse: “Se alguém não nascer de novo, não pode ver o reino de Deus” Jo.3:3. 

3. A Premiação de Ana. Com as esperanças vivificadas, Ana logo fez conhecida a sua petição. Sim, ela ainda queria um filho, mas agora, o motivo era diferente. Em vez de ter um filho só para agradar ao seu marido, ele seria um nazireu, consagrado para servir ao Senhor. Em sua infinita sabedoria, Deus estava preparando um homem que iria transformar a face moral e espiritual de uma nação inteira. 

As providências de Deus, embora não compreendidas no momento, estão sempre executando os seus propósitos secretos. Por que Ana tinha de passar por todos aqueles anos difíceis? No início, talvez ela fosse motivada por pequenos egoísmos. “Esta casa é minha. Meu marido é somente meu.” Mas, através das duras circunstâncias, Ana teve de abrir mão destes valores pessoais. Seja qual for a explanação das providências proporcionadas a Ana, reconhecemos que ela era agora uma mulher livre de egoísmos e totalmente capacitada para criar o prometido filho para o serviço de Deus. 

Ana não recebeu nenhuma revelação quanto ao modo de criar o seu filho. Ela teria de fazer exatamente o que cada mãe e pai têm de fazer em nossos dias: seguir as normas estabelecidas por Deus nas Escrituras Sagradas. Certamente ela ponderava sobre o texto em Dt.6:4-9 (Leiam-no). 

Ana soube que teria de devolver o seu filho ao Senhor; soube que ele teria de ser entregue já “arraigado e alicerçado” no Senhor, Ef.3:17, apesar de sua tenra idade; um menino recém desmamado. Como é que ela conseguiu este objetivo em tão pouco tempo? Ela descobriu o princípio de “remir o seu tempo” Ef.5:15-17. Enquanto amamentava o filho, sussurrava em seus ouvidos a Lei de Deus. Enquanto costurava as roupas dele, orava, pedindo que o Espírito Santo fizesse a devida aplicação das Escrituras Sagradas. 

Chegou o dia para devolver o seu filho ao Senhor, e embora fosse “ainda muito criança”, ele estava preparado para servir ao Senhor durante o resto de sua vida. Ana perdeu o contato físico com seu filho, porém, através de suas orações incansáveis, um elo de comunhão espiritual foi estabelecido. “Crescia Samuel, e o Senhor era com ele, e nenhuma de todas as suas palavras deixou cair em terra” 1Sm.3:19. E qual foi o prêmio de Ana? Ela teve a alegria de ver um filho fiel, ministrando perante o Senhor. 

Conclusão: As estranhas providências de Deus podem esquadrinhar o nosso coração e provocar grandes angústias espirituais. Não é fácil manter-se esperançoso quando parece que tudo está agindo contra a nossa felicidade. Qual é a resposta? Esperar no Senhor e evitar qualquer atitude precipitada. (Sl.40:1-4). 


Itajubá, 27 de maio de 2003. 
          Rev. Ivan G. G. Ross. 

sábado, 7 de julho de 2012

Cristo Elogia as Partes da Sua Igreja,



Quando a Igreja deu seu testemunho falando sobre a superioridade de seu Amado, ela escolheu dez partes do corpo de Cristo para descrever as suas perfeições. Aqui, Cristo, por sua vez, também escolheu dez partes do corpo humano para elogiar as excelências da sua Igreja. Convém lembrar que estamos lidando com uma linguagem poética e alegórica.

(1) A primeira parte do corpo humano que recebe destaque são os pés. “Que formosos são os teus passos dados de sandálias, ó filha do príncipe” V.1a. Cristo está sempre atento para observar a maneira pela qual o seu povo anda. Sabendo disto, o Salmista orava: “Firma os meus passos na tua palavra, e não me domine iniqüidade alguma” Sl.119:133. O grande objetivo do cristão é vigiar, para que não contamine as suas vestiduras, a fim de poder andar com Cristo, Ap.3:4. Aqui, a Igreja está andando com os “pés nos sapatos”, um sinal de dignidade. Andar descalço era sinal de tristeza e degradação. Os presos, para serem humilhados, eram obrigados a andar “despidos e descalços” Is.20:4. Davi, fugindo de Absalão, saiu de Jerusalém chorando e andando descalço, a fim de manifestar a sua humilhação, 2 Sm.15:30. Mas a Igreja não está triste e nem andando descalça, porque ela é “filha do príncipe”, e está com os “pés nos sapatos” (versão corrigida), andando de modo digno da vocação a que foi chamada, Ef.4:1. Os sapatos que a Igreja usa são especiais, porque são parte da “armadura de Deus”. Ela é exortada: “Calçai os pés com a preparação do evangelho da paz” Ef.6:15. A Igreja tem a paz de Deus reinando em seu próprio coração, e, por causa disto, tem o direito de proclamar o “evangelho da paz”. Esta mensagem ensina como o pecador pode ser perdoado e justificado, a fim de experimentar a paz com Deus em seu coração, Rm.5:1. A Igreja é despenseira dos mistérios de Deus. “Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um seja encontrado fiel” 1 Co.4:1-2.

Notemos agora o título que a Igreja recebe. Ela é a “filha do príncipe”. Em Salmo 45:13, ela é chamada “a filha do Rei”. O Ap. Pedro descreveu a Igreja como um “sacerdócio real”, 1 Pe.2:9. Como podemos justificar esses títulos de realeza? Todos aqueles que recebem Cristo como Salvador, recebem o poder de serem feitos filhos de Deus, Jo.1:12. Ele mesmo promete: “E eu vos receberei, serei o vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso” 2 Co.6:17-18. Temos esta realeza por causa do novo nascimento. Somos nascidos lá do alto, nascidos de Deus; somos feitura dele segundo a imagem do Rei dos reis e guiados pelo Espírito Santo. Embora sejamos plebeus e desprezíveis, fomos feitos “filhos do príncipe” em virtude da nossa união vital com Cristo. Este título é dado para nos encorajar e para que compreendamos melhor a “soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”, e para nos constranger a viver de modo digno do Senhor, “para seu inteiro agrado, frutificando em toda boa obra e crescendo no pleno conhecimento de Deus” Fl.3:14; Cl.1:10.

(2) “Os meneios dos teus quadris são como colares trabalhados por mãos de artista” V.1b. Cada parte do corpo tem seu valor especial. Os quadris, por causa da sua flexibilidade, dão estabilidade e direção decidida para os pés. O Salmista exclamou: “Graças te dou, visto que por modo assombrosamente maravilhoso me formaste; as tuas obras são admiráveis, e a minha alma o sabe muito bem; os meus ossos não te foram encobertos, quando no oculto fui formado e entretecido como nas profundezas da terra” Sl.139:14-15. O Ap. Paulo, ao observar as partes da Igreja de Cristo, falou do “auxílio de toda junta segundo a justa cooperação de cada parte” Ef.4:16. Quando os quadris têm uma falha, os pés não conseguem caminhar numa linha reta. Cristo elogiou os meneios da Igreja porque não andava “segundo a carne, mas segundo o Espírito” Rm.8:4. O Salmista fazia esta oração: “Faze-me ouvir, pela manhã, da tua graça, pois em ti confio; mostra-me o caminho por onde devo andar, porque a ti elevo a minha alma” Sl.143:8. 

(3) “O teu umbigo é taça redonda, a que não falta bebida” V.2a. O umbigo tem uma influência sobre as entranhas do corpo e promove a saúde delas. A Bíblia nos ensina: “Não sejas sábio aos teus próprios olhos; teme ao Senhor e aparta-te do mal. Isso será remédio para o teu umbigo e medula para os teus ossos” Pv.3:7-8. O temor do Senhor é uma fonte de saúde para a totalidade do nosso ser. A Palavra de Deus, descrevendo a situação deplorável do pecador em seu estado natural, registra: “Quanto ao teu nascimento, no dia em que nasceste não te foi cortado o umbigo, nem foste lavada com água para te limpar, nem esfregada com sal, nem envolta com faixas”. Mas, quando este mesmo povo passa a temer ao Senhor e se arrepende da sua imundícia, é recebido e purificado. Ez.16:4-9. Veja o contraste entre um “umbigo não cortado” e um “umbigo que não falta bebida”. O primeiro é uma situação de negligência e de penúria; o outro é motivo de alegria por causa de seu zelo em suprir as necessidades da sobrevivência. Cristo elogiou a sua Igreja porque reconheceu que ela, como uma “taça redonda, a que não falta bebida”, está pastoreando, diligentemente, o povo redimido e salvo pela graça de Deus. Os oficiais da Igreja em Éfeso receberam esta exortação urgente: “Atendei por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos, para pastoreardes a Igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu próprio sangue” At.20:28. 

(4) “O teu ventre é monte de trigo, cercado de lírios” V.2b. O ventre alimenta todos as demais partes do corpo. Por isso, devemos observar duas verdades: Primeira, o ventre não produz por si mesmo o alimento, ele apenas o distribui. Segunda, o ventre depende de providências externas para poder distribuir o alimento. A Igreja não tem vida em si mesma; ela recebe a sua vida e todos os meios da sua sobrevivência em virtude da sua união vital com Cristo. O ventre é visto como “monte de trigo” a fim de evidenciar a superabundância da providência de Cristo. O Apóstolo encorajou a Igreja em Filipos, dizendo: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma das vossas necessidades” Fl.4:19. Devemos lembrar que este suprimento está exclusivamente “em Cristo”. Ele mesmo afirmou: “Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim” Jo.15:4. Esta providência, de necessidade, não é um mero suprimento de coisas básicas, ela também inclui uma preciosa irmandade, “cercada de lírios”, os irmãos na fé. Como o Ap. Paulo confessou: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos tem abençoado com toda sorte de bênção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” Ef.1:3. 

(5) “Os teus seios, como duas crias, gêmeas de uma gazela” V.3. Esta comparação recebeu a sua interpretação no Capítulo 4:5. É um quadro de saúde e de produtividade. A Igreja foi constituída a fim de reproduzir-se e sustentar estes novos membros. O sinal da bênção do Senhor era o nascimento de filhos, enquanto que a esterilidade era entendida como uma repreensão da parte de Deus. Quando Isabel, que era estéril, se achou grávida, ela disse: “Assim me fez o Senhor, contemplando-me, para anular o meu opróbrio perante os homens” Lc.1:25. Assim, uma Igreja local que não está produzindo frutos é sinal de algo errado. Devemos orar para que a Palavra de Deus “se propague e seja glorificada” 2 Ts.3:1. Coloquemos os interesses humanos em segundo lugar para que os interesses do Senhor tenham a proeminência. 

(6) “O teu pescoço, como torre de marfim” V.4a. Esta comparação recebeu a sua interpretação no Capítulo 4:4. Aqui, em vez de ser “como a torre de Davi”, o pescoço é “como a torre de marfim”, denotando a sua preciosidade. A fé que a Igreja tem em Jesus Cristo é “muito mais preciosa do que ouro perecível” 1 Pe.1:7. Esta é a fé que agrada a Deus, a fé que devemos almejar e pedir: “Senhor, aumenta-nos a fé” Lc.17:5. 

(7) “Os teus olhos são as piscinas de Hesbon, junto à porta de Bate-Rabin” V.4b. Estas piscinas, de água cristalina, foram usadas como espelhos pelos pedestres, porque, quando alguém olhava para dentro da água, podia ver a imagem de seu rosto. Cristo elogia a Igreja por sua disposição humilde e penitente, pois, ao passar pelas piscinas de Hesbon, contemplando a sua própria pessoa nas águas refletoras, orava: “Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração, prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau e guia-me pelo caminho eterno” Sl.139:23-24. A Igreja sabe que foi escolhida antes da fundação do mundo, a fim de viver uma vida santa e irrepreensível, como na presença de Deus. Por isso, ela se preocupa em ter uma vida impecável e agradável ao Senhor. Devemos imitar o Ap. Paulo quando, perante o Sinédrio, testificou: “Varões, irmãos, tenho andado diante de Deus com toda a boa consciência até ao dia de hoje” At.23:1. E logo acrescentou: “Por isso, também me esforço por ter sempre consciência pura diante de Deus e dos homens” At.24:16. Recebemos este encorajamento das Escrituras Sagradas: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, (...) aproximemo-nos, com sincero coração, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência e lavado o corpo com água pura. Guardemos firme a confissão da esperança, sem vacilar, pois quem fez a promessa é fiel” Hb.10:19,22,23. 

(8) “O teu nariz, como a torre de Líbano, que olha para Damasco” V.4c. O nariz, a parte mais proeminente no rosto, sugere a idéia de vigilância (como a torre de Líbano). A  localização desta torre era destacada, ela olhava para Damasco, na Síria, onde o inimigo de Israel habitava, e de onde fazia as suas incursões contra os Israelitas. Portanto, uma vigilância maior era necessária. Semelhantemente, a Igreja tem um inimigo feroz às suas portas. O Ap. Pedro escreveu: “Sede sóbrios e vigilantes, o diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar; resisti-lhe firme na fé” 1 Pe.5:8-9. Mas, temos outro inimigo ainda mais chegado: os restos da nossa natureza carnal. O Ap. Paulo lamentava: “Porque nem mesmo compreendo o meu próprio modo de agir, pois não faço o que prefiro e sim o que detesto” Rm.7:15. Por isso, Cristo disse: “Bem-aventurado aquele que vigia e guarda as suas vestes, para que não ande nu, e não se veja a sua vergonha” Ap.16:15. A Igreja em Filadélfia recebeu esta promessa: “Porque guardaste a palavra da minha perseverança, também eu te guardarei da hora da provação que há de vir sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a terra” Ap.3:10. Portanto, vamos seguir a mesma atitude do profeta que disse: “Por-me-ei na minha torre de vigilância, colocar-me-ei sobre a fortaleza e vigiarei para ver o que Deus me dirá e que resposta eu terei à minha queixa” Hc.2:1. 

(9) “A tua cabeça é como o monte Carmelo” V.5a. À semelhança deste monte, a cabeça é a parte mais importante do corpo; dela, todos os demais membros recebem a sua direção, e, de uma maneira específica, a nossa mente. Em certo sentido, é a nossa mente que determina as nossas atitudes diante de Deus e dos homens. “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma (mente), de todo o teu entendimento e de toda a tua força” Mc.12:30. E o Ap. Pedro nos orienta: “Finalmente, sede todos de igual ânimo (mente), compadecidos, fraternalmente amigos, misericordiosos, humildes, não pagando mal por mal ou injúria por injúria; antes, pelo contrário, bendizendo, pois para isso mesmo fostes chamados, a fim de receberdes bênção por herança” 1 Pe.3:8-9. O verdadeiro culto a Deus envolve o pleno uso da nossa mente. É possível realizar um tipo de culto, sem incluir a mente, mas é um culto infrutífero, isto é, um culto que não edifica e nem glorifica a Deus. Então, como devemos cultuar a Deus? O Ap. Paulo responde: “Orarei com o Espírito, mas também orarei com a mente, cantarei com o Espírito, mas também cantarei com a mente” 1 Co.14:14-15. Cristo tem prazer em ver a sua Igreja em oração, e, enquanto esperamos as devidas respostas, Ele guardará o nosso coração (emoções) e a nossa mente (pensamentos) com a sua paz, Fl.4:7. Portanto, a fim de desfrutar de uma vida cristã mais expressiva, temos de “cingir” a nossa mente, ser sóbrios e esperar inteiramente na graça que nos está sendo trazida na revelação de Jesus Cristo, 1 Pe.1:13. 

(10) “A tua cabeleira, como a púrpura” V.5b. Nenhuma parte da nossa pessoa é insignificante aos olhos de Cristo. Até os cabelos são como a púrpura, algo muito precioso. Quando Cristo estava encorajando os seus discípulos a uma confiança maior na providência divina, Ele usou duas figuras muito sugestivas: “Não se vendem dois pardais por um asse? E nenhum deles cairá em terra sem o consentimento do vosso Pai. E, quanto a vós outros, até os cabelos todos estão contados. Não temeis, pois! Bem mais valeis vós do que muitos pardais” Mt.10:28-31. O Ap. Paulo fez uma referência ao cabelo da mulher que, quando coberto, era sinal da sua sujeição às autoridades instituídas na Igreja, 1 Co.11:10. É isto que agrada o Senhor Jesus, vendo a sua Igreja em plena sujeição à sua autoridade, Ef.5:24.

As descrições de Cristo são encerradas com uma lembrança da amabilidade da Igreja. “Um rei está preso nas tuas tranças”. V.5c. Até um rei pode ficar impressionado ao ver o procedimento submisso da Igreja diante da autoridade de seu Senhor. O Ap. Pedro faz uma referência ao poder da Igreja quando o seu procedimento é santo e irrepreensível. É possível ganhar o descrente para Cristo, “por meio do procedimento da esposa” 1 Pe.3:1. O Ap. Paulo, insistindo sobre a importância do nosso procedimento diante das pessoas mais fracas na fé, disse: “Por causa da tua comida (individualismo egoístico), não faças perecer aquele a favor de quem Cristo morreu” Rm.14:15. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” 1 Co.15:58.

Rev. Ivan G. G. Ross