Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura Bíblica: João 19:28-30
Introdução: Vamos dar
início à nossa reflexão, citando as palavras de um dos nossos hinos: “Ao
contemplar a tua cruz e o que sofreste ali, Senhor, sei que não há, ó meu Jesus,
um bem maior que o ter amor! – Quero somente me gloriar na tua cruz, meu
Salvador, pois morreste em meu lugar! Teu, sempre teu serei, Senhor!” (HNC
262).
Nesse ato de contemplar a cruz de Jesus Cristo, escutaremos uma das
sete palavras que Ele fez ouvir enquanto pendurado na cruz, “derramando a sua
alma na morte” (Is. 53:12). E, no momento final de seu sofrimento, Ele deu um
“grande brado”, anunciando a vitória sobre o pecado: “Está consumado!” (Mc.
15:37). O que foi consumado? A sua missão para redimir e salvar o seu povo foi
completamente executada; e, com essa morte substitutiva, as profecias
messiânicas no Antigo Testamento se cumpriram. Em diversas ocasiões, Cristo
manifestou plena consciência de que veio para cumprir essas profecias.
Oferecemos um exemplo. Quando Jesus foi traído, Ele podia ter facilmente
escapado de seus inimigos, porém, em vez de fugir, Ele se entregou a eles,
dizendo: “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste
momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras,
segundo as quais assim deve suceder? Naquele momento, disse Jesus às multidões:
Saístes com espadas e porretes para prender-me, como a um salteador? Todos os
dias, no templo, eu me assentava convosco ensinando, e não me prendestes. Tudo
isto, porém, aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas.
Então, os discípulos todos, deixando-o, fugiram” (Mt. 26:53-56). Citamos mais
uma profecia, para podermos sentir que a
obra de Cristo consistia em cumprir as profecias, Daniel 9:24. “Setenta semanas (simbólicas),
estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer
cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a transgressão,
para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia, e para ungir o
Santo dos Santos.” Cristo veio para cumprir essas seis determinações.
1. “Para fazer cessar a transgressão”. Transgressão significa desobediência à lei revelada por Deus. Essa desobediência é
característica de cada ser humano, na qual “todos nós andamos outrora, segundo
as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e
éramos por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef. 2:2-3). Cristo
veio “para fazer cessar a transgressão” e todos os atos de desobediência.
Como Cristo cumpriu essa profecia? Pelo
Espírito, recebemos uma nova natureza; fomos regenerados pela obra expiatória
de Jesus Cristo. “Todo aquele que é nascido de Deus, não vive na prática do
pecado, pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver
pecando, porque é nascido de Deus” (1Jo.3:9). Nascidos de novo, vivemos unidos
com Cristo, e, como ele morreu para o pecado, nós também morremos para o
pecado; por isso, o Apóstolo podia dizer: “O pecado não terá domínio sobre vós,
pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm. 6:14). O Espírito Santo
foi dado a fim de aplicar a eficácia da obra santificadora de Cristo em nós e
direcionar-nos para o caminho em que devemos andar. Assim, temos a exortação:
“Digo, porém, andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne”
(Gl. 5:16). Graças a Deus, nós, que estamos em Cristo, podemos experimentar que,
de fato, Cristo fez “cessar a transgressão”, rompendo aquele domínio e
desobediência habitual.
2. “Para dar fim aos pecados”. Aqui, pecado descreve a nossa
imperfeição, “carecemos da glória de Deus” (Rm. 3:23). Não conseguimos
glorificá-lo como convém, algo está sempre faltando, por causa do pecado que
ainda resta em nossa natureza. Em virtude dessa constante falha, precisamos,
continuamente, a misericórdia e o perdão de Deus. Dar fim ao pecado é
prendê-lo, como numa prisão de segurança máxima, para que nunca mais seja solto
a fim de nos escravizar outra vez. A lembrança dos pecados da nossa mocidade
podem nos causar muitas preocupações. Podem, porventura, prejudicar a segurança
da nossa salvação? Por isso o Salmista clamava: “Não te lembres dos meus
pecados da mocidade, nem das minhas transgressões. Lembra-te de mim, segundo a
tua misericórdia, por causa da tua bondade, ó Senhor” (Sl. 25:7). Quando o
Senhor perdoa os nossos pecados, eles são apagados e não mais lembrados, (Is.
43:25). Cristo disse: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis
livres” (Jo. 8:36). Livres, porque Cristo deu fim aos nossos pecados. Ele
cumpriu a profecia.
3. “Para expiar a iniquidade”. Iniquidade é a perversão da palavra de
Deus. “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos
homens que detém a verdade pela injustiça” (Rm. 1:18). “Alguns que vos
perturbam e querem perverter (deturpar, 2Pe. 3:16), o evangelho de Cristo” (Gl.
1:7). Apesar da seriedade da iniquidade, Deus oferece o seu perdão. Por isso, o
salmista exclamou: “Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e
cujos pecados são cobertos” (Sl. 32:1). Foi Cristo que expiou os nossos
pecados, levando-os para o esquecimento eterno, tão vividamente demonstrado no
Dia da Expiação (Lv. 16:21-22). E, ao cumprir esse simbolismo, Cristo,
“carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para
que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça” (1Pe. 2:24). Como
podemos experimentar a bem-aventurança dessa expiação? “Se confessarmos os
nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar
de toda injustiça” (1Jo. 1:7). Sempre lembramos que Cristo “tem sobre a terra
autoridade para perdoar pecados” (Mt. 9:6; Sl. 130:4,7).
4. “Para trazer uma justiça eterna”. Essa justiça é aquela que Cristo
alcançou para o seu povo, mediante a sua obediência imaculada à santa lei de
Deus, uma justiça que é imputada a todos que crêem em Jesus Cristo, fazendo-nos
aceitáveis diante do tribunal de Deus. “Justificados, pois, mediante a fé,
temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem
obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e
gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm. 5:1-2). Mas essa justiça não
é apenas judicial, ela também se refere ao nosso procedimento. “E, assim, se
alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que
se fizeram novas” (2Co. 5:17). Novamente, damos graças a Deus, porque Cristo
cumpriu a profecia, e, de fato, trouxe uma justiça eterna para o seu povo.
5. “Para selar a visão e a profecia”. Cristo veio para ab-rogar todo o
sistema das leis de sacrifícios usadas no culto do Antigo Testamento; colocou-as
fora de uso pelo seu próprio sacrifício. “Jesus, porém, tendo oferecido para
sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus”, assim,
confirmando a suficiência e a eficácia de seu sacrifício. “Porque com uma única
oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hb.
10:12,14). Por isso, as repetidas referências sobre a necessidade “que o Cristo
havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia” (Lc. 24:46;
At. 3:18). “A seguir, Jesus lhes disse
... importava que cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moises, nos
Profetas e nos Salmos” (Lc.24:44). Dessa maneira, Cristo selou “a visão e a
profecia”. Nesse sentido, percebemos a total impossibilidade de sermos
justificados e salvos pelas obras da lei; porque já foram ab-rogadas. “Quando
se diz Nova, torna-se antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado
e envelhecido está prestes a desaparecer” (Hb. 8:13). Novamente, damos graças a
Deus por Cristo Jesus, porque, como o nosso Representante e Substituto, ele cumpriu
a lei em nosso lugar.
6. “Para ungir o Santo dos Santos”. No Antigo Testamento, o Santo dos
Santos simbolizava a presença de Deus. Era um lugar separado do povo leigo.
Contudo, o sumo-sacerdote podia entrar, porém, somente uma vez por ano e sempre
com o sangue de um animal sacrificado. Cristo veio para ungir o Santo dos
Santos, para que o seu povo pudesse ter pleno acesso a essa presença. “Quando, porém, veio Cristo como
Sumo-sacerdote, ... não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu
próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido
eterna redenção”. Ele abriu a porta desse lugar sagrado, para que nós, o seu
povo redimido, pudesse ter comunhão espiritual com Deus, (Hb. 9:11-12). Agora,
veja o convite: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos
Santos, pelo sangue de Jesus, ... aproximemo-nos, em plena certeza de fé, tendo
o coração purificado de má consciência”, (Hb.10:19-22). Cristo fez referência
ao privilégio de entrar na presença de Deus, dizendo: “Na casa de meu Pai há
muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos
lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim
mesmo, para que onde eu estou, estejais vós também” (Jo. 14:2-3).
Nos seis itens da profecia de Daniel, percebemos a perfeição da obra
redentora de Jesus Cristo. Em Tito, capítulo terceiro, temos um resumo deste
feito: “Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o
seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo
a sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do
Espírito Santo, que derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo,
nosso Salvador; a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus
herdeiros, segundo a esperança da vida eterna” (Tt. 3:4-7). Sim,
para o nosso consolo espiritual, vamos lembrar que, quando “Cristo nos amou e a
si mesmo se entregou por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”,
Ele cumpriu todas as promessas
proféticas relacionadas à nossa redenção, (Ef. 5:2). “Nisto consiste o amor:
não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu
Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo. 4:10). Como o nosso
Propiciador, Cristo nos encobre com a sua perfeita justiça, para que não
sejamos expostos à ira de Deus por causa das nossas muitas desobediências.
Vamos voltar um pouco e meditar sobre as circunstâncias das profecias
messiânicas do profeta Daniel. Começamos no início de Gênesis. Quando Adão e
Eva pecaram, Deus não os rejeitou definitivamente, antes, Ele se dirigiu a
Satanás, o provocador da queda dos nossos pais, dizendo: “Porei inimizade entre
ti e a mulher; entre a tua descendência (os seguidores de Satanás) e o seu
descendente (o prometido Salvador). Este (o prometido Salvador) te ferirá a
cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” ( o que aconteceu durante os sofrimentos
de Cristo), (Gn. 3:15). Ele seria reconhecido, não por uma declaração pública,
mas, sim, mediante o cumprimento de profecias específicas, como, por exemplo, o
seu nascimento virginal: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e
lhe chamará Emanuel” (Is. 7:14). A sua Divindade: “Porque um menino nos nasceu,
um filho se nos deu, o governo está sobre os seus ombros; o seu nome será:
Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is.
9:6). São nomes que pertencem, exclusivamente, à Divindade. E o local de seu
nascimento, uma informação especificamente importante para os judeus: “Em Belém
de Judá” foi a resposta espontânea dos “principais sacerdotes e escribas do
povo” (Mq 5:2; Mt. 2:4-6). E a razão principal da sua vinda: “Para dar a sua vida
em resgate por muitos”, (Mc. 10:45). Em
Isaías 53, temos a descrição e o propósito da sua morte: “Mas ele foi
transpassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o
castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos
sarados” (Is. 53:5). E, terminamos ouvindo como Cristo se sentiu diante da sua
missão: “Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua
glória? E, começando por Moises, discorrendo por todos os Profetas,
expunha-lhes o que a seu respeito
contava em todas as Escrituras” (Lc. 24:26). E, quanto à sua vida/morte, disse:
“Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho
autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu
Pai” (Jo. 10:18).
Conclusão: A vida cristã é um ato de fé, uma confiança sincera na infalibilidade das
Escrituras Sagradas, as quais nos dão tudo o que é necessário para termos a
certeza da nossa salvação. Quando Cristo deu o grande brado: “Está consumado”,
Ele estava anunciando, para que o mundo inteiro pudesse ouvir e crer: o preço
da salvação foi pago, não por ouro ou prata, mas, sim, pelo seu sangue
precioso. Creia, e seja salvo.