Vasos de Honra

quarta-feira, 23 de agosto de 2017

ESTÁ CONSUMADO!


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: João 19:28-30

Introdução:  Vamos dar início à nossa reflexão, citando as palavras de um dos nossos hinos: “Ao contemplar a tua cruz e o que sofreste ali, Senhor, sei que não há, ó meu Jesus, um bem maior que o ter amor! – Quero somente me gloriar na tua cruz, meu Salvador, pois morreste em meu lugar! Teu, sempre teu serei, Senhor!” (HNC 262).

Nesse ato de contemplar a cruz de Jesus Cristo, escutaremos uma das sete palavras que Ele fez ouvir enquanto pendurado na cruz, “derramando a sua alma na morte” (Is. 53:12). E, no momento final de seu sofrimento, Ele deu um “grande brado”, anunciando a vitória sobre o pecado: “Está consumado!” (Mc. 15:37). O que foi consumado? A sua missão para redimir e salvar o seu povo foi completamente executada; e, com essa morte substitutiva, as profecias messiânicas no Antigo Testamento se cumpriram. Em diversas ocasiões, Cristo manifestou plena consciência de que veio para cumprir essas profecias. Oferecemos um exemplo. Quando Jesus foi traído, Ele podia ter facilmente escapado de seus inimigos, porém, em vez de fugir, Ele se entregou a eles, dizendo: “Acaso, pensas que não posso rogar a meu Pai, e ele me mandaria neste momento mais de doze legiões de anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, segundo as quais assim deve suceder? Naquele momento, disse Jesus às multidões: Saístes com espadas e porretes para prender-me, como a um salteador? Todos os dias, no templo, eu me assentava convosco ensinando, e não me prendestes. Tudo isto, porém, aconteceu para que se cumprissem as Escrituras dos profetas. Então, os discípulos todos, deixando-o, fugiram” (Mt. 26:53-56). Citamos mais uma profecia, para podermos sentir  que a obra de Cristo consistia em cumprir as profecias,  Daniel 9:24. “Setenta semanas (simbólicas), estão determinadas sobre o teu povo e sobre a tua santa cidade, para fazer cessar a transgressão, para dar fim aos pecados, para expiar a transgressão, para trazer a justiça eterna, para selar a visão e a profecia, e para ungir o Santo dos Santos.” Cristo veio para cumprir essas seis determinações.

1. “Para fazer cessar a transgressão”.  Transgressão significa desobediência à  lei revelada por Deus. Essa desobediência é característica de cada ser humano, na qual “todos nós andamos outrora, segundo as inclinações da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza, filhos da ira, como também os demais” (Ef. 2:2-3). Cristo veio “para fazer cessar a transgressão” e todos os atos de desobediência. Como  Cristo cumpriu essa profecia? Pelo Espírito, recebemos uma nova natureza; fomos regenerados pela obra expiatória de Jesus Cristo. “Todo aquele que é nascido de Deus, não vive na prática do pecado, pois o que permanece nele é a divina semente; ora, esse não pode viver pecando, porque é nascido de Deus” (1Jo.3:9). Nascidos de novo, vivemos unidos com Cristo, e, como ele morreu para o pecado, nós também morremos para o pecado; por isso, o Apóstolo podia dizer: “O pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, e sim da graça” (Rm. 6:14). O Espírito Santo foi dado a fim de aplicar a eficácia da obra santificadora de Cristo em nós e direcionar-nos para o caminho em que devemos andar. Assim, temos a exortação: “Digo, porém, andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (Gl. 5:16). Graças a Deus, nós, que estamos em Cristo, podemos experimentar que, de fato, Cristo fez “cessar a transgressão”, rompendo aquele domínio e desobediência habitual.

2. “Para dar fim aos pecados”. Aqui, pecado descreve a nossa imperfeição, “carecemos da glória de Deus” (Rm. 3:23). Não conseguimos glorificá-lo como convém, algo está sempre faltando, por causa do pecado que ainda resta em nossa natureza. Em virtude dessa constante falha, precisamos, continuamente, a misericórdia e o perdão de Deus. Dar fim ao pecado é prendê-lo, como numa prisão de segurança máxima, para que nunca mais seja solto a fim de nos escravizar outra vez. A lembrança dos pecados da nossa mocidade podem nos causar muitas preocupações. Podem, porventura, prejudicar a segurança da nossa salvação? Por isso o Salmista clamava: “Não te lembres dos meus pecados da mocidade, nem das minhas transgressões. Lembra-te de mim, segundo a tua misericórdia, por causa da tua bondade, ó Senhor” (Sl. 25:7). Quando o Senhor perdoa os nossos pecados, eles são apagados e não mais lembrados, (Is. 43:25). Cristo disse: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente sereis livres” (Jo. 8:36). Livres, porque Cristo deu fim aos nossos pecados. Ele cumpriu a profecia.

3. “Para expiar a iniquidade”. Iniquidade é a perversão da palavra de Deus. “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detém a verdade pela injustiça” (Rm. 1:18). “Alguns que vos perturbam e querem perverter (deturpar, 2Pe. 3:16), o evangelho de Cristo” (Gl. 1:7). Apesar da seriedade da iniquidade, Deus oferece o seu perdão. Por isso, o salmista exclamou: “Bem-aventurados aqueles cujas iniquidades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos” (Sl. 32:1). Foi Cristo que expiou os nossos pecados, levando-os para o esquecimento eterno, tão vividamente demonstrado no Dia da Expiação (Lv. 16:21-22). E, ao cumprir esse simbolismo, Cristo, “carregando ele mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados, para que nós, mortos para os pecados, vivamos para a justiça” (1Pe. 2:24). Como podemos experimentar a bem-aventurança dessa expiação? “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo. 1:7). Sempre lembramos que Cristo “tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados” (Mt. 9:6; Sl. 130:4,7).

4. “Para trazer uma justiça eterna”. Essa justiça é aquela que Cristo alcançou para o seu povo, mediante a sua obediência imaculada à santa lei de Deus, uma justiça que é imputada a todos que crêem em Jesus Cristo, fazendo-nos aceitáveis diante do tribunal de Deus. “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm. 5:1-2). Mas essa justiça não é apenas judicial, ela também se refere ao nosso procedimento. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co. 5:17). Novamente, damos graças a Deus, porque Cristo cumpriu a profecia, e, de fato, trouxe uma justiça eterna para o seu povo.

5. “Para selar a visão e a profecia”. Cristo veio para ab-rogar todo o sistema das leis de sacrifícios usadas no culto do Antigo Testamento; colocou-as fora de uso pelo seu próprio sacrifício. “Jesus, porém, tendo oferecido para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus”, assim, confirmando a suficiência e a eficácia de seu sacrifício. “Porque com uma única oferta, aperfeiçoou para sempre quantos estão sendo santificados” (Hb. 10:12,14). Por isso, as repetidas referências sobre a necessidade “que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos no terceiro dia” (Lc. 24:46; At. 3:18). “A seguir,  Jesus lhes disse ... importava que cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moises, nos Profetas e nos Salmos” (Lc.24:44). Dessa maneira, Cristo selou “a visão e a profecia”. Nesse sentido, percebemos a total impossibilidade de sermos justificados e salvos pelas obras da lei; porque já foram ab-rogadas. “Quando se diz Nova, torna-se antiquada a primeira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer” (Hb. 8:13). Novamente, damos graças a Deus por Cristo Jesus, porque, como o nosso Representante e Substituto, ele cumpriu a lei em nosso lugar.

6. “Para ungir o Santo dos Santos”. No Antigo Testamento, o Santo dos Santos simbolizava a presença de Deus. Era um lugar separado do povo leigo. Contudo, o sumo-sacerdote podia entrar, porém, somente uma vez por ano e sempre com o sangue de um animal sacrificado. Cristo veio para ungir o Santo dos Santos, para que o seu povo pudesse ter pleno acesso a essa  presença. “Quando, porém, veio Cristo como Sumo-sacerdote, ... não por meio de sangue de bodes e de bezerros, mas pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção”. Ele abriu a porta desse lugar sagrado, para que nós, o seu povo redimido, pudesse ter comunhão espiritual com Deus, (Hb. 9:11-12). Agora, veja o convite: “Tendo, pois, irmãos, intrepidez para entrar no Santo dos Santos, pelo sangue de Jesus, ... aproximemo-nos, em plena certeza de fé, tendo o coração purificado de má consciência”, (Hb.10:19-22). Cristo fez referência ao privilégio de entrar na presença de Deus, dizendo: “Na casa de meu Pai há muitas moradas. Se assim não fora, eu vo-lo teria dito. Pois vou preparar-vos lugar. E, quando eu for e vos preparar lugar, voltarei e vos receberei para mim mesmo, para que onde eu estou, estejais vós também” (Jo. 14:2-3).

Nos seis itens da profecia de Daniel, percebemos a perfeição da obra redentora de Jesus Cristo. Em Tito, capítulo terceiro, temos um resumo deste feito: “Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador; a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna” (Tt. 3:4-7).   Sim, para o nosso consolo espiritual, vamos lembrar que, quando “Cristo nos amou e a si mesmo se entregou por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave”, Ele cumpriu  todas as promessas proféticas relacionadas à nossa redenção, (Ef. 5:2). “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo. 4:10). Como o nosso Propiciador, Cristo nos encobre com a sua perfeita justiça, para que não sejamos expostos à ira de Deus por causa das nossas muitas desobediências.

Vamos voltar um pouco e meditar sobre as circunstâncias das profecias messiânicas do profeta Daniel. Começamos no início de Gênesis. Quando Adão e Eva pecaram, Deus não os rejeitou definitivamente, antes, Ele se dirigiu a Satanás, o provocador da queda dos nossos pais, dizendo: “Porei inimizade entre ti e a mulher; entre a tua descendência (os seguidores de Satanás) e o seu descendente (o prometido Salvador). Este (o prometido Salvador) te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar” ( o que aconteceu durante os sofrimentos de Cristo), (Gn. 3:15). Ele seria reconhecido, não por uma declaração pública, mas, sim, mediante o cumprimento de profecias específicas, como, por exemplo, o seu nascimento virginal: “Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho e lhe chamará Emanuel” (Is. 7:14). A sua Divindade: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu, o governo está sobre os seus ombros; o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is. 9:6). São nomes que pertencem, exclusivamente, à Divindade. E o local de seu nascimento, uma informação especificamente importante para os judeus: “Em Belém de Judá” foi a resposta espontânea dos “principais sacerdotes e escribas do povo” (Mq 5:2; Mt. 2:4-6). E a razão principal da sua vinda: “Para dar a sua vida em resgate por muitos”, (Mc. 10:45).  Em Isaías 53, temos a descrição e o propósito da sua morte: “Mas ele foi transpassado pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniquidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados” (Is. 53:5). E, terminamos ouvindo como Cristo se sentiu diante da sua missão: “Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moises, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes  o que a seu respeito contava em todas as Escrituras” (Lc. 24:26). E, quanto à sua vida/morte, disse: “Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato recebi de meu Pai” (Jo. 10:18).

Conclusão: A vida cristã é um ato de fé, uma  confiança sincera na infalibilidade das Escrituras Sagradas, as quais nos dão tudo o que é necessário para termos a certeza da nossa salvação. Quando Cristo deu o grande brado: “Está consumado”, Ele estava anunciando, para que o mundo inteiro pudesse ouvir e crer: o preço da salvação foi pago, não por ouro ou prata, mas, sim, pelo seu sangue precioso. Creia, e seja salvo.


terça-feira, 15 de agosto de 2017

FÉ SALVADORA




Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Hebreus 1:1-7

Introdução:  Vamos meditar sobre a doutrina da nossa fé. Por que julgo necessário abordar esse assunto? Porque Cristo disse: “Contudo, quando vier o Filho do homem, achará, porventura, fé na terra?” (Lc. 18:8). Evidentemente, chegando perto da Segunda Vinda de Cristo, a fé salvadora em Jesus Cristo será algo bem insólito. Qual a razão desse acontecimento? Novamente, Cristo explica: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” (Mt. 24:12-13). Qual é a causa desse esfriamento? É o aumento assustador da iniquidade, mas não apenas isso, parece que, apesar das nossas orações, Deus não está respondendo. A iniquidade continua aumentando cada vez mais; assim nasce o desânimo. O Apóstolo descreveu essa situação, dizendo: “Sabe, porém, isto: nos últimos dias,  sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos, jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos, irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos,  enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de piedade, negando-lhe, entretanto,  o poder. Foge também destes” (2 Tm. 3:1-5). O domínio desses pecados, em nossos dias, é uma realidade inegável. Mas a Bíblia ensina: “Todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo. 5:4). Uma das atividades principais de Satanás é minar a fé do povo de Deus. A tática é bem sutil: em vez de negar a fé, ele procura redirecioná-la. Em vez de olhar firmemente para o nosso Senhor e Salvador, ele encoraja a pessoa a usar a sua fé para cuidar da sua vida física, buscando a cura das enfermidades; ou para aumentar a sua situação financeira; enfim, o mais importante é o bem estar nesta vida. Com essa preocupação, Cristo, e a vida eterna ficam praticamente excluídos. Qual é o fim principal da nossa fé? “A salvação da nossa alma”, pela fé em Jesus Cristo, (Pe. 1:6-9). Sabendo que toda a nossa esperança espiritual depende da nossa fé, Satanás não se cansa de tentar desviá-la, por isso, o alerta é: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar, resisti-lhe firmes na fé” (1Pe. 5:8-9). A chave é “Permanecei firmes na fé” (1Co. 16:13).

Agora, vamos definir a fé verdadeira, a fé que nos dá o poder para contemplar o invisível: “Visto que andamos por fé e não pelo que vemos” (1Co. 5:7). Vamos imaginar que estamos olhando dentro da negridão do espaço vazio e silencioso. De repente, ouvimos uma voz; o nosso coração se enche com uma certeza: algo há de acontecer. A voz dá uma ordem: “Haja luz”, e, imediatamente, as trevas desaparecem. “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus de maneira que o visível veio a existir  das coisas que não aparecem”. O primeiro versículo define a natureza da fé: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam”. Quais são as “coisas que se esperam”?  As revelações que Deus tem falado e prometido. E, sabendo que o que a palavra que Deus fala não pode se descumprir, temos a convicção de fatos (que Deus tem falado), “fatos que não se vêem”.  Não há necessidade de buscar uma definição melhor. Cremos na veracidade de tudo o que  Deus tem falado, pois ele não pode mentir, (Tt 1:2). As promessas que Deus tem nos dado são todas registradas nas Escrituras Sagradas, por isso, podemos confiar em cada uma. “Porque quantas são as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por Ele é o amém para glória de Deus, por nosso intermédio”, isto é, os ministros de Deus glorificam a Deus quando anunciam a sua confiança na infalibilidade dessas promessas, (2Co. 1:30). Mas, quais são as pessoas que podem viver essa fé? Somente aquelas que são nascidas de novo.  O homem natural, não regenerado, não pode e nem pensa nas possibilidades da fé, porque os seus desejos estão concentrados em agradar a sua própria carne. A nossa espiritualidade começa somente depois de termos sido regenerados e dotados com os dons concedidos pelo Espírito Santo. A fé é o dom principal, pois sem o uso dela, “é impossível agradar a Deus”. Vamos usar duas ilustrações a fim de descobrir como a fé foi praticada pelos heróis de Hebreus, capítulo onze.

A Primeira Ilustração é de Noé, V.7. Ele ouviu a palavra de Deus, avisando-o da destruição vindoura de todos os seres vivos por causa da corrupção maliciosa dos homens. Qual foi a reação de Noé ao ouvir essa revelação? Ele creu e temeu, porque soube que o mundo inteiro seria atingido, inclusive ele e sua família.  Mas Deus foi misericordioso e revelou-lhe o meio pelo qual ele e a sua família seriam salvos. Deus lhe ordenou para aparelhar uma arca para a salvação de sua família. Noé obedeceu e, imediatamente, começou a construção, “pela qual condenou o mundo (que zombava da sua fé na palavra de Deus) e se tornou herdeiro da justiça”. Notemos três passos que descrevem a sua fé: Ele ouviu a palavra de Deus dando-lhe instruções; creu nela; e agiu de acordo com a orientação recebida. Assim, ele e a sua família, pela fé, foram salvos daquela destruição.

A Segunda ilustração é de Abraão. “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia”. Notemos, novamente, os mesmos três passos que sempre caracterizam a verdadeira fé: Abraão ouviu a ordem da palavra de Deus; creu na veracidade da promessa; e agiu de acordo com as instruções. Ele não ficou decepcionado. A fé sempre se manifesta pela obediência. Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu.

No Novo Testamento, a fé obedece aos mesmos três passos: “Depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa, o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef. 1:13-14). Para nos tornarmos nascidos de novo, temos que ouvir uma mensagem específica: “A palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação”; depois de ouvir, temos que crer no que ouvimos, não apenas de maneira intelectual, mas, sim, “com o coração” (Rm. 10:10); depois de crer, temos que agir, isto é: entregar nossa vida aos cuidados de Jesus Cristo. Como Ele mesmo disse: “Vinde a mim, todos os que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma” (Mt. 11:28-29). E, para ratificar esses três passos, ouvir, crer e agir, recebemos o dom do Espírito Santo, o qual “testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm. 8:16).

Fé e crer são quase sinônimos. Quando cremos, reconhecemos a veracidade da palavra ouvida; fé significa que vemos a substância da palavra indicada, embora seja invisível. Simeão recebeu a promessa de que “não passaria pela morte antes de ver o Cristo do Senhor”.  Ele creu. E, movido pelo Espírito, agiu pela fé, foi ao templo, e lá teve o privilégio de tomar nos braços o recém-nascido Salvador, e disse: “Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a tua palavra, porque os meus olhos já viram a tua salvação” (Lc. 2:25-30). Cremos que Jesus Cristo nos deu a promessa da vida eterna e, pela fé, já estamos vislumbrando as glórias de estarmos com Ele para sempre.

Existem muitas realidades, embora invisíveis, mas que aceitamos pela fé, porque são revelações dadas por Deus, para a nossa instrução e consolo espiritual. “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”. No início, não existia nenhuma coisa material, senão uma vastidão ilimitada do nada. Então, como surgiu o universo, que é material? As especulações humanas são incontáveis, porém, sempre baseadas em algo existente. Contudo, no início, não havia nada, nem uma forma de gás, portanto, tais hipóteses devem ser equívocas.  Por que o homem natural insiste nesses estudos? Porque ele tenta explicar tudo sem a necessidade de admitir a existência de um Deus poderoso e criador.

Esse ponto nos leva a considerar outra verdade que aceitamos pela fé, embora seja invisível aos olhos humanos. “De fato, sem fé, é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”. Quanto à existência de Deus, o Apóstolo ensinou: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifestado entre os homens, porque Deus lhes manifestou” (Rm. 1:19). As obras da criação declaram a sua existência, por isso, os homens são indesculpáveis diante de Deus no Dia do julgamento, se não crerem e testemunharem da sua realidade.

Outra verdade que devemos aceitar pela fé é a auto-revelação de Deus. Ele tem prazer em manifestar-se ao homem, visto que é “galardoador dos que o buscam”. Que tipo de galardão podemos esperar da mão de Deus? Talvez depende do que nos motivou a buscá-lo. Se nós orarmos: “Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu és o meu Deus; guia-me o teu bom Espírito por terreno plano” (Sl. 143:10). O galardão será uma resposta favorável. Ele mesmo dos dará a revelação da sua vontade. Essa foi a experiência do Apóstolo Paulo, (At. 22:14-15; Gl. 1:11-12). Sempre pedimos baseado no que está revelado nas Escrituras Sagradas. Pela fé, podemos confessar: “De manhã, Senhor, ouves a minha voz e as minhas súplicas” (Sl. 5:3). Pela fé, acreditamos que o nosso Deus está sempre acessível e pronto para ouvir a nossa oração, apoiado pelo ensino da Bíblia, porque Ele é “galardoador dos que o buscam”.

Para algumas pessoas, o maior desafio à sua fé é crer que “Deus é amor” (1Jo.4:6). Sem anular os demais atributos divinos, cremos que Ele nos “atrai com cordas humanas, com laços de amor” (Os.11:4). O seu amor é eterno, (Jr.31:3). Mas, o incrédulo intercepta: Se Deus é amor, por que Ele deixa tanta selvageria acontecer contra inocentes? Embora não tenhamos respostas para tudo, cremos que Deus é soberano e que Ele é servido em deixar certas coisas negativas acontecerem para nos convencer da crueldade do pecado que existe no coração de cada  ser humano. Temos que sentir um verdadeiro nojo do pecado, não apenas o que está em outrem, mas também, presente em nossa própria vida (Ez.6:9). Pela FÉ, cremos que o Senhor tem domínio absoluto sobre tudo o que acontece neste mundo. Cristo,  falando sobre o domínio de Deus, disse: “Não se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em esquecimento diante de Deus. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Não temais! Bem mais valeis do que muitos pardais” (Lc. 12:6-7). Com essas palavras, reafirmamos a nossa fé, confessando ao Senhor: “O teu reino é de todos os  séculos e o teu domínio subsiste por todas as gerações. O Senhor é fiel em todas as suas palavras e santo em todas as suas obras” (Sl. 145:13). Mas, para o povo de Deus, a sua fé afirma: “Sabemos que todas as coisas  cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito” (Rm. 8:28). Apesar de não entendermos, no momento, tudo o  que acontece em nossa vida, Cristo disse: “O que eu  faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás  depois” (Jo. 13:7). Talvez José não entendeu a razão de ser  tratado com tanta injustiça, porém, quando  Faraó lhe disse: “Visto que Deus te fez saber tudo isto, ninguém há tão ajuizado e sábio como tu. Administrarás a minha casa, e à tua palavra obedecerá todo o meu povo; somente no trono eu serei  maior que tu"; então, José entendeu o motivo de tudo o que lhe sobreviera desde a traição de seus irmãos, (Gn. 41:39-40). Mais tarde, José pôde perdoar os seus irmãos, dizendo-lhes: “Eu sou José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. Agora, pois, não vos entristeçais, nem irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui; porque, para  conservação da vida, Deus me enviou adiante de vós” (Gn.45:3-4; 50:19-21). Assim, podemos descansar na soberania divina.


Para terminar, queremos demonstrar como Deus ama. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3:16). Esse é um apelo universal e irrestrito para toda a humanidade, porém, a condição é única: temos que crer que foi Deus que tomou a iniciativa para nos salvar, enviando o seu próprio Filho para “buscar e salvar o perdido” (Lc. 19:10). “Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele” (em total dependência dele, não apenas nesta vida, mas, também, para aquela que teremos depois da nossa partida deste mundo). Nisto consiste o  amor: não em que nós temos amado a Deus, mas em que  Ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo. 4:9-10). Todos nós somos pecadores e, se comparecermos em tal estado perante o tribunal, a  sentença da morte (uma eternidade sem a presença consoladora de Deus) será irrevogável. Pela fé, cremos que Deus abriu, em Cristo, a oportunidade de salvação, porque, somente nele, “temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef. 1:7). Pela fé, cremos que Cristo foi enviado “como propiciação pelos nossos pecados”, o único que pode encobrir o nosso pecado, para que nunca mais se levante contra nós para nos condenar. “Filhinhos, agora permanecei em Cristo, para que quando Ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda” (1Jo. 2:28). Com essas verdades gravadas em nossa mente, somos exortados: “Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo (aquele que encobre o nosso pecado) e nada disponhais para a carne no tocante às suas concupiscências” (Rm. 13:14). O nosso desejo para cada um de vocês, é “crescei na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A Ele seja a glória tanto agora como no dia eterno” (2Pe. 3:18). Amém.