Vasos de Honra

domingo, 14 de maio de 2017

O GRANDE MANDAMENTO



Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Marcos 12:28:34.
Introdução: No tempo de Jesus, dentro da religião judaica, existiam muitos grupos diferentes. Os três principais eram: Os Saduceus - eles aceitavam somente os escritos de Moisés, porém, negavam a ressurreição dos mortos e tudo o que estava ligado a essa doutrina; também, negavam a existência de anjos e de espíritos; veja Marcos 12:18:27.  Os Fariseus - a ênfase era mais ética do que teológica. Eles exigiam uma obediência literal à lei de Deus e às tradições, tais como a guarda do sábado, o pagamento do dízimo e a proibição de comer na casa de um não fariseu. Para se ter uma ideia de como eles viviam, veja Lucas 6:1-5. Os Escribas, ou Intérpretes da Lei - eram os mestres para interpretar e ensinar a lei de Deus. No exercício desse ministério, eles acrescentaram à lei as próprias opiniões que, gradativamente, tornaram-se “tradições”. Estas passaram a receber uma autoridade igual ou superior à das Escrituras Sagradas. Por isso, Cristo condenou essas tradições, dizendo: “Assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição” (MT. 15:5-6).  Veja como Cristo condenou as atitudes dos fariseus e escribas. Mas, em vez de aceitar a repreensão, eles tornaram-se seus inimigos, (Lc. 11:37-54). Contudo, cremos que alguns dos escribas temiam a Deus. Eles foram responsáveis pela preservação das Escrituras, fazendo cópias delas. Graças a esses homens fiéis, temos, hoje, a verdadeira Palavra de Deus em forma escrita, porque o Espírito Santo zelava por sua Palavra, capacitando homens a escrever com honestidade. Desse grupo, veio o escriba do nosso texto. Sentimos que ele era um homem sincero, e não um daqueles que tentavam apanhar o Senhor Jesus em uma palavra, a fim de contradizer tudo o que Ele ensinava.

1. A Indagação do Escriba, V.28. Grandes multidões seguiam a Jesus e, sempre no meio destas, os saduceus, fariseus e escribas se faziam presentes. Num desses encontros, os saduceus tentaram ridicularizar a doutrina da ressurreição. Mas Jesus os dirigiu ao livro de Moisés, aquele que eles supostamente seguiam, dizendo: “Quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido no Livro de Moisés, no trecho referente à sarça, como Deus lhe falou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora, Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos. Laborais em grande erro” (Mc. 12:18-27). Agora, voltando para o escriba do nosso texto, ele também estava no meio daquela multidão que seguia a Jesus, e ouviu como Jesus havia respondido bem ao drama criado pelos saduceus. Podemos imaginar como ele raciocinava: Este homem é diferente, Ele não é como os meus colegas dizem... Vou ver como Ele responderá à minha pergunta! (Que foi: “Qual é o principal de todos os mandamentos?”) Devemos lembrar que, entre os escribas, não havia nenhum acordo sobre essa questão. Contudo, reconhecemos que essa pergunta é a mais importante que o homem pode fazer. Se ele erra a resposta, continua perdido, porque não ama a Deus.

2. A Informação de Jesus Vs. 29:31. A resposta é dupla: O homem deve começar a sua busca espiritual, em primeiro lugar, crendo na unicidade do Deus verdadeiro. Muitos seguem deuses que, por natureza, não o são (Gl. 4:8). Por isso, a importância da informação de Cristo: “Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus é o único Senhor”. A segunda parte da sua resposta é: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força”. Esse amor é sempre dirigido unicamente a Deus, (Dt. 10:12-13). O Senhor continua, dizendo: “O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que este”. O nosso ser não é dividido em partes, uma independente da outra. Somos uma unidade indivisível. Quando dizemos que amamos a Deus, é uma impossibilidade dizer: Eu amo a Deus de coração, porém, não com todas as minhas forças, porque tenho outras responsabilidades e interesses. Tentando agir assim, é uma negação da realidade de seu amor. As quatro palavras: coração, alma, entendimento e força estão representando a totalidade da nossa disposição para amar a Deus.

A Bíblia ilustra como esse amor deve ser: “Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; a passo que de Caim e sua oferta não se agradou” (Gn. 4:4-5). Por que essa diferença entre os dois irmãos? Porque Abel obedeceu à norma que Deus estabelecera de receber culto dos pecadores. Essa norma seria unicamente mediante um sacrifício e o derramamento do sangue de um cordeiro. Caim desprezou o que Deus estabelecera. Talvez, ele pensou: Eu posso ofertar a Deus o que eu tenho, afinal, Deus tem que reconhecer o que eu faço com as minhas próprias mãos, visto que o fruto do meu trabalho é tão importante quanto os cordeiros de meu irmão, (Gn 4:3-5). Mas Deus jamais aceitará a justiça própria do homem. Amar a Deus requer obediência ao que Ele tem ordenado. Cristo disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo. 14:15). A obediência é a prova da veracidade do nosso amor. Outro exemplo: “Andou Enoque com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si” (Gn. 5:22). Se nós amamos a Deus segundo as normas que Ele mesmo estabeleceu, estaremos em comunhão constante com  Ele, à semelhança de Enoque. Alimentamos essa comunhão espiritual lendo a Bíblia, fazendo orações todos os dias e procurando a vontade de Deus em cada uma das nossas decisões. Cristo revelou o seu modo de viver diante de Deus: “Eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo. 8:29). Essa é a disposição que revela a realidade do nosso amor a Deus. O amor sempre envolve a totalidade do nosso ser. Quando Cristo nos amou e a si mesmo se entregou à morte como o nosso substituto, a totalidade do seu ser foi necessária, a fim de ser vitorioso e adquirir a nossa redenção e salvação. Portanto, devemos confirmar a nossa eleição através de uma vida santa e irrepreensível, andando em amor, (Ef. 1:4; 5:2).

Agora, não podemos esquecer o nosso irmão. Se nós realmente amamos a Deus, de necessidade amaremos o nosso irmão, porque Deus é amor. O Ap. João deu este exemplo: “Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado” (1Jo. 4:11-12). O amor ao próximo é a prova de que somos parte do povo que Deus adotou como seus filhos.

3. A Inclinação do Escriba, V.32-33. Podemos sentir a sinceridade desse escriba com a sua exclamação: “Muito bem, Mestre!”. Por ser um intérprete da lei e um instrutor dela, ele fez questão de repetir a resposta que Jesus lhe dera; e acrescentou uma verdade profunda: “E, com verdade disseste que Ele é o único Deus, e não há outro senão Ele; e que amar a Deus de todo coração, de todo entendimento e de toda a força e amar o próximo como a si mesmo”. Agora, repare no acréscimo: esse amor “excede a todos os holocaustos e sacrifícios.” O que ele está dizendo com essas palavras? Ele estava confessando que não há nada que possa substituir a prática do amor. “O cumprimento da lei é o amor” (Rm. 13:10). Existem pessoas que estão se esforçando para substituir a necessidade de praticar o amor. Davi confessou ao Senhor: “Pois não te comprazes em sacrifícios: do contrário eu tos daria; e não te agradas de holocausto” (Sl. 51:16). Fazer qualquer coisa física é bem mais fácil do que amar de todo o nosso coração. Cristo repreendeu os escribas e os fariseus: “Ai de vós, escribas e fariseus (que tentam substituir a prática do amor), hipócritas,  porque dais o dízimo do hortelã, do endro e do cominho (coisas mínimas) e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, (o amor), e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Mt. 23:23). O Ap. Paulo, abordando o mesmo assunto, escreveu: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o símbolo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar, e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1 Co. 13:1-3). Novamente, reiteramos: não existe nada que possa substituir a prática de um amor verdadeiro e visível. Esse amor supremo é sempre dirigido a Deus e ao próximo. E, para finalizar sobre o lugar institutível do amor, o Apóstolo escreveu: “Se alguém não amar o Senhor, seja anátema. Maranata” (1Co. 16:22).

4. A Intuição de Cristo, V 34. “Vendo Jesus que ele (o escriba) havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus”. O que Jesus estava dizendo com essa observação? Entendemos que o homem, num sentido, pode chegar perto de reino de Deus por seu próprio esforço, estudando a Bíblia e abandonando certos pecados. O jovem rico é um exemplo daqueles que procuram “estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitando à que vem de Deus” (Rm. 10:3). O que lhes falta é aquela obra insubstituível do Espírito Santo, que soberanamente efetua a tão necessária regeneração. Cristo ensinou: O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito, isto é, tem a vida verdadeiramente espiritual e é herdeiro da salvação, (Jo.3:6). Ninguém se torna cristão por ter nascido num lar cristão, visto que tornar-se cristão é uma experiência posterior. Ser cristão é um processo que deve ser reconhecido. Primeiro, no devido tempo, a pessoa sente uma necessidade espiritual. O Espírito Santo está agindo, dirigindo-a a ler a Bíblia, de onde receberá a resposta que saciará o seu anseio. Com a leitura das Escrituras Sagradas, o Espírito Santo a convencerá de seu pecado e como este deve ser confessado e abandonado. E, em seguida, será dirigida a Jesus Cristo, “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos nossos pecados” (Ef. 1:7).

Podemos traçar a experiência desse escriba da seguinte maneira: Mediante o seu contato com as Escrituras Sagradas, ele reconheceu a sua necessidade espiritual. Na esperança de alcançar paz com Deus, ele começou a praticar as obras da lei, algo que ele não conseguia fazer com a devida perfeição, “visto que ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”, mas ela não oferece nenhum perdão,  (Rm. 3:20). O escriba estava caminhando para aquele ponto quando teria que reconhecer que, por seus próprios esforços, jamais seria justificado diante de Deus. O jovem rico chegou a esse ponto, por isso, foi a Jesus e lhe perguntou: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Mc 10:17). Com certeza, como Intérprete da Lei, o escriba conhecia as promessas Messiânicas do Cristo que salvaria o seu povo dos pecados deles. Cremos que ele estava examinando Jesus a fim de saber se Ele era, porventura, o prometido Salvador. Nesse ponto, ele parou, não sabemos se ele chegou a confessar que Jesus era, de fato, o verdadeiro Messias, o Cristo de Deus.

A história do jovem rico descreve o que estamos dizendo, (Lc. 18:18-23). Apesar de toda a sua obediência à lei, ele sabia que não tinha a salvação, e não estava preparado para o tribunal de Deus. E, por causa disso, aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: “Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna?” Jesus não lhe deu uma resposta direta. Em vez disso, Ele lhe disse: “Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me”. Por que Jesus lhe deu essa resposta? O jovem era muito rico, e ele tinha que descobrir se as suas posses eram mais importantes que vendê-las e seguir a Jesus. Esse é o ponto onde muitas pessoas chegam. Estão  caminhado bem e não estão longe do reino de Deus, mas não querem tomar aquele passo decisivo para deixar tudo e seguir a Jesus, não querem entregar-se, corpo e alma, aos cuidados salvíficos de Jesus Cristo. O preço é alto demais. A história das dez virgens é semelhante. Todas as dez seguiam as normas exteriores de uma vida piedosa, porém, com uma diferença. Cinco eram prudentes e se muniram com azeite, com aquela devoção sincera do coração; e, quando o noivo chegou, entraram com ele pela porta aberta. Mas as cinco néscias não se preocuparam quanto à necessidade do azeite, ficando satisfeitas com a simples observância de algumas formalidades, em vez de uma devoção sincera. Por isso, quando foi anunciada a vinda do noivo, elas descobriram, já tarde demais, a sua falta de azeite, e a porta se fechou contra elas. Não é suficiente ficar perto do reino de Deus: temos que tomar aquela decisão imperativa, crendo e entregando-se, corpo e alma, sem reservas, a Jesus Cristo, para que sejamos salvos por Ele. Somente unidos com Jesus Cristo é que podemos praticar o grande mandamento.


Conclusão: Temos falado sobre a importância de conhecer e obedecer ao Grande Mandamento que fala sobre a excelência  do amor, não apenas a Deus, mas também ao próximo. Salientamos a necessidade de praticar esse amor com a totalidade do nosso ser. Em nosso procedimento, não existe nada que possa substituir esse amor. Sacrifícios e boas obras não podem agradar a Deus. O que Ele requer de cada um de nós é o amor que emana de um coração sincero. Muitos chegam perto do reino de Deus por seu conhecimento das Escrituras Sagradas, porém, não querem abrir mão da sua própria independência e auto-suficiência. Chegam perto do reino de Deus, porém, não entram. Sem Cristo em nossa vida, dirigindo os nossos passos, é impossível alcançar a dádiva da vida eterna. Não seja como as virgens néscias, descobrindo a sua falta  quando já era tarde demais para ser remediada. Cristo explicou o problema: “Contudo, não querei vir a mim para terdes vida” (Jo. 5:40). Então, sabemos o que devemos fazer. Que sejamos prudentes!