Vasos de Honra

sábado, 26 de novembro de 2011

QUEM É AQUELE QUE NASCEU EM BELÉM?



Introdução: Desde o livro de Gênesis, muitas referências são encontradas a respeito de um Salvador, vindo da parte de Deus, cuja missão seria salvar o seu povo dos pecados deles. “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz (estes são títulos de Deidade); para que se aumente o seu governo, e venha paz sem fim sobre o trono de Davi e sobre o seu reino, para o estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça, deste agora e para sempre. O zelo do Senhor dos Exércitos fará isto” Is 9:6-7. A mãe deste menino seria uma virgem, isto é, uma jovem que nunca tivera relação sexual com homem algum. Is. 7:14; Lc. 1:34

Na “plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher” Gl.4:4. O anjo Gabriel foi enviado da parte de Deus “ a uma virgem desposada com certo homem da casa de Davi, cujo  nome era José; e a virgem chamava-se Maria. E, entrando o anjo onde ela estava, disse: Alegra-te, muito favorecida; o Senhor é contigo. Ela, porém, ao ouvir esta palavra, perturbou-se muito e pôs-se a pensar no que significaria esta saudação. Mas o anjo lhe disse: Maria, não temas; porque achaste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz a um filho, a quem chamarás pelo nome de Jesus.” Ao receber esta declaração, Maria pediu maiores esclarecimentos. “Como será isto, pois não tenho relação com homem algum?” E, numa linguagem singularmente sublime, o anjo descreveu o que aconteceria  para que se pudesse realizar um nascimento virginal e sobrenatural. “Descerá sobre ti o Espírito Santo, e o poder do Altíssimo te envolverá com sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus.” Com esta explanação, Maria se apresentou, dizendo, humildemente: “Aqui está a serva do Senhor; que se cumpra em mim conforme a tua palavra.”.

Tanto Maria, como José, seu noivo, receberam a incumbência para dar ao menino o nome de Jesus, “porque Ele salvará o seu povo dos pecados deles” Mt. 1:21. Este menino recebeu mais um nome descritivo : “E Ele será chamado Emanuel (que quer dizer: Deus conosco)” Mt. 1:23. Quando ajuntamos os dois nomes, Jesus e Emanuel, somos constrangidos a reconhecer que “Ao Senhor pertence a salvação” Jn. 2:9. “Eu sou o Senhor, e fora de mim não há Salvador” Is. 43:11. E, no Novo testamento, Jesus Cristo é “o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem” Hb. 5:9. O Apostolo Paulo, reconhecendo a  Deidade absoluta, exclamou: “O nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo” Tt. 2:13.

Em nossa leitura, temos três frases que descrevem a exaltada Pessoa de Jesus Cristo, aquele que veio ao mundo mediante um nascimento virginal e sobrenatural, aquele que, ‘subsistindo em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se semelhança de homens; reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte, e morte de cruz” Fl 2:6-8. “ Pois conheceis a graça do nosso Senhor Jesus Cristo, sendo rico, se fez pobre por amor de vós, para que, pela sua pobreza vos tornásseis ricos” – tendo obtido por nós a salvação eterna, Hb.5:9.

1. A Descrição do Filho. “Este ( o menino que havia de nascer) será grande e será chamado Filho do Altíssimo.” Grande no sentido de poder sobre todas as coisas. “Repousará sobre ele o Espírito do Senhor” dando-lhe uma primazia singular, Is. 11:2; Lc. 4:18. Esta superioridade foi reconhecida e confessada pelas multidões.

a) Grande na área do ensino. Nos dias do Novo testamento, os escribas eram os intelectuais, mas Jesus os excedeu em tudo. Depois de ouvir o famoso Sermão do Monte, as multidões estavam “maravilhadas da sua doutrina; porque ele as ensinava como quem tem autoridade e não como os escribas” Mt. 7:28-29. Muitas vezes, os fariseus vieram para o experimentar, mas, em cada armadilha, Jesus os venceu a ponto que “ninguém mais ousava interrogá-lo” Mc. 12:34.

b) Grande na área de autoridade. Ele curava toda sorte de doenças; e, com o mesmo poder, acalmou o mar, constrangendo os discípulos a exclamar: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?” Mc. 4:35-41

c)Grande na área de exclusividade. Ele veio como o grande “Eu Sou” uma frase que exclui qualquer outro participante. Vejam os textos, Jo. 6:35; 8:12; 10:7,8,11,14; 11:25-27. E, especialmente, a sua auto-revelação. Quando interrogado: “És tu o Cristo, o Filho do Deus Bendito? Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do Todo-poderoso vindo sobre as nuvens dos céus” Mc. 14:61-62. Cristo é o único que pode conceder a vida eterna ao pecador, Jo.10:28. O Apostolo Pedro enfatizou esta exclusividade, dizendo: “E não há salvação em nenhum outro; porque abaixo do céu não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejamos salvos” At. 4:12.

Cristo tem essa singularidade porque Ele é “Filho do Altíssimo.” Na bíblia, a frase “Filho de Deus,” no singular,sempre se refere a Jesus Cristo e nunca a nenhum outro ser. Os judeus entenderam este título em termos de Deidade absoluta. Vejam o raciocínio deles em João 5:18; 10:36-38. Jesus Cristo é chamado: “o nosso grande Deus e Salvador” Tt. 2:13. E como “o verdadeiro Deus e a vida eterna” 1 Jo. 5:20. Ele tem o nome que está “acima de todo nome” Fl. 2:9.

2. A Designação do Filho. “Deus, o Senhor, lhe dará o trono de Davi seu pai.” É necessário fazer alguns esclarecimentos:

a) Quanto à relação entre Cristo e Davi. Em linguagem típica e profética, Davi era o antecessor de Cristo. “Com  respeito a seu Filho, o qual, segundo a carne, veio da descendência de Davi e foi designado (e proclamado) Filho de Deus com poder ( a voz do Pai fez esta proclamação: “Este é meu Filho amado, em quem me comprazo” Mt. 3:17) segundo o Espírito de santidade pela ressurreição dos mortos, a saber, Jesus Cristo, nosso Senhor” Rm 1:3-4. A ressurreição de Cristo dentre os mortos foi a prova inegável da sua Deidade. Ele foi reconhecido como o prometido Salvador, por causa da sua descendência, segundo a carne, da linhagem de Davi, Mt. 21:4-9.

b) Quanto ao trono de Davi. Novamente, em linguagem típica e profética, o reino material de Davi prefigurava o reino espiritual de Cristo. Davi recebeu esta promessa: “Porém a tua casa ( a de Davi)  e o teu reino serão firmados para sempre diante  de ti; teu trono será estabelecido para sempre” 2 Sm. 7:16. Entendemos que a casa de Davi, bem como o seu trono material, não mais existem, contudo, a promessa fala de uma existência “para sempre.” Acreditamos que a promessa se refere ao reino espiritual que Cristo ocupa, pois só Ele tem esta eternidade. A Escritura endossa esta conclusão: “Eu, Jesus, enviei o meu anjo para vos testificar estas cousas às Igrejas. Eu sou a Raiz e a Geração de Davi, a brilhante estrela da manhã” Ap. 22:16. Jesus Cristo é grande, porque Ele é o Herdeiro das promessas que Davi recebeu.

3. A Desinibição do Filho. “Ele reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e o seu reinado não terá fim.” (não será inibido, nem interrompido). A casa de Jacó representava a nação israelita, que era a Igreja do Antigo Testamento. Quando veio ao mundo, Jesus anunciou: “Edificarei a minha Igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela” Mt. 16:18. A igreja do Antigo Testamento cedeu seu lugar para a Igreja do Novo Testamento. As instituições do Antigo Testamento foram removidas a fim de dar lugar  para o reino de Deus. O trono de Davi deu seu lugar para o trono de Cristo. A vontade de Deus estava atuando sobre as estruturas que os homens conheciam. “Remove o primeiro para estabelecer o segundo” Hb. 10:9. A novidade do reino espiritual foi prometida a Cristo. “Foi lhe dado o domínio, e glória, e o reino, para que os povos, nações e homens de todas as línguas o servissem; o seu domínio é domínio eterno, que não passará, e o seu reino jamais será destruído” Dn. 7:14; Ap. 7:9-10.

Agora, devemos fazer duas perguntas. Onde está o reino de Deus? Cristo respondeu esta pergunta antiga:“Não vem o reino de Deus com visível aparência. Nem dirão: Ei-lo aqui! Ou: lá está! Porque o reino de Deus está dentro de vós” Lc. 17:20-21. Está no coração e na vida de todos aqueles que tem o Deus de Jacó como o seu refúgio. Cristo “reinará para sempre sobre a casa de Jacó, e seu reinado não terá fim.” Na verdade, a primeira pergunta responde a segunda. Qual a evidência de que o reino de Deus está presente na vida de uma dada pessoa? A resposta é óbvia. Está presente na vida de todos aqueles que obedecem a Cristo, e se submetem a seu reino. “Porque o reino de Deus não é comida, nem bebida (valores materiais), mas de justiça, de paz e alegria no Espírito Santo” Rm. 14:17. O reino de Deus se torna evidente na vida de uma pessoa mediante o seu procedimento. Ela pratica a justiça para com seu próximo, procura viver em paz com todos e tem a alegria de Espírito Santo transbordando em seu coração.

Quem é aquele que nasceu em Belém? É o Salvador, que é Cristo, o Senhor. Nele, temos a esperança da vida eterna. Neste Natal, desejamos que Cristo seja conhecido  como Ele o é: O Salvador. Vamos gravar em nossos corações esta verdade: ‘Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” Jo 3:16

Meditação para Natal, 2009
Rev. Ivan G. G. Ross.

sábado, 19 de novembro de 2011

A OFERTA DA VIÚVA POBRE




     O que agrada a Cristo é uma liberalidade desprendida. Esta é a lição que Cristo inculcou aos discípulos quando comentou sobre a oferta da viúva pobre. A sua avaliação sobre as ofertas dos ricos e a oferta desta viúva revela que Ele toma conhecimento, não apenas da quantia da oferta, mas, também, o motivo da oferta e maneira como foi dada. “O homem vê o exterior, porém, o Senhor, o coração” – I Sm. 16:7.
     De todos os comentários do nosso Senhor, este, sobre a viúva pobre, talvez seja, o mais esquecido. Existem muitas pessoas que podem citar algo dos discursos doutrinários do nosso Senhor, porém , negligenciam o ensino claro sobre a liberalidade desprendida. A prova disto pode ser verificada através das contribuições para a obra missionária. A prova disto pode ser vista nos relatórios do grande número de pessoas que contribuem com quantidades triviais e que poderiam dar muito mais. A avareza de muitos cristãos professos é um dos pecados mais gritantes dos nossos dias. Os contribuintes para a causa de Cristo são um número reduzido na Igreja Visível. Tão poucos cristãos entendem o eu significa ser “rico para com Deus” – Lc. 12:21. A grande maioria dos membros da Igreja gasta centenas de reais satisfazendo os seus próprios interesses e apenas alguns poucos centavos para a causa de Cristo.
     Devemos lamentar esta realidade e orar a Deus para que Ele corrija esta falta. Devemos orar para que Deus abra os olhos de seu povo, desperte o seu coração  e  conceda-nos  um espírito de liberalidade desprendida. Os cristãos da Macedônia deram “na medida de suas posses e mesmo acima delas” - 2 Co. 8:3. E, antes de tudo, que nós mesmos façamos o nosso dever, contribuindo  alegre  e  liberalmente  para  a  santa e excelsa causa  de  Cristo
enquanto pudermos, pois, depois, não haverá nenhuma oportunidade para contribuir. Vamos dar como aqueles que sabem que os olhos de Cristo estão vendo o que ofertamos. Ele sabe qual a quantia que damos e a quantia que guardamos para nós mesmos. E, antes de tudo, damos como discípulos do Salvador que nos amou e a si mesmo se entregou por nós, para que pudéssemos receber gratuitamente, a vida eterna. “De graça recebestes, de graça dai – Mt. 10:8.
  
 Para Pensar:  É tão fácil condenar os avarentos mencionados na Bíblia, pessoas que amavam o dinheiro a ponto de rejeitar os padrões de Cristo. O que é que nossas contribuições falam a respeito do estado do nosso coração?

(Rev. J. C. Ryle, 1816-1900 – traduzido pelo Rev. Ivan Ross)

sábado, 12 de novembro de 2011

A Falência da Religião


Romanos 2. 17-29

"Tu, que te glorias na lei, desonra a Deus pela transgressão da lei?" Rm 2:23

Observamos que o alvo do apóstolo Paulo é revelar a pecaminosidade de todos os povos, gentios e judeus. Na leitura de Romanos 2: 17-29, os religiosos são observados: "Porque os simples ouvidores da lei não são justos diante de Deus, mas  os que praticam a lei hão de ser justificados."

1. Uma Forma de Familiaridade Nos versículos 17 a 20, o apóstolo Paulo enumera onze vantagens da religião revelada nas Escrituras Sagradas. Os religiosos, com muita razão, glorificavam-se nestes privilégios. Mas nos versículos 21 e 24, o apóstolo dá uma aplicação  destas vantagens à vida prática. O religioso tem que ser algo mais que mero falador, ele tem que ser praticante de sua religião.

Observe os cinco casos que ele cita: O ensino é sempre para outrem, o roubo, o adultério, a idolatria, e a transgressão da lei são falhas de outras pessoas, mas nunca dos religiosos que se cegaram pela justiça própria. Por causa dessas incoerências, o nome de Deus é blasfemado entre os que não têm a mesma religião.

2. Uma forma de Falsidade, Não há nenhuma vantagem em ser um simples circuncidado (batizado). A mera religião não salva ninguém. O verdadeiro religioso é aquele que o é interiormente, que é nascido de novo pelo poder do Espírito Santo.

Oração: "Sonda-me, ó Deus, e conhece o meu coração: prova-me e conhece os meus pensamentos; vê se há em mim algum caminho mau, e guia-me pelo caminho eterno." Amém

sábado, 5 de novembro de 2011

“Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai"




O ceifeiro recebe desde já a recompensa e entesoura o seu fruto para a vida eterna; dessarte, se alegram tanto o semeador como o ceifeiro” Jo. 4:36

Sou um pastor jubilado, tendo trabalhado em Belo Horizonte e região, e, por último, no sul de Minas. Conheço a Junta de Missões Nacionais há mais de trinta anos, e este interesse continua, pelos obreiros e pelos campos que eles ocupam. Deus tem me concedido o privilégio de visitar alguns destes lugares.

Agora, como um idoso, qual é a minha opinião a respeito do ministério da Igreja e do trabalho que seus obreiros têm que realizar? A sua missão não mudou em ponto algum. A ordem inalterada é esta: “E disse-lhes (Jesus): ide por todo o mundo e pregai o evangelho a toda criatura” Mc. 16:15. “Irmãos, venho lembrar-vos o evangelho que vos anunciei, o qual recebestes e no qual ainda perseverais; por ele também sois salvos, se retiverdes a palavra tal como vo-la preguei, a menos que tenhais crido em vão. Antes de tudo, vos entreguei o que também recebi: que Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado e ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras.” 1 Co. 15:1-4. Circunstâncias mudaram. Antigamente, a evangelização se realizava em ambiente rural, em sítios e fazendas; hoje, porém, o trabalho se realiza, principalmente, em zonas urbanas. Alguns estão tentando mudar os métodos, optando por serviços sociais, tais como: cesta básica, oficinas de artesanato e futebol, etc ... afirmando que estes ajuntamentos oferecem oportunidades preciosas para pregar o evangelho. Porém, se retirarmos as vantagens sociais, as pessoas vão continuar a se reunir para ouvir o evangelho? Enquanto a atividade social continuar gratuitamente, haverá sempre pessoas dispostas a suportar algumas inconveniências (ouvir uma pregação) por causa da vantagem. Cristo enfrentou esta realidade e disse à multidão: “Em verdade, em verdade vos digo: vós me procurais, não porque vistes sinais, mas porque comestes dos pães e vos fartastes” Jo. 6:26. O homem pecador, por natureza, é muito interesseiro, portanto, temos que ser prudentes para não alimentar esta tendência.

Sem desprezar os esforços sociais, creio que os obreiros têm que reaprender duas verdades bíblicas. A primeira: o evangelho tem um poder inato para atrair seus ouvintes a Jesus Cristo, “porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê” Rm 1:16. Temos que entender e crer que não é a atividade social que inclina uma pessoa para ouvir o evangelho, antes, é o Senhor que abre o coração do ouvinte para atender as palavras do evangelho, “visto que andamos por fé e não pelo que vemos” 2 Co 5:7 com At. 16:14. A pura e simples pregação do evangelho “é loucura para os que se perdem (porque não confiam nele), mas para nós, que somos salvos, poder de Deus” 1 Co 1:18. Creio que temos que sentir, novamente, a conclusão do salmista: “ Os que com lágrimas semeiam, com júbilo ceifarão. Quem sai andando e chorando enquanto semeia, voltará com júbilo, trazendo os seus feixes” Sl. 126:5-6. A Segunda verdade se refere ao método da evangelização. O servo do Senhor tem que sair do seu gabinete, arregaçar as mangas, e andar pelas ruas do bairro. A ordem recebida é esta: “Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai para as bodas a quantos encontrades.” E qual foi o resultado deste trabalho? “E, saindo aqueles servos pelas estradas, reuniram todos os que encontraram, maus e bons; e a sala do banquete ficou repleta de convidados” Mt 22:9-10. Eu tenho andado pelas ruas dos bairros, cumprimentando crianças e oferecendo-lhes uma bala. Aos poucos, conquistei a confiança de muitas. E qual o resultado? Recebi muitos convites para conhecer os pais destas crianças; e, uma vez nos lares, pude falar da “sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus” Fl. 3:8. Assim, a Escola Dominical cresceu e houve públicas profições de fé com batismo.

Na evangelização, um aspecto que deve alimentar o nosso zelo no ministério é que Deus quer  que as pessoas do bairro onde trabalhamos saibam que Ele tem um obreiro no meio delas.  “E saberá que há um profeta” no bairro, declarando a vontade de Deus: “Olhai para mim e sede salvos, vós, todos os termos da terra; porque eu sou Deus, e não há outro” Is. 45:22, 2 Rs. 5:8. Certa vez, alguém comentou mais ou menos assim: “Estou nesse bairro há tantos anos, mas não tenho contato com quase ninguém; mas, veio esta missionária e todo mundo sabe do trabalho que ela realiza.” Outro testemunho semelhante: Temos missionários que trabalham numa cidade pequena do interior de Minas Gerais e, se queremos saber onde ele mora, podemos perguntar a quase qualquer pessoa: “ Você sabe onde o missionário mora?”  E a resposta  espontânea é: “Ah, sim, ele está na rua tal, perto da escola municipal.” E ainda mais um testemunho de um evangelista: “A minha responsabilidade é que a cidade inteira saiba que tem uma congregação presbiteriana na rua tal, e que está de portas abertas para todos” Poderia multiplicar tais exemplos, mas estes são suficientes para ilustrar o que significa: “Ide, pois, para as encruzilhadas dos caminhos e convidai.”

Termino citando as palavras do Ap. Paulo: “ Assim, pois, importa que os homens nos considerem como ministros de Cristo e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, o que se requer dos despenseiros é que cada um deles seja encontrado fiel” 1 Co. 4:1-2. “Portanto, meus amados irmãos, sede firmes, inabaláveis e sempre abundantes na obra do Senhor, sabendo que, no Senhor, o vosso trabalho não é vão” 1 Co. 15:58.

E nós, aqui na retaguarda, oramos sistematicamente por todos os obreiros. Seu trabalho nos encoraja a reconhecer que a Igreja Presbiteriana do Brasil ainda é uma força viva. Que Deus abençoe cada um, dando-lhes saúde e coragem  para continuarem firmes em seu trabalho.

Rev. Ivan G. G Ross 

sábado, 22 de outubro de 2011

Introdução sobre O Cântico dos Cânticos



Antes de fazer qualquer abordagem sobre este Livro, é importante atender aos seguintes esclarecimentos:

1.      O Cântico dos Cânticos é uma parte inseparável do Cânon das Escrituras Sagradas, inspirado pelo poder do Espírito Santo, e, portanto, igualmente próprio para a nossa edificação espiritual.

2.      Os doutores judaicos do Antigo Testamento nunca questionaram a sua canonicidade, e nem estranharam a sua linguagem alegórica, sempre ensinando que este Livro tem uma única mensagem central: O relacionamento que Deus mantém com o seu povo redimido.

3.      O contexto deste Livro é o povo de Israel, a Igreja visível do Antigo Testamento. Esta Igreja era composta de uma multidão mista, Ex.12:38. “Donze­las”, membros que amam a Cristo e são comprometidos com Ele; e, as “filhas de Jerusalém”, membros descomprometidos, que questionam a importância singular de Cristo. “Que é o teu amado mais do que outro amado?” Ou, na linguagem do Novo Testamento, “virgens prudentes” que zelam por sua espiritualidade; e, “virgens nécias” que não se preocupam com a sua vida espiritual, Mt.25:1-13. A parte inconstante tem a tendência de irar-se contra os perseverantes fiéis. “Como, porém, outrora, o que nascera segundo a carne perseguia ao que nasceu segundo o Espírito, assim também agora”. Abraão foi o pai destes dois irmãos. Gal,4:22, 29.

4.      A linguagem poética deste Livro também é encontrada em outras partes da Bíblia. Às vezes, Deus se autodenominava como “Marido” de Israel; e este povo como a sua “desposada”. “Como o noivo se alegra da noiva, assim de ti se aleg­rará o teu Deus” Is.54:5; 62:4-5. No Novo Testamento, este relacionamento nupcial fica ainda mais claro. Cristo é representado como sendo o “Noivo” da sua Igreja; e a Igreja como “virgem pura a um só esposo, que é Cristo” Mt.25:1; 2 Co.11:2. A melhor chave para o Livro Cântico dos Cânticos é o Salmo 45, cuja linguagem se assemelha a várias partes deste Livro.

5.      Rejeitamos a teoria moderna que ensina que Salomão está descrevendo o seu namoro com uma das suas muitas mulheres. Este tipo de comparação já des­virtuou a espiritualidade de outras partes alegóricas das Escrituras Sagradas, procura fazer a mesma nulificação aqui. A linguagem deste Livro é tão subli­me e espiritual, que ultrapassa qualquer experiência comunicativa entre homem e mulher. Através desta parte da revelação divina, entramos nos próprios arcanos celestiais, onde ouvimos as descrições mais santas daquela comunhão espi­ritual que existe entre Cristo e a sua Igreja.

6.      Este Livro é uma alegoria, ilustrando graficamente a natureza desta comunhão espiritual. Com esta forma literária, o escritor emprega figuras ou representações para estabelecer e inculcar verdades de suma importância. A Bíblia contém muitas alegorias, cânticos e poemas, e, como formas literárias, são meios poderosos para memorizar as verdades representadas. Por exemplo, no An­tigo Testamento, Cristo a vista como um “Renovo”, e a Igreja, como uma “árvore plantada junto à corrente de águas”. O Profeta Samuel usou uma alegoria dramática para convencer Davi de seu pecado; e esta o deixou lacerado no coração e arrependido, Le.4:1; 51.1:3; 2 Sm.12:1-15. O Livro de Cantares a um cântico, escrito em linguagem poética, usando palavras pitorescas para intensificar o assunto que está sendo apresentado. Neste poema, Cristo descreve a beleza da sua Igreja, afirmando que ela é “aprazível como Jerusalém, formidável como exército com bandeiras”. E a Igreja, por sua parte, descreve a singularidade de Cristo, dizendo que Ele é “alvo rosado, mais distinguido entre dez mil”. Não é preciso muita explicação para sentir o impacto que estas figuras podem cau­sar sobre as nossas meditações cultuais.

7.      Este Livro é composto de “Quadros pintados com palavras alegóricas”, portanto, ao interpretar cada “quadro”, deve se fazer uma pergunta: O que es­tas palavras estão querendo comunicar? E esta oração é de igual importância: “Desvenda os meus olhos, para que eu contemple as maravilhas da tua lei”, ou seja, do Livro, Cântico dos Cânticos. Assim, quando lemos este Livro, que pos­samos contemplar Jesus Cristo como Esposo, Senhor, Cabeça e Salvador de seu povo; bem como a Igreja, a sua esposa, o fruto do seu sofrimento vicário, aquela que é agora, “gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, porém, santa e sem defeito” Ef.5:27.

sábado, 15 de outubro de 2011

Más Noticias




“A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens...” Rm 1.18

A fim de apreciar melhor a necessidade das boas noticias de justificação pela fé em Cristo Jesus, é necessário ouvir as más noticias que expõem a natureza pecaminosa do homem. Sem qualquer rodeio, Paulo nos faz sentir a dura realidade deste pecado e da conseqüente ira de Deus. Esta ira é aquela santa repulsão (justiça punitiva) contra tudo o que fere a santidade da natureza divina.

1. O Pecado da Inércia. O problema não é ignorância. O conhecimento de Deus é manifesto entre todos os homens, porque Ele mesmo lhos manifestou. O problema é inércia, falta de ação: “... tendo o conhecimento de Deus não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças”.

2 . O Pecado da Idolatria. A negligência do conhecimento de Deus perverte o raciocínio do homem. Em vez de cultuar a Deus, ele se dirige às criaturas, dando-lhes o culto que pertence a Deus.

3. O Pecado da Imoralidade. Por causas desta inércia e idolatria, Deus entregou tais homens à imundícia e à cegueira espiritual. Este é um castigo judicial, no qual os homens são entregues à pratica das suas próprias paixões, e, depois, recebem em si mesmo a merecida punição do seu erro.

De fato, não existe passividade espiritual.

Oração: Confesso a minha iniqüidade; suporto tristeza por causa do meu pecado. Não me desampares, Senhor, não Te ausentes de mim. Suplico em nome de Jesus Cristo. Amém

sábado, 8 de outubro de 2011

ORAÇÃO: O NOSSO CULTO A DEUS



As Escrituras Sagradas nos dão este convite generoso: “Pedi, e dar-se-vos-á; buscai, e achareis; batei, e abrir-se-vos-á. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e, a quem bate, abrir-se-lhe-á” Mt.7:7-8.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, e procurar tomar posse de suas promessas. “A oração é um santo oferecimento dos nossos desejos a Deus, por coisas conformes com a sua vontade, em nome de Cristo, com a confissão dos nossos pecados, e um agradecido reconhecimento das suas misericórdias” Resposta 98 do Breve Catecismo. Observemos as cinco partes básicas da oração:
a) Fazer conhecidos os nossos desejos, isto é, expor as nossas petições junto ao trono da graça, Fl.4:6. Hb.4:16;
b) Pedir conforme a vontade de Deus, isto é, de acordo com a orientação imediata das Escrituras Sagradas, Ef.5:15-17; I Jo.5:14-15;
c) Orar em nome do Senhor Jesus Cristo, isto é, reconhecendo que temos acesso a Deus unicamente por sua mediação, pois é Ele que leva a nossa oração à presença de Deus, Jo.14:13-14; At.3:16;
d) Confessar os nossos pecados, isto é, reconhecer pecados específicos (pecado tem nome) que temos praticado, deixando-os aos pés de Cristo, I Jo.1:9; Pv.28:13;
e) Agradecer a Deus pelas bênçãos recebidas, nomeando-as uma por uma, isto é, manifestando a nossa gratidão com ações de graça, Ef.5:20; I Ts.5:18.
            “A oração, com ações de graça, sendo parte essencial do culto religioso, é por Deus requerida de todos os homens” Confissão de Fé, 21:3. Às vezes, o termo “oração” inclui todas as partes do culto que prestamos a Deus. O Templo em Jerusalém era conhecido como a “Casa de Oração”, porque ali se realizavam todos os atos envolvidos neste culto, Is.56:6-8; Sl.116:17-19. Pelo culto servimos a Deus, 2 Cr.30:8. O Apóstolo Paulo testemunhou: “Dou graças a Deus, a quem, desde os meus antepassados, sirvo com consciência pura, porque sem cessar, me lembro de ti nas  minhas orações, noite e dia” 2 Tm.1:3.
            Por que insistimos na centralidade da oração como parte essencial do culto que oferecemos a Deus?
            a) Oração é comunhão com Deus. E, para orar, de certa forma, temos de entrar na sua presença, e, fazendo assim, chegamos a conhecê-lo como Ele é em toda a riqueza de seus atributos. Se não fosse pela oração, não poderíamos entrar na sua presença e nem conhecê-lo em termos de comunhão espiritual.
            b) Em sua sabedoria administrativa, Deus ligou o pedir com o receber de tal forma que, se não pedirmos as suas dádivas, não as receberemos, Mt.7:11. Muitas vezes encontramos na Bíblia expressões tais como: “Pediram, e Deus fez vir...” Sl.105:40. O Apóstolo Tiago observou: “Nada tendes, porque não pedis” Tg.4:2. Portanto, “Buscai ao Senhor enquanto se pode achar, invocai-o enquanto está perto.”
            c) Sabemos que Deus podia ter concedido os nossos interesses de outra maneira, contudo, Ele escolheu a oração como o meio de alcançá-los. Não podemos fugir da necessidade de orar usando a desculpa de que Deus sabe o que precisamos, e que Ele vai agir conforme a sua soberana vontade, independente da nossa participação. Esta forma de fatalismo não procede, porque Deus ordenou o uso da oração; esta é a sua vontade para cada cristão. É muito consolador saber que não precisamos sofrer calados, pois o recurso é este: “Humilhai-vos... lançando sobre Ele toda a vossa tribulação, porque Ele tem cuidado de vós” Tg.5:6-7.
            1. O Momento da Oração. A orientação para os cristãos é esta: “Não andeis ansiosos de coisa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas, diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça” Fl.4:6. E Cristo falou sobre o “dever de orar sempre e nunca esmorecer” Lc. 18:1. Pergunta 116. “Por que a oração é necessária aos cristãos?” Resposta: “Porque a oração é a parte principal da gratidão que Deus requer de nós. Além disso, Deus quer conceder sua graça e seu Espírito Santo somente aos que continuamente lhe pedem e agradecem de todo o coração”. Observemos três princípios que destacam a necessidade da oração:
            a) O dever da gratidão a Deus pelas bênçãos recebidas. É quase inconcebível supor que alguém possa receber um presente sem devolver uma palavra de gratidão. A atitude cristã é esta: “Dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo” Ef.5:20. “Em tudo, dai graças, porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco” I Ts.5:18. Observemos a tríplice seqüência em Sl.50:15. “Invoca-me (diz o Senhor) no dia da angústia; eu te livrarei, e tu me glorificarás”. Pedir, receber e agradecer. Glorificar a Deus significa reconhecer e confessar a intervenção bondosa de Deus em nosso favor: um reconhecimento que se manifesta com ações de graças. Quando as pessoas testemunharam a cura de um paralítico, elas “glorificaram a Deus”, porque reconheceram a intervenção divina, Mt.9:1-8.
            b) Oração é o meio de receber a graça de Deus. Esta “graça” pode ser entendida como um auxílio divino, para vencer dificuldades. Deus não afastou todos os problemas do Apóstolo Paulo, porém, o consolou com estas palavras: “A minha graça te basta” – ele seria vencedor, apesar dos problemas, 2 Co.12:7-10. Quando os Apóstolos foram perseguidos, eles oravam, pedindo “intrepidez” para anunciar o Evangelho. Deus respondeu e “todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” At.4:23-31. De fato, a graça de Deus é a nossa suficiência; basta pedir e a receberemos.
            c) A necessidade de pedir maiores medidas do Espírito Santo em nossa vida. Embora recebamos o dom do Espírito no ato da nossa regeneração, isto não necessariamente significa que, independente de circunstâncias humanas, estamos sempre cheios do Espírito Santo. Por isso somos exortados: “Enchei-vos do Espírito”, e isso fazemos através de exercícios espirituais, Ef.5:15-20; Sl.51:11. Receberemos estas medidas maiores do Espírito de acordo com as necessidades específicas. Em sua oração pela Igreja em Éfeso, o Apóstolo pediu maiores medidas do Espírito, a fim de poder compreender os valores espirituais, Ef.3:14-19. Deus concede sua graça e seu Espírito Santo somente aos que continuamente lhe pedem e agradecem, Lc.11:9-13.
           
2. O Modo da Oração. Cristo insistia: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” Mt.26:41. Pergunta 117. “Como devemos orar para que a oração seja agradável a Deus e Ele nos ouça?”
Resposta. “Primeiro: devemos invocar, de todo o coração, o único e verdadeiro Deus que se revela a nós em sua Palavra e orar por tudo o que Ele nos ordenou para pedir.” Orar de  todo o coração significa orar em plena fé, acreditar que “Ele acode à vontade dos que o temem; atende-lhes o clamor e os salva” Sl.145:18-20. “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” Hb.11:6. A fim de evitar decepções espirituais e orações não atendidas, temos de obedecer o ensino bíblico, isto é: “Orar por tudo o que Ele nos ordenou para pedir” I Jo.5:14-15.
Resposta. “Segundo: devemos muito bem conhecer a nossa necessidade e miséria, a fim de nos humilharmos perante a sua majestade.” Uma das maiores dificuldades do homem em seu estado natural é reconhecer a sua necessidade espiritual e a sua miséria (a sua dívida insolvível) perante a implacável lei de Deus. A segunda maior dificuldade é se humilhar, confessar a sua pecaminosidade e falência espiritual e pedir a misericórdia de Deus e o seu perdão. O salmista se humilhou e alcançou este testemunho: Confessei a minha transgressão e o Senhor me perdoou, Sl.32:5.
Resposta. “Terceiro: devemos ter plena certeza de que Deus, apesar da nossa indignidade, quer atender à nossa oração por causa de Cristo, como ele prometeu em sua Palavra.” É o Espírito Santo que nos concede esta confiança espiritual, uma convicção baseada nas perfeições do ministério de Jesus Cristo, Rm.8:14-16; Hb.7:25. Todos aqueles que estão unidos com Cristo Jesus são aceitos pelo Pai, Ef.1:3-14; inclusive as suas orações, Jo.16:23.
            3. O Motivo da Oração. O Salmista fez esta oração: “Eu sou pobre e necessitado; ó Deus, apressa-te em valer-me, pois tu és o meu amparo e o meu libertador. Senhor não te detenhas!” A oração é o clamor de alguém que reconhece e confessa a sua dependência da misericórdia de Deus. Pergunta 118.  “O que Deus orientou pedir a Ele? Resposta. Tudo o que é necessário ao nosso corpo e à nossa alma como Cristo, o Senhor, o resumiu na oração que Ele mesmo nos ensinou”, em Mt 6:9-13. O Apóstolo Paulo resumiu a sua confiança na providência divina, afirmando: “E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma das vossas necessidades” Fl.4:19.
            Na totalidade da nossa vida, espiritual e material, devemos ser atentos para manter a prioridade que Cristo estabeleceu para o seu povo: “Buscai, pois, em primeiro lugar, o reino de Deus e a sua justiça, e todas estas cousas vos serão acrescentadas” Mt.6:33. Veja como este princípio aparece na “Oração Dominical”. Ela tem uma Introdução, seis Petições e uma Conclusão. As primeiras três Petições se referem aos interesses de Deus. Sim, de todo o nosso coração anelamos que o nome do Senhor seja verdadeiramente santificado e honrado; que o seu reino e domínio venham a ter plena expressão no meio dos povos  e que a sua vontade seja feita através de uma obediência universal, aqui na terra como lá nos céus. As três Petições seguintes se referem aos nossos interesses: o nosso sustento material, vitória sobre as tentações e o perdão dos nossos pecados. E a oração termina com uma doxologia, atribuindo todo o poder e glória à soberana providência de Deus.       
      

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

A VERDADEIRA CONVERSÃO



A Bíblia tem esta promessa para os pecadores: “O Senhor, teu Deus, circuncidará o teu coração e o coração da tua descendência, para amares o Senhor, teu Deus, de todo o coração e de toda a tua alma, para que vivas” Dt.30:6.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, e buscá-lo, para que sua obra se realize em nós, pois Ele é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar, segundo a sua vontade, Fl. 2:13. No conceito do Breve Catecismo, Vocação e Conversão são basicamente sinônimas, pois tratam da mesma verdade. “Vocação eficaz é a obra do Espírito Santo, pela qual, convencendo-nos do pecado, e da nossa miséria, iluminando nossos entendimentos pelo conhecimento de Cristo, e renovando a nossa vontade nos persuade e habilita a abraçar Jesus Cristo, que nos é oferecido de graça no evangelho” Resposta 31 do Breve Catecismo. O Espírito Santo realiza a conversão do pecador atuando sobre três áreas fundamentais de sua vida:
            a) Ele nos convence do pecado e da nossa miséria. Antes de haver qualquer desejo de salvação, temos de ser convencidos desta necessidade. Por isso, o Espírito Santo nos convence do pecado e do juízo vindouro, Jo.16:8. Ele nos ensina que a lei é obrigada a condenar o pecador à pena máxima, a morte, banimento eterno da presença e do poder de Deus, Rm.6:23; 2 Ts.1:9. Quando o Espírito Santo nos convence desta realidade, ficamos com medo e desejamos intensamente um meio de escape.
            b) Ele ilumina a nossa compreensão de Cristo através do Evangelho, ensinando que Jesus Cristo é o único que nos pode oferecer a desejada salvação, mostrando-nos que sua morte substitutiva na cruz do Calvário resolveu para sempre todos os nossos problemas perante a lei de Deus.
            c) Ele renova a nossa vontade (que por natureza é totalmente adversa ao querer de Deus), nos persuade e habilita a abraçar Jesus Cristo, como nos é oferecido de graça no Evangelho. Depois de nos convencer da suficiência deste Libertador para nos salvar totalmente da lei de Deus, o Espírito Santo nos dá a capacidade de crer em Cristo, vir e entregar a nossa vida a Ele, sem qualquer reserva, para sermos justificados, adotados, santificados e recebidos em glória.
            O Catecismo de Heidelberg resume o assunto de conversão em duas partes. Pergunta 88. “Quantas partes há na verdadeira conversão do homem? Resposta. Duas, a morte do velho homem e o nascimento do novo homem”. Podemos dizer que a verdadeira conversão é um tipo de morte e ressurreição; algo bem específico e visível acontece dentro do nosso ser, e que se manifesta através de uma mudança em todas as áreas do nosso procedimento. Tudo começa com a nossa união vital com Cristo, pela qual, em termos espirituais, temos as mesmas experiências, Rm.6:1-14. Quando Cristo foi crucificado, Ele morreu para o pecado; assim, nós também, morremos para o pecado. Em ambos os casos, o pecado sofreu um golpe mortífero. Quando Cristo ressuscitou para viver em novidade de vida, nós também ressuscitamos para andar em novidade de vida. “Porque, se fomos unidos com ele (Cristo) na semelhança da sua morte, certamente, o seremos também na semelhança da sua ressurreição” Rm.6:5. O Apóstolo Paulo resumiu este princípio de morte e ressurreição nestas palavras: “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” 2 Co.5:17.
            Os termos, conversão e regeneração, são basicamente sinônimos na literatura bíblica, e são usados com uma certa flexibilidade para descrever a mesma verdade: o nosso encontro salvador com Jesus Cristo. Porém, em termos mais precisos, conversão descreve a atividade do homem, é ele que abandona o seu pecado e crê em Cristo. Regeneração descreve a atividade do Espírito Santo, é Ele que transforma a nossa disposição espiritual, habilitando-nos a abandonar o pecado e a crer em Jesus Cristo. Por causa do “evangelho fácil” dos nossos dias e a conseqüente desobrigação de mudanças radicais na vida moral e espiritual do homem, é necessário enfatizar a importância de evidencias verificáveis na conversão do pecador. “Nem todo aquele o que me diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu Pai, que está nos céus” Mt.7:21. “E, por se multiplicar a iniqüidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que perseverar até o fim, esse será salvo” Mt.24:12-13.
        
1. A Evidência da Conversão pela Contrição. Cristo enfatizava: “Se não vos arrependerdes, todos igualmente perecereis” Lc. 13:1-5. Esta verdade é uma parte essencial na proclamação do Evangelho. Cristo esclareceu: “Assim está escrito que o Cristo havia de padecer e ressuscitar dentre os mortos ao terceiro dia e que em seu nome se pregasse arrependimento para remissão de pecados a todas as nações, começando em Jerusalém” Lc.24:46-47. Pergunta 89. “O que é morte do velho homem? Resposta. É a profunda tristeza por causa dos pecados e a vontade de odiá-los e evitá-los cada vez mais”. Observemos os dois aspectos da contrição.
            a) Tristeza por causa da transgressão. Embora a intensidade desta tristeza possa variar entre indivíduos, por razões de circunstâncias, todos devem sentir um peso sobre a consciência. Afinal, um pecado foi cometido contra Deus. Quando Isaías percebeu a santidade do Senhor, exclamou: “Ai de mim! Estou perdido” Is.6:5. Os ouvintes do Apóstolo Pedro, compungidos no coração por causa da consciência de seu pecado, pediram: “Que faremos, irmãos?” At.2:37. E o Apóstolo Paulo, convencido da sua pecaminosidade, perguntou: “Desventurado homem que sou, quem me livrará do corpo desta morte?” Rm.7:24. Neste momento de desespero espiritual, o Espírito Santo age e conduz o arrependido aos pés de Jesus Cristo, de onde recebe o perdão.
            b) Rejeição do pecado. Não queremos mais nada com esse mal que se tornou repulsivo. Quando nos lembramos dos nossos pecados, a Bíblia diz: “Eles terão nojo de si mesmo, por causa dos males que fizeram em todas as suas abominações” Ex.6:9. A rejeição do pecado é tão grande, que recusamos todo e qualquer contato com as fontes do pecado, tais como filmes inconvenientes, livros e conversas que procuram introduzir assuntos impuros à nossa mente. Conversão é assim, o pecado é algo nocivo e a nossa rejeição dele é a evidência do nosso encontro com Cristo.
           
2. A Evidência da Conversão pelo Contentamento. Se Deus tem nos abençoado, não há como esconder a alegria que enche o coração. O salmista descreve a bondade de Deus para com os convertidos. “O Senhor dá força ao seu povo, o Senhor abençoa com paz ao seu povo” Sl.29:11. Pergunta 90. “O que é o nascimento do novo homem? Resposta. É a alegria sincera em Deus, por Cristo e o forte desejo de viver conforme a vontade de Deus em todas as boas obras.” Aquele que é convertido tem grande contentamento pela compreensão da maravilha das dádivas que Deus derrama sobre nós, em Cristo. 
            a) Motivos deste contentamento.
I) Quando Cristo morreu como nosso Substituto diante da lei de Deus, Ele satisfez todas as exigências divinas. “Cristo nos resgatou da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” Cl.3:13. Quando o Apóstolo afirma que fomos “libertados da lei” Rm.7:6, está dizendo: “Agora, pois, nenhuma condenação há para os que estão em Cristo Jesus” Rm.8:1. Que motivo insondável de contentamento!

II) Quando o Espírito Santo nos convenceu do nosso pecado, Ele também nos conduziu a Cristo Jesus, “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” Ef.1:7. O Salmista confessou: “Bem-aventurado aquele cuja iniqüidade é perdoada, cujo o pecado é coberto” Sl.32:1. Que motivo consolador de contentamento!

III) Enfim, “Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho”, Jesus Cristo, IJo.5:11. Eis a base do contentamento que jamais terá fim!
           
b) O efeito destas bênçãos sobre a nossa disposição filial. Temos “o forte desejo de viver conforme a vontade de Deus em todas as boas obras”. Eis o testemunho do Apóstolo Paulo: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que agora tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” Gl.2:20.
           
3. A Evidência da Conversão pela Consagração. Aquele que é convertido é devedor àquele que o redimiu; ele não consegue ficar passivo, pois seu desejo é se consagrar àquele que o amou e a si mesmo se entregou por ele. O preço da nossa redenção é o motivo da nossa consagração. Fomos comprados por um bom preço, agora, somos constrangidos a glorificar a Deus em nosso corpo, I Co.6:20. Pergunta 91. “Que são boas obras? Resposta. São somente aquelas que são feitas com verdadeira fé, conforme a lei de Deus e para a sua glória; não são aquelas que se baseiam em nossa própria opinião ou em tradições humanas.” A nossa consagração se revela através das boas obras, ou seja, a maneira pela qual servimos a Deus. Como podemos demonstrar a nossa consagração, o nosso novo apego a Deus?
            a) Através de atos de culto. Insistimos na prática do Culto Doméstico – a família toda reunida para cantar hinos, ler a Bíblia e fazer orações; freqüência assídua aos cultos públicos na Igreja; mais os exercícios devocionais através de bons livros. É uma verdadeira contradição quando se fala de consagração a Deus sem prestar-lhe o devido culto com uma aplicação diária.
            b) Houve um tempo quando costumávamos servir as vaidades desta vida; agora, queremos servir aquele que nos amou e a si mesmo se entregou por nós. Na Igreja, há sempre oportunidades para servir, quer como oficial, ou simplesmente como uma testemunha que irradia amor cristão. “Assim brilhe também a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” Mt.5:16. Cristo disse: “E sereis as minhas testemunhas” At.1:8.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O DÉCIMO MANDAMENTO


“Eu sou o Senhor teu Deus... Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem cousa alguma que pertença ao teu próximo”. Ex.20:2,17.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, pois Ele é o nosso Legislador. “O Décimo Mandamento exige pleno contentamento com a nossa condição, bem como disposição caridosa para com o nosso próximo e tudo que lhe pertence” Resposta 80 do Breve Catecismo. Cobiçar significa desejar alguma coisa ardentemente. No entanto, a cobiça, neste contexto, expressa algo bem mais forte do que um mero desejo. A sua ênfase indica uma prática negativa, uma força que atrai e seduz.” Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte,”  Tg.1:14-15. Veja também Mq.2:2.
            O simples desejo de adquirir bens não é necessariamente pecaminoso; ao contrário, é parte essencial da nossa constituição. Sem esses desejos positivos, a nossa vida seria passiva e inexpressiva. Contudo, devemos lembrar que a nossa capacidade de desejar e alcançar objetivos ficou corrompida pelo pecado de tal forma que as nossas ambições nem sempre correspondem ao nosso bem e nem à vontade revelada de Deus. Por isso, o Décimo Mandamento interveio para proibir os excessos que a cobiça produz, tais como a transgressão de todos os nove mandamentos anteriores. Deus quer o nosso bem, e também o do nosso próximo.
            Os anseios do verdadeiro cristão, cuja vida foi entregue a Jesus Cristo, são resumidos nestas palavras: “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade” Hb. 10:9. “Consumada está a minha alma por desejar incessantemente, os teus juízos” Sl.119:20. Como são diferentes os anseios do descrente! O Apóstolo Paulo os descreve como aqueles que andam segundo as inclinações da sua carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e são, por natureza, filhos da ira, Ef.2:3.
            O Breve Catecismo da Igreja Presbiteriana do Brasil indica que a cobiça é provocada por uma falta de contentamento com a nossa condição, seja qual for a área específica. Algumas circunstâncias nesta vida podem ser melhoradas através do trabalho honesto e do bom uso dos nossos recursos. Porém, existem outros fatores em nossa vida que estão fora do nosso alcance, pois pertencem ao domínio da soberana providência de Deus. Contentamento não é parte da nossa natureza pecaminosa, antes, é algo que temos de adquirir, aprender e cultivar. O Apóstolo Paulo experimentou tantas circunstâncias independentes da sua vontade, contudo, testemunhou: “Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor... Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” Fl.4:10-13. Quando o Salmista reconheceu o soberano cuidado da providência de Deus em sua vida, ele confessou, com gratidão: “O Senhor é a porção da minha herança e o meu cálice; tu és o arrimo da minha sorte. Caem-me as divisas em lugares amenos, é mui linda a minha herança” Sl.16:5-6. O Deus que promove as circunstâncias da nossa vida é o mesmo que prometeu: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” Mt.28:20. Feliz a pessoa que pode confessar, por experiência: “O Senhor é o meu Pastor; e nada me faltará” Sl.23:1. Aquele que me colocou nesta situação atual, prometeu: “De maneira alguma, te deixarei, nunca jamais te abandonarei. Assim, afirmemos, confiantemente: O Senhor é meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?” Hb.13:5-6. Se pudéssemos cultivar mais esta atitude, seríamos bem mais contentes com a nossa porção e a cobiça não teria tanta entrada em nossa vida. Se estivéssemos mais ocupados pensando em valores celestiais, buscando as coisas superiores lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus, não teríamos tanta disposição para cobiçar as coisas inferiores aqui da terra, Cl.4:1-4.
           
1. A Importância do Mandamento. Seja qual for o pecado praticado, ele teve origem, em primeiro instante, nos pensamentos, na forma de uma cobiça. Se não houvesse qualquer cobiça mental dentro do coração, os demais pecados físicos provavelmente não se consumariam. Por isso, a importância deste mandamento. O Apóstolo Paulo ficou convencido da sua pecaminosidade porque a lei disse: “Não cobiçarás”.  O convencimento foi tão profundo que ele exclamou, em sua busca por socorro: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” Rm.7:7,24. A carga de seu pecado inato foi um peso que o Apóstolo não conseguia suportar e nem lançar fora de si mesmo. Seu único recurso era gemer sob a sua pressão e anelar por um livramento por alguém com forças superiores. E, pelo Espírito Santo, logo percebeu que a sua salvação estava em Jesus Cristo, Rm.7:25. Pergunta 113. “O que Deus exige no Décimo Mandamento? Resposta. Jamais pode surgir em nosso coração o menor desejo ou pensamento contra qualquer mandamento de Deus. Pelo contrário, odiar todos os pecados e amar toda justiça”.
            a) Uma vigilância constante. O mundo dos nossos pensamentos é tão real quanto a nossa vida física. Temos a nossa opinião secreta sobre uma gama de realidades, inclusive sobre os valores das Escrituras Sagradas. Este mundo, escondido do conhecimento das pessoas ao nosso redor, é fortemente influenciado por nossa natureza pecaminosa, por isso, somos exortados a levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo, 2 Co.10:5. Quantas vezes, no coração, temos questionado a necessidade de obedecer certos mandamentos específicos ou temos contestado a justiça das exigências das leis do Senhor? Temos de vigiar o nosso coração e não permitir qualquer pensamento que possa ferir os direitos legislativos de Deus.
            b) Uma atitude constante. “Devemos sempre, de todo o coração, odiar todos os pecados e amar toda justiça”. Odiar o pecado significa, não apenas um afastamento de todo e qualquer contato com o pecado, mas também, de todas as aparências do mal, inclusive aqueles pensamentos que podem nutrir a impureza, Ef.5:2. I Ts.5:22. O dever positivo de cada cristão é amar e praticar a justiça, Sl.106:3.
           
2. A Imposição do Mandamento. O Senhor é o nosso criador, portanto, Ele tem, não apenas o direito de legislar sobre o nosso procedimento, mas também, de impor a sua vontade. “Aplicai o coração a todas as palavras que, hoje, testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que cuidem de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não é para vós outros cousa vã; antes, é a vossa vida” Dt.32:46-47. Pergunta 114. “Mas aqueles que se converterem a Deus podem guardar perfeitamente esses mandamentos? Resposta.Não, não podem, porque nesta vida até os mais santos deles apenas começam a guardar os mandamentos. Entretanto, começam, com sério propósito, a viver não somente conforme alguns, mas conforme todos os mandamentos de Deus.”
            No momento em que alguém é nascido de novo e crê em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, o seu novo estado espiritual é confirmado com o dom do Espírito Santo, que o habilita a andar nos estatutos do Senhor, guardar os seus juízos e os observar, Ez.36:27; Ef.1:13; Jo.4:13. Assim começa em nós o longo processo de santificação. “Santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão, I Pe.1:2; Ef.4:20-24; Rm.6:6; 12:1-2.” Breve Catecismo 35. Duas observações de importância inegociável:
            a) A continuidade da obediência. A evidência do nosso novo estado em Cristo é que começamos a guardar os mandamentos do Senhor, uma obediência que prestamos de todo o coração e perseverança, como uma manifestação do nosso amor, Jo.14:15; IJo.3:24. Cristo disse: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” Lc.9:62.
            b) A abrangência da obediência. Uma submissão sincera e prestativa não pode ser seletiva em sua obediência; aceitando uma ordem fácil e rejeitando uma difícil. Para o cristão, nenhum dos mandamentos é penoso. “Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita (descobrindo caminhos de obediência) de dia e de noite” Sl.1:2; I Jo.5:3.
           
3. A Importunação do Mandamento. Obediência à lei de Deus nunca foi um caminho para ganhar a salvação e a vida eterna; estas dádivas de Deus foram sempre concedidas gratuitamente pela fé em Jesus Cristo. No momento, a lei tem uma dupla missão: Primeiro, “pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” Rm.3:20. Segundo, “a lei nos serviu de aio para conduzir-nos a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé” Gl.3:24. A lei nos importuna para que busquemos refúgio em Jesus Cristo. Pergunta 115. “Para quê, então, manda Deus pregar os Dez Mandamentos tão rigorosamente, já que ninguém pode guardá-los nesta vida? Resposta. “Primeiro: para que durante toda a vida, conheçamos cada vez melhor nossa natureza pecaminosa e, por isso, ainda mais desejemos buscar, em Cristo, o perdão dos pecados e a justiça. Segundo: para que sempre sejamos zelosos e oremos a Deus pela graça do Espírito Santo, a fim de que sejamos cada vez mais renovados segundo a imagem de Deus até que, depois desta vida, alcancemos o objetivo, a saber, a perfeição”.
            Que tenhamos o mesmo testemunho que operava nos cristãos primitivos: Que a nossa obediência seja conhecida por todos, Rm.16:19. Estas são as boas obras que Deus procura encontrar na vida de seu povo. Portanto, sejamos solícitos na prática de boas obras, Tt.3:8.

NONO MANDAMENTO



“Eu sou o Senhor teu Deus... Não dirás falso testemunho contra o teu próximo”. Ex.20:2,16.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, pois Ele é o nosso Legislador. “O Nono Mandamento exige a conservação e a promoção da verdade entre os homens e a manutenção da nossa boa reputação e a do nosso próximo, especialmente quando chamados a dar testemunho”. Resposta 77 do Breve Catecismo. Observemos a santidade da verdade. “O que diz a verdade manifesta a justiça, mas a testemunha falsa, a fraude” Pv.12:17. Por uma simples omissão, intencional ou involuntária, vidas inteiras podem ser prejudicadas. “Por isso, deixando a mentira, fale cada um a verdade com o seu próximo, porque somos membros uns dos outros” Ef.4:25. Para facilitar a compreensão deste princípio, oferecemos duas definições parciais.
            a) O que é uma mentira? É conscientemente afirmar algo contrário à verdade. De modo geral, a pessoa mente na esperança de proteger a si mesma. Portanto, o ato de mentir é uma agressão contra a dignidade do próximo. A mentira é uma maneira de zombar do infeliz, Jz.16:13.
            b) A mentira se apresenta de várias maneiras. Caim deu uma resposta evasiva, pois sabia muito bem o que havia acontecido com o seu irmão, Gn.4:9. Jacó mentiu, propositada e premeditadamente a fim de enganar a seu pai, Gn.27:19. Geazi representou falsamente o Profeta Eliseu, a fim de receber “alguma coisa” da riqueza que Naamã havia trazido consigo, 2 Rs.5:20-27. O mentiroso pensa que pode enganar o próprio Deus com as suas palavras de boa ação, como no caso de Ananias e Safira, At.5:1-10. A mentira é o pecado do anticristo, I Jo.2:22. E, como advertência, o mentiroso inveterado jamais penetrará no reino de Deus, Ap.21:27.
            Um dos resultados da mentira é o castigo judicial, no qual Deus entrega o pecador obstinado às conseqüências de sua própria falsidade. “Deus lhes manda a operação do erro, para darem crédito à mentira” 2Ts.2:11. Outra expressão semelhante: “Deus entregou tais homens à imundícia”. Evidentemente, quando um pecador insiste em seus desejos perversos, Deus o entrega para praticar tais insensatezes, e, simultaneamente, para receber, em si mesmo, a merecida punição do seu erro, Rm.1:24-27. Quando o homem quer a mentira, Deus pode lhe dar o que deseja, 2Cr.18:19-22. Neste mesmo sentido, devemos estar atentos quando a nossa própria consciência age contra os nossos melhores interesses, dando um falso testemunho e contrariando a palavra de Deus. É tão comum ouvir esta justificativa acerca de um procedimento repreensível: “A minha consciência não me acusa!” Isto quer dizer: “A minha consciência está aprovando o meu modo de agir.” A totalidade do nosso ser, corpo e alma, ficou atingida pelo pecado original, inclusive a nossa consciência. Ela não é uma autoridade final em questões morais e espirituais; esta pertence exclusivamente ao testemunho inerrante das Escrituras Sagradas. “Se alguém fala, fale de acordo com os oráculos de Deus” I Pe.4:11.
        
1. A Importância de Palavras Corretas. As atitudes do cristão, bem como as suas palavras, são de suma importância. “O amor seja sem hipocrisia. Detestai o mal, apegando-vos ao bem” Rm.12:9. “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe; e sim, unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” Ef.4:29. Pergunta 112.  “O que Deus exige no Nono Mandamento? Resposta. Jamais posso dar falso testemunho contra meu próximo, nem torcer suas palavras, ou ser mexeriqueiro ou caluniador. Também não posso ajudar a condenar alguém levianamente sem o ter ouvido.” Observemos as quatro áreas onde as palavras corretas têm de caracterizar o nosso depoimento.
a) O problema do falso testemunho, que viola a justiça e despreza os direitos do próximo. Deus se compadece das vítimas da desonestidade, por isso, Ele julga o transgressor do Nono Mandamento. “A falsa testemunha não fica impune, e o que profere mentiras não escapa” Pv.19:5. O uso de falsas testemunhas tem causado todo tipo de crimes contra inocentes.
b) O problema de distorcer as palavras, ou, desvirtuar as palavras ouvidas. Não é uma mentira patente, antes, o depoimento é manipulado para apresentar uma história completamente diferente. As palavras de Cristo foram muitas vezes distorcidas na esperança de condená-lo, Mc.14:55-29; Lc.23:2. O verdadeiro cidadão dos céus é aquele “que não difama com sua língua, não faz mal ao próximo, nem lança injúria contra seu vizinho” Sl.15:3.
c) O problema de mexericar e caluniar: quando palavras são usadas para prejudicar alguém que está passando por tempos difíceis. Não importa se o assunto é baseado em fatos, a fofoca é um crime à lei do amor, pois de uma maneira direta, agrava o problema que a vítima está enfrentando, e prejudica a sua reintegração no círculo de amizades. Os mexeriqueiros são classificados como aqueles que desprezaram o conhecimento e, como resultado, agem sem afeição natural e sem misericórdia, Rm.1:28-21. Cuidado com a língua! Tg.3:1-2.
d) O problema de ser testemunha judiciária. Os tribunais existem a fim de promover e assegurar a justiça, contudo, estes têm sido instrumentos de grandes injustiças por causa das palavras de falsas testemunhas. E, em nossas avaliações pessoais, não devemos condenar alguém levianamente sem o ter ouvido. Cristo disse: “Não julgueis, para que não sejais julgados” Mt.7:1-5.

2. A Impregnação de Palavras Corretas. Não devemos subestimar a importância de palavras apropriadas para cada ocasião. O Apóstolo Paulo nos encoraja neste dever: “A vossa palavra seja sempre agradável, temperada (impregnada) com sal, para saberdes como deveis responder a cada um” Cl.4:6. Notemos a ênfase do Apóstolo: a nossa palavra “seja sempre agradável”, falando a verdade “em amor” Ef.4:15. Aqueles que são “o sal da terra” não podem ser insípidos em suas comunicações, Mt.5:13. “Não saia da vossa boca nenhuma palavra torpe; e sim unicamente a que for boa para edificação, conforme a necessidade, e, assim, transmita graça aos que ouvem” Ef.4:29. Resposta. “Mas devo evitar toda mentira e engano, obras próprias do diabo, para Deus não ficar aborrecido comigo”.
a) A origem de palavras mentirosas. Filhos não apenas obedecem a seus pais, mas, também, os hábitos básicos são a manifestação da influência paternal, adquiridos pela imitação. Devemos tomar conhecimento de uma conclusão bíblica - o mundo é composto de apenas duas classes de pessoas: “Os filhos de Deus e os filhos do diabo”. O Apóstolo João é bem claro quanto à identificação destes. “Todo aquele que não pratica justiça (que vive mentindo e prejudicando o próximo) não procede de Deus, nem aquele que não ama seu irmão” I Jo.3:10. Por isso, Cristo logo descobriu a filiação dos judeus descrentes: “Vós sois do diabo, que é vosso pai, e quereis satisfazer-lhes os desejos. Desde o princípio, ele jamais se firmou na verdade, porque é mentiroso e o pai da mentira,” Jo.8:44. Pelos frutos, pelas palavras que proferimos, declaramos a nossa filiação. Não há como fugir desta conclusão, Mt.7:20.
b) A dupla reação que palavras podem causar. “Os lábios mentirosos são abomináveis ao Senhor, mas os que obram fielmente são o seu prazer.” Por nossas palavras, podemos provocar, ou aborrecimento, ou prazer ao Senhor, Pv.12:22. O Salmista orava com urgência: “Que as palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e, redentor meu!” Sl.19:14.

3. A Implantação de Palavras Corretas. As nossas palavras, como sementes vivas e verdadeiras, devem caracterizar todas as nossas comunicações. E quando temos de avaliar o procedimento de outrem, implantamos a verdade. “O amor não pratica o mal contra o próximo” Rm.13:10. Resposta. “Em julgamentos e em qualquer outra ocasião, devo amar a verdade e confessá-la francamente. Também devo defender e promover, tanto quanto puder, a honra e a boa reputação de meu próximo”.
a) A primazia da verdade. É a verdade que deve ter a precedência em todas as nossas conclusões. Às vezes temos de revelar o nosso conhecimento a respeito do caráter de uma pessoa. A nossa palavra pode ser a causa da promoção ou da demoção. Por isso, “devo amar a verdade, falar a verdade e confessá-la francamente”. A característica dominante do cidadão dos céus é esta: Ele vive com integridade, sem dissimulações; pratica a justiça, e, de coração, fala a verdade, Sl.15:2. Deus é puro em seu julgar, e nós, o seu povo, o imitamos em nossos pronunciamentos. Deus tem prazer em contemplar a verdade no íntimo de seu povo, Sl.51:6.
b) A primazia do nosso próximo. Como cristãos, não podemos viver egoisticamente, o nosso próximo deve ter a precedência. “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” Fl.2:4. A atitude do bom samaritano ilustra este princípio. Certamente ele estava com pressa para resolver seus negócios, porém, vendo a necessidade do ferido, esqueceu-se da sua pressa e deu de si mesmo para ajudar o homem, que se tornou seu próximo, Lc.10:33-35. No mesmo sentido, o Apóstolo Paulo escreveu: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra (importância) uns aos outros” Rm.12:10. A honra e a boa reputação do nosso próximo são importantes em nosso círculo de valores. Não medimos esforços quando se trata do próximo. “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados” I Pe.4:7. No amor, não há lugar para falso testemunho contra o próximo.