Vasos de Honra

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

O DÉCIMO MANDAMENTO


“Eu sou o Senhor teu Deus... Não cobiçarás a casa do teu próximo. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem cousa alguma que pertença ao teu próximo”. Ex.20:2,17.

            O que significa isto? Devemos temer e amar a Deus, pois Ele é o nosso Legislador. “O Décimo Mandamento exige pleno contentamento com a nossa condição, bem como disposição caridosa para com o nosso próximo e tudo que lhe pertence” Resposta 80 do Breve Catecismo. Cobiçar significa desejar alguma coisa ardentemente. No entanto, a cobiça, neste contexto, expressa algo bem mais forte do que um mero desejo. A sua ênfase indica uma prática negativa, uma força que atrai e seduz.” Então a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte,”  Tg.1:14-15. Veja também Mq.2:2.
            O simples desejo de adquirir bens não é necessariamente pecaminoso; ao contrário, é parte essencial da nossa constituição. Sem esses desejos positivos, a nossa vida seria passiva e inexpressiva. Contudo, devemos lembrar que a nossa capacidade de desejar e alcançar objetivos ficou corrompida pelo pecado de tal forma que as nossas ambições nem sempre correspondem ao nosso bem e nem à vontade revelada de Deus. Por isso, o Décimo Mandamento interveio para proibir os excessos que a cobiça produz, tais como a transgressão de todos os nove mandamentos anteriores. Deus quer o nosso bem, e também o do nosso próximo.
            Os anseios do verdadeiro cristão, cuja vida foi entregue a Jesus Cristo, são resumidos nestas palavras: “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade” Hb. 10:9. “Consumada está a minha alma por desejar incessantemente, os teus juízos” Sl.119:20. Como são diferentes os anseios do descrente! O Apóstolo Paulo os descreve como aqueles que andam segundo as inclinações da sua carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e são, por natureza, filhos da ira, Ef.2:3.
            O Breve Catecismo da Igreja Presbiteriana do Brasil indica que a cobiça é provocada por uma falta de contentamento com a nossa condição, seja qual for a área específica. Algumas circunstâncias nesta vida podem ser melhoradas através do trabalho honesto e do bom uso dos nossos recursos. Porém, existem outros fatores em nossa vida que estão fora do nosso alcance, pois pertencem ao domínio da soberana providência de Deus. Contentamento não é parte da nossa natureza pecaminosa, antes, é algo que temos de adquirir, aprender e cultivar. O Apóstolo Paulo experimentou tantas circunstâncias independentes da sua vontade, contudo, testemunhou: “Alegrei-me, sobremaneira, no Senhor... Digo isto, não por causa da pobreza, porque aprendi a viver contente em toda e qualquer situação. Tanto sei estar humilhado como também honrado; de tudo e em todas as circunstâncias, já tenho experiência, tanto de fartura como de fome; assim de abundância como de escassez; tudo posso naquele que me fortalece” Fl.4:10-13. Quando o Salmista reconheceu o soberano cuidado da providência de Deus em sua vida, ele confessou, com gratidão: “O Senhor é a porção da minha herança e o meu cálice; tu és o arrimo da minha sorte. Caem-me as divisas em lugares amenos, é mui linda a minha herança” Sl.16:5-6. O Deus que promove as circunstâncias da nossa vida é o mesmo que prometeu: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” Mt.28:20. Feliz a pessoa que pode confessar, por experiência: “O Senhor é o meu Pastor; e nada me faltará” Sl.23:1. Aquele que me colocou nesta situação atual, prometeu: “De maneira alguma, te deixarei, nunca jamais te abandonarei. Assim, afirmemos, confiantemente: O Senhor é meu auxílio, não temerei; que me poderá fazer o homem?” Hb.13:5-6. Se pudéssemos cultivar mais esta atitude, seríamos bem mais contentes com a nossa porção e a cobiça não teria tanta entrada em nossa vida. Se estivéssemos mais ocupados pensando em valores celestiais, buscando as coisas superiores lá do alto, onde Cristo vive, assentado à direita de Deus, não teríamos tanta disposição para cobiçar as coisas inferiores aqui da terra, Cl.4:1-4.
           
1. A Importância do Mandamento. Seja qual for o pecado praticado, ele teve origem, em primeiro instante, nos pensamentos, na forma de uma cobiça. Se não houvesse qualquer cobiça mental dentro do coração, os demais pecados físicos provavelmente não se consumariam. Por isso, a importância deste mandamento. O Apóstolo Paulo ficou convencido da sua pecaminosidade porque a lei disse: “Não cobiçarás”.  O convencimento foi tão profundo que ele exclamou, em sua busca por socorro: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” Rm.7:7,24. A carga de seu pecado inato foi um peso que o Apóstolo não conseguia suportar e nem lançar fora de si mesmo. Seu único recurso era gemer sob a sua pressão e anelar por um livramento por alguém com forças superiores. E, pelo Espírito Santo, logo percebeu que a sua salvação estava em Jesus Cristo, Rm.7:25. Pergunta 113. “O que Deus exige no Décimo Mandamento? Resposta. Jamais pode surgir em nosso coração o menor desejo ou pensamento contra qualquer mandamento de Deus. Pelo contrário, odiar todos os pecados e amar toda justiça”.
            a) Uma vigilância constante. O mundo dos nossos pensamentos é tão real quanto a nossa vida física. Temos a nossa opinião secreta sobre uma gama de realidades, inclusive sobre os valores das Escrituras Sagradas. Este mundo, escondido do conhecimento das pessoas ao nosso redor, é fortemente influenciado por nossa natureza pecaminosa, por isso, somos exortados a levar cativo todo pensamento à obediência de Cristo, 2 Co.10:5. Quantas vezes, no coração, temos questionado a necessidade de obedecer certos mandamentos específicos ou temos contestado a justiça das exigências das leis do Senhor? Temos de vigiar o nosso coração e não permitir qualquer pensamento que possa ferir os direitos legislativos de Deus.
            b) Uma atitude constante. “Devemos sempre, de todo o coração, odiar todos os pecados e amar toda justiça”. Odiar o pecado significa, não apenas um afastamento de todo e qualquer contato com o pecado, mas também, de todas as aparências do mal, inclusive aqueles pensamentos que podem nutrir a impureza, Ef.5:2. I Ts.5:22. O dever positivo de cada cristão é amar e praticar a justiça, Sl.106:3.
           
2. A Imposição do Mandamento. O Senhor é o nosso criador, portanto, Ele tem, não apenas o direito de legislar sobre o nosso procedimento, mas também, de impor a sua vontade. “Aplicai o coração a todas as palavras que, hoje, testifico entre vós, para que ordeneis a vossos filhos que cuidem de cumprir todas as palavras desta lei. Porque esta palavra não é para vós outros cousa vã; antes, é a vossa vida” Dt.32:46-47. Pergunta 114. “Mas aqueles que se converterem a Deus podem guardar perfeitamente esses mandamentos? Resposta.Não, não podem, porque nesta vida até os mais santos deles apenas começam a guardar os mandamentos. Entretanto, começam, com sério propósito, a viver não somente conforme alguns, mas conforme todos os mandamentos de Deus.”
            No momento em que alguém é nascido de novo e crê em Jesus Cristo como seu Senhor e Salvador, o seu novo estado espiritual é confirmado com o dom do Espírito Santo, que o habilita a andar nos estatutos do Senhor, guardar os seus juízos e os observar, Ez.36:27; Ef.1:13; Jo.4:13. Assim começa em nós o longo processo de santificação. “Santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a morrer cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão, I Pe.1:2; Ef.4:20-24; Rm.6:6; 12:1-2.” Breve Catecismo 35. Duas observações de importância inegociável:
            a) A continuidade da obediência. A evidência do nosso novo estado em Cristo é que começamos a guardar os mandamentos do Senhor, uma obediência que prestamos de todo o coração e perseverança, como uma manifestação do nosso amor, Jo.14:15; IJo.3:24. Cristo disse: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” Lc.9:62.
            b) A abrangência da obediência. Uma submissão sincera e prestativa não pode ser seletiva em sua obediência; aceitando uma ordem fácil e rejeitando uma difícil. Para o cristão, nenhum dos mandamentos é penoso. “Antes, o seu prazer está na lei do Senhor, e na sua lei medita (descobrindo caminhos de obediência) de dia e de noite” Sl.1:2; I Jo.5:3.
           
3. A Importunação do Mandamento. Obediência à lei de Deus nunca foi um caminho para ganhar a salvação e a vida eterna; estas dádivas de Deus foram sempre concedidas gratuitamente pela fé em Jesus Cristo. No momento, a lei tem uma dupla missão: Primeiro, “pela lei vem o pleno conhecimento do pecado” Rm.3:20. Segundo, “a lei nos serviu de aio para conduzir-nos a Cristo, a fim de que fôssemos justificados por fé” Gl.3:24. A lei nos importuna para que busquemos refúgio em Jesus Cristo. Pergunta 115. “Para quê, então, manda Deus pregar os Dez Mandamentos tão rigorosamente, já que ninguém pode guardá-los nesta vida? Resposta. “Primeiro: para que durante toda a vida, conheçamos cada vez melhor nossa natureza pecaminosa e, por isso, ainda mais desejemos buscar, em Cristo, o perdão dos pecados e a justiça. Segundo: para que sempre sejamos zelosos e oremos a Deus pela graça do Espírito Santo, a fim de que sejamos cada vez mais renovados segundo a imagem de Deus até que, depois desta vida, alcancemos o objetivo, a saber, a perfeição”.
            Que tenhamos o mesmo testemunho que operava nos cristãos primitivos: Que a nossa obediência seja conhecida por todos, Rm.16:19. Estas são as boas obras que Deus procura encontrar na vida de seu povo. Portanto, sejamos solícitos na prática de boas obras, Tt.3:8.

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