Leitura
Bíblica: Salmo 46: 1-11
Introdução:
Embora não tenhamos certeza quanto às circunstâncias históricas deste Salmo, o
texto descreve uma vitória esmagadora sobre um inimigo. A vitória que o rei Ezequias
recebeu quando o exército da Assíria se acampou ao redor de Jerusalém e foi
destruído por um anjo oferece um contexto possível para esse Salmo. Ao ver o
exército de cento e oitenta e cinco mil homens, o rei Ezequias reuniu o seu
povo e disse: “Sede fortes e corajosos, não temais, nem vos assusteis por causa do rei da
Assíria, nem por causa de toda a
multidão que está com ele. Com ele está o braço da carne, mas, conosco, o
Senhor, nosso Deus, para nos ajudar e para guerrear nossas guerras. O povo
cobrou ânimo com as palavras de Ezequias, rei de Judá” (2Cr. 32:7-8). Como Deus
honrou a fé de Ezequias? A Bíblia dá este relatório: “Então, o Senhor enviou um
anjo que destruiu todos os homens valentes, os chefes e os príncipes no arraial
do rei da Assíria; e este, com o rosto
coberto de vergonha, voltou para a sua terra. Tendo ele entrado na casa de seu
deus, os seus próprios filhos ali o mataram à espada” (2Cr. 32:21). Esta
história nos ajuda a entender a gratidão que permeia esse Salmo.
O
Salmo 46 descreve essa história, ou outra semelhante, poeticamente,
espiritualizando os seus princípios. O poema se divide em três estrofes, cada
uma terminando com a palavra “selá” (não
incluída na RA). Embora haja algumas dúvidas quanto ao sentido dessa palavra, a
maioria entende que é um sinal musical, indicando uma pausa a fim de meditar
sobre o assunto exposto. Por exemplo, podemos pensar sobre esta declaração de
fé, feita no contexto de uma guerra iminente: “O Senhor dos Exércitos está
conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio”.
Notemos
o uso do termo, “o Senhor de Jacó”, e não “o Deus de Israel” (Is. 41:17). Jacó,
antes do seu encontro salvífico com o Senhor, era um usurpador e enganador,
enfim, um pecador, e a sua descendência herdou essa mesma pecaminosidade,
contudo, o Senhor não desprezou esse povo rebelde (At. 7:51). Por isso, a nação
passou a ser conhecida com o nome sugestivo, o Deus de Jacó, o Deus de
pecadores, o Deus salvador, “que justifica o ímpio que tem fé em Jesus Cristo,
(Rm. 4:5).
Com
esta introdução, vamos sentir a intensidade espiritual que permeia cada parte
desse Salmo precioso e repleto de verdades, visando o fortalecimento da nossa
fé, bem como o nosso crescimento na graça do nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo.
1.
A Presença do Senhor nas Tribulações, Vs. 1-3. O salmo começa com uma
manifestação súbita de admiração espiritual, bem como o reconhecimento da
singularidade de Deus. Vamos sentir a emoção inerente na declaração: “Deus (o
Senhor dos Exércitos) é o nosso refúgio e fortaleza, socorro bem presente nas
tribulações”. O Salmista está lembrando
de um livramento soberano que o Senhor concedeu. Qual foi o fruto imediato
dessa recordação? Uma confiança na promessa do socorro do Senhor em todas as
tribulações. “Portanto, não temeremos”, sejam quais forem as agressões. Em
seguida, ele fala de quatro acontecimentos: “Ainda que a terra se transforme e
os montes se abalem no seio dos mares; ainda que as águas tumultuem e espumejem
e na sua fúria os montes se estremeçam”.
O
Salmista está falando de tribulações, de ataques que podem nos surpreender em
qualquer momento. Tais experiências são dadas para nos constranger a correr aos
braços daquele que é poderoso para nos socorrer, (Hb. 2:18). São partes do
nosso crescimento espiritual; sem elas, permaneceríamos como crianças em
Cristo, (1Co. 3:1). Para o Ap.Paulo, tribulações eram algo positivo: “Mas
também nos gloriamos nas próprias tribulações, sabendo que a tribulação produz
perseverança, experiência e esperança” (Rm. 5:3). Quando os cristãos são
fracos, então é que são fortes; quando são pobres, então é que são ricos;
quando são humilhados, então é que são exaltados; quando são grandemente
afligidos, então é que são grandemente confortados porque “Deus é o nosso
refúgio e fortaleza, socorro bem presente na tribulação”. Quanto mais o cristão
é atribulado, mais a sua confiança nas promessas de Deus será confirmada. Se a
nossa fé fosse tão forte como a nossa segurança espiritual em Cristo, não
teríamos medo de uma confrontação com inimigos declarados, ou de qualquer outra
adversidade. “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre nos conduz em triunfo e, por meio de
nós, manifesta em todo lugar a fragrância do seu conhecimento” (2Co. 2:14). O
rei Ezequias demonstrou a sua fé
inabalável diante do exército da Assíria, comentando: “Com ele está o braço de
carne, mas, conosco, o Senhor, nosso Deus, para nos ajudar e guerrear nossas
guerras” (2Cr. 32:8). Que cada um de nós possamos revelar uma confiança semelhante
nos dias da tribulação!
2.
A Presença do Senhor no Santuário, Vs. 4-7. Por causa de suas meditações
espirituais, o Salmista é transportado para “o santuário das moradas do
Altíssimo”, e lá ele vê “um rio, cujas correntes alegram a cidade de Deus”.
Cremos que esse rio é a figura poética que descreve as bênçãos que Deus derrama
copiosamente sobre o seu povo. Cristo usou a mesma figura para descrever o
ministério do Espírito Santo na vida de seu povo. Como Ele mesmo disse: “Quem
crer em mim, como diz a Escritura, do seu interior, fluirão rios de água viva. Isto
ele disse com respeito ao Espírito que haviam de receber os que nele cressem”
(Jo. 7:38-39). Pela atuação do Espírito Santo, a cidade de Deus e seus
habitantes têm uma alegria indizível. “Porque o reino de Deus não é comida nem
bebida, mas justiça, paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm. 14:17).
Voltando
à figura do rio, cujas correntes falam das bênçãos que fluem da presença de
Deus, podemos confessar que, de fato, Ele tem “nos abençoado com toda sorte de
benção espiritual nas regiões celestiais em Cristo” (Ef. 1:3). E, nos
versículos que se seguem, o Apóstolo numera algumas delas, tais como a nossa
eleição. “Assim como nos escolheu, nele (em Cristo), antes da fundação do mundo, para sermos
santos e irrepreensíveis perante ele” V.4 Sublinhamos o propósito dessa escolha: a nossa
santificação, “sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb. 12:14). No V.5, temos a
nossa “adoção”. O Ap. João comentou, maravilhado: “Vede que grande amor nos tem
concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e, de fato, somos
filhos de Deus” (1Jo. 3:1). No V.7, temos os detalhes da nossa salvação eterna:
Em Cristo “temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a
riqueza da sua graça”. E, nos Vs. 13-14, temos o dom do Espírito Santo. “Em
quem também vós, depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa
salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da
promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua
propriedade, em louvor da sua glória”. Essas e tantas outras, são as bênçãos
que alegram os habitantes da cidade de Deus, “o santuário das moradas do
Altíssimo”. Vamos sentir o motivo dessa alegria: “Deus está no meio dela;
jamais será abalada; Deus ajudará desde antemanhã”.
Depois
de passar um tempo no santuário, meditando sobre esse “rio cujas correntes
alegram a cidade de Deus”, o Salmista sai para contemplar os acontecimentos no
mundo secular. O que ele vê? Em linguagem poética, ele percebe como o mundo (de
pessoas) está numa agitação de desespero: “Bramam nações (pagãs), reinos se
abalam”. Mas, no meio dessa confusão, “ ele (o Senhor) faz ouvir a sua voz, e a
terra se dissolve”. Qual é a reação do Salmista diante desse tumulto? Com as
bênçãos do santuário ainda alimentando o seu coração, ele sente uma segurança
que pertence somente aos que são guardado pelo poder de Deus e exclama
jubilosamente: “O Senhor dos Exércitos está conosco. O Deus de Jacó é o nosso
refúgio”. Feliz a pessoa que pode descansar no Senhor e esperar nele, porque
esta é a nossa segurança e paz neste mundo desequilibrado.
3.
A Presença do Senhor nas Assolações, Vs 8-11. O Salmista continua
contemplando esse mundo agitado e fica maravilhado com o espetáculo, por isso,
nos convida: “Vinde, contemplai as obras do Senhor, que assolações efetuou na
terra”. Ele não se refere às assolações de uma maneira negativa, antes, está
compreendendo, com maior clareza, “as obras do Senhor”. Ele está vendo como o
Senhor protege e salva o seu povo. Em outro Salmo, o escritor exclama: “Reina o
Senhor, tremam os povos. Ele está entronizado acima dos querubins; abala-se a
terra. O Senhor é grande em Sião e sobremodo elevado acima de todos os povos”
(Sl. 99:1-2). Por estar acima de todos os povos, “Ele põe termos à guerra até
os confins do mundo; quebra o arco e despedaça a lança; queima os carros no
fogo”. Sim, diante do Senhor esses instrumentos de guerra não têm nenhum poder.
Basta pensar no exército da Assíria e seus 185 mil homens armados. Essa
multidão de inimigos que queria tomar posse de Jerusalém, foi como nada diante
do Senhor, que o frustrou com a maior facilidade todos os seus propósitos:
“Então o Senhor enviou um anjo (um único anjo) que destruiu todos os homens
valentes, os chefes e os príncipes do arraial do rei da Assíria” (2Cr. 32:21).
E, com tal manifestação de poder soberano, não houve nenhuma guerra e Jerusalém
permaneceu em paz. Assim, vemos a presença protetora do Senhor, mediante as
suas obras assoladoras, que Ele realiza em favor do livramento de seu povo.
Agora,
no meio destas reflexões, ouve-se a voz do Senhor, “o rei de toda a terra” (Sl.
47:7), dizendo: “Aquietai-vos e sabei que eu sou Deus; sou exaltado entre as
nações, sou exaltado na terra”. O verbo: “aquietai-vos”, tem o pensamento de
ficar parado, sem agitar-se por causa dos acontecimentos que assolam esse
mundo. A nossa intervenção poderia impedir a livre ação do Senhor. O Ap. Paulo
expressou essa atitude quando falou sobre vingança: “Não vos vingueis a vós
mesmos, amados, mas dai lugar à ira”, afaste-se do assunto e deixe o Senhor
livre para resolver o problema sozinho, (Rm. 12:19). Esta disposição de “largar
a mão”, requer um ato de fé, temos que crer que Deus é Deus, “um socorro bem
presente nas tribulações”. Ele será, com toda certeza, “exaltado entre as
nações”.
Essa
frase permite uma pergunta: Como pode o
Senhor ser exaltado entre as nações? Cremos que a resposta certa é: Ele
será exaltado mediante a pregação do
evangelho de Jesus Cristo. Como o Salmista disse: “Glorificar-te-ei, pois,
entre os gentios, ó Senhor, e cantarei louvores ao teu nome” (Sl. 18:49).
Assim, mediante a conversão, pessoas que andavam nas trevas, estão, agora,
andando na luz, glorificando o Deus perdoador. “O povo que jazia em trevas viu
grande Luz, e os que viviam na região da sombra da morte resplandeceu-lhes a
luz” (Mt. 4:16). Tal mudança transformadora aconteceu porque o Senhor é
soberano sobre as nações e determinou: “Eu sou exaltado na terra”. Com estas
palavras, independente de tudo o que acontece nesse mundo, o Salmista, sentindo
uma confiança no socorro, rompeu em gratidão: “O Senhor dos Exércitos está
conosco; o Deus de Jacó é o nosso refúgio”. Nesse contexto, ouvimos as palavras
do nosso Senhor, dizendo: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou, não vo-la dou
como a dá o mundo. Não se turbe o vosso coração, nem se atemorize” (Jo. 14:27).
Conclusão:
Esse Salmo de gratidão foi escrito para encorajar e fortalecer o povo de Deus
em todas as suas variadas circunstâncias. Vimos a presença do Senhor nas
Tribulações. Ele é o nosso socorro bem presente nas adversidades desta vida.
Vimos a presença do Senhor no Santuário. Deus está presente em sua casa
derramando um rio de bênçãos copiosas sobre todos os que se acham presentes
nessa casa do Deus Altíssimo. E, finalmente, vimos a presença do Senhor nas Assolações.
E, no meio delas, ouvimos a voz do Senhor, dizendo: “Aquietai-vos e sabei que
eu sou Deus; sou exaltado entre as nações, sou exaltado na terra”. Por causa
dessa presença no meio das nossas circunstâncias, podemos exclamar
confiantemente: “O Senhor dos Exércitos está conosco; o Deus de Jacó (o Deus de
pecadores arrependidos) é o nosso refúgio”. Que estas palavras nos fortaleçam
para podermos viver a vida cristã para a glória de Deus!
Nenhum comentário:
Postar um comentário