Leitura
Bíblica: Filipenses 3:12-14.
Introdução:
O Ap. Paulo, dirigindo-se aos cristãos em Roma, afirmou que eles foram
“chamados para serem santos” (Rm. 1:7). O Ap. Pedro, de forma semelhante,
exortou os cristãos da Dispersão: Não “vos amoldeis às paixões que tínheis
anteriormente na vossa ignorância; pelo contrário, segundo é santo aquele que
vos chamou, tornai-vos santos também vós mesmos em todo o vosso procedimento,
porque escrito está: Sede santos, porque eu (o Senhor) sou santo” (1Pe.
1:14-16), O modelo desta santidade é aquele que caracteriza o próprio Deus; uma
santidade tão infinita que o ser humano, mesmo sendo regenerado e auxiliado
pelo Espírito Santo, não pode, nesta vida, alcançá-la. Contudo, não há motivo
para ficarmos desanimados, porque, quando deixarmos esta vida, seremos
imutavelmente transformados e aperfeiçoados para todo o sempre. (Hb. 12:22-23).
Ao
abordar esse assunto, o Apóstolo está se referindo a dois tipos de pessoas que
confessam o nome de Jesus Cristo: a) Os judaizantes, que ensinavam que essa
santidade perfeita podia ser alcançada pelas obras da lei, pelo esforço humano.
Mas o Apóstolo declara a futilidade desse ensino, dizendo: “Todos quantos,
pois, são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito:
Maldito todo aquele que não permanece em todas as cousas escritas no livro da
Lei, para praticá-las. E, é evidente que, pela lei (pelo esforço humano), ninguém
é justificado (inocentado) diante de Deus, porque o justo viverá pela fé” (Gl. 3:10-11). Em vez de alcançar a devida
perfeição, as obras da lei deixam tais seguidores cada vez mais perdidos, visto
que todos nós continuamos transgredindo essa lei. “Pois a lei nunca aperfeiçoou
cousa alguma” (Hb. 7:19); b) Os
indolentes. Aqueles que estão satisfeitos com o mero nome de cristão. Dizem:
tenho a salvação, não preciso fazer mais nada! É possível ser cristão sem o
desejo de crescer na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo? Somos exortados: “ Procurai, com diligência cada vez maior, confirmar a
vossa vocação e eleição; porquanto, procedendo assim, não tropeçareis em tempo
algum” (2 Pe. 1:10). A certeza da nossa salvação depende dessa prontidão.
Vamos
sentir como o Ap. Paulo encarava a necessidade de uma aplicação mais
participativa na busca dessa perfeição na santidade.
1.
A Necessidade de um Ato Providencial. Antes de pensar na santificação,
temos que reconhecer que a vida cristã começa com um ato providencial, temos
que ser nascidos de novo pelo poder do Espírito Santo, (Jo. 3:6-8). Cristo veio
para “buscar e salvar o perdido” (Lc. 19:10). E, achando um pecador que por natureza está num
estado de rebelião espiritual, este tem que ser “conquistado” para que esteja
disposto a seguir o seu Salvador, Jesus Cristo. O Apóstolo foi “conquistado”,
por isso ele tão prontamente perguntou a seu Conquistador: “Que farei, Senhor?”
(At. 22:10). Somos conquistados para conhecer e praticar a vontade de Deus. A
Bíblia ensina que fomos “chamados segundo o seu propósito” (Rm. 8:28). O Ap.
Paulo orava para que os cristãos pudessem transbordar “de pleno conhecimento da
vontade de Deus” (Cl. 1:9). Embora a vontade de Deus tenha uma multiplicidade
de expressões, cremos que a nossa santificação tenha uma prioridade. “Pois esta
é a vontade de Deus: a vossa santificação” (ITs. 4:3). O Apóstolo ensinava:
“Assim como Deus nos escolheu, em Cristo, antes da fundação do mundo, para
sermos santos e irrepreensíveis perante ele” (Ef. 1:4). Portanto, a nossa
santidade é a evidência incontestável da realidade de sermos conquistados por
Cristo Jesus. E, para isso, fomos “selados com o Espírito Santo da promessa”
(Ef. 1:13). Devemos levar a sério a questão da nossa “santificação, sem o qual
ninguém verá o Senhor” (Hb. 12:14).
Quando
nós fomos achados e conquistados por Cristo Jesus, o Espírito Santo
imediatamente gravou sobre o nosso coração a grande promessa da nova aliança.
Falando sobre o povo achado por Cristo, o Senhor declarou: “ Na sua mente
imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei; e eu
serei o seu Deus e eles serão o meu povo” (Hb. 8:10). Essa lei, entre outras
finalidades, contém os princípios necessários para desenvolver uma vida santa e
irrepreensível. Assim, o Apóstolo, movido por essa lei interior, confessou:
“Não que eu tenha já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo
para o que também fui conquistado por Cristo Jesus” (V.12). A frase, “prossigo para conquistar”,
possivelmente se refere àqueles que praticam o esporte de agonística, ou seja,
a arte da luta. O lutador não considera a possibilidade de uma derrota; por
isso, ele se disciplina e concentra toda a sua energia para alcançar o prêmio.
A nossa santificação deve ter uma prioridade em nossa vida, afinal, fomos
escolhidos para esse fim.
2.
A Necessidade de um Ato Pronunciável. O nosso entendimento da doutrina da
santificação deve ser pronunciável, isto é, podemos explicar quais as normas
adotadas para alcançar a nossa santificação. O Ap. Paulo explicou: “Irmãos,
quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma cousa faço: esquecendo-me
das cousas que para trás ficam e avançando para as que adiante de mim estão”
(V13.). O Apóstolo pronunciou três coisas que ele praticava a fim de alcançar a
desejada santidade.
a) Ele
enfatizava o fato de que ainda não tinha alcançado a perfeição. Essa não foi
uma confissão de uma falha no seu procedimento, antes, foi um estímulo para
continuar no “bom combate” porque soube que, ao chegar o dia final, ele estaria
entre os justos aperfeiçoados” (Hb. 12:23). Por isso, o Apóstolo nos exorta:
“Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicado e
edificados e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças” (Cl. 2:6-7). Ou seja
“desenvolvei a vossa salvação com temor e tremor” (Fl. 2:12).
b) Antes
de ter o seu encontro salvador com Jesus Cristo, o Apóstolo acumulou para si
mesmo muitos benefícios, tanto na área acadêmica, como também na área espiritual.
Ele mesmo confessou: “E, na minha nação, quanto ao judaísmo, avantajava-me a
muitos da minha idade, sendo extremamente zeloso das tradições de meus pais”
(Gl. 1:14). Mas ele chegou a considerar todas essas vantagens “como perda, por
causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus” (Fl. 3:8). E, para
alcançar esse objetivo, acrescentou: “ Esquecendo-me das cousas que para trás ficam”. Reconhecemos que a
lembrança de crenças erradas e de conquistas materiais podem impedir o nosso
progresso espiritual e causar o pecado de olhar para trás. Muitos dos
Israelitas não foram permitidos a entrar na terra prometida porque olharam para
trás para lembrar “dos peixes que no Egito comíamos de graça; dos pepinos, dos
melões, dos alhos silvestres, das cebolas e dos alhos. Agora, porém, seca-se a nossa
alma e nenhuma cousa vemos senão este maná” (Nm, 11:5-6) A lembrança do passado
provocou o desprezo das providências de Deus no presente, por isso, foram
rejeitados.
c) Por
causa do esforço para esquecer as coisas que para trás tinham ficado, o Apóstolo
estava livre para ocupar-se com o mais importante, isto é, avançar para os
valores “que diante de mim estão”. Na corrida para alcançar “ o prêmio da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus”, temos que disciplinar as nossas
atitudes e corrigi-las para não cairmos no pecado de murmurar contra o Senhor,
“Não sabeis vós que os que correm no estádio, todos, na verdade, correm, mas um
só leva o prêmio? Correi de tal maneira que o alcanceis” (1Co. 9:24). Corramos
para chegarmos vitoriosamente ao fim.
3.
A Necessidade de um Ato Proposital. Em todas as atividades desta vida somos
impulsionados por um propósito, e, como cristãos, o nosso objetivo é uma
santidade que revela a obra santificadora do Espírito Santo em nossa vida, (1Ts.
5:23). Por isso, o Apóstolo acrescentou: “Prossigo para o alvo”, a minha santificação.
Mas, não apenas uma vida irrepreensível, prosseguimos “para o prêmio da
soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (V.14). Temos falado sobre a
santificação, mas qual é o sentido desse “prêmio” que aguarda os vencedores
dessa corrida espiritual?
Esse
prêmio ou galardão é algo além da vida eterna. Embora não saibamos exatamente a
forma desse “prêmio”, entendemos que é algo especial reservado para os fiéis,
“Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do nosso trabalho e do amor que
evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos”
(Hb.6:10). Na consumação dos séculos, no Dia da “vinda de nosso Senhor Jesus
Cristo e à nossa reunião com ele” (2Ts. 2:1), o nosso testemunho será exibido
publicamente. O Ap. Paulo aguardava receber uma “coroa de justiça” (2Tm.4:8). A
figura entende uma apresentação pública. “Muito bem, servo bom e fiel; foste
fiel no pouco, sobre o muito te colocarei; entra no gozo do seu Senhor” (Mt.
25:21). E Cristo, declamando diante das milícias celestiais: “Eis aqui estou eu
e os filhos que Deus me deu” (Hb. 2:13). “E eis grande multidão que ninguém
podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do
trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos;
e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus que se assenta no trono e ao
Cordeiro, pertence a salvação” (Ap. 7:9-10). E, chegando esse Dia do Senhor,
teremos maiores esclarecimentos dessa bem-aventurança. Portanto, vamos
trabalhar visando esse prêmio, imitando os heróis em Hebreus 2 que enfrentaram
todo tipo de dificuldade com fé e muita coragem, “porque contemplavam o
galardão” (Hb.11:26).
Conclusão:
O terceiro capítulo de Filipenses podia ser intitulado: Uma transferência de
prioridades; o que o Apóstolo era antes de ser conquistado por Cristo Jesus; e
o que ele se tornou sob os cuidados de
seu Conquistador; ou ainda, A diferença entre as prioridades do homem carnal e
do homem espiritual. O carnal se esforça para ganhar as honras deste mundo, enquanto
o espiritual se esforça para ganhar uma santidade visível, porque esta é a vontade
de seu Senhor. E, para isso, o Apóstolo reconheceu a necessidade de um ato
providencial em sua vida, um encontro salvador e santificador com Jesus Cristo.
Em seguida, ele reconheceu a necessidade de um ato pronunciável, uma definição
quanto à natureza da santificação. E, finalmente, ele reconheceu a necessidade
de um ato proposital, o desejo de prosseguir no esforço de alcançar uma vida
visivelmente santa e irrepreensível na busca de uma perfeição na santidade.
Cristo nos achou e nos conquistou a fim
de apresentar-nos perante Deus o Pai
“santos, inculpáveis e irrepreensíveis” (Cl.1:22). Que sejamos achados assim.
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