Vasos de Honra

sexta-feira, 17 de junho de 2016

A PAIXÃO (PADECIMENTO) DE CRISTO


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Lucas 18:31-34

Introdução: Primeiro, quero justificar o uso da palavra “Paixão”. Ela é a tradução da palavra grega “Pathein”, que significa “paixão”. E, no Novo Testamento, ela sempre se refere ao “padecimento e morte de Jesus Cristo”. Em português, essa palavra é traduzida como padecido. “Depois de ter padecido, ele (Jesus) se apresentou vivo” (At. 1:3). A Bíblia em Inglês retém a palavra paixão (passion) neste versículo (KJV).

Ao meditarmos sobre o sofrimento e morte de Cristo, devemos lembrar que Ele nasceu “como de cordeiro, sem defeito e sem mácula” (1Pe. 1:19), a fim de “dar a sua vida em resgate por muitos” (Mc. 10:45).  Ele recebeu o nome de Jesus – Salvador, “porque salvaria o seu povo dos pecados deles” (Mt. 1:21). A morte vicária, ou, substitutiva de Jesus Cristo é tão central para a fé cristã, que Ele mesmo instituiu a Ceia do Senhor, “Que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim. Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Porque todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice anunciais a morte do Senhor, até  que ele venha” (1Co. 11:23-26). Desta maneira, Ele nos deu um ato físico para ajudar-nos a lembrar do preço pago a fim de nos conceder “ a redenção e a remissão dos pecados” (Cl. 1:14).

Para  facilitar a compreensão do assunto, nos limitaremos a mencionar os sete momentos em que Cristo sofreu durante as últimas vinte e quatro horas de sua vida aqui na terra. “Jesus, porém, tendo oferecido, para sempre, um único sacrifício pelos pecados, assentou-se à destra de Deus, aguardando daí em diante, até que os seus inimigos sejam postos por estrado dos seus pés” (Hb. 10:12-13).

1. O Momento no Cenáculo, Mc. 14:15. O sofrimento de Cristo, de uma maneira sempre crescente, começou dentro deste recinto sagrado, na presença de seus discípulos. “Angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá” (Jo.13:21). Mas, apesar de saber que Ele seria traído, Ele não soltou nenhuma palavra de impedimento, antes, dirigiu-se aos discípulos fiéis, a fim de prepará-los e os fortalecer para que não vacilassem na fé por causa dos horrores prestes a acontecer. E, para isso, falou do seu amor para com eles. “ Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor de seus amigos. Vós sois os meus amigos se fazeis o que eu vos mando” (Jo. 15:13-14). “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a  sua vida por nós; e devemos dar a nossa pelos  irmãos (1Jo. 3:16). O Evangelho é este: “Cristo morreu pelos nossos pecados, segundo as Escrituras” (1Co. 15:3). Eles teriam que entender que a morte de Cristo seria o cumprimento das Escrituras do Antigo Testamento.

Veja como Ele cuidou  de seus discípulos, e de nós também, no Evangelho segundo João: No capítulo 14, Ele falou do consolo espiritual; da casa de seu Pai e do seu retorno: “Voltarei e vos recebereis para mim mesmo, para que, onde eu estou, estejais vós também” (Vs. 2-3). No capítulo 15, Ele falou da necessidade de permanecer nele.  Ele nos deu esta promessa: “Se permanecerdes em mim e as minhas palavras permanecerem em vós, pedireis o que quiserdes e vos será feito” (V.7). No capítulo 16, temos a promessa do Consolador, o Espírito Santo, a fim de ajudar-nos em nossas tribulações, que são parte da vida cristã. “Se eu não for, o Consolador não virá para vós outros; se, porém, eu for, eu vo-lo enviarei ... Ele me glorificará, porque há de receber do que é meu e vo-lo anunciará” (Vs. 7 e 14). E, no capítulo 17, Cristo orou a seu Pai, relatando do cumprimento da sua missão. Ele também pediu que o trabalho começado continuasse. E, para o nosso consolo, orou por nós. “Não rogo somente por estes (os discípulos imediatos), mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra” V.20.

2. O Momento no Getsêmani, Mc. 14:32. É aqui que começou, de uma maneira mais intensa, a luta invisível e indescritível para destruir o poder das trevas e do pecado. É uma luta que o Senhor Jesus tinha que enfrentar sozinho, pois os discípulos, apesar de estarem presentes, foram excluídos do conflito por um sono irresistível. Quem pode realmente entender o que Cristo estava experimentando naquela hora quando Ele “começou a entristecer-se e a angustiar-se”, confessando: “minha alma está profundamente triste até a morte”? Todavia, devemos sempre lembrar que, “Para isto se manifestou o Filho de Deus: para destruir as obras do diabo” (1Jo. 3:8).  Nessa hora, parece que o próprio céu ficou fechado contra Ele; pois teria que beber o cálice da ira de Deus contra o pecado, até a última gota. Nesse momento, o nosso Senhor confessou a sua total submissão à vontade de seu Pai: “Faça-se a tua vontade” (Mt. 26:37-42). Mas a luta dentro do íntimo do Senhor continuou sem qualquer alento. “E aconteceu que o seu suor se tornou como gotas de sangue caindo sobre a terra” (Lc. 26:44). “Todos nós andávamos desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor (o Pai) fez cair sobre ele (o seu próprio filho) a iniqüidade de nós todos” (Is. 53:6). Mas a luta ainda não terminou, decepções e atrocidades ainda o guardavam.

3. O Momento na Traição, Mc. 14:44-45. Quando Jesus e seus discípulos saíram do jardim, eles enfrentaram o traidor: “ Tendo, pois, Judas recebido a escolta e, dos principais  sacerdotes e dos fariseus, alguns guardas, chegou a este lugar com lanternas, tochas e armas” (Jo. 18:3). Ali, Jesus recebeu aquele que o beijou traiçoeiramente, aquele que recebeu os elementos da Páscoa, como se fosse um verdadeiro amigo. O Salmista registrou, profeticamente, o que Jesus sentiu com aquele ato de hipocrisia: “Com efeito, não é o inimigo que me afronta; se o fosse, eu o suportaria; nem é o que me odeia que se exalta contra mim, pois dele me esconderia; mas és tu (Judas), homem meu igual, meu companheiro e o meu íntimo amigo. Juntos andávamos, juntos nos entretínhamos e íamos com a multidão à Casa de Deus” (Sl. 55:12-14). Com esse ato, todos os discípulos fugiram, deixando Jesus sozinho com os seus inimigos, (Mc. 14:50). Mais tarde, Pedro o seguiu de longe, porém, somente para negá-lo três vezes com juramentos. Quem pode descrever a tristeza mordente que Jesus sentiu quando olhou para o seu discípulo medroso? (Lc. 22:54-62). Novamente, Jesus sentia a solidão da sua missão, sozinho teria que receber “o castigo que nos traz a paz” e, sozinho, teria que pagar o preço da nossa redenção e o perdão dos nossos pecados, (Is. 53:4-5).

4. O Momento Perante o Sinédrio, Jo. 18:12-13). Vamos tentar assimilar o que está acontecendo. Jesus Cristo, o Deus conosco, o Deus Forte (Mt. 1:23; Is. 9:6) sendo conduzido, manietado, ao tribunal para ser sentenciado à morte, como se fosse um criminoso perigoso. O Ap. Paulo tentou pôr em palavras a disposição de Jesus nesse momento: “Pois ele,  subsistindo em forma de Deus, não julgou  como usurpação o ser igual a Deus; antes, a si mesmo se esvaziou ... a si mesmo se humilhou, tornando-se obediente até a morte e morte de cruz” (Fp. 2:5-8). Deixamos a profecia falar, para que possamos entender melhor o que estava acontecendo: “Era desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizemos caso” (Is. 53:3). O tribunal foi uma farsa da justiça, uma zombaria da santidade imaculada dos princípios da lei de Deus; contudo, desenrolou o processo com uma aparência de normalidade. Mas quando Jesus não respondeu para se defender, o sumo-sacerdote, assumindo uma atitude satânica, lembrando que esta foi a “hora e o poder das trevas” (Lc.22:53), resolveu usar o juramento mais solene diante da lei de Deus: “És tu o Cristo, o Filho do Deus bendito? Jesus respondeu: Eu sou, e vereis o Filho do homem assentado à direita do Todo-Poderoso e vindo com as nuvens do céu” (Mc. 14:61-62). Jesus nunca perdeu a visão do seu lugar ao lado de seu Pai na glória e da sua volta para julgar vivos e mortos. Com esta declaração nobre, o ódio dos ouvintes se rompeu numa fúria enlouquecida: “Puseram-se alguns a cuspir nele, a cobrir-lhe o rosto, a dar-lhe murros e a dizer-lhe: Profetiza! E os guardas o tomaram a bofetadas” (Mc. 14:65). Tudo isso aconteceu dentro do local onde a justiça deveria constranger as reações de todos. De fato, Cristo experimentou o horror apavorante do pecado no seu íntimo, agora, Ele está sofrendo a crueldade do pecado em seu corpo físico. Assim, a escritura se cumpriu: “Odiaram-me sem motivo” (Jo. 15:24-25). E as atrocidades aumentarão,  implacavelmente.   

5. O Momento Perante Pilatos, Lc. 23:1-2. Desde o nascimento de Jesus, os poderosos queriam matá-lo. Primeiro foi Herodes. Ele mandou matar todos os meninos “de dois anos para baixo”, na esperança de atingir a vida do “recém-nascido Rei dos judeus” (Mt. 2:2,16). E, durante todo o seu ministério, os judeus procuraram matá-lo, (Jo. 5:18). E, agora, “levantando-se toda a assembléia, levaram Jesus a Pilatos. E ali passaram a acusá-lo, dizendo (mentiras). Encontramos este homem pervertendo a nossa nação, vedando pagar tributo a César e afirmando ser ele, o Cristo, o rei. Então lhe perguntou Pilatos: És tu o rei dos judeus? Respondeu Jesus: Tu o dizes (ou seja, tu estás falando a verdade)” (Lc. 23:1-3). Com esta resposta, Pilatos o remeteu a Herodes. “Mas Herodes, juntamente com os da sua guarda, tratou-o com desprezo, e, escarnecendo dele, fê-lo vestir-se de um manto apartoso, e o devolveu a Pilatos” (Lc. 23:11). Pilatos não tinha nenhum desejo de praticar a justiça, contudo, apesar de perguntar a seus acusadores: “Que mal fez ele? De fato nada achei contra ele para condená-lo à morte; portanto,  depois de castigá-lo, solta-lo-ei”. Mas, pergunta-se: por que castigar um inocente? Mas a multidão insisitiu em vê-lo crucificado. “Então Pilatos dicidiu atender-lhes o pedido” (Lc. 23:22-24). Com estas palavras, Jesus foi entregue aos soldados. “Vestiram-no de púrpura e, tecendo uma coroa de espinhos, lha puseram na cabeça”, e o sujeitaram, incansavelmente, a todo tipo de zombarias e barbaridades. “Então conduziram Jesus para fora, com o fim de o crucificarem” (Mc. 15:16-20). Novamente, perguntamos: Por que tanta crueldade? Este foi o preço necessário para realizar a nossa redenção e conceder-nos  a vida eterna. “Todavia, ao Senhor agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pelo pecado” (Is. 53:10).

6. O Momento da Crucificação, Mt. 27:31. Mas as desumanidades ainda não pararam. Vamos imaginar a cena: Jesus, totalmente indefeso, pendurado na cruz, mas o povo insistiu em multiplicar as suas dores. “Os que iam passando, blasfemavam dele... De igual modo os principais sacerdotes com os escribas, escarnecendo, entre si diziam: Salvou os outros, a si mesmo não pode salvar-se; desça agora da cruz o Cristo, o rei de Israel, para que vejamos e creiamos” (Mt. 15:29-32). Mas, se Cristo tivesse descido da cruz sem completar a sua missão redentora, qual seria o destino espiritual do pecador? Não haveria nenhuma possibilidade de receber o perdão de seus pecados e nem a esperança de entrar na glória do céu; apenas “certa expectação horrível de juízo e fogo vindouro” (Hb. 10:27). As dores da crucificação continuam, e são intensificadas por causa das zombarias lançadas sobre Ele pelo povo. Mas parece que o Pai, não podendo mais suportar aquele escarcéu, interveio, e, “desde a hora sexta até à hora nona houve trevas sobre toda a terra”. O Pai impediu que aqueles zombeteiros testemunhassem Jesus bebendo as últimas gotas do cálice da ira de Deus contra o pecado. “Por volta da hora nona, clamou Jesus em alta voz, dizendo: Eli, Eli, lama sabactâni? O que quer dizer: Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” Jesus estava sentindo, naquela hora, o terror de ficar sem Deus e sem o conforto de sua presença, (Mt. 27:45-46.). Mas, logo em seguida, a batalha contra o pecado terminou, e Jesus, com alta voz, exclamou vitoriosamente: “Esta consumado! E, inclinando a cabeça, rendeu o espírito”  (Jo.. 19:30). Por meio de seus sofrimentos, Cristo é, agora, o Autor da salvação de todos aqueles que nele crêem (Hb. 2:10).

7. O Momento na Sepultura, Mt. 27:59-60. A realidade da morte de Jesus Cristo foi um fato incontestável. O seu sepultamento não aconteceu às escondidas, antes, foi um ato público, reconhecido por Pilatos e as autoridades eclesiásticas. Ninguém duvidava da realidade da sua morte, e morte de cruz!

A morte de Cristo despertou a consciência de dois homens piedosos. Até aquela hora, eles tinham escondido a sua fé na messiandade de Jesus; mas, agora, não querendo se ocultar mais, resolveram agir publicamente: “Rogaram a Pilatos lhe permitisse tirar o corpo de Jesus. Pilatos (depois de ter a certeza da morte de Jesus) lhos permitiu” (Jo. 19:38). Com esse ato de devoção, tomaram o corpo e lhe deram um sepultamento honrado, (Lc.23:52-53).

Parece que a possibilidade de uma ressurreição inquietava a consciência dos religiosos. Porventura, lembraram da recente ressurreição de Lázaro? Mas, seja qual for o verdadeiro motivo, solicitaram a Pilatos que providenciasse uma escolta para guardar o tumulo “com segurança” (Mt. 27:64), na esperança de impedir tal possibilidade. Mas a ressurreição corpórea de Jesus Cristo, como um fato incontestável, pertence a outro estudo...


Conclusão: Como podemos resumir o que temos abordado nesta reflexão? Citamos alguns textos das Escrituras para nos ajudar. Em primeiro lugar, a intervenção soberana da misericórdia de Deus: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm. 5:8). Por que Cristo, o Cordeiro de Deus, tinha que sofrer a morte? Quando Ele assumiu o nosso lugar diante da lei de Deus, “aquele que não conheceu pecado, ele o fez pecado por nós (tratando-o como se fosse Ele o pecador), para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co. 5:21). Agora, qual é a nossa esperança espiritual? A Bíblia responde: “De fato, a vontade de meu Pai é que todo homem que vir o Filho e nele crer tenha a vida eterna; e eu o ressuscitarei no último dia” (Jo. 6:40). E, se realmente crermos, poderemos confessar: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus, por meio de nosso Senhor Jesus Cristo”, (Rm. 5:1).

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