Vasos de Honra

domingo, 17 de julho de 2016

Da Vocação Eficaz – Confissão de Fé – Cap. 10:1-2


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblia: Romanos 8: 26-30

Introdução: Um tempo atrás, fiz algumas anotações sobre o nono capítulo da Confissão de Fé: Do Livre Arbítrio. Na parte sobre “O Homem no Estado do Pecado”, fiz a pergunta: “Como é que Deus resolveu esse impasse?” (a depravação total do homem). E respondi: “Esse problema foi resolvido mediante uma intervenção da parte de Deus, elegendo e convertendo um “povo de propriedade exclusiva de Deus”.

Agora, seguindo no décimo capítulo da Confissão, “Da Vocação Eficaz”, aprendemos como Deus elege e converte um pecador. Mas, para facilitar a compreensão desse assunto, fazemos uma pergunta prática: Em termos humanos, qual é o caminho que devemos seguir, a fim de sermos salvos? A resposta inequívoca é: “Crê no Senhor Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At. 16:31). Quando cremos, em dependência do poder de Cristo, o Espírito Santo confirma a realidade da nossa fé. “Depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate de sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef. 1:13-14). Desta maneira, estamos unidos com Cristo. Qual é o resultado final? “E, assim, se alguém está em Cristo (unido com Ele) é nova criatura; as coisas antigas (os hábitos pecaminosos) já passaram; eis que se fizeram novas” (2Co. 5:17). As coisas novas que agora praticamos chamam-se o fruto do Espírito Santo: “Mas o  fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl. 5:22-23).

Com essas verdades iniciadas em nós, Cristo nos exorta de uma maneira indispensável e urgente: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo produzir de si mesmo se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim” (Jo. 15:4). E, permanecendo em Cristo, estamos prontos para entender como Deus elege e converte o pecador. Vamos seguir a exposição do assunto, como se encontra na Confissão de Fé da nossa Igreja.

1. O Momento do nosso Chamado. “Todos aqueles a quem Deus predestinou para a vida, e só esses, é ele servido chamar eficazmente pela sua Palavra e pelo seu Espírito, no tempo por ele determinado e aceito, tirando-os daquele estado de pecado e morte em que estão por natureza para a graça e salvação em Jesus Cristo”. Aqui, podemos observar três verdades que precisamos entender e aceitar com toda seriedade:

a)      Como Deus nos chama. Notemos que Deus tem uma única maneira para chamar o seu povo; é pela (pregação da) sua Palavra e pelo seu Espírito”, e isso, de modo extensivo, sem qualquer restrição. A ordem é esta: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc. 16:15). Os primeiros cristãos, apesar da perseguição, obedeceram a essa ordem: “Entrementes, os que foram dispersos (pela perseguição) iam por toda parte pregando a palavra” (At. 8:4). A pregação se torna eficaz para chamar o povo de Deus, porque é o Espírito Santo que a vivifica, (Jo. 6:63). Embora a pregação seja algo simples (a loucura da pregação – 1Co. 1:21), ela é eficaz para a salvação de todos que nela crêem. Como Cristo disse: “As minhas ovelhas (aquele povo que Deus predestinou para vida) ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo. 10:27). Seremos salvos, se confiarmos nos meios que Deus providenciou para a salvação da nossa vida.
b)      Quando é que Deus nos chama? É sempre o “tempo por ele determinado e aceito”. A porta para a salvação não continuará aberta indefinidamente. As cinco virgens não se prepararam, e quando resolveram agir, elas encontraram a porta fechada. Elas negligenciaram o Dia das Oportunidades, (Mt. 25. 10-13). Quanto à mulher Jezabel, Deus disse: “Dei-lhe tempo para que se arrependesse; ela, todavia, não quer arrepender-se  da sua prostituição” (Ap. 2:21). Quando o tempo determinado terminar, a oportunidade passará, e não haverá nenhuma outra. “Então, disse o Senhor: O meu Espírito não agirá para sempre no homem, pois este é carnal” (Gn. 6:3). Feliz a pessoa que pode reconhecer a voz do Senhor, afirmando: “Eu te ouvi no tempo da oportunidade e te socorri no dia da salvação: eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2Co. 6:2). Se o homem quer continuar na prática de seu pecado por mais um tempinho, ele tem que enfrentar as conseqüências de sua cegueira. “E por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem coisas inconvenientes” (Rm. 1:28). Deste estado perigoso, talvez não haja mais esperança de salvação. Portanto, não perca o momento quando o Espírito Santo está sussurrando em seu coração através do ouvir da Palavra de Deus, pois pode ser a última vez. “Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hb. 2:3).
c)      Por que Deus nos chama? Para tirar-nos “daquele estado de pecado e morte em que estamos por natureza, para a graça e salvação em Jesus Cristo”. Ou, como o Ap. Paulo escreveu: Jesus Cristo “se entregou a si mesmo pelos nossos pecados, para nos  desarraigar deste mundo perverso, segundo a vontade de Deus nosso Pai” (Gl. 1:4). Em vez de deixar-nos sofrer as merecidas conseqüências da nossa rebeldia, Ele nos chamou para experimentar as  glórias de uma vida sem os pesadelos do pecado. Se alguém está em Cristo, de necessidade, está vivendo uma vida santa e irrepreensível, libertado do domínio sedutor do pecado. Essa santidade de vida é a prova inconfundível de que  Cristo tem nos chamado para a salvação.  

2. O Movimento do nosso Chamado. O que é que Deus movimenta em nossa vida para que sejamos santos e dignos da nossa vocação? “Isto ele o faz, iluminando o nosso entendimento, espiritual e salvificamente, a fim de compreendermos as coisas de Deus, tirando de nós os corações de pedra e dando-nos corações de carne, renovando as nossas vontades e determinando-as pela sua onipotência para aquilo que é bom”. Novamente, podemos observar três atos que Deus põe em movimento:

a)      Ele muda “o nosso entendimento, espiritual e salvificamente”. Tal mudança é necessária, porque os homens, em seu estado natural, andam “na vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza de seu coração, os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com avidez, cometerem toda sorte de impureza”  (Ef. 4:17-19). Para o  incrédulo, a pregação de Cristo e este crucificado é uma loucura. E, se Deus não tivesse usado a sua misericórdia, “iluminando o nosso entendimento espiritual e salvíficamente”, o homem permaneceria em sua ignorância e ruína.
b)      Ele tira de nós o que impede a nossa conversão: “tirando de nós os corações de pedra e dando-nos corações de carne”, uma disposição suscetível para receber a vontade de Deus. Em outras palavras, Ele nos regenera. Como o Apóstolo explica: “Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo. E, sem essa obra soberana em nossa vida, jamais seríamos salvos. Mas, por causa dessa intervenção, podemos, agora, confessar que somos os “chamados, amados em Deus Pai e guardados em Jesus Cristo” (Jd. 1)
c)      Ele renova a nossa faculdade de desejos. A regeneração envolve a renovação total  de todas as nossas inclinações: “renovando as suas disposições e determinando-as, pela sua onipotência, para aquilo que é bom”. Essa onipotência tem a seguinte exposição: “A eficácia da força do seu poder” (Ef. 1:19). Tudo o que Deus determina em nosso favor é eficaz, não pode sofrer frustrações e nem derrotas. “Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? (Is. 14:27). Em nosso estado natural, fomos possuídos por uma má vontade quanto às determinações de Deus; agora, porém, com “a força de seu poder”, desejamos “aquilo que é bom”. Descobrimos que a vontade de Deus para a nossa vida é “boa , agradável e perfeita” (Rm. 12:2). Por isso, nós nos conformamos a ela de todo o nosso coração. O Apóstolo confessou: “Não que eu o tenha já recebido ou tenha  já obtido a perfeição; mas prossigo para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo” (Fp. 3:12). Fomos chamados e conquistados por Jesus Cristo a fim de vivermos uma vida santa e irrepreensível em cada área do nosso  procedimento, (Ef. 1:4).

3. O Modelo do nosso Chamado. O modelo é a Pessoa de Jesus Cristo. Ele é “o Anjo da Aliança, a quem vós desejais” (Ml. 3:1). O Espírito Santo trabalha mediante a pregação do evangelho, “atraindo-nos eficazmente a Jesus Cristo, mas de maneira que nós vimos mui livremente, sendo por isso dispostos pela sua graça”. Observemos três passos nessa colocação:

a)      A Pessoa do nosso chamado. Somos atraídos eficazmente a Jesus Cristo. “Ora, a nossa comunhão (espiritual) é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo” (1Jo. 1:3). O Pai nos escolheu e o Espírito Santo nos conduz a Jesus Cristo, de quem recebemos “toda sorte de benção espiritual nas regiões celestiais” (Ef. 1:3). Cristo enfatizou diversas vezes que o Pai é o Autor da nossa chegada a seu Filho. “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo. 6:37). E, quando Cristo repreendeu seus ouvintes por sua auto-justiça, Ele explicou: “Por causa disto, é que vos tenho dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido”(Jo. 6:64-65). Mas, graças a Deus, o Dia está chegando quando Cristo poderá ter a satisfação de declarar: “Eis aqui estou eu e os filhos que Deus me deu” (Hb. 2:10-13). O importante é ser achado em Cristo, pois, “aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1Jo. 5:12). Devemos ficar gratos a Deus pela eficácia do seu chamado que nos trouxe a Jesus Cristo, de quem recebemos a vida eterna.
b)      A perfeição do nosso chamado. Todos nós somos influenciados por apelos à nossa receptividade de novidades, seja qual for o assunto. Por isso, quando alguém nos oferece algo desejável, nós o recebemos espontaneamente e livremente, porque o objeto tomou posse do nosso interesse. Assim acontece na vocação eficaz. Cristo é apresentado a nós de tal forma atraente e necessária para o nosso bem total, que ansiamos por ter parte  de sua companhia, e, estimulados, levantamos e nos aproximamos a Ele mui alegre e livremente. Como é edificante testemunhar: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até o Dia de Cristo Jesus” (Fp. 1:6).
c)      A primazia do nosso chamado. Podemos experimentar nesta vida todas as bênçãos inerentes na vocação eficaz, “sendo para isso dispostos pela graça de Deus”. A gratuidade dos benefícios que Deus derrama sobre nós, mediante a vocação eficaz, é uma das realidades que demonstra tão vividamente a sua boa vontade para com os seus chamados. O Ap. Paulo podia exclamar maravilhado: “Estando nós mortos em nossos delitos (impossibilitados de realizar qualquer ação salvífica) nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos” (Ef. 2:5). E o Ap. Pedro, falando sobre essa mesma graciosidade, afirmou: “Visto como, pelo seu divino poder, nos tem sido doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelos quais nos tem sido doadas as suas  preciosas e mui grandes promessas, para que por  elas, vos torneis participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há no mundo” (2Pe. 1:3-4). Sim, somos salvos pela graça de Deus. “Assim, ao Rei eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos séculos. Amém” (1Tm. 1:17).

Conclusão: Mediante a indiscriminada pregação do evangelho, “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” (Mt. 22:14). Em temos práticos, qual é a causa imediata dessa distinção? A culpa é sempre do homem. Alguns crêem, de coração, enquanto outros têm desculpas para não assumir um compromisso sério. Cristo ilustrou esses pretextos na parábola do Semeador: desinteresse, dificuldades religiosas, cuidados do mundo e ambições carnais, (Mt. 13:18-23).  “Por isso, quem crê no Filho (que assume um compromisso de fidelidade a Ele) tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho (recusando assumir um compromisso  de fidelidade a Ele) não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo. 3:36).


Mas, por outro lado, todos o que crêem verdadeiramente em Jesus Cristo, estão conscientes do auxílio de Deus em seu favor. Como Cristo disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo. 10:27-28). Quando alguém é chamado mediante a pregação do evangelho, o chamado é eficaz porque o Espírito Santo abre o coração do ouvinte para atender a mensagem ouvida (At. 16:14). Se alguém perguntar: Por que Deus nos chama? A resposta é simples e clara: somos chamados para sermos de Jesus Cristo,  para sermos santos (Rm. 1:6-7). “Porquanto Deus não nos chamou para a impureza e sim para a santificação” (1Ts. 4:7). Existe uma única maneira para saber se somos chamados, de fato, eficazmente ou não: mediante uma vida santa e irrepreensível, andando de modo digno da vocação pela qual fomos chamados, (Ef. 4:1). Que Deus abra o nosso entendimento para que reconheçamos, de verdade, a realidade do nosso estado espiritual.

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