Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura
Bíblia: Romanos 8: 26-30
Introdução:
Um tempo atrás, fiz algumas anotações sobre o nono capítulo da Confissão de Fé:
Do Livre Arbítrio. Na parte sobre “O Homem no Estado do Pecado”, fiz a
pergunta: “Como é que Deus resolveu esse impasse?” (a depravação total do
homem). E respondi: “Esse problema foi resolvido mediante uma intervenção da
parte de Deus, elegendo e convertendo um “povo de propriedade exclusiva de
Deus”.
Agora,
seguindo no décimo capítulo da Confissão, “Da Vocação Eficaz”, aprendemos como
Deus elege e converte um pecador. Mas, para facilitar a compreensão desse
assunto, fazemos uma pergunta prática: Em termos humanos, qual é o caminho que
devemos seguir, a fim de sermos salvos? A resposta inequívoca é: “Crê no Senhor
Jesus e serás salvo, tu e tua casa” (At. 16:31). Quando cremos, em dependência
do poder de Cristo, o Espírito Santo confirma a realidade da nossa fé. “Depois
que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele
também crido, fostes selados com o Espírito Santo da promessa; o qual é o
penhor da nossa herança, até ao resgate de sua propriedade, em louvor da sua
glória” (Ef. 1:13-14). Desta maneira, estamos unidos com Cristo. Qual é o
resultado final? “E, assim, se alguém está em Cristo (unido com Ele) é nova
criatura; as coisas antigas (os hábitos pecaminosos) já passaram; eis que se
fizeram novas” (2Co. 5:17). As coisas novas que agora praticamos chamam-se o
fruto do Espírito Santo: “Mas o fruto do
Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl. 5:22-23).
Com
essas verdades iniciadas em nós, Cristo nos exorta de uma maneira indispensável
e urgente: “Permanecei em mim, e eu permanecerei em vós. Como não pode o ramo
produzir de si mesmo se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar,
se não permanecerdes em mim” (Jo. 15:4). E, permanecendo em Cristo, estamos
prontos para entender como Deus elege e converte o pecador. Vamos seguir a
exposição do assunto, como se encontra na Confissão de Fé da nossa Igreja.
1.
O Momento do nosso Chamado. “Todos aqueles a quem Deus predestinou para a
vida, e só esses, é ele servido chamar eficazmente pela sua Palavra e pelo seu
Espírito, no tempo por ele determinado e aceito, tirando-os daquele estado de
pecado e morte em que estão por natureza para a graça e salvação em Jesus
Cristo”. Aqui, podemos observar três verdades que precisamos entender e aceitar
com toda seriedade:
a) Como Deus nos chama. Notemos que Deus tem uma única maneira para chamar
o seu povo; é pela (pregação da) sua Palavra e pelo seu Espírito”, e isso, de
modo extensivo, sem qualquer restrição. A ordem é esta: “Ide por todo mundo e
pregai o evangelho a toda criatura” (Mc. 16:15). Os primeiros cristãos, apesar
da perseguição, obedeceram a essa ordem: “Entrementes, os que foram dispersos
(pela perseguição) iam por toda parte pregando a palavra” (At. 8:4). A pregação
se torna eficaz para chamar o povo de Deus, porque é o Espírito Santo que a
vivifica, (Jo. 6:63). Embora a pregação seja algo simples (a loucura da
pregação – 1Co. 1:21), ela é eficaz para a salvação de todos que nela crêem.
Como Cristo disse: “As minhas ovelhas (aquele povo que Deus predestinou para
vida) ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem” (Jo. 10:27). Seremos
salvos, se confiarmos nos meios que Deus providenciou para a salvação da nossa
vida.
b) Quando é que Deus nos chama? É sempre o “tempo por ele determinado e
aceito”. A porta para a salvação não continuará aberta indefinidamente. As
cinco virgens não se prepararam, e quando resolveram agir, elas encontraram a
porta fechada. Elas negligenciaram o Dia das Oportunidades, (Mt. 25. 10-13).
Quanto à mulher Jezabel, Deus disse: “Dei-lhe tempo para que se arrependesse;
ela, todavia, não quer arrepender-se da
sua prostituição” (Ap. 2:21). Quando o tempo determinado terminar, a oportunidade
passará, e não haverá nenhuma outra. “Então, disse o Senhor: O meu Espírito não
agirá para sempre no homem, pois este é carnal” (Gn. 6:3). Feliz a pessoa que
pode reconhecer a voz do Senhor, afirmando: “Eu te ouvi no tempo da
oportunidade e te socorri no dia da salvação: eis, agora, o tempo sobremodo
oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2Co. 6:2). Se o homem quer continuar
na prática de seu pecado por mais um tempinho, ele tem que enfrentar as
conseqüências de sua cegueira. “E por haverem desprezado o conhecimento de
Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para
praticarem coisas inconvenientes” (Rm. 1:28). Deste estado perigoso, talvez não
haja mais esperança de salvação. Portanto, não perca o momento quando o
Espírito Santo está sussurrando em seu coração através do ouvir da Palavra de
Deus, pois pode ser a última vez. “Como escaparemos nós, se negligenciarmos tão
grande salvação?” (Hb. 2:3).
c) Por que Deus nos chama? Para tirar-nos “daquele estado de pecado e
morte em que estamos por natureza, para a graça e salvação em Jesus Cristo”.
Ou, como o Ap. Paulo escreveu: Jesus Cristo “se entregou a si mesmo pelos
nossos pecados, para nos desarraigar
deste mundo perverso, segundo a vontade de Deus nosso Pai” (Gl. 1:4). Em vez de
deixar-nos sofrer as merecidas conseqüências da nossa rebeldia, Ele nos chamou
para experimentar as glórias de uma vida
sem os pesadelos do pecado. Se alguém está em Cristo, de necessidade, está
vivendo uma vida santa e irrepreensível, libertado do domínio sedutor do
pecado. Essa santidade de vida é a prova inconfundível de que Cristo tem nos chamado para a salvação.
2.
O Movimento do nosso Chamado. O que é que Deus movimenta em nossa vida para
que sejamos santos e dignos da nossa vocação? “Isto ele o faz, iluminando o
nosso entendimento, espiritual e salvificamente, a fim de compreendermos as
coisas de Deus, tirando de nós os corações de pedra e dando-nos corações de
carne, renovando as nossas vontades e determinando-as pela sua onipotência para
aquilo que é bom”. Novamente, podemos observar três atos que Deus põe em
movimento:
a) Ele muda “o nosso entendimento, espiritual e salvificamente”. Tal
mudança é necessária, porque os homens, em seu estado natural, andam “na
vaidade dos seus próprios pensamentos, obscurecidos de entendimento, alheios à
vida de Deus por causa da ignorância em que vivem, pela dureza de seu coração,
os quais, tendo-se tornado insensíveis, se entregaram à dissolução para, com
avidez, cometerem toda sorte de impureza”
(Ef. 4:17-19). Para o incrédulo,
a pregação de Cristo e este crucificado é uma loucura. E, se Deus não tivesse
usado a sua misericórdia, “iluminando o nosso entendimento espiritual e
salvíficamente”, o homem permaneceria em sua ignorância e ruína.
b) Ele tira de nós o que impede a nossa conversão: “tirando de nós os
corações de pedra e dando-nos corações de carne”, uma disposição suscetível
para receber a vontade de Deus. Em outras palavras, Ele nos regenera. Como o Apóstolo
explica: “Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito
Santo. E, sem essa obra soberana em nossa vida, jamais seríamos salvos. Mas,
por causa dessa intervenção, podemos, agora, confessar que somos os “chamados,
amados em Deus Pai e guardados em Jesus Cristo” (Jd. 1)
c) Ele renova a nossa faculdade de desejos. A regeneração envolve a
renovação total de todas as nossas
inclinações: “renovando as suas disposições e determinando-as, pela sua
onipotência, para aquilo que é bom”. Essa onipotência tem a seguinte exposição:
“A eficácia da força do seu poder” (Ef. 1:19). Tudo o que Deus determina em
nosso favor é eficaz, não pode sofrer frustrações e nem derrotas. “Porque o
Senhor dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? (Is. 14:27). Em
nosso estado natural, fomos possuídos por uma má vontade quanto às
determinações de Deus; agora, porém, com “a força de seu poder”, desejamos
“aquilo que é bom”. Descobrimos que a vontade de Deus para a nossa vida é “boa
, agradável e perfeita” (Rm. 12:2). Por isso, nós nos conformamos a ela de todo
o nosso coração. O Apóstolo confessou: “Não que eu o tenha já recebido ou
tenha já obtido a perfeição; mas prossigo
para conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo” (Fp.
3:12). Fomos chamados e conquistados por Jesus Cristo a fim de vivermos uma
vida santa e irrepreensível em cada área do nosso procedimento, (Ef. 1:4).
3.
O Modelo do nosso Chamado. O modelo é a Pessoa de Jesus Cristo. Ele é “o
Anjo da Aliança, a quem vós desejais” (Ml. 3:1). O Espírito Santo trabalha
mediante a pregação do evangelho, “atraindo-nos eficazmente a Jesus Cristo, mas
de maneira que nós vimos mui livremente, sendo por isso dispostos pela sua
graça”. Observemos três passos nessa colocação:
a) A Pessoa do nosso chamado. Somos atraídos eficazmente a Jesus Cristo.
“Ora, a nossa comunhão (espiritual) é com o Pai e com seu Filho, Jesus Cristo”
(1Jo. 1:3). O Pai nos escolheu e o Espírito Santo nos conduz a Jesus Cristo, de
quem recebemos “toda sorte de benção espiritual nas regiões celestiais” (Ef.
1:3). Cristo enfatizou diversas vezes que o Pai é o Autor da nossa chegada a
seu Filho. “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de
modo nenhum o lançarei fora” (Jo. 6:37). E, quando Cristo repreendeu seus
ouvintes por sua auto-justiça, Ele explicou: “Por causa disto, é que vos tenho
dito: ninguém poderá vir a mim, se, pelo Pai, não lhe for concedido”(Jo. 6:64-65).
Mas, graças a Deus, o Dia está chegando quando Cristo poderá ter a satisfação
de declarar: “Eis aqui estou eu e os filhos que Deus me deu” (Hb. 2:10-13). O
importante é ser achado em Cristo, pois, “aquele que tem o Filho tem a vida;
aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1Jo. 5:12). Devemos ficar
gratos a Deus pela eficácia do seu chamado que nos trouxe a Jesus Cristo, de
quem recebemos a vida eterna.
b) A perfeição do nosso chamado. Todos nós somos influenciados por apelos
à nossa receptividade de novidades, seja qual for o assunto. Por isso, quando
alguém nos oferece algo desejável, nós o recebemos espontaneamente e
livremente, porque o objeto tomou posse do nosso interesse. Assim acontece na
vocação eficaz. Cristo é apresentado a nós de tal forma atraente e necessária
para o nosso bem total, que ansiamos por ter parte de sua companhia, e, estimulados, levantamos
e nos aproximamos a Ele mui alegre e livremente. Como é edificante testemunhar:
“Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la
até o Dia de Cristo Jesus” (Fp. 1:6).
c) A primazia do nosso chamado. Podemos experimentar nesta vida todas as
bênçãos inerentes na vocação eficaz, “sendo para isso dispostos pela graça de
Deus”. A gratuidade dos benefícios que Deus derrama sobre nós, mediante a
vocação eficaz, é uma das realidades que demonstra tão vividamente a sua boa
vontade para com os seus chamados. O Ap. Paulo podia exclamar maravilhado:
“Estando nós mortos em nossos delitos (impossibilitados de realizar qualquer
ação salvífica) nos deu vida juntamente com Cristo – pela graça sois salvos”
(Ef. 2:5). E o Ap. Pedro, falando sobre essa mesma graciosidade, afirmou:
“Visto como, pelo seu divino poder, nos tem sido doadas todas as coisas que
conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento completo daquele que nos chamou
para a sua própria glória e virtude, pelos quais nos tem sido doadas as
suas preciosas e mui grandes promessas,
para que por elas, vos torneis
participantes da natureza divina, livrando-vos da corrupção das paixões que há
no mundo” (2Pe. 1:3-4). Sim, somos salvos pela graça de Deus. “Assim, ao Rei
eterno, imortal, invisível, Deus único, honra e glória pelos séculos dos
séculos. Amém” (1Tm. 1:17).
Conclusão:
Mediante a indiscriminada pregação do evangelho, “muitos são chamados, mas
poucos escolhidos” (Mt. 22:14). Em temos práticos, qual é a causa imediata
dessa distinção? A culpa é sempre do homem. Alguns crêem, de coração, enquanto
outros têm desculpas para não assumir um compromisso sério. Cristo ilustrou
esses pretextos na parábola do Semeador: desinteresse, dificuldades religiosas,
cuidados do mundo e ambições carnais, (Mt. 13:18-23). “Por isso, quem crê no Filho (que assume um
compromisso de fidelidade a Ele) tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém
rebelde contra o Filho (recusando assumir um compromisso de fidelidade a Ele) não verá a vida, mas
sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo. 3:36).
Mas,
por outro lado, todos o que crêem verdadeiramente em Jesus Cristo, estão
conscientes do auxílio de Deus em seu favor. Como Cristo disse: “As minhas
ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas me seguem. Eu lhes dou a vida
eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo. 10:27-28).
Quando alguém é chamado mediante a pregação do evangelho, o chamado é eficaz porque
o Espírito Santo abre o coração do ouvinte para atender a mensagem ouvida (At.
16:14). Se alguém perguntar: Por que Deus nos chama? A resposta é simples e
clara: somos chamados para sermos de Jesus Cristo, para sermos santos (Rm. 1:6-7). “Porquanto
Deus não nos chamou para a impureza e sim para a santificação” (1Ts. 4:7).
Existe uma única maneira para saber se somos chamados, de fato, eficazmente ou
não: mediante uma vida santa e irrepreensível, andando de modo digno da vocação
pela qual fomos chamados, (Ef. 4:1). Que Deus abra o nosso entendimento para
que reconheçamos, de verdade, a realidade do nosso estado espiritual.
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