Vasos de Honra

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

O JUSTO JUIZO DE DEUS


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Romanos 2:5-11.

Introdução: Na Carta aos Romanos, o Ap. Paulo faz repetidas referências aos judeus e aos gregos, ou seja, ao povo que tinha a lei de Deus em forma escrita nas Escrituras Sagradas e ao povo que não tinha  esse mesmo privilégio. No primeiro capítulo, vemos a pecaminosidade dos gregos; no segundo capítulo, a pecaminosidade dos judeus. E, mediante essa exposição, o Apóstolo demonstrou “ que todos, tanto judeus como gregos estão debaixo do pecado” (Rm. 3:9).

Vamos examinar a situação dos gregos (gentios), esse povo que não tinha a lei de Deus escrita, contudo, apesar dessa falta, procedia “por natureza de conformidade com a lei”, porque “tem a norma da lei gravada no seu coração” (Rm. 2:14-15). Por causa desse fato, o Apóstolo descreveu a realidade dos gentios, dizendo: “Portanto, tendo conhecimento de Deus,  não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (Rm 1:21). “Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm. 1:20).

Agora, vamos ver a situação dos judeus, esse povo que tinha a lei escrita, não apenas sobre papel, mas, também, “gravada no seu coração”, porque esse conhecimento inato é parte da imagem de Deus que distingue o homem de todos os demais seres vivos. Mas, por causa da sua natureza pecaminosa, o homem tem uma facilidade para abusar dos privilégios mais sagrados. O judeu tornou-se cheio de uma justiça própria, pensando que, como conhecedor da lei escrita, podia condenar os pecados dos gentios como se fosse o próprio Deus. Nesse contexto, o Apóstolo repreendeu: “Portanto, és indesculpável, ó homem, quando julgas, quem quer que sejas; pois praticas as próprias cousas que condenas. (...) Tu, ó homem, que condenas os que praticam tais  cousas e fazes as mesmas, pensas que ti livrarás do juízo de Deus?” (Rm. 2:1,3). Privilégios espirituais são concedidos por Deus para nos instruir e nos conduzir ao arrependimento; porém, de acordo com o texto, esse resultado não aconteceu (Rm. 2:4). Por isso, Deus tem que reagir e julgar o transgressor, seja quem for o culpado. Estamos, agora, prontos para meditar sobre os três pontos que o texto lido destaca: A Natureza de Deus, A Natureza do Pecador e A Natureza do Cristão.  

1. A Natureza de Deus. Podemos enumerar pelo menos três atributos que caracterizam o procedimento de Deus quanto às suas lidas com o homem. “Deus reina sobre as nações; Deus se assenta no seu santo trono” (Sl. 47:8). Nesse contexto, vemos como Ele usa os atributos destacados no texto lido.

a)      A ira de Deus. Ao meditarmos sobre essa propriedade divina, temos que desassociar o termo bíblico da ira e das emoções do homem. A frase, “ira de Deus”, é o inverso da “justiça de Deus”. Essa justiça é sempre retribuidora, cada um tem que pagar conforme as sua obras. Deus tem uma santa indignação contra o pecado e tem que reagir, porque é uma agressão contra a sua Pessoa, uma zombaria da sua santidade. Essa ira é revelada, isto é, pode ser reconhecida em dadas circunstâncias. “A ira de Deus se revela do céu contra toda impiedade e perversão dos homens que detém (interrompem) a verdade pela injustiça” (Rm. 1:18). Notemos que essa ira não é uma mera conseqüência do pecado; antes, é algo específico que “se revela dos céus”. Por exemplo: os desastres que aconteceram, tais como o dilúvio, (Gn 6:12-13); a destruição de Sodoma e Gomorra, (Gn. 19:24); divisões dentro de reinos etc. (2Cr 10:15). Os conflitos entre os homens podem ser uma revelação dessa ira, “recebendo eles injustiça por salário da injustiça que praticam” (2Pe. 2:13). Mas, infelizmente, muitos crimes são praticados neste mundo sem receber qualquer punição. Parece que Deus não toma conhecimento do que os homens estão praticando. Por isso, alguns dizem, atrevidamente,  “que a sua iniqüidade não há de ser descoberta, nem detestada” (Sl. 36:2). Mas não é bem assim. Deus  tem reservado para si um Dia quando a sua ira se manifestará universalmente contra todas as  formas de pecado. Como a Bíblia ensina: “Porquanto estabeleceu um Dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio  de um varão (Jesus Cristo) que destinou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At. 17:31). Este Dia, já determinado, será parte dos acontecimentos que acompanharão a segunda Vinda de Jesus Cristo na consumação do século. Esse será “o Dia da sua ira e da revelação do justo juízo de Deus, que retribuirá a cada um segundo o seu procedimento” (Rm. 2:5-6).
b)      O juízo retribuidor,  V. 6-8. Abraão fez esta pergunta ao Senhor: “Não fará justiça o Juiz de toda a terra?” (Gn. 18:25). O Ap. Paulo, às vésperas da sua morte, falou da sua confiança nesse atributo divino: “ Já agora a coroa da justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto Juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2Tm. 4:8). O Salmista fez este apelo à justiça de Deus: “Exalta-te, ó Juiz da terra; dá o pago  aos soberbos. Até quando, Senhor, os perversos, até quando exultarão os perversos?” (Sl. 94:2-3). Mas não fiquemos desanimados, no Dia do juízo, cada um receberá segundo o seu procedimento: a vida eterna aos justos, e ira e indignação aos injustos. Naquele dia, todos verão o justo juízo de Deus. Ele faz “separação entre o santo e o profano” (Ez. 42:20). É bom lembrar que essa retribuição não se limita ao futuro desconhecido. Mesmo nesta vida, tanto o justo, bem como o injusto, podem sentir o início dessa remuneração. “A desventura persegue os pecadores, mas os justos serão galardoados com o bem” (Pv. 13:21). E Cristo, comentando sobre esse assunto, disse: “Em verdade vos digo que ninguém há que tenha deixado casa, ou mulher, ou irmãos, ou pais, ou filhos, por causa do reino de Deus, que não receba, no presente, muitas vezes mais e, no mundo por vir, a vida eterna” (Lc. 18:29-30).
c)      A imparcialidade,  V.11. No Dia da retribuição, todos verão a imparcialidade de Deus. “Porque para com Deus não há acepção de pessoas”. Ele não favorece um a fim de prejudicar o outro. Todos receberão, com uma igualdade perfeita, exatamente de acordo com o procedimento praticado na vida. O critério do juízo não é baseado em privilégios espirituais ou em posições eclesiásticas, antes, é sempre de acordo com o procedimento, moral e espiritual. O fato que os judeus receberam muitos privilégios espirituais não os isentou da  necessidade de viver uma vida santa e irrepreensível e de prestar contas a Deus. E, de forma semelhante, os gentios, que não receberam esses privilégios espirituais, não ficam isentos de suas responsabilidades morais e espirituais por causa da sua ignorância das Escrituras Sagradas, pois todos, judeus e gentios, têm a lei de Deus gravada sobre o seu coração, e esta foi dada para ser obedecida. Por isso Deus pode agir com imparcialidade, retribuindo a cada um segundo o seu procedimento.     

2. A Natureza do Pecador, Vs. 8-9. Para facilitar a compreensão desses versículos, dizemos que eles se  referem ao pecador que não tem nenhuma experiência salvífica e que está vivendo desregradamente  de acordo com os seus próprios impulsos carnais. O Apóstolo destaca apenas três das transgressões que caracterizam o seu procedimento.

a)      Ele é “faccioso”, vivendo em flagrante oposição à vontade de Deus. O Apóstolo ofereceu um  exemplo dessa atitude: “E, do modo por que Janes e Zambres resistiram a Moisés, também estes resistem a verdade. São homens de todo corrompidos na mente, réprobos quanto à fé” (2Tm. 3:8). São pessoas que dizem, consciente ou inconscientemente: “Não queremos que este (Jesus Cristo) reine sobre nós” (Lc. 19:14).
b)      Esses facciosos “desobedecem à verdade”. São conhecedores da verdade, porém, ela é deliberadamente rejeitada e desprezada. “Não há temor de Deus diante de seus olhos” (Rm. 3:18). É possível ser visivelmente religioso, porém, ao mesmo tempo, ser inimigo da verdade bíblica, como eram os homens do Sinédrio. Estevão foi acusado falsamente por homens religiosos, “alguns dos que eram da sinagoga” (At. 6:9). E, quando estava sendo julgado por blasfêmia, ele acusou os seus juízes religiosos, dizendo: “Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e de ouvidos, vós sempre resistis ao Espírito Santo; assim como fizeram os vossos pais, também vós o fazeis. Qual dos profetas vossos pais não perseguiram? Eles mataram os que anteriormente anunciavam a vinda do Justo, do qual vós, agora, vos tornastes traidores e assassinos, vós que recebestes a lei por ministério de anjos e não a guardastes” (At. 7:51-53). Mas existe ainda outra maneira pela qual religiosos desobedecem à verdade. Como? Pela negligência da leitura diária das Escrituras Sagradas. É impossível obedecer ao desconhecido, e, por conseqüência, estão desobedecendo à lei pela ignorância da mesma. O profeta lamentou: “O meu povo está sendo destruído, porque lhe falta o conhecimento” (Os. 4:6).
c)      Esses facciosos “obedecem à injustiça”. O homem, em seu estado natural, é distinguido por seus atos de injustiça. “Deleitam-se com a injustiça” (2Ts 2:12). O poder do pecado é um tirano cruel, impelindo o seu escravo cego para praticar todo tipo de injustiça. E, se não fosse a  graça e a misericórdia de Deus, nós, os salvos e santificados, estaríamos sob o mesmo domínio negativo, praticando a injustiça.

Qual é o salário que esses transgressores recebem? A Bíblia responde: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl. 6:7). E o nosso texto descreve o que os homens desobedientes recebem: “tribulação e angústia virão sobre a alma de qualquer homem que faz o mal, o judeu primeiro (que tem as Escrituras como única  regra de prática, mas não as obedece) e também ao  grego (que tem a lei de Deus gravada sobre o seu coração, mas não a obedece)”. Tribulação se refere ao sofrimento externo, enquanto que angústia se refere ao sofrimento interno, o do coração. Esse sofrimento, o salário da desobediência, começa lentamente nesta vida (com o avanço da idade) e aumenta, inexaurivelmente, chegando à sua plenitude no “inferno para o fogo inextinguível, onde não lhes morre o verme, nem o fogo se apaga” (Mt. 9:43-44). O homem rico, tendo praticado a injustiça contra Lázaro, estava  “no inferno, estando em tormentos”, e desejava que  alguém molhasse em água a ponta do dedo, para  que a sua língua pudesse sentir um momento de alento, o que lhe era impossível experimentar, porque “está imposto um grande abismo entre nós e vós, de sorte que os que querem passar daqui para vós outros não podem, nem os de lá passar para nós” (Lc. 16:19-31). Graças a Deus, a Bíblia nos oferece uma palavra de esperança: “Se confessarmos os nossos pecados (e os abandonarmos) ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo. 1:9).

3. A Natureza do Cristão, Vs. 7 e 10. Devemos  lembrar que estes versículos se referem aos cristãos, aqueles que são regenerados e renovados pelo poder do Espírito Santo, (Tt. 2:5). São “criados em Cristo Jesus para boas obras, as quais Deus, de antemão, preparou para que andássemos nelas” (Ef. 2:10). O cristão verdadeiro demonstra o seu amor para com Cristo cuidando das necessidades de seu próximo, mediante a prática dessas boas obras.

a)      Ele persevera na prática do bem. Esse bem se refere, mais especificamente, às nossas atitudes diante das necessidades do nosso próximo. Cristo nos deu um exemplo de como praticar esse bem: “tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era forasteiro, e me hospedastes, estava nu, e me vestistes; enfermo, e me visitastes; preso, e fostes ver-me” (Mt. 25:35-36). E, para nos encorajar na prática desse bem, Cristo disse: “Porquanto, aquele que vos der de beber um copo de água, em meu nome, porque sois de Cristo, em verdade vos digo que, de modo algum, perderá o seu galardão” (Mc. 9:41).
b)      Ele procura glória, honra e incorruptibilidade.Ele sabe que esta vida é passageira, por isso, sem negligenciar a necessidade de amar o seu próximo, de maneira prática, ele dá uma nova prioridade aos deveres espirituais, cuidando da sua própria comunhão com Deus. O exemplo de Moisés ilustra bem essa prioridade. Por que ele recusou ser chamado filho da filha de Faraó? Porque ele “considerou o opróbrio de Cristo por maiores riquezas do que os tesouros do Egito, porque contemplava o galardão” (Hb. 11:24-26). As três palavras: glória, honra e incorruptibilidade, estabelecem um contraste entre a nossa vida atual e aquela do porvir. Nunca mais seremos humilhados por causa do nosso amor a Cristo, antes, contemplaremos a sua face para todo o sempre, porque, no céu, jamais veremos a morte (Ap.  22:3-4).

Qual é a recompensa que o cristão recebe por causa de seus esforços espirituais? Mesmo nesta vida, o perseverante pode experimentar glória, honra e paz. Glória, porque somos os filhos que o  próprio Deus adotou. “Vede que grande amor nos tem concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus; e de fato somos filhos de Deus” (1Jo.3:1). Honra, o privilégio de ter acesso à presença de Deus. “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio do nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de quem obtivemos igualmente acesso pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm. 5:1-2). Paz: paz com Deus é paz no coração: “Todos os teus filhos serão ensinados do Senhor; e será grande a paz de teus filhos” (Is. 54:13). Embora tenhamos as primícias dessa recompensa no tempo atual, a plenitude dela é reservada para o porvir. O Ap. Paulo tinha esta certeza: “Porque para mim tenho por certo que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a ser revelada em nós” (Rm. 8:18).

Conclusão: Todos nós gostamos de ouvir sobre o amor de Deus, e deve ser assim, porém, esse não é o seu único atributo. Ele tem outros de igual importância, tais como a sua santidade, a sua justiça, a sua ira contra o pecado, e a sua imparcialidade em todas as suas lidas com as pessoas de todas as nações. Essas propriedades devem receber o mesmo interesse e prazer. “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte, na sua força, nem o rico, nas suas riquezas; mas o que se gloriar, glorie-se nisto: em me conhecer e saber que eu sou o Senhor e faço misericórdia, juízo e justiça na terra, porque destas coisas me agrado, diz o Senhor” (Jr. 9:23-24).

Devemos também reconhecer que existe algo que distingue um homem do outro; um procura obedecer a Deus, enquanto que o outro vive em flagrante desobediência. E Deus, como Juiz justo, agindo com uma reta imparcialidade, recompensará cada um segundo as suas obras. A plenitude dessa retribuição acontecerá somente na consumação do século, na Segunda Vinda de Jesus Cristo. E, quanto ao tempo desse evento, a Bíblia ensina: “Vós mesmos estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite. Quando andarem dizendo: Paz e segurança,  eis que lhe sobrevirá repentinamente destruição, como vem as dores do parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão” (1Ts. 5:2-3). E, por causa  dessa realidade, Cristo nos adverte: “Por isso, ficai também apercebidos, porque à hora em que não cuidais, o Filho do homem virá” (Mt. 24:44). “Então, se dirá: Na verdade, há recompensa para o justo; há um Deus, com efeito, que julga na terra” (Sl. 58:11).        

  

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