Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura
Bíblica: Hebreus 4:14-16
Introdução:
Um mediador é aquele que se interpõe entre dois inimigos, buscando uma
reconciliação entre os dois. E, no uso bíblico, o mediador é aquele que se
interpõe entre o Deus santo e o homem pecador. Deus é “tão puro de olhos, que
não pode ver o mal e a opressão não pode contemplar” (Hc 1:13). Em outras
palavras, o homem, vivendo em seus pecados, não tem nenhum acesso à presença de
Deus, sem a intercessão de um mediador. Graças a Deus, em Cristo Jesus, temos
um Mediador, que nos dá acesso ao trono da graça. “Porquanto, há um só Deus e
um só mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, homem” (1Tm. 2:5). O
mediador não pode ser um homem qualquer, vivo ou morto, porque todos são
pecadores e, por isso, barrados da presença de Deus. Tinha que ser um homem sem
qualquer pecado. E existe um só, que jamais transgrediu a santa lei de Deus,
Jesus Cristo; “tentado em todas as coisas, à nossa semelhança, mas sem pecado”
(Hb.4:15).
As
obras do pecador, bem como as suas orações, não são reconhecidas por Deus, sem
a interposição do Mediador, Jesus Cristo. Quando oramos, sempre o fazemos em
Nome de Jesus Cristo, porque, sem o seu intermédio, jamais seríamos ouvidos. E,
semelhantemente, o nosso serviço, seja qual for a área, por ser uma atividade
maculada por nossa natureza pecaminosa, mesmo sendo a nossa oferta melhor, por
si só, não pode ser aceitável pela santidade de Deus. Somos totalmente
dependentes da intercessão de Jesus Cristo. É Ele que purifica as nossas
ofertas, fazendo-as aceitáveis na presença do Pai. O Ap. Paulo expressou essa
verdade, dizendo: “E tudo o que fizerdes, seja em palavras, seja em ação,
fazei-o em nome do Senhor Jesus, dando por ele graças a Deus Pai” (Cl. 3:17).
Foi o próprio Cristo que estabeleceu a necessidade de depender da virtude de
seu Nome a fim de sermos atendidos pelo
Pai: “E tudo quanto pedirdes em meu nome, isso farei, a fim de que o Pai seja
glorificado no Filho” (Jo. 14:13). Confiando na obra mediana de Jesus Cristo,
teremos coragem para tomar posse desta preciosa promessa: “Acheguemo-nos,
portanto, confiadamente, junto ao trono da graça, a fim de recebermos
misericórdia e acharmos graça para socorro em ocasião oportuna” (Hb. 4:16).
Vamos examinar, mais de perto, esta verdade: Cristo, o nosso Mediador.
1.
A Prontidão do Mediador. Quando o homem caiu no pecado, ele perdeu todos os
seus direitos de ter livre acesso à presença de Deus. Como o profeta Isaías
disse: “Mas as vossas iniqüidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e
os vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que não vos ouça” (Is.
59:2). Mas Deus é misericordioso e não quis abandonar a sua criatura rebelde e
desviada. Por isso, Ele, em toda a sua plenitude, Pai, Filho e Espírito Santo,
elaborou um meio, pelo qual um número predeterminado de pessoas seria redimido
do meio de todas as nações, povos e línguas. E, para realizar esse plano, o Pai
escolheria as pessoas a serem favorecidas; o Filho seria o Mediador, investido
com as atribuições de Profeta, Sacerdote e Rei; e o Espírito Santos aplicaria
as obras medianas de Cristo ao povo escolhido, para que recebesse a salvação.
Observemos que cada uma das Pessoas da Divindade tem uma parte ativa na
salvação de pecadores.
Vamos
limitar a nossa mensagem às atribuições da Pessoa de Jesus Cristo. Ele, como o
escolhido pelo Pai para ser o Mediador, tem a autoridade para representar e
preparar o seu povo para que seja aceito na presença do Pai. E, para isso,
Cristo exerce os ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei. Como Profeta: Ele
veio para revelar a natureza e os propósitos do Pai. “Ninguém jamais viu a
Deus, o Deus unigênito (Jesus Cristo), que está no seio do Pai, é quem o
revelou” (Jo. 1:18). Pelo ministério profético de Cristo, conhecemos quem é o
nosso Deus. “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus
verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo. 17:3). Como Sacerdote:
Este ministério é semelhante ao do sumo sacerdote do Antigo Testamento, a
saber: oferecer sacrifícios pelo povo e interceder por ele. Quanto ao
sacrifício de “Cristo, tendo se oferecido uma vez para sempre para tirar os
pecados de muitos, aparecerá segunda vez, sem pecado, aos que o aguardam para a
salvação” (Hb. 9:28). E a Bíblia
acrescenta: “Por isso (em virtude da eficácia do sacrifício de si mesmo) também
pode salvar totalmente os que por ele se chegam a Deus, vivendo sempre para
interceder por eles” (Hb. 7:25). Como Rei: Cristo tem domínio absoluto sobre todas as
atividades deste mundo; uma soberania que é usada para arrebanhar o seu povo
para a salvação eterna de cada um. Por isso, ao entrar em Jerusalém, o povo
cantava: “Bendito é o Rei que vem em nome do Senhor! Paz no céu e glória nas
maiores alturas!” (Lc. 19:38). Graças a
Deus, temos um Mediador que exerce os ofícios de Profeta, Sacerdote e Rei,
perfeito em todas as suas atribuições!
2.
A Prole do Mediador. Devemos fazer uma pergunta importante: Qual é a
condição espiritual do homem em seu estado natural, antes de seu encontro
salvador com Cristo? Sim, ele é morto em seus delitos e pecados, (Ef. 2:1).
Mas, qual é o efeito dessa condição sobre a sua disposição espiritual? Ele se
tornou um ateu prático. Uma declaração formal não é necessária para descobrir o
porquê do procedimento do homem. A Bíblia esclarece: “Diz o insensato em seu
coração: Não há Deus!”. Ele não disse publicamente: Eu não acredito na
existência de Deus. Mas o seu modo de viver sempre revela o que está no
coração. O texto continua a descrever esses ateus disfarçados: “Corrompem-se e
praticam abominações; já não há quem faça o bem”. Agora, como é que Deus toma
conhecimento do que está acontecendo aqui na Terra? “Do céu olha o Senhor para
os filhos dos homens, para ver se há
quem entenda, se há quem busque a Deus”. E qual foi a conclusão dessa pesquisa?
“Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não
há nem um sequer” (Sl. 14:1-3).
Em
Romanos 3:10-12, lemos: “Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não
há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há
quem faça o bem, não há nem um sequer”. Agora, fazemos mais uma pergunta: Se
não há quem busque a Deus, como pode o pecador ser salvo? Cristo responde:
“Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível” (Mt. 19:25-26).
Qual
foi a resposta de Deus diante dessa corrupção moral e espiritual? Ele usou a
sua soberania para eleger uma prole, que seria entregue a seu Filho, a fim de
que Ele a redimisse e purificasse. “Entretanto, devemos sempre dar graças a Deus
por vós, irmãos amados pelo Senhor. Porque Deus vos escolheu desde o princípio
para a salvação, pela santificação do Espírito e fé na verdade, para o que
também vos chamou mediante o nosso evangelho, para alcançardes a glória do
nosso Senhor Jesus Cristo” (2Ts. 2:13-14). A verdade da eleição é motivo de
muitas graças a Deus. “Assim, pois, também agora, no tempo de hoje, sobrevive
um remanescente segundo a eleição da graça” (Rm. 11:5). Agora, mais uma
pergunta: Como podemos identificar esses eleitos? Cristo responde: “As minhas
ovelhas (o povo que o Pai me deu) ouvem a minha voz; eu as conheço e elas me
seguem. Eu lhes dou a vida eterna; jamais perecerão, e ninguém as arrebatará da
minha mão” (Jo. 10:27-28). Reconhecemos a nossa eleição mediante o nosso apego
a Jesus Cristo, conformando-nos a Ele.
3.
A Proficiência do Mediador. Deus, o Pai, escolheu, desde toda a eternidade,
uma prole, para que, no devido tempo, fosse, por seu Filho Jesus Cristo,
remida, chamada, justificada, santificada e glorificada. Cada um desses itens
são partes essenciais e insubstituíveis para que sejamos salvos de verdade.
Vamos explicar, separadamente, cada um desses itens:
a) Remido.
Por ser um pecador, o homem está numa prisão fechada, condenado à morte eterna
e sem esperança de livramento. E, para sair desse reino de trevas e entrar no
reino celestial, alguém de fora, que tem uma autoridade soberana, teria que
intervir. Além disso, esse alguém teria que assumir as atribuições de um
fiador, pagando a dívida que o favorecido tem perante a lei; isto é: uma
obediência perfeita e a pena de morte. Reconhecemos que não existe homem algum
que possa pagar essa dívida e, ao mesmo tempo, vencer com vida. Por isso, todos
nós somos dependentes da misericórdia e graça de Deus, que nos amou e deu o seu
próprio Filho como o necessário Fiador. Mediante a sua obediência imaculada e a
sua morte substitutiva, Cristo pagou plenamente a nossa dívida; não devemos
mais nada; estamos, agora, livres para servir o Deus vivo e verdadeiro com
vidas purificadas. Essa obra redentora e justificadora é imputada a todos que
nela crêem, fazendo com que sejamos aceitos irrestritamente pelo Pai..
b) Chamado.
Cristo nos chama mediante a pregação do evangelho e pela obra do Espírito Santo
que o aplica eficazmente à vida de seu povo. “Porque o nosso evangelho não
chegou até vós tão somente em palavra, mas, sobretudo, em poder, no Espírito
Santo e em plena convicção” (1Ts. 1:9). Sejamos ouvintes prudentes, construindo
a nossa esperança espiritual sobre a palavra da verdade, assim, jamais seremos
confundidos, (Mt. 7:24-27).
c) Justificado.
Passamos a ser justificados quando Deus nos vê vestidos com as virtudes de
Jesus Cristo, que Ele adquiriu por nós, mediante a sua obediência imaculada e a
sua morte substitutiva na cruz do Calvário. “Justificados, pois, mediante a fé
(na suficiência da obra redentora de Jesus Cristo), temos paz com Deus por meio
de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm. 5:1).
d) Santificado.
Cristo nos santifica mediante a nossa união espiritual com Ele. Assim, como
Cristo morreu para o pecado, nós, unidos com Ele, também morremos para o
pecado. O poder do pecado em nossa vida recebeu um golpe mortífero. E,
semelhantemente, unidos com Cristo em sua ressurreição, ressuscitaremos (fomos
regenerados) para andar em novidade de vida. Com base na nossa união com
Cristo, o Apóstolo declarou confiantemente: “O pecado não terá domínio sobre
nós”, porque temos outro poder direcionando a nossa vida: a graça de Deus,
mediante o Espírito Santo que habita em nosso coração” (Rm. 6:14). “Digo porém,
andai no Espírito (obedecendo-o) e jamais satisfareis à concupiscência da
carne” (Gl. 5:16).
e) Glorificado.
O ápice da nossa glorificação é o dom da vida eterna, quando estaremos para
sempre com o Senhor que nos amou e a si mesmo se entregou à morte substitutiva,
a fim de nos salvar. Como o Apóstolo comentou: “Ora, se somos filhos, somos
também herdeiros, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo; se com ele
sofrermos, também com ele seremos glorificados” (Rm. 8:17).
Conclusão:
Cristo, como nosso mediador, não apenas permite que tenhamos acesso à presença
de Deus, mas, também, transformou a nossa vida de tal forma que fomos feitos
dignos de sermos apresentados à presença do Pai. A nossa Confissão de Fé nos
oferece um bom resumo da obra mediana de Jesus Cristo:
“Cristo,
com toda certeza, e de forma eficaz, aplica e comunica a salvação a todos
aqueles para quem a adquiriu. Isto ele consegue, fazendo intercessão por eles e
revelando-lhes na Palavra e pela Palavra os mistérios da salvação, persuadindo-os
eficazmente, pelo seu Espírito, a crer e a obedecer, governando os corações
deles pela sua Palavra e pelo seu Espírito; subjugando todos os seus inimigos,
por meio da sua onipotência e sabedoria, da maneira e pelos meios condizentes
com a sua admirável e inescrutável dispensação”
(Cap. 8:8).
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