Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura
Bíblica: Jeremias 18:1-6.
Introdução:
Deus usava muitas maneiras para comunicar sua mensagem a seus profetas.
Nesta leitura, Jeremias foi instruído: “Dispõe-te. E desce à casa do oleiro e
lá ouvirás as minhas palavras”. E, chegando lá, ele viu o oleiro “entregue à
sua obra sobre as rodas”. Estava terminando um vaso já, mas, por alguma razão,
o vaso de barro “se lhe estragou na mão”. Mas o oleiro não se desanimou, pois,
com o mesmo barro, “tornou a fazer outro vaso, segundo bem lhe pareceu”. Agora,
tendo visto o trabalho do oleiro, o texto acrescentou: “Então, veio a Jeremias
a palavra do Senhor”. E, a partir dessa experiência, nasceu uma mensagem.
Assim
como no Novo Testamento as parábolas de Jesus tinham que ser interpretadas pelos
ouvintes, Jeremias tinha que descobrir, com o auxílio do Espírito Santo, a
mensagem que o povo precisava ouvir. Portanto, a figura do oleiro com seu barro
é usada diversas vezes, em ambos os testamentos. O oleiro representa o próprio
Deus, e o barro em suas mãos representa a humanidade, criada “do pó da terra”
(Gn. 2:7). O primeiro vaso foi perfeito, porém, quando o pecado entrou na peça
original, ela ficou “estragada”. O efeito desse pecado corrompeu a massa toda,
isto é, todos os descendentes de Adão. Contudo, Deus não ficou frustrado em seus propósitos, pois com o mesmo barro,
mediante a regeneração, Ele criou um novo homem, para a sua glória eterna. O
Ap. Paulo usou esse tema para exaltar a soberania de Deus. Como o oleiro tinha liberdade
para usar o mesmo barro para fazer outro vaso, segundo bem lhe pareceu, assim,
Deus tem a mesma liberdade. Se Deus não tivesse usado a sua soberania, o pecado
teria levado toda a humanidade para a morte eterna. “Se o Senhor dos Exércitos
não nos tivesse deixado descendência, ter-nos-íamos tornado como Sodoma e
semelhantes a Gomorra” (Rm. 9:29). Devemos sentir a maravilha de termos sido
alcançados com as boas novas da salvação. Vamos seguir a sugestividade que o
oleiro e o seu barro nos oferecem.
1.
O Vaso Estragado: Sabemos “que Deus
fez o homem reto, mas ele se meteu em
muitas astúcias” (Ec. 7:29). No Jardim do Éden, ainda em seu estado de
inocência, o homem extrapolou a sua liberdade, comendo o fruto proibido, (Gn.
3:17). Assim, o pecado, o sofrimento e a morte entraram na vida da humanidade.
A
Confissão de Fé da nossa Igreja comenta sobre esse assunto doloroso: “Por este
pecado eles (Adão e Eva) decaíram de sua retidão original e da comunhão com
Deus, e assim se tornaram mortos em pecado e inteiramente corrompidos em todas
as suas faculdades e partes do corpo e da alma”. Mas a conseqüência do pecado
não se limitou a Adão e Eva. Por isso, a Confissão de Fé acrescenta: “Sendo Ele
(Adão e Eva) o tronco de toda a humanidade, o delito de seus pecados foi
imputado a seus filhos; e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza
corrompida, foram transmitidas a toda a posteridade, que deles procede por
geração ordinária”. A Confissão continua, agora, descrevendo a conseqüência
dessa herança negativa: “Desta corrupção
original, pela qual ficamos totalmente indispostos, incapazes e adversos a todo
bem e inteiramente inclinados a todo mal, é que procedem todas as transgressões
atuais”. É de suma importância que reconheçamos a duração da corrupção. A Confissão
explica: “Esta corrupção da natureza persiste durante esta vida, (inclusive)
naqueles que são regenerados; e embora seja ela perdoada e mortificada por
Cristo, todavia tanto ela como os seus impulsos são real e propriamente pecado” (Conf. de Fé, VI. II a V). Creio que
ninguém pode, honestamente, negar a veracidade desse ensino esclarecedor das
Escrituras Sagradas. Ou, se restar ainda uma dúvida quanto à realidade dessa
corrupção moral e espiritual, basta ouvir o que os meios de comunicação estão
dizendo, pois eles corroboram o ensino bíblico. Não apenas essa evidência
externa, mas olhando dentro da nossa própria vida, somos constrangidos a
reconhecer a presença dessa mesma tendência pecaminosa.
Os
povos do mundo inteiro estão pedindo paz e segurança, contudo, tais bênçãos
jamais serão alcançadas enquanto o pecado estiver em plena manifestação. A
Bíblia assevera: “Para os perversos, diz o meu Deus, não há paz” (Is. 57:21).
Quando Deus anunciou o seu propósito
para castigar o povo de Israel, eles, atrevidamente, responderam: “Não há
esperança”, Deus está perdendo o seu tempo, “porque andaremos consoante os
nossos projetos, e cada um fará segundo a dureza de seu coração maligno” (Jr.
18:12). Ao comentar sobre o poder do pecado na vida do homem, Cristo disse: “O
julgamento é este: que a luz veio ao mundo, e os homens amaram mais as trevas
do que a luz, porque as suas obras eram más” (Jo. 3:19). Mas, apesar dessa
perversidade, o pecado pode se tornar um peso insuportável. Davi experimentou
esse fardo: “Laços de morte me cercaram, e angústias do inferno se apoderaram
de mim; caí em tribulação e tristeza” (Sl. 116:3). Estamos prontos agora para
ouvir sobre:
2.
O Vaso Estafado. Apesar de sentir o peso estafante da sua condição, ele não
está disposto a lançar a culpa sobre os pecados que pratica. Alguém lhe deu
este conselho: o seu problema é a falta de uma religião em sua vida; busque uma
Igreja qualquer! Com essa palavra, ele logo descobre uma Igreja que lhe agrada
e lá participa das atividades religiosas que dão uma certa medida de
tranqüilidade interior. À semelhança de Judas Iscariotes, escuta com paciência
as pregações da Palavra de Deus, anda na companhia de outros cristãos, e assume
algumas responsabilidades na vida da Igreja. Mas, apesar da sua religiosidade,
ele continua praticando seus pecados prediletos. E, quando ele percebe uma
oportunidade, surrupia dinheiro da bolsa do grupo. Afinal ele revela a sua
natureza pervertida (traindo o Senhor por trinta moedas de prata). Sim, Judas
ficou cheio de remorso por causa de seu ato infame. Mas remorso não é
arrependimento. Finalmente, o pecado triunfou sobre ele, levando-o ao suicídio.
Qual a lição? Religião, por si só, não salva ninguém.
Outro
conselho muito popular é: faça as boas obras da lei, como Deus ordena, e todos
os seus problemas serão resolvidos! Mas a lei não salva a ninguém; o seu
propósito é outro. “Ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei,
em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”(Rm. 3:20). Em vez
de tranqüilizar o coração aflito, aumenta o peso da sua culpabilidade e
condenação, porque o pecador não consegue cumprir as normas da lei com a
perfeição que a santidade de Deus requer. Os judeus perderam a esperança da
salvação por causa desse conselho infeliz. “Porquanto, desconhecendo a justiça
de Deus e procurando estabelecer a sua própria, não se sujeitaram à que vem de
Deus. Por que o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm.
10:3-4). Quais são os dois erros principais desse conselho traiçoeiro? Ele
ensina o pecador a rejeitar (inconscientemente) a justiça e a salvação que vem
de Deus gratuitamente; e, a desprezar a
Pessoa e a Obra de Jesus Cristo. Quando uma pessoa procura estabelecer a sua
própria justiça e salvação, a conclusão não pode ser outra: tal pessoa não
sente nenhuma necessidade de reconhecer o dom gratuito de Deus, nem da obra
redentora de Jesus Cristo. Feliz a pessoa que se sente retalhada no coração por
causa de seus pecados e constrangido a clamar das profundezas de seu coração:
“Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?” (Rm. 7:24).
Estamos prontos, agora, para ouvir sobre:
3.
O Vaso Estabelecido. Religião não salva, nem santifica ninguém. E, da mesma
forma, a prática das obras da lei não pode justificar o pecador diante de Deus, pois “por obras da lei ninguém será
justificado” (Gl. 2:16). Então, como
pode o vaso estragado ser estabelecido? Primeiramente, ele tem que se humilhar
e acreditar nesta declaração decisiva: “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não
há salvação. Eu anunciei salvação, realizei-a e a fiz ouvir” (Is. 43:11-12). O
que é imprescindível para cada pecador é um verdadeiro encontro regenerador com
o único Salvador, Jesus Cristo. O profeta vociferava: “Convertei-vos, pois,
cada um do seu mau proceder e emendai os vossos caminhos e as vossas ações”
(Jr. 18:11). E o Senhor Jesus advertia: “Eu vo-lo afirmo; se, porém, não vos
arrependeres, todos igualmente perecereis” (Lc. 13:3). A Confissão de Fé da
nossa Igreja define o arrependimento com estas palavras: “O pecador, pelo
arrependimento, de tal maneira sente e aborrece os seus pecados que,
deixando-os, se volta para Deus, tencionando e procurando andar com ele em
todos os caminhos de seus mandamentos” (Conf. De Fé, Cap. XV.II). Notemos os
cinco passos necessários para que o arrependimento seja verdadeiro: a) Ele não
apenas sente a realidade do pecado em sua vida, mas aborrece a presença dele em
todo o seu procedimento. b) Ele abandona cada um de seus pecados e, na medida
do possível, tudo o que provoca a prática deles. c) Ele volta para Deus,
tencionando e procurando andar com Ele em todos os caminhos de uma verdadeira
santidade. d) E, implícito no reconhecimento do nosso pecado está a confissão a Deus de todos os pecados
conhecidos, lembrando que cada pecado
tem um nome específico. Fazemos isso na plena certeza de que nele há o perdão
dos pecados, “pois, no Senhor há misericórdia; nele, copiosa redenção. É ele
quem redime o seu povo de todas as suas iniqüidades” (1 Jo. 1:9; Sl. 130:7-8).
e) A frase, “ele se volta para Deus”, fala da necessidade indispensável de uma
fé inabalável na Pessoa e Obra de Jesus Cristo, descansando na suficiência da
sua morte substitutiva na cruz do Calvário. “E o testemunho é este: que Deus
nos deu vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o
Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1Jo.
5:11-12). Sim, o nosso destino na eternidade é decisivo; não existe nenhuma
outra opção. Agora, “Aquele que diz que permanece nele (em Jesus Cristo), esse
deve andar assim como ele andou” (1Jo. 2:6). Dessa maneira, o vaso será
estabelecido. Estamos prontos, agora, para ouvir a:
Conclusão:
A figura do oleiro fazendo vasos de
barro tem muitas lições espirituais. O oleiro representa Deus e o barro, que
foi uma única massa, feita do pó da terra, representa como o homem foi criado.
Em seu estado original, ele foi dotado com uma perfeita justiça, retidão e
pleno conhecimento, segundo a imagem daquele
que o criou, (Ef. 4:24; Cl. 3:10). O vaso estragado representa a entrada
do pecado na vida de toda a humanidade. É importante observar como o oleiro
tomou o barro do vaso estragado e fez outro vaso “segundo bem lhe pareceu”. O
pecado não frustrou o propósito de Deus na
criação do homem.
Sobre
essas verdades, desenvolvemos os três pontos da nossa mensagem. Falamos sobre o
Vaso Estragado, ou seja, a entrada do pecado na vida da humanidade. Por causa
do ato de desobediência, toda a humanidade tornou-se morta em pecado e
inteiramente corrompida em todas as suas faculdades e partes do corpo e alma.
Assim, cada pessoa passou a ser mais amiga dos prazeres que amiga de Deus (2Tm.
3:4). Falamos sobre o Vaso Estafado. Às vezes, o homem fica estafado por causa
de seus pecados que ele insiste em
praticar. Nesse estado, ele pode adotar uma religião na esperança de ganhar
algum alento; ou, pode tentar uma auto-justiça pelas prática de boas obras. Mas, nem a religião e nem as
boas obras podem oferecer uma tranqüilidade na sua consciência, se continuar
servindo os prazeres pecaminosos da carne. Tal frustração pode levar o homem a
lamentar: “Desventurado homem que sou! Quem me livrará do corpo desta morte?”
(Rm. 7:24). Por isso, falamos sobre o Vaso Estabelecido. Devemos dar muitas
graças a Deus porque Ele não abandonou o barro do vaso estragado, antes, Ele o
tomou, e, pela regeneração, fez “um novo homem, criado segundo Deus em justiça e retidão procedentes da verdade”
(Ef. 4:24). Tomamos posse dessa
realidade pela fé em Jesus Cristo, “no qual temos a redenção, pelo seu sangue,
a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua glória” (Ef. 1:7). Que Deus
nos ajude a entender, crer e praticar essas verdades bíblicas, porque elas
podem nos tornar sábios para a salvação pela fé em Jesus Cristo
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