Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura
Bíblica: Isaías 40:1-11
Introdução:
Nesta leitura, temos um relance da situação política e espiritual de Israel nos
dias do profeta Isaías. A nação tinha se degenerado moralmente até o ponto de
Deus querer cumprir as suas ameaças de castigo contra o povo, por causa da sua
desobediência generalizada. Em Levíticos 26:33, Deus predissera que a nação
seria desterrada e levada ao cativeiro. “Espalhar-vos-ei por entre as nações e
desembainharei a espada atrás de vós; a vossa terra será assolada, e as vossas
cidades serão desertas”. Agora, no tempo de Isaías, esta ameaça está se
preparando para ser cumprida.
Quando
um país recebe um castigo divino por causa de seus pecados, os piedosos também
participam de tudo o que acontece. Em Israel, Daniel e seus três amigos, todos
de sangue real, foram rebaixados à escravidão e levados ao cativeiro. Enfim, o
povo de Deus não fica isento das consequências negativas causadas pela
desobediência nacional. Mas, para estes, a dor da tribulação é suavizada pela
consciência evidente da presença sustentadora de Deus, que continua
acompanhando e abençoando os seus servos fiéis, mesmo quando estão em
cativeiro. Lembramos da história de José no Egito: “O Senhor abençoou a casa do
egípcio por amor de José – O Senhor, porém, era com José, e lhe foi benigno, e
lhe deu mercê perante o carcereiro” (Gn. 39:5,21). Daniel e seus três amigos,
bem como José, são testemunhas dessa presença do Senhor.
No
caso de Israel, ou de qualquer outro povo, Deus demonstra a sua boa vontade
para com as pessoas mediante a pregação do evangelho, uma mensagem de perdão para
os arrependidos; um perdão fundamentado sobre o fato de que o Senhor de todas
as misericórdias já providenciou um resgate que satisfez todas as exigências da
lei, pois o salário do pecado foi recebido por um Fiador, Jesus Cristo, que
morreu em nosso lugar na cruz do Calvário. Portanto, os mensageiros do
evangelho são ordenados a proclamar: “Consolai, consolai o meu povo, diz o
Senhor Deus. Falai ao coração de Jerusalém, bradai-lhe que já é findo o tempo
da sua milícia (luta), que a sua iniquidade está perdoada” (Vs. 1-2). Mas, para
que o povo possa receber essas boas novas, três acontecimentos são necessários:
1.
A Necessidade de uma Preparação Vs. 3-5. A profecia nos faz lembrar do
ministério de João Batista, o precursor e preparador do caminho para o
ministério de Jesus Cristo. A Bíblia usa uma linguagem figurativa para
descrever esse ministério. “Todo vale será aterrado, e nivelados todos os
montes e outeiros; o que é tortuoso será retificado, e os lugares escabrosos
aplanados”. Tudo isso significa que João Batista iria criar uma expectativa no
coração do povo, a esperança do cumprimento das profecias messiânicas, o
prometido Salvador. No início, o povo pensava que João Batista era o Messias,
mas ele corrigiu as pessoas, dizendo: “Eu não sou o Cristo, mas fui enviado
como seu precursor” (Jo. 3:28). Essa obra de preparação consistia na
proclamação de três grandes princípios:
a) A necessidade de arrependimento. “Dizia ele (João Batista),
pois, às multidões que saíam para serem batizadas: Raça de víboras, quem vos
induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos do
arrependimento”. Ele definiu o arrependimento como um abandono de todas as
confianças alheias; por exemplo: “Temos por pai a Abraão”. Meus pais são
crentes fiéis. Ou, eu procuro cumprir os meus deveres, etc. Mas arrependimento
é mais do que isso; é uma mudança radical nas atitudes básicas. O egoísta passa
a ser altruísta. O ladrão não rouba mais, antes, ele trabalha com suas próprias
mãos. Aquele que maltratava as pessoas, passa a ser misericordioso. O
trabalhador vive contente com o soldo que recebe, (Lc. 3:7-14). Esses frutos do
arrependimento são as evidências práticas de uma vida transformada pela
regeneração.
b) A necessidade de crer no juízo vindouro. A realidade deste “Dia”
serve para inibir os impulsos pecaminosos da nossa natureza. João Batista
advertia o povo, dizendo: “E também já está posto o machado à raiz das árvores;
toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Lc.
3:9). E o Ap.Paulo explicou: “Porque importa que todos nós compareçamos perante
o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver
feito por meio do corpo” (2Co. 5:10). Quando o Ap. Paulo dissertou perante
Felix “acerca da justiça, do domínio próprio e do juízo vindouro”, o homem
ficou amedrontado, (At. 24:25). Por isso, a advertência de “fugir da ira
vindoura” (Lc. 3:7). “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb. 10:31).
c) A necessidade de crer em
Jesus Cristo. A primeira vinda de Cristo foi profetizada desta maneira: “A
glória do Senhor se manifestará, e toda a carne a verá, pois a boca do Senhor o
disse” (V5). O Ap. João testificou: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós,
cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória como do unigênito do Pai”
(Jo. 1:14). A glória de Cristo é o seu poder para buscar e
salvar pecadores, tais como qualquer um de nós. O ministério de João Batista
chegou ao ponto máximo quando ele viu Jesus, e olhando para Ele, declarou a
todos ao seu redor: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo.
1:29). Agora devemos ouvir e crer no que a Escritura diz: “Quem crê no Filho
tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a
vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo. 3:36). Portanto, para crer em
Cristo, temos que nos aproximar dEle pela fé. Como Ele mesmo disse: “O que vem
a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo. 6:37). A obra de preparação se
cumpre quando chegamos a Cristo pela fé e o recebemos como nosso Salvador.
2.
A Necessidade de uma preordenação. Vs. 6-8.
A pregação do evangelho não se limita à exposição de arrependimento, o
juízo vindouro e fé em Jesus Cristo. O ministro foi preordenado para incluir
mais três elementos: a brevidade da nossa vida; a realidade da morte; e, a
eternidade da palavra de Deus.
a) A brevidade da nossa vida. Ouve-se uma voz anunciando uma única
palavra: “Clama”. E o ministro de Deus que está sempre atento à voz do seu
Senhor, responde, perguntando: “Que hei de clamar?” E a resposta é: Proclame a
preordenação da brevidade da vida humana: “ Toda carne é erva, e toda a sua
glória como a flor da erva” (V.6). Por um momento, vemos a vida humana coroada
de belezas, consecuções e vitórias; contudo, toda essa glória é como a flor da
erva que logo murcha e desvanece. O pregador descreve essa glória como uma
“vaidade e correr atrás de vento” (Ec. 2:26). Existem valores mais importantes
do que essas glórias momentâneas. A brevidade da nossa vida deve nos ensinar a
buscar glórias que jamais desvanecerão.
b) A realidade da nossa morte. A morte é vista como uma intervenção
divina na vida do homem. Soprando nele o hálito do Senhor, o que acontece?
“Seca-se a erva, e caem as flores” (V7). Devemos lembrar: “E, assim como aos
homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo” (Hb.
9:27). Apesar de Adão ter alcançado tantos anos, a sua história termina com
esta nota sombria: “E morreu” (Gn 5:5).
A longevidade não ameniza a dor da morte. Ezequias recebeu esta
preordenação da parte do Senhor: “Põe em ordem a tua casa, porque morrerás e
não viverás” (2Rs. 20:1). O rei recebeu tempo para se preparar antes de morrer.
Porém, não foi assim com um certo homem rico, porque enquanto comia, bebia e
regozijava-se, Deus, de repente, lhe disse: “Louco, esta noite te pedirão a tua
alma; e o que tens preparado, para quem será?” (Lc. 12:16-21). A lição é esta:
Estejamos preparados enquanto temos tempo, porque não sabemos em que dia a
morte nos visitará.
c) A eternidade da palavra de Deus. O texto está estabelecendo um
contraste entre a transitoriedade da vida humana e a permanência da palavra de
Deus. “Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra do nosso Deus permanece
eternamente”, (V.8). Por que este contraste? Devemos entender que não há nada
neste mundo que podemos guardar para sempre. Portanto, em vez de construir
sobre aquilo que é transitório, devemos buscar o tesouro que jamais passará:
“Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a
vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo. 2:17). Eis o objetivo principal
para cada um de nós. Juntamente com a devida consagração de nossa vida,
descobrimos “qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2).
Esta é a preordenação que Deus estabeleceu para o seu povo: Conhecer a sua
vontade em toda a sua abrangência.
3.
A necessidade de uma Preanunciação. (Vs. 9-11). Novamente, a palavra
dirigida ao pregador e o que ele tem que anunciar: “Tu, ó Sião que anuncias
boas novas, sobe a um monte alto!” A sua mensagem tem que ser ouvida pelo maior
número de pessoas possível. “Tu que anuncias boas novas a Jerusalém, ergue a
tua voz fortemente; levante-a, não temas, e dize às cidades de Judá”. Os povos
de todos os lugares têm que ouvir essas boas-novas. Quais são essas notícias
que têm tamanha urgência? Destacamos três: O que Deus já está fazendo; o que
Deus ainda fará; e, como Deus cuida de seu povo.
a) O que Deus está fazendo, (V9). “Eis aí está o vosso Deus”. Esta
frase é uma exclamação de admiração, ao reconhecer que Deus continua
trabalhando entre os povos deste mundo, dando-lhes as boas-novas de salvação,
anunciando que o perdão dos pecados está ao alcance de todos os que o buscam. Esse
perdão é oferecido gratuitamente, porque um Fiador pagou a dívida judicial de
seu povo. O piedoso Zacarias louvou a Deus por essas mesmas verdades: “Bendito
o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e nos suscitou
plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo, como prometeu desde a
antiguidade, por boca dos seus santos profetas” (Lc. 1:68-70). O que Deus
preanunciou, Ele está cumprindo em nossos dias. “Eis aí está o nosso Deus!” O
Fiel cumpridor de cada uma de suas mui grandes e preciosas promessas. Louvado
seja o seu santo nome.
b) O que Deus ainda fará. “Eis que o Senhor Deus virá com poder, o
seu braço dominará; o seu galardão está com ele, e diante dele, a sua
recompensa” (V.10). Este versículo tem, talvez, uma dupla aplicação. Em nossos
dias, o Senhor vem ao seu povo mediante a pregação do evangelho, como dissemos
no primeiro ponto. Ele vem com seu braço estendido, dominando e julgando todos
os inimigos de seu povo para que as pessoas estejam livres para crer em Jesus
Cristo. O galardão que vem com Ele é a salvação eterna para todos os que crêem;
e a recompensa de crer é saber que todas os nossos pecados são gratuitamente
perdoados. O Ap.João afirmou: “Estas cousas vos escrevi, a fim de saberdes que
tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus”. Mas
o segundo sentido do versículo é igualmente válido, e se refere, talvez, à
segunda vinda de Jesus Cristo. Naquele dia, veremos a grandeza de seu poder
através do ajuntamento de todas as nações perante o seu trono. “Quando vier o
Filho do homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará
no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença” para
serem julgadas segundo as suas obras. Assim, cada um dos indivíduos receberá de
acordo com o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo, (Mt. 25:31-32;
2Co. 5:10). Notemos o destaque dado ao galardão: “cada um receberá”. Cristo
prometeu: “E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para
retribuir a cada um segundo as suas obras” (Ap. 22:12). Portanto, a exortação
para cada um de nós é: “Vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso
Senhor” (Mt 24:42).
c) Como Deus cuida de seu povo. Vamos sentir a preciosidade desta
verdade: “Como pastor, apascenta os cordeirinhos e os levará no seio; as que
amamentam ele guiará mansamente” (V11). Notemos as três atitudes desse “bom
pastor”:
I.
“Como pastor apascenta o seu
rebanho”. A responsabilidade do pastor é suprir todas as necessidades de seu
rebanho. O salmista confessou confiantemente: “ O Senhor é o meu pastor, nada
me faltará” (Sl. 23:1). E, semelhantemente, o Ap. Paulo: “ E o meu Deus,
segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma das
vossas necessidades” (Fl. 4:19). O “nada me faltará” se refere às três
necessidades básicas: alimento, vestimenta e moradia. Tendo essas coisas,
“estejamos contentes” (1Tm 6:8). Mas, pela experiência pessoal, sabemos que
Deus, em sua bondade, nos dá muito mais do que o básico: “O meu cálice
transborda” (Sl. 23:5-6).
II.
O cuidado do Senhor para com as
crianças: “Entre seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio”.
Vemos Jesus “ tomando-as nos braços e impondo-lhes as mãos as abençoava” (Mc.10:16). Crianças e
pessoas com deficiências físicas, por causa de suas limitações, recebem um
cuidado especial. E, quando não podem andar sozinhas, Ele as “levará no seio”,
perto de seu coração. O amor de Deus para com seu povo é indizivelmente
maravilhoso e confortador.
III.
O cuidado do Senhor para com as
mães. Por causa das responsabilidades maternas, as mães nem sempre conseguem
acompanhar o ritmo dos demais membros da Igreja. Mas o Senhor não fica
impaciente com elas. “As que amamentam, ele guiará mansamente”. Por causa dessas
disposições de condescendência, Ele nos convida: “Vinde a mim todos os que
estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu
jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis
descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mt.
11:28-30).
Conclusão:
A nossa leitura começou com esta ordem: “ Consolai, consolai o meu povo, diz o
vosso Deus”. Consolamos e saciamos os anseios do povo de Deus através da
exposição da sua natureza. Ele que ser conhecido como o Deus perdoador, que
apaga as nossas transgressões, (Is. 43:25). Por causa da brevidade da nossa
vida, Ele quer que estejamos preparados para aquele dia solene, quando “cada um
de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm. 14:12). E, finalmente, Deus quer
que o seu povo tenha confiança na sua condescendência. Ele é o Bom Pastor que
cuida do seu rebanho, “Oh! Provai e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o
homem que nele se refugia” (Sl. 34:8).
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