Leitura Bíblica: Salmo 8:1-4.
Introdução:
Nos primeiros quatro versículos deste Salmo, temos dois contrastes marcantes.
No primeiro, vs, 1-2, a magnificência do nome do Senhor e a simplicidade de
crianças de peito. Aquele que tem o nome mais sublime “em toda terra”, um nome
que está acima de toda a terra, é servido em usar a “ boca de pequeninos” para suscitar força e para
fazer “emudecer o inimigo e o vingador”. Jesus citou o segundo versículo para
repreender “os principais sacerdotes e os escribas”. O que a liderança
religiosa não estava fazendo, Deus usou “meninos” para proclamar e cantar:
“Hosana ao Filho de Davi”, pois reconheceram e acreditaram na messiandade de
Jesus Cristo, (Mt. 21:14-16).
No
segundo contraste, vs 3-4, vemos a vastidão do universo, que proclama a glória
de Deus, e a pequenez do homem, que nem sempre glorifica a Deus como Deus.
Aquele que criou tal grandeza tem a condescendência de conceder uma preferência
especial para o homem pecador. Quando o pecado entrou no mundo, Deus preferiu
salvar homens e não anjos, “Pois ele, evidentemente, não socorre anjos, mas
socorre a descendência de Abraão”, ou seja, “filhos da promessa, como Isaque”
(Gl. 4:28).
Mediante
o propósito desses dois contrastes devemos estar preparados para meditar sobre
o significado da pergunta no versículo quatro. “Que é o homem, que dele te
lembres? E o filho do homem, que o visites?”.
1.
O Estado do Homem. “Que é o homem?” Podemos responder essa pergunta através
do exame de dois de seus estados: Inocência
e Culpa.
a) O
seu estado de inocência. O próprio Criador nos dá esta gênese: primeiro, a
decisão divina: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança”.
E, logo em seguida, o ato: “Criou Deus, pois, o homem à sua imagem, à imagem de
Deus o criou; homem e mulher os criou” (Gn. 1:26-27). A Bíblia revela que esta
imagem é composta de, pelo menos, quatro elementos: “justiça e retidão”, (Ef. 4:24); “pleno conhecimento” (Cl. 3:10);
e, “ a norma da lei gravada no seu coração” (Rm. 2:15). No início, mediante a
devida prática desses quatro elementos, o homem desfrutava de plena comunhão
com o seu Criador.
b) O
seu estado de culpa. A Bíblia registra: “Eis o que tão-somente achei: que Deus
fez o homem reto, mas ele se meteu em muitas astúcias” (Ec. 7:29). A sua
primeira astúcia foi um ato de flagrante desobediência contra a lei que fora
gravada indelevelmente sobre o seu coração. “E o Senhor Deus lhe deu esta
ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do
conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres,
certamente morrerás” (Gn 2:16-17). Contudo, ele desobedeceu e comeu da árvore
proibida, (Gn. 3:6). Quais foram as conseqüências imediatas dessa transgressão
da lei de Deus? Adão e Eva “decaíram de sua retidão (inocência) original e da
comunhão com Deus, e, assim, tornaram-se mortos em pecado e inteiramente
corrompidos em todas as faculdades e partes do corpo e alma. Sendo eles o
tronco de toda a humanidade, o delito de seus pecados foi imputado a seus
filhos, e a mesma morte em pecado, bem como a sua natureza corrompida, foram
transmitidas a toda a sua posteridade, que deles procede por geração ordinária.
Desta corrupção original, pela qual ficamos, totalmente indispostos, incapazes
e adversos a todo bem e inteiramente inclinados a todo mal, é que procedem
todas as transgressões atuais” (Confissão de Fé, 6:2-4). Neste estado, o homem
tem uma “inimizade contra Deus, pois não está sujeito à lei de Deus, nem mesmo
pode estar” (Rm. 8:7). Como é triste o estado do homem em sua culpa. “Como está
escrito: não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a
Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há que faça o bem,
não há nem um sequer. (...) Não há temor de Deus diante de seus olhos” (Rm.
3:10-12,18). Essas verdades sombrias nos
preparam para ouvir, com gratidão, as verdades que se seguem.
2.
O Estímulo do Homem. “Que dele te lembres?”. Apesar do nosso estado de
culpa, fomos criados à imagem de Deus, por isso, Ele não se esquece de nós. Essa
verdade nos foi revelada a fim de nos estimular e nos encorajar em nossa vida
espiritual. Muitas vezes, as lembranças do Senhor se acham em contextos onde o
seu povo se encontra em grandes dificuldades. Quando o Senhor viu Israel sofrendo
no Egito, Ele disse a Moisés: “Ainda ouvi os gemidos dos filhos de Israel, os
quais os egípcios escravizam e lembrei da minha aliança” (Ex. 6:5). E essas
lembranças são sempre demonstradas por uma ação de salvamento. “Portanto, dize
aos filhos de Israel: eu sou o Senhor, e vos tirarei de debaixo das cargas do
Egito, e vos livrarei da sua servidão, e vos resgatarei com braço estendido e
com grandes manifestações de julgamento” (Ex. 6:6). Anos mais tarde, quando
Israel pecou contra o Senhor e foi levado ao cativeiro, eles receberam esta
direção: “Se o seu coração incircunciso se humilhar, e tomarem eles por bem o
castigo da sua iniqüidade, então, me lembrarei da minha aliança com Jacó, e
também a minha aliança com Isaque, e também a minha aliança com Abraão e da
terra me lembrarei” (Lv. 26: 41-42). Como podemos explicar essas lembranças do
Senhor? Ele mesmo responde: “Antes, por amor deles, me lembrarei da aliança com
seus antepassados, que tirei da terra do Egito à vista das nações, para lhes
ser por Deus. Eu sou o Senhor” (Lv. 26:45). Deus age em favor de seu povo
porque Ele o ama.
Zacarias,
o pai de João Batista, ao perceber o cumprimento das profecias messiânicas,
confessou que Deus estava lembrando “da sua santa aliança e do juramento que
fez a Abraão” (Lc. 1:72-73). Novamente, essa lembrança está no contexto de uma
grave necessidade espiritual, quando os homens se encontravam perdidos por
causa de seus pecados. “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo
fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm. 5:8). Sim,
o pecado de seu povo foi julgado quando Cristo deu a sua vida em resgate por
muitos. Mas, o que podemos dizer a respeito dos pecados dos ímpios? Quando
chegar o Dia do Juízo Final, Deus se
lembrará dos atos iníquos que eles praticaram, e cada um receberá a devida
retribuição, (Ap. 18:5-6). À luz desse assunto, devemos orar: “Lembra-te,
Senhor, das tuas misericórdias, e das tuas bondades que são desde a eternidade.
Não te lembres dos meus pecados da mocidade, nem das minhas transgressões.
Lembra-te de mim, segundo a tua misericórdia, por causa da tua bondade, ó
Senhor” (Sl. 25:6-7). Podemos orar desta maneira, “pois no Senhor há
misericórdia; nele copiosa redenção. É ele quem redime Israel de todas as suas
iniquidades” (Sl. 130:7-8). As lembranças do Senhor são um forte estímulo para
nós. Com isso em mente, estamos preparados para seguir até o próximo ponto.
3.
O Esteio do Homem. “E o filho do homem, que o visites?” Eis o esteio que
nos sustenta em todas as lidas difíceis da nossa vida: Deus tem prometido nos
visitar e amparar quando pedimos o seu auxílio. “Invoca-me no dia da angústia;
eu te livrarei, e tu me glorificarás” (Sl. 50:15). Assim, podemos sempre dizer:
“Bendito seja o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e
nos suscitou plena e poderosa salvação” como prometera desde a antiguidade,
(Lc. 1:68-69). Zacarias estava falando sobre a realidade da vinda de Cristo.
Deus nos visitou em seu Filho, Jesus Cristo. O Apóstolo confessou: “Vindo, porém,
a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a
lei, para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção
de filhos” (Gl. 4:4-5). Eis a “plena e poderosa salvação” . Cristo, mediante a
sua morte substitutiva, nos resgatou da lei e nos concedeu o poder de sermos
feitos filhos de Deus, (Jo. 1:12). Devemos meditar, ponderadamente, sobre a
maravilha dessas duas verdades. Todos nós nascemos debaixo da lei e da
condenação. Quando Cristo nos visitou, Ele nos resgatou e nos libertou dessa
condenação conduzindo-nos à vida eterna, onde somos reconhecidos como filhos,
membros da família celestial. “Graças, porém, a Deus, que, em Cristo, sempre
nos conduz em triunfo” (2. Co. 2:14).
Podemos
discernir a presença de Deus entre nós através de suas obras de providência. Como
o Ap. Paulo comentou: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer é manifesto
entre os homens, porque Deus lhes manifestou. Porque os atributos invisíveis de
Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua própria divindade, claramente
se reconhecem, deste o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas
que foram criadas” (Rm. 1:19-20). Assim, quando Cristo realizava milagres, a
presença de Deus se manifestava, fazendo o povo confessar: “Deus visitou o seu
povo” (Lc. 7:16). E, de modo semelhante, em relação aos gentios que ouviram e
acreditaram no Evangelho, a sua conversão foi reconhecida como uma obra de
Deus. Como o Ap. Pedro explicou: “Como Deus, primeiramente, visitou os gentios,
a fim de constituir dentre eles (os judeus) um povo para o seu nome” (At.
15:14). Juntamente com o Salmista, confessamos ao Senhor: “Tu visitas a terra e
a regas; tu a enriqueces copiosamente. (...) Coroas o ano da tua bondade; as
tuas pegadas destilam fartura” (Sl.65-9,11).
Conclusão:
Como são preciosas as verdades implícitas no versículo da nossa meditação. “Que
é o homem, que dele te lembres? E o filho do homem, que o visites?”. Embora
sejamos “mais amigos dos prazeres que amigos de Deus” (2Tm. 3:4), Ele se lembra
de nós, pois fomos criados à sua imagem e para a sua própria glória. Por isso,
Ele nos visitou com uma “plena e poderosa salvação”, “pela qual nos libertou do
império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl.
1:13). Sim, feliz a pessoa que pode confessar por experiência própria: “O
Senhor cuida de mim” – Ele se lembra de mim, (Sl.40:17).
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