Leitura Bíblica: Mateus 15: 21-29
Introdução:
A história da mulher cananéia foi incluída nas Escrituras Sagradas para nos
instruir quanto à natureza de uma fé verdadeira, a fé que é o dom de Deus, que
é dado a todos que crêem em Jesus Cristo. Essa fé, sendo o dom de Deus, nos dá
a capacidade para suportar todo tipo de provação, sem esmorecer e sem duvidar
do amor de Cristo para conosco.
A
importância da história está no fato de que ela descreve a fé de uma gentia, uma
mulher grega que não tinha a cultura religiosa dos judeus. Ela foi visitada
secretamente pelo Espírito Santo, de quem recebeu o dom de crer no poder
salvador de Jesus Cristo. Por causa dessa inspiração, ela veio a Jesus, fez o
seu pedido e recebeu a cura instantânea de sua filha.
Porém,
o caminho para o milagre foi sofrido e humilhante. Perguntamos: Por que Jesus
tratou a mulher daquela maneira? Não foi falta de interesse e nem ausência de
compaixão por ela ser uma gentia. Jesus agiu daquela forma porque Ele quis
descobrir a natureza da fé dela e fortalecê-la através de uma prova
manifestadora. O Ap. Pedro ensina que fé, testada por provações difíceis, torna-se
“muito mais preciosa do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde
em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” 1 Pe. 1:6-7. Certamente
esta mulher sentiu algo da preciosidade desse dom de Deus quando viu sua filha
em perfeita paz e saúde, “ pois o demônio a deixara” (Mc. 7:29-30).
A fé
desta mulher foi o dom de Deus, por isso ela veio a Jesus com uma atitude de
total confiança, acreditando que Ele teria compaixão dela. Estamos enfatizando
que a fé verdadeira é o dom de Deus, porque ninguém pode vir a Jesus, se, pelo
Pai, não lhe for concedido, (Jo. 6:65). A mulher cananéia veio a Jesus porque
tinha recebido esta fé que é o dom de Deus. Sobre essa verdade, o Ap. Paulo
escreveu: “Porque vos foi concedida a graça de padecerdes por Cristo e não
somente de crerdes nele” (Fl. 1:29).
Veja
como a fé dessa mulher manifestou-se como verídica, porque venceu todas as
formas negativas na provação a qual foi submetida. “Todo o que é nascido de
Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o
que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?” (1Jo.
5:4-5).
1.
A sua fé venceu o silêncio. “ E eis que uma mulher cananéia, que veio
daquelas regiões (de Tiro e Sidom), clamava: Senhor, Filho de Davi, tem
misericórdia de mim! Minha filha está horrivelmente endemoninhada. Ele, porém,
não lhe respondeu palavra” (vs 22-23). A mulher cananéia não foi a primeira
pessoa a enfrentar esse silêncio espiritual. Muitos séculos antes, Jó, temente
a Deus, experimentou o mesmo problema. Ele lamentava: “Eis que clamo:
Violência! Mas não sou ouvido, grito: Socorro! Porém, não há justiça” (Jó
19:7). E, pendurado na cruz, o próprio Filho de Deus teve que suportar esse
mesmo silêncio. “Deus meu, clamo de dia, e não me respondes; também de noite,
porém não tenho sossego” (Sl.. 22:2). Em ambos os casos, no momento certo, o
silêncio foi interrompido e Deus galardoou os seus servos de uma maneira rica e
generosa, (Jó 42:10-15; Sl 22:24). Mas,
o que aconteceu com a mulher cananéia? A sua fé não esmoreceu, pelo contrário,
dirigiu-se, esperançosamente, aos discípulos, pedindo-lhes a sua intercessão.
Porém, novamente, foi recusada. Os discípulos ficaram irritados com ela e
rogaram a Jesus: “Despede-a, pois vem clamando atrás de nós”.
Na
experiência dos cristãos, todos, em dados momentos, têm enfrentado a
perplexidade desse silêncio. Qual deve ser a nossa atitude? Talvez, em primeiro
lugar, devemos examinar a natureza do nosso pedido. Estamos orando segundo a
vontade de Deus? O nosso pedido está baseado no claro ensino das Escrituras
Sagradas? Deus ouve s somente as
orações que representam a sua vontade. “E esta é a confiança que temos para com
ele: que, se pedirmos alguma coisa segundo a sua vontade, ele nos ouve. E, se
sabemos que ele nos ouve quanto ao que lhe pedimos, estamos certos de que
obtemos os pedidos que lhe temos feito” (1Jo. 5:14-15). Contudo, mesmo sabendo
que a nossa oração é de acordo com a vontade de Deus, e ainda assim o silêncio
continua, deixamos a fé agir e imitamos o Salmista que se achou numa situação
semelhante: “De manhã te apresento a minha oração e fico esperando” (Sl. 5:3).
E, em outro Salmo, ele acrescenta: “Esperei confiantemente pelo Senhor; ele se
inclinou para mim e me ouviu quando clamei por socorro” (Sl. 40:1).
2.
A sua fé venceu o repúdio. Agora, em voz alta, Jesus passou a justificar o
seu silêncio: “Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel” (v 24).
Em primeiro instante, essa palavra justifica o seu aparente repúdio da mulher.
Mas, devemos entender que, aqui, Jesus entrou em território gentílico com um
propósito específico, não foi por acaso. Havia neste local uma mulher
necessitada e Jesus veio para cuidar dela. Em outra ocasião, Jesus fora à terra
dos gerasenos, outro local gentílico, com o fim específico de socorrer um homem
endemoninhado. Depois de libertar aquele infeliz, Jesus regressou para o seu
lugar entre os judeus (Mc. 5:1-20).
Ainda numa outra ocasião, a Bíblia registra outro desvio interessante
sobre as viagens de Jesus. “Era-lhe necessário atravessar a província de
Samaria”, uma terra que os judeus evitavam. Mas, por quê? Jesus queria falar
com uma outra pessoa necessitada, a conhecida mulher samaritana, (Jo. 4: 4-18,
39-42). Portanto, em nossa leitura, Jesus está nesse local gentílico com o fim
específico de socorrer essa mulher que tinha uma filha, que estava “horrivelmente
endemoninhada”, Então, por que esse aparente repúdio? Novamente, reafirmamos
que, nesse processo todo, Jesus está testando a natureza da fé dessa mulher. A
fé que vem de Deus não desfalece diante de circunstâncias negativas. Por isso,
vemos essa mulher firme em sua confiança na misericórdia de Jesus. Ela é
semelhante a Jacó que lutou com o anjo do Senhor a noite toda. E, quando o anjo
quis livrar-se dele, Jacó renovou seu
agarramento e gritou: “Não te deixarei ir se não me abençoares” (Gn. 32:26). A
Bíblia tem um versículo que pode ser aplicado a circunstâncias semelhantes
daquelas da mulher cananéia: “E não nos cansemos de fazer o bem (de permanecer
na oração), porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” ( Gl. 6:9).
Apesar das circunstâncias desanimadoras, a fé dessa mulher continua viva e
atuante, porque era o dom de Deus que operava nela.
3.
A sua fé venceu o impasse. Como é que a mulher cananéia reagiu diante deste
impasse: Jesus veio somente para as ovelhas perdidas de Israel? A sua confiança
na misericórdia infalível de Jesus não titubeou: “Ela, porém, veio e o adorou,
dizendo: Senhor, socorre-me!” (v 25). Ela não quis contestar as prioridades de
Jesus, mas, também, não quis desistir de seu pedido original. Ao renová-lo, ela
adotou uma atitude diferente, desta vez, prostrou-se aos pés de Jesus e o
adorou. Esse ato tem a força de uma confissão: Senhor, eu confio na tua
compaixão; creio que tu tens o poder e o desejo para me socorrer. Em todos os
casos de adoração na Bíblia, o adorador está reconhecendo e confessando que o
acontecimento, ou milagre, foi uma manifestação do poder de Deus. Quando Jesus
se apresentou ao cego de nascença, este creu na palavra ouvida e adorou a
Jesus, isto é, confessou a sua fé em Jesus como o Cristo e o Salvador de
pecadores, (Jo. 9:35-38). Nesse contexto, somos exortados: “Se, com a tua boca,
confessares Jesus como Senhor e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou
dentre os mortos, serás salvo. Porque com o coração se crê para justiça e com a
boca se confessa a respeito da salvação.
Porquanto a Escritura diz: Todo aquele que nele crê não será confundido” (Rm
10:9-11). A mulher cananéia creu desta maneira, por isso, jamais seria
confundida. Contudo, a sua fé seria sujeita a mais uma prova, e talvez, a mais
difícil.
4.
A sua a fé venceu a humilhação. Ninguém gosta de se sentir inferiorizado e
humilhado, contudo, essa mulher teve que vencer estas palavras cortantes que
Jesus proferiu. “Então ele (Jesus), respondendo, disse: Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos”
(v 26). Jesus está chamando a mulher de cachorrinho. Mas a palavra não é tão
ofensiva como parece. Os cachorrinhos eram bichos de estimação que viviam
dentro da casa de seus donos, e não os cachorros vira-latas que viviam nas ruas
sem dono. Qual foi a reação da mulher ao ouvir essa comparação? Em vez de ficar
indignada, ela resolveu usar a mesma palavra para a sua própria vantagem: Ela,
contudo, replicou: “Sim, Senhor, porém os cahorrinhos comem das migalhas que
caem da mesa de seus donos” (v 27). Parece que ela está dizendo: Sim, Senhor,
trate-me como um cachorrinho e deixe-me receber uma migalha do teu poder, tenha
compaixão de mim! A minha filha está horrivelmente endemoninhada, e tu és o
único que tens autoridade suficiente para libertá-la desse mal! Esta mulher
estava praticando um princípio fundamental das Escrituras Sagradas: “ Humilhai-vos,
portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos
exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de
vós” (1Pe. 5:6-7). Com essa demonstração da constância da sua fé, Jesus não
precisou de nenhuma outra prova quanto à veracidade da fé dessa mulher. Por
isso, cheio de admiração, exclamou: “Ó mulher, grande é a tua fé! Faça-se
contigo como queres. E, desde aquele momento, sua filha ficou sã” (v.28).
“Voltando ela para casa, achou a menina sobre a cama, pois o demônio a
deixara”. (Mc, 7:30). Sem desmaiar diante das provações difíceis as quais foi
submetida, essa mulher perseverou e recebeu a recompensa de sua fé – a salvação
de sua filha. “E esta é a vitória que vence o mundo (e qualquer tipo de
provação): a nossa fé” (1 Jo. 5:4).
Conclusão:
Como podemos descrever a origem da fé dessa mulher? Com segurança podemos dizer
que, de alguma maneira, ela ouviu acerca de Jesus e de como Ele tinha compaixão
dos necessitados. Essa notícia foi acompanhada do testemunho de pessoas que
ouviram as suas palavras e viram os seus milagres. Diante dessas evidências,
ela creu nele. A Bíblia ensina: “A fé vem pela pregação, e a pregação, pela
palavra de Cristo” (Rm. 10:17). Nós, também, se crermos no evangelho de Jesus
Cristo, receberemos a mesma fé que a mulher cananéia recebeu. O primeiro passo
para receber qualquer benefício espiritual é crer. Como a Bíblia ensina: “ É
necessário que aquele que se aproxima de Deus
creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam” (Hb.
11:6). Que cada um de nós possamos exercer a mesma fé que a mulher cananéia
teve e, com certeza, alcançaremos vitórias semelhantes. Que seja assim.
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