Leitura
Bíblica:
Introdução:
A história desta mulher foi registrada em três dos Evangelhos: Mateus, Marcos e
João. Com os dados colhidos, entendemos que Jesus e seus discípulos foram
convidados para um jantar organizado na casa de Simão, o leproso, que desejava
demonstrar a sua gratidão a Jesus pela purificação recebida. Além de Jesus e
seus discípulos, foram convidados também Lázaro, ressuscitado dentre os mortos,
e as suas duas irmãs, Marta e Maria. Todos têm seus motivos para agradecer a
Deus: Simão, não mais leproso, reintegrado na vida social, podia convidar
amigos para sua casa; Lázaro, agora com uma nova compreensão do valor da sua
vida; e, Marta e Maria, abençoadas de maneira especial com as visitas de Jesus
quando Ele passava por Betânia.
Todos
os homens estavam à mesa, o jantar foi servido, o ambiente era festivo e, pelas
conversas animadas, um clima de gratidão impregnava a sala. De repente, Maria,
querendo demonstrar a sua gratidão e amor a Jesus de uma maneira mais
expressiva, trouxe “um vaso de alabastro cheio de precioso bálsamo, que lhe
derramou sobre a cabeça, estando ele (Jesus) à mesa”.
Vamos
estudar esse ato e as reações que ele provocou, e, ao mesmo tempo, colher
algumas lições importantes para a nossa vida.
1.
Esse ato foi Revelador. Revelou a intensidade do amor de Maria e a
abnegação da sua dedicação a Jesus. De onde ela adquiriu essa disposição
espiritual? Quando Jesus passava na sua casa, em vez de ocupar-se com limpezas
e comidas, “quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos”
(Lc. 10:39). É necessário deixar as atividades do dia de lado quando queremos
passar um tempo aprendendo dos ensinamentos das Escrituras Sagradas. Esse
princípio foi praticado pelos piedosos do Antigo Testamento. Moisés confessou
ao Senhor: “Na verdade, amas os povos, todos os teus santos estão na tua mão;
eles se colocam aos teus pés e aprendem das tuas palavras” (Dt. 33:3). O nosso
culto doméstico deve ser observado desta maneira: dedicando um tempo
especifico, cada dia, para cantar hinos, ler a bíblia e orar. Com esse costume,
cresceremos na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Quais
foram os ensinamentos que Maria recebia dos lábios do Senhor? Embora a Bíblia
não ofereça um exemplo, cremos que Ele repetia alguns dos seus ensinamentos
públicos. Naquela ocasião, Jesus estava vivendo a última semana de sua vida
aqui na terra. Ele já falava com seus discípulos sobre a iminência da sua morte
e, agora, na presença de Maria, Ele repetiu a mesma verdade. Podemos imaginar
Maria exclamando: Mas, Senhor, por quê? Ao que Jesus podia ter respondido:
“Pois o próprio Filho do homem não veio para ser servido, mas para servir e dar
a sua vida em resgate por muitos” (Mc. 10:45). Cremos que Jesus passou a
explicar o aspecto substitutivo da sua morte. Em vez do pecador sofrer a
sentença da lei e receber o salário do
seu pecado, Jesus pagaria toda a dívida em seu lugar. Talvez Ele citou a
profecia de Isaías para substanciar a sua afirmação: “ Todos nós andávamos
desgarrados como ovelhas; cada um se desviava pelo caminho, mas o Senhor fez
cair sobre ele a iniqüidade de nós todos” (Is. 53:6). Maria estava entendendo
como ela mesma seria salva mediante a morte de Cristo, passando a confessar: O Senhor
Jesus me amou e a si mesmo se entregou por mim.
Consciente
da sua salvação eterna (Hb. 5:9), possivelmente, Maria fez a mesma pergunta do
Salmista: “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?” (Sl.
116:12). Ela não quis lhe dar algo que não custasse nada, por isso, lembrou do
“vaso de alabastro cheio de precioso bálsamo”. Sim, foi uma oferta magnânima,
mas o amor não pode ser medido em termos de dinheiro; o amor conhece limites, o
amor oferece o melhor de tudo o que possui. Afinal, Jesus deu o seu tudo por
nós, tendo dado a sua vida, Ele deu tudo o que possuía. Em termos práticos, o
que devemos oferecer a Jesus? O Ap. Paulo responde: “ Rogo-vos, pois, irmãos,
pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo,
santo e agradável a Deus, que é o vosso
culto racional”. E como podemos fazer isso? Mediante uma consagração
irrestrita. “E não vos conformeis com esse século, mas transformai-vos pela
renovação da vossa mente, para que
experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm.
12:1-2). Esse tipo de amor sempre requer uma abnegação da nossa parte.
2.
Esse ato causou Revolta. Os discípulos, liderados por Judas Iscariotes,
ficaram revoltados com a extravagância do ato de Maria. “Vendo isto,
indignaram-se os discípulos e disseram: Para que este desperdício? Pois este
perfume podia ser vendido por muito dinheiro e dar-se aos pobres.” Parece ser
um raciocínio piedoso, porém, antes de dar a nossa anuência aos discípulos,
devemos perguntar: Aquele perfume foi derramado sobre quem? Foi despejado sobre
o corpo de Jesus Cristo, aquele que nos amou e a si mesmo se entregou por nós,
pecadores condenados à morte eterna, para que pudéssemos ser redimidos,
perdoados e abençoados com vida na presença de Deus. Gratidão por tais
benefícios não se paga com moedas de prata. O valor da nossa oferta deve
corresponder ao preço da benção que recebemos. É difícil compreender como Judas
podia ser tão mesquinho na presença do seu Senhor!
Devemos
tentar analisar os motivos da reação de Judas. Por que ele levantou a sua voz
contra a devoção de Maria? Eis o que ele disse: “Por que não se vendeu o
perfume por trezentos denários e não se deu aos pobres?” Agora, vamos ouvir o
comentário do Ap. João: “Isto disse ele, não porque tivesse cuidado dos pobres;
mas porque era ladrão e, tendo a bolsa, tirava o que nela se lançava” (Jo.
12:5-6). Evidentemente, Judas estava lamentando a perda de uma oportunidade
para pilhar um dinheiro fácil. A cobiça continua sendo a raiz de toda sorte de
corrupção moral. “ Então, a cobiça, depois de haver concebido, dá à luz o
pecado; e o pecado, uma vez consumado, gera a morte” (Tg. 1:15). Vamos nos
lembrar do fim tormentoso de Judas Iscariotes, (Mt. 27:3-5). A atitude de Judas
tornou-se ainda mais odiosa porque estava querendo lançar mão sobre o que foi oferecido a seu
Senhor. Além disso, ele estava julgando e condenando a dedicação de uma pessoa
que amava desprendidamente a Jesus Cristo. Assim, com palavras mentirosas e
hipócritas, Judas tentava encobrir a sua própria falta de dedicação a Jesus
Cristo.
O
mau costume de julgar e condenar o zelo de certos cristãos que procuram dedicar
a totalidade de sua vida ao serviço de Deus continua evidente em nossos dias. A
ordem do Senhor é esta: “Não toqueis nos meus ungidos, nem maltrateis os meus
profetas” (Sl. 105:15). O zelo do seu povo é como uma boa ação, agradável aos
olhos do Senhor. Parece que a abnegação
desses servos zelosos irrita os descomprometidos. Por que Judas Iscariotes
ficou tão indignado com a devoção e o amor de Maria a seu Senhor e Salvador?
Judas estava vendo em Maria uma dedicação que ele não tinha, e a sua
consciência estava repreendendo a sua hipocrisia. Por que os fariseus
levantaram tamanha oposição contra a pessoa de Jesus Cristo e o seu trabalho?
Porque eles reconheceram que Jesus era fiel a Deus em seu ministério. Essa
verdade trouxe à luz a hipocrisia desses homens e a sua consciência os acusava.
E, querendo abafar essa voz acusadora, fizeram tudo ao seu alcance para silenciar
e desacreditar a voz de Cristo, ou pela perseguição, ou pela morte. O Ap.
Paulo, antes da sua conversão, conhecia o terror de uma consciência acusadora,
por isso, Cristo lhe disse: “Dura cousa é recalcitrares contra os aguilhões”
(At. 26:14). Em vez de resistir o Espírito Santo, que fala através da
consciência, é melhor submeter-se e seguir o bom exemplo dos piedosos, como
fizeram os tessalonicenses: “Com efeito, vos tornastes imitadores nossos e do
Senhor, tendo recebido a palavra, posto em meio de muita tribulação, com
alegria do Espírito Santo, de sorte que vos tornastes o modelo para todos os
crentes na Macedônia e na Acaia” (1 Ts. 1:6-7).
3.
Esse ato foi Revivente. Qual foi a reação de Jesus diante daquela cena
molestadora? “Por que molestais esta mulher?” Em seguida, Jesus justificou o
procedimento de Maria com uma defesa quádrupla, da qual podemos observar:
a)
Maria “praticou uma boa ação” para com Jesus. Ações espontâneas, quando não
condenadas na lei de Deus, tornam-se boas ações se forem inspiradas por um amor
sincero. Maria foi movida por um amor ilimitado a Jesus e foi elogiada por sua
voluntariedade. Todas as nossas ações devem redundar para a glória de Deus,
(1Co. 10:31). O Senhor Jesus reconheceu que Maria estava exaltando a sua Pessoa
através desse ato. Será que estamos fazendo coisas para exaltar aquele que nos
amou e a si mesmo se entregou por nós?
b) A
Pessoa de Cristo é mais prioritária do que as necessidades imediatas de
qualquer pobre. “Por que os pobres sempre tendes convosco, mas a mim nem sempre
me tendes”. A prática de boas ações deve obedecer às normas de precedência.
Alguns casos podem aguardar uma outra oportunidade, porém, existem situações
que pedem uma ação imediata. Maria reconheceu que não teria outra oportunidade
para demonstrar o seu amor a Jesus. Maria acreditou na morte iminente de Jesus,
como Ele mesmo lhe dissera, por isso, a repentinidade da sua ação. Temos que
discernir o momento mais propício para praticar uma boa ação. Maria teve esse
discernimento.
c) A
ação de Maria demonstrou uma percepção espiritual. “Pois derramando este
perfume sobre o meu corpo, ela o fez para o meu sepultamento.” Ela acreditou na
palavra que Jesus lhe ensinara quanto à
sua morte vicária e o seu sepultamento, por isso, resolveu agir de acordo com o seu conhecimento,
agradecendo a Jesus por sua morte substitutiva. Em vez de esperar até depois da
sua morte, ela antecipou a manifestação de seu amor e o derramou sobre Jesus
enquanto Ele ainda estava com vida. É uma futilidade demonstrar o nosso amor a
um defunto, pois ele não tem mais consciência do nosso interesse.
d)
Jesus quis que esse ato de Maria fosse lembrado
durante todo o tempo enquanto o Evangelho for pregado. “Em verdade vos
digo: Onde for pregado o evangelho, será também contado o que ela fez para
memória sua”. Maria deixou para nós todos
um exemplo de como podemos demonstrar o nosso amor a Jesus Cristo. Hoje
é o dia mais aceitável, porque o amanhã pode ser tarde demais. O Ap. Paulo
elogiou os Tessalonicenses por causa da constante evidência da abnegação de seu
amor a Cristo. Que, através da espontaneidade do nosso amor a Cristo, possamos
deixar um exemplo para aqueles que estão nos seguindo na vida cristã.
Conclusão:
A história de como Maria ungiu o corpo de Jesus foi registrada nas Escrituras
Sagradas para nos ensinar a importância de oferecer a Cristo um amor espontâneo
e desprendido. Boas ações, por si, não têm nenhum valor espiritual se não forem
motivadas por um amor sincero. “Ainda que eu tenha tamanha fé, a ponto de
transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que distribua todos
os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser
queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1 Co. 13:2-3).
As
boas ações devem revelar o nosso amor a Cristo. Ele mesmo ensinou: “Em verdade
vos afirmo que, sempre que o fizestes (uma boa ação) a um destes meus
pequeninos irmãos, a mim o fizestes” (Mt. 25:40). Mesmo que alguns fiquem escandalizados com a abnegação
da nossa oferta, Cristo sempre tem palavras viventes para nos encorajar. A
exortação é esta: “E não nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo
ceifaremos, se não desfalecermos” (Gl. 6:9).
Rev. Ivan G. G. Ross
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