Vasos de Honra

segunda-feira, 10 de março de 2014

UM TESTEMUNHO





Em breve estaremos completando cinquenta anos de casamento. No processo de planejar para este enlace abençoado, escolhemos Salmo 48:14 para nos servir como insígnia de orientação conjugal. “Porque este Deus é o nosso Deus para sempre; ele será o nosso guia até a morte”. Em nosso casamento, não iríamos seguir uma filosofia humanística, pelo contrário, serviríamos o Deus específico, o Criador do céu e da terra, o Deus que se tornou nosso Salvador. O nosso serviço a este Deus não seria algo esporádico ou limitado a momentos de conveniência, antes, Ele receberia o nosso serviço de uma maneira ininterrupta e para sempre. Mas, para manter uma constância nesses dois princípios, reconhecemos que, de nós mesmos, não teríamos forças suficientes; por isso, lançando toda a nossa dependência sobre a graça superabundante deste Deus, declaramos, pela fé, que Ele seria o nosso Guia até a morte. E, tantos anos mais tarde, testemunhamos que Deus é fiel, porque a sua misericórdia dura para sempre.

Agora, vamos examinar este versículo mais detalhadamente, para que possamos sentir o impacto destes três princípios sobre a nossa vida.

1. A Identidade deste Deus. “Porque este Deus é o nosso Deus”. Mas, quem é este Deus? “Ele é o criador de todas as coisas,... Senhor dos Exércitos é o seu nome” (Jr. 10:16). Ele é o Deus da aliança, aquele que se comprometeu com o seu povo, dando-lhe esta promessa: “Eu serei o seu Deus, e eles serão o meu povo” (Hb. 8:10). Ele é o Deus que cuida do seu povo, suprindo cada uma de suas necessidades; um Deus digno de toda a nossa confiança.

Queremos conhecer esse Deus mais de perto, mas, como? Somos dependentes da sua própria auto-revelação. De certa feita, Moisés pediu ao Senhor: “Rogo-te que me mostre a tua glória” (Ex. 33:18). “Tendo o Senhor descido na nuvem, ali esteve junto de Moisés e proclamou o nome do Senhor. E, passando o Senhor por diante de Moisés, clamou: Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, que perdoa a iniquidade (a perversidade), a transgressão (a desobediência) e o pecado (as falhas e imperfeições), ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniquidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos até a terceira e quarta geração” (Ex. 34:5-7). Deus é conhecido por causa da auto-revelação de seus atributos. O Ap. Paulo declarou: “ Porque os atributos invisíveis de Deus, assim como o seu poder como também a sua própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo percebidos por meio das coisas que foram criadas . Tais homens são, por isso, indesculpáveis” (Rm. 1:20). Deus não nos deixou  sem evidências, pois, “o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre os homens, porque Deus lhes manifestou” (At. 14:17, Rm. 1:19).

Vamos resumir o sentido dos atributos que foram revelados a Moisés: a) Deus é acessível e misericordioso. “Como pai se compadece de seus filhos, assim o Senhor se compadece dos que o temem. Pois ele conhece a nossa estrutura e sabe que somos pó” (Sl. 103: 13-14). b) Deus é perdoador. Ele perdoa todas as perversidades, todas as desobediências e todas as falhas e imperfeições de seus redimidos. c) Ele distingue entre o justo e o injusto. “Pois o Senhor conhece o caminho dos justos, mas o caminho dos ímpios perecerá” (Sl. 1:6). Por causa dessa diferença entre os homens, Deus “estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio de um varão (Jesus Cristo) que destinou e acreditou diante de todos, ressuscitando-o dentre os mortos” (At. 17:31). “E irão estes (os ímpios) para o castigo eterno, porém, os justos, para a vida eterna” (Mt. 25:46). Perguntamos: Como pode Deus perdoar o culpado? O Ap. Paulo resumiu essa possibilidade, dizendo: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm. 5:8). “Assim, em Cristo, todos os que crêem em sua morte substitutiva têm a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef. 1:7).

2. A Idealidade deste Deus. “Porque este Deus é o nosso Deus para sempre”. À luz desta auto-revelação de Deus, qual é a sua idealidade a nosso respeito? Que sejamos agradecidos. Ele prometeu ser o nosso Deus, e nós correspondemos, dizendo: “Tu és o meu Deus” (Sl. 31:14). O Ap. Paulo resumiu o conceito dessa reciprocidade, dizendo: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm. 12:1-2). Quando assumimos o compromisso para servir ao Deus vivo e verdadeiro, é “para sempre”. Cristo disse: “Ninguém que, tendo posto a mão no arado, olha para trás é apto para o reino de Deus” (Lc. 9:62). Por isso, temos que compreender o que está implícito nesse apelo do apóstolo:

a)  Consagração é a maneira bíblica para expressar a nossa gratidão a Deus por todas as misericórdias que Ele tem usado em nosso favor. O Salmista perguntou: “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?” (Sl. 116:12). A consciência de que temos recebido, gratuitamente, muitos benefícios, pede uma resposta da nossa parte. E, embora sabemos que jamais poderemos retribuir convenientemente, temos que corresponder de alguma forma. Mas, como? O Salmista nos deu a resposta: “Oferecer-te-ei sacrifícios de ações de graças e invocarei o nome do Senhor”, cultivando uma comunhão espiritual com Ele, (Sl. 116:17).

b) Consagração significa que apresentamos o nosso corpo a Deus como sacrifício vivo, isto é, estar disposto a se gastar no serviço de Deus. Quando o Ap. Paulo reconheceu a atuação de Deus em sua vida, ele logo perguntou: “Que farei, Senhor?” A resposta pode ser resumida assim: “Levanta-te e faça tudo o que eu te ordeno” (At. 22:10). Mais tarde, testemunhando aos Coríntios sobre a sua consagração à vontade de Deus, o Apóstolo disse: “Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei  gastar em prol da vossa alma. Se mais vos amo (como Deus ordena), serei menos amado?” (2 Co. 12:15). Cristo disse: “Se alguém quer vir após mim, a si mesmo se negue, toma a sua cruz (as consequências negativas que acompanham uma vida entregue a Cristo) e siga-me” (Mt. 16:24).

c) Esta consagração como parte do nosso culto racional envolve uma certa abnegação da nossa parte. Existem pessoas “de ânimo dobre” (Tg 1:8); ou, de “coração fingido” (Sl. 12:2); que querem os benefícios da vida cristã e, ao mesmo tempo, os prazeres deste mundo. O culto que essas pessoas oferecem a Deus é uma adoração hipócrita e uma perversão espiritual. O culto sincero envolve uma abnegação decidida, uma escolha entre duas opções. “Ninguém pode servir a dois senhores (...) Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt. 6:24). A ordem é esta: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu entendimento; e: amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Lc. 10:27).

d) Consagração necessita de duas atitudes: afastamento dos prazeres pecaminosos deste século; e, a renovação da nossa mente pelo estudo e prática das Escrituras Sagradas. Em vez de desperdiçar o nosso tempo com frivolidades, devemos dar mais espaço à leitura, guardando a palavra de Deus em nosso coração para não pecar contra Ele. E, a maneira acessível para receber esta bem-aventurança é a prática diária do culto doméstico, um tempo específico dedicado à leitura da Bíblia e à oração.

e) Quando nós somos consagrados a Deus e usamos os meios da graça como convém, teremos condições para discernir e experimentar qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus. A nossa disposição espiritual tem que ser semelhante àquela do Senhor Jesus Cristo: “Agrada-me fazer a tua vontade, ó Deus meu, dentro do meu coração, está a tua lei” (Sl. 40:8). E, durante o longo dos anos, o nosso testemunho é este: “Quanto amo a tua lei! É a minha meditação, todo o dia!” (Sl. 119: 97).

3. A Idoneidade deste Deus. “Ele será o nosso guia até a morte”. Fizemos esta afirmação porque Ele é o Deus que assumiu o compromisso de suprir cada uma das nossas necessidades. Quando falamos da idoneidade do nosso Deus, estamos testemunhando da nossa confiança em sua sabedoria para nos guiar através dos caminhos escuros desta vida. Por isso, clamamos constantemente e urgentemente: “Guia-me na Tua verdade, e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação, em quem eu espero todo o dia” (Sl. 25:5)

Estamos sempre recebendo notícias negativas, que nos dão uma certa insegurança e um tipo de receio no coração. Mas, nestas circunstâncias, a nossa fé nos ampara. Dirimo-nos ao Senhor e à sua promessa, confessando: “Tu me guias com o teu conselho e depois me recebes na glória” (Sl. 73:24). Ele nos guia usando meios acessíveis, tais como portas de livramento (ICo. 10:13), mas, especificamente, mediante os conselhos que se encontram nas Escrituras Sagradas. Por isso, voltamos a falar sobre a importância de estarmos em contato diário coma Palavra de Deus. Como podemos receber um conselho necessário, sem estar em comunhão com a Bíblia? Como podemos ser recebidos na glória ou ser premiados com a cora da vitória, sem conhecer os conselhos do Senhor? Desde o primeiro dia do nosso casamento, temos nos esforçado para praticar, todos os dias, o culto doméstico, desfrutando contato espiritual com os conselhos nas Escrituras Sagradas. Apesar de falhas comuns da natureza humana, Deus tem sido fiel, Ele tem nos guiado segundo a sua promessa.

Qual é o requisito necessário a fim de ser guiado por Deus em nossa vida? Temos que nos humilhar e reconhecer que, sem o auxílio divino, não conseguimos acertar nada com a devida perfeição. O Ap. Pedro nos deu esta exortação: “Humilhai-vos, portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que ele, em tempo oportuno, vos exalte, lançando sobre ele toda a vossa ansiedade, porque ele tem cuidado de vós” (IPe. 5:6-7). Este mesmo Apóstolo, quando confiou, orgulhosamente, em seu próprio poder para ser fiel ao Senhor, caiu vergonhosamente, traindo o seu Senhor. A palavra do Sábio continua sendo relevante: “A soberba precede a ruína, e a altivez do espírito, a queda” (Pv.16:18). Muitas infelicidades poderiam ser evitadas se houvesse mais humildade e o reconhecimento da necessidade de clamar ao Senhor: “Guia-me na tua verdade e ensina-me, porque tu és o Deus da minha salvação, em quem eu espero todo o dia” (Sl. 25:5). O nosso Deus tem a idoneidade suficiente para nos guiar no caminho que devemos andar. Basta entregar a nossa direção a Ele.


Conclusão: O nosso Deus tem uma identidade verificável. Ele é o nosso Criador e Salvador. Ele tem uma idealidade para cada um de nós. Ele quer ser o nosso Deus para todo o sempre. E, o nosso Deus tem uma idoneidade perfeita,  Ele quer ser o nosso Guia até a morte. Basta confiar a nossa vida aos cuidados dele. Amém.


Rev. Ivan G. G. Ross

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