Cristo
disse: “Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor. Lembra-te,
pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras; e, se
não, venho a ti e removerei do seu lugar o teu candeeiro, caso não te arrependas”
(Apocalipse 2:4-5).
Nos
Evangelhos, vemos Cristo ensinando e lançando os alicerces para a sua Igreja.
No livro do Apocalipse, vemos Cristo vigiando, governando e corrigindo a sua
Igreja, já estabelecida. No primeiro capítulo desse livro, vemos Cristo em toda
a sua majestade, andando no meio de suas Igrejas, tomando conhecimento de tudo
o que acontece na vida de seu povo. As suas palavras: “Conheço as tuas obras”
são repetidas sete vezes para que possamos sentir e tremer diante da totalidade
e da inerrância desse conhecimento. Seus olhos, “como chama de fogo”, vêem, não
apenas os atos externos dos homens, mas, também, os pensamentos escondidos de
seu coração. As palavras que saem da sua boca são como “uma afiada espada de
dois gumes”, cada uma revelando a sua autoridade soberana e imperturbável. Tudo
o que Ele fala às igrejas é fundamentado sobre a sua onisciência global e de
acordo com os princípios de uma justiça santíssima.
No
entanto, devemos fazer uma pergunta oportuna: O que é que Cristo procura em
nossa vida? Sem dúvida alguma, Ele quer saber se nós O amamos como convém.
Quando Jesus interrogou o Ap. Pedro, a pergunta foi esta: “Simão, filho de
João, amas-me mais do que estes outros”, mais do que todos os seus outros
interesses? Eis o mandamento: “Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o teu
coração, de toda a tua alma, de todas as tuas forças e de todo o teu
entendimento” (Lc. 10:27). Aquele que ama de verdade não pode dividir o seu coração
com outros interesses. O apelo é este: “Dá-me, filho meu, o teu coração”, a
totalidade da sua vida (Pv. 23:26). Nesse contexto, podemos perceber o pesar
que Cristo sentiu quando disse à Igreja em Éfeso: “Tenho, porém, contra ti que
abandonaste o teu primeiro amor.” A Igreja tinha um amor no princípio, mas, agora, aquele interesse inicial fora abandonado. O que aconteceu?
1.
Houve uma Excitação. Todos nós (os que são nascidos de novo) estamos
lembrando da excitação (empolgação) que sentimos quando recebemos Jesus Cristo
como o nosso Senhor e Salvador. Ao reconhecer que Cristo me amou e a si mesmo
se entregou por mim, o meu coração se abriu para Ele, confessando: “Eis aqui
estou para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb. 10:9). E, a partir desse momento,
Cristo derramou sobre a minha vida “toda sorte de benção espiritual” (Ef. 1:3).
Ele me levantou para que eu pudesse viver “em novidade de vida” (Rm. 6:4).
Quais
são algumas dessas bênçãos? Entre as muitas, mencionamos apenas quatro:
Primeira: A culpa dos nossos pecados foi
retirada da nossa consciência. Não apenas o perdão de todos os nossos pecados,
mas, também, a culpa, aquele senso de incriminação que perturba a nossa
tranquilidade espiritual. “Bem aventurado aquele cuja iniquidade é perdoada,
cujo pecado é coberto” (Sl. 32:1).
Segunda:
A nossa natureza original foi renovada e santificada. “Tais fostes alguns de vós
(praticantes de torpeza); mas vós vos lavastes, mas fostes santificados, mas
fostes justificados em o nome do Senhor Jesus Cristo e no Espírito do nosso
Deus” (1 Co. 6:11).
Terceira:
Fomos recebidos na família de Deus por adoção. “Vede que grande amor nos tem
concedido o Pai, a ponto de sermos chamados filhos de Deus, e, de fato, somos
filhos de Deus” (1 Jo. 3:1).
Quarta:
Recebemos uma herança eterna. “Pois a nossa pátria está nos céus, de onde também
aguardamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, o qual transformará o nosso corpo
de humilhação, para ser igual ao corpo da sua glória” (Cl. 3:20-21).
Qual
foi o efeito dessas bênçãos sobre a nossa vida moral e espiritual? Fomos
elevados para amar sinceramente o nosso Senhor Jesus Cristo. Ele mesmo disse:
“Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo. 14:15). E o Ap. Paulo
acrescentou: “O cumprimento da lei é o amor” (Rm. 13:10). Por causa de seu amor
a Cristo, o Ap. Paulo desprezou toda a sua herança de valores carnais,
considerando-os “como refugo, para conseguir Cristo e ser achado nele” (Fl.
3:7-9). Apesar das tentações para vacilar em nosso amor, o nosso dever e a
fonte da nossa segurança espiritual são que continuemos fiéis a Cristo. Ele é o
nosso primeiro amor.
2.
Houve uma Exclusão. Por alguma razão, o amor a Cristo, como prioridade na
vida da Igreja, foi excluído; outras preferências assumiram o seu lugar. O
texto fala de uma queda, de algo específico que aconteceu: “Lembra-te, pois, de
onde caíste”. Oferecemos algumas causas possíveis dessa queda:
a) O
Perigo do pecado específico, ou seja, da prática de algo que apagou o amor a
Cristo. O sexo ilícito em todas as suas formas, virtual, real e pornografia é
um dos pecados principais que afasta o transgressor do seu amor a Cristo. É
humano pecar, porém, em vez de reconhecer e abandonar o delito, a tendência é
continuar no pecado em vez de seguir fielmente a Cristo.
b) O
Perigo de doutrinas estranhas. Esse foi o problema que entrou na Igreja da
Galácia. Em vez de confiar em Jesus Cristo e este crucificado para alcançar a
vida eterna, as Igrejas estavam sendo assediadas para regressar e confiar nas
obras da lei, a fim de alcançar a certeza da salvação. Elas não deram ouvidos à
advertência, “que ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei”
(Rm. 3:20). Se alguém voltar às obras da lei, a fim de ajudar na aquisição da
vida eterna, além de desprezar a suficiência total do sacrifício de Jesus
Cristo, está se desligando dele, (Gl. 5:1-4).
c) O
perigo do mundanismo. Apesar de ter recebido Cristo com amor, “os cuidados do
mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra e fica infrutífera” (Mt.
13:22). Cristo tem que ocupar a totalidade da nossa vida; e, quando nós O
amamos, nós O seguimos espontaneamente, sem considerar o preço.
d) O
perigo de desânimo espiritual. Ninguém é feito de ferro. A iniquidade está se
multiplicando e chegando cada vez mais perto de nós. Crimes horríveis são
praticados e ficam impunes. E, dentro da própria Igreja de Deus, existem
escândalos e práticas litúrgicas que ferem os princípios bíblicos, mas os
responsáveis pela pureza da Igreja não querem corrigir os erros e tudo fica por
isso mesmo. Qual é o efeito dessas mudanças sobre a vida espiritual? Sentimos
tentados a desistir de tudo. Cristo predisse: “E, por se multiplicar a
iniquidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que perseverar
até o fim, esse será salvo” (Mt.24:12-13). Por causa da iniquidade que impera
por toda parte, devemos vigiar e discernir para que não caiamos no desânimo
espiritual. Que Cristo nos sustente em todas as nossas perplexidades.
3.
Houve uma Exortação. Quando percebemos que o nosso amor a Cristo está se
esfriando, temos que tomar medidas urgentes a fim de voltarmos ao primeiro
amor. Cristo nos ensina o que devemos fazer:
a)
Temos que descobrir e nomear o pecado que está causando a frieza espiritual.
Como? Praticando o seguinte auto-exame: Estou praticando uma coisa que fere a
santa lei de Deus? Um caso sexual? A busca de fantasias virtuais na
pornografia, ou nas revistas ou internet? Tenho uma rixa contra alguém? Estou
deixando de confiar na unicidade e suficiência de Cristo para me salvar, ou
estou tentando ajudá-lo com obras de merecimento? Estou me envolvendo
excessivamente nos interesses deste mundo, a ponto de não ter tempo suficiente
para demonstrar o meu amor a Cristo através de atos devocionais todos os dias?
Em vez de estar olhando firmemente para Cristo, estou perdendo tempo olhando
para os acontecimentos negativos deste mundo e deixando o desânimo tomar conta
do meu ser?
b) Temos
que confessar o pecado causador desse esfriamento e abandoná-lo. Somos
exortados: “Arrependei-vos, pois, e convertei-vos para serem cancelados os
vossos pecados, a fim de que, da presença do Senhor venham tempos de refrigério”
(At. 3:19-20). Sem a confissão e o abandono do pecado, esses “tempos de
refrigério” jamais serão experimentados.
c) Temos que reativar o nosso amor a
Cristo, voltando a praticar as primeiras obras que demonstraram o nosso zelo
espiritual.
Quais
são as consequências de não voltarmos à prática das primeiras obras no nosso
amor? Cristo responde: “Venho a ti e removerei do seu lugar o teu candeeiro,
caso não te arrependas”. Essa advertência não é dada para por em dúvida a
certeza da nossa salvação, antes, para mostrar o perigo da presunção, uma fé
sem os frutos do nosso amor a Cristo. “Aquele que diz que permanece nele, esse
deve andar assim como ele andou” (1. Jo. 2:6).
Conclusão:
Devemos sempre manter diante dos nossos olhos a visão de Cristo andando no meio
das Igrejas, tomando conhecimento de tudo o que se passa na vida de suas
Igrejas. Que Ele possa sentir que o nosso primeiro amor a Ele continua com
todas as evidências de uma devoção inabalável.
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