“E
todos nós, com rosto (entendimento) desvendado, contemplando, como por espelho,
a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria
imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2 Co. 3:18).
Introdução:
O contexto desse versículo se encontra em Êxodo 34:29-35. Moisés “esteve com o
Senhor quarenta dias e quarenta noites, não comeu pão, nem bebeu água; e
escreveu nas tábuas as palavras da aliança, as dez palavras (...). Quando
desceu do monte, não sabia Moisés que a pele do seu rosto resplandecia, depois
de haver Deus falado com ele” (Ex. 34:28-29). Parte da benção sacerdotal
impetra: “O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia
de ti” (Nm. 6:25). Quando estamos em plena comunhão com Deus, seu rosto
resplandece sobre nós, e o efeito é semelhante ao que aconteceu com Moisés: o
nosso rosto, ou melhor, o nosso entendimento brilha com a maravilha das
palavras “da aliança”, as promessas de um Salvador.
Mas
a história de Moisés continua, descrevendo como os filhos de Israel reagiram ao
vê-lo. “Eis que resplandecia a pele do seu rosto; e temeram chegar-se a ele”.
Por que esse medo? A santidade do Senhor se manifestou, uma santidade que o
povo não quis conhecer e nem adotar. Por isso, quando Moisés falava com o povo,
ficou constrangido e “ pôs um véu sobre seu rosto”. Esse véu, que não deixou o
povo contemplar a glória do Senhor que se manifestava mediante a proclamação da
sua palavra, deve ser visto como um castigo judicial, por causa da rebelião e
incredulidade deles. O profeta Isaías recebeu esta ordem: “Vai a este povo e
dize-lhe: De ouvido, ouvireis e não entendereis; vendo, vereis e não
percebereis. Porquanto o coração deste povo se tornou endurecido; com os
ouvidos ouviram tardiamente e fecharam os olhos, para que jamais vejam com os
olhos, nem ouçam com os ouvidos, para que não entendam com o coração, e se
convertam, e por mim sejam curados” (At. 28:26-27). O Ap. Paulo ofereceu esta
interpretação inspirada: “Mas o sentindo deles se embotaram (se insensibilizaram).
Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da Antiga Aliança, o mesmo véu
permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido. Mas até hoje,
quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Quando, porém,
algum deles se converte ao Senhor, o véu é retirado” (2Co. 3:14-16). Agora,
podemos perceber melhor a importância do V. 18 da nossa leitura.
1. O
Entendimento Desvendado. “E todos nós, com o rosto (entendimento) desvendado,
contemplando, como por espelho, a glória do Senhor”. O véu foi retirado do
nosso entendimento quando o Espírito Santo nos converteu a Jesus Cristo.
Conversão
é uma meia volta: em vez de servirmos a nós mesmos, viramos, e passamos a
servir o Deus verdadeiro. Conversão é arrepender-se dos pecados, abandonando-os
para que possamos praticar o que Deus tem prescrito para nós nas Escrituras
Sagradas. Conversão é deixar de ser incrédulo, é deixar de confiar em nossos
próprios méritos, a fim de acreditar na providência de Deus para a nossa
salvação. Jesus Cristo é essa providência. Temos que reconhecer a seriedade
desse ponto, porque, como Cristo afirmou: “Se não credes que Eu Sou (o
prometido Messias e Salvador) morrereis em vossos pecados” (Jo. 8:24).
O
Apóstolo faz referência às limitações da nossa compreensão espiritual. Vemos “como
espelho”, como se estivéssemos contemplando o nosso rosto refletido na água.
Reconhecemos a realidade, porém, nem sempre com a devida clareza. Contudo,
apesar dessa limitação, reconhecemos “a glória de Deus”, que é a pessoa de
Jesus Cristo. Através da leitura das Escrituras, podemos aumentar a nossa
compreensão das verdades espirituais. Por isso, o Ap. Pedro exorta: “Desejai,
ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para
que, por ele, vos seja dado crescimento para a salvação, se é que já tendes a
experiência de que o Senhor é bondoso” (I Pe. 2:2). Não há necessidade, no início,
de entender as profundezas de todas as verdades espirituais; tendo Cristo em
nossa vida, temos o suficiente para desfrutar da certeza da nossa aceitação
diante de Deus. A partir dessa união com Cristo, passamos a crescer na graça e
no conhecimento da verdade. “Por isso, quem crê no Filho (de Deus) tem a vida
eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho (não lhe dando o
devido reconhecimento), não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus”
(Jo. 3:36).
2. O
Entendimento Transformado. “Somos transformados, de glória em glória, na sua própria
imagem”. Somos transformados quando nos convertemos ao Senhor: “Ele nos
libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu
amor” (Cl. 1:13). Devemos saber o que significa ser transformado: “Assim, se
alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas antigas já passaram, eis que se
fizeram novas” (2 Co. 5:17). Deixamos as práticas pecaminosas a fim de adotar
uma vida santa e irrepreensível.
Essa
transformação “de glória em glória”, indica um progresso espiritual. O nosso
primeiro encontro com Cristo, a sua misericórdia para conosco e o perdão de
todos os nossos pecados, encheram o nosso coração de glória, ou seja, a honra
de sermos chamados filhos de Deus. Mas essa não é a única glória que
experimentamos. Dia após dia, independente de circunstâncias negativas, somos
sustentados com a graça de Deus. O Ap. Paulo, sentindo o sofrimento causado por
um “espinho na carne”, porém, sustentado pela graça de Deus, podia confessar:
“De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim
repouse o poder de Cristo” (2. Co. 12:9). O Salmista confessava: “
Bem-aventurado o homem cuja força está no Senhor, em cujo o coração se
encontram os caminhos aplanados, o qual passando pelo vale árido, faz dele um
manancial, de bênçãos o cobre a primeira chuva. Vão indo de força em força,
cada um deles aparece diante de Deus em Sião” (Sl. 84: 5-7).
Mas
a glória maior é o fato de que estamos sendo transformados na própria imagem de
Deus. No início, fomos criados à sua imagem, mas essa glória ficou desfigurada
pelo pecado. Agora, em Cristo, ela está sendo restaurada. O Ap. Paulo descreveu
essa imagem em termos de justiça, retidão e o pleno conhecimento, (Ef. 4:24;
Cl. 3:10). Justiça, plena aceitação diante de Deus; retidão, plena harmonia com
o nosso próximo, porque não mais lhe fazemos mal. Essas duas virtudes são
realidades em nossa experiência, porque, agora, em Cristo, com o entendimento
desvendado, o pleno conhecimento da vontade de Deus está operando eficazmente
em nossa vida. Que sejamos visivelmente transformados, “cheios do fruto da
justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” (Fl.
1:11).
3. O
Entendimento Iluminado. “Como pelo Senhor, o Espírito”. Observemos a colocação
dessa frase. Temos a identidade do operador dessas bênçãos. Ele é o Espírito, a
terceira pessoa da Santíssima Trindade; e temos a sua posição. Ele é o Senhor,
aquele que tem a competência exclusiva para aplicar a vontade da Divindade ao
homem pecador. Deus quer que os pecadores arrependidos saibam que seus pecados
são perdoados e que “deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (Jo.
1:12). “ O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de
Deus” (Rm. 8:16). Devemos valorizar o dom do Espírito Santo, pois é Ele que nos
capacita a adorar a Deus em espírito e em verdade. Por isso, o apóstolo nos
exorta: “Enchei-vos do Espírito (sendo completamente controlados por Ele),
falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com
hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai,
em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos, uns aos outros no temor
de Cristo” (Ef. 5:18-21). E uma palavra final: “Não apagueis o Espírito”, a
nossa bem-aventurança depende da sua livre atuação, (I Ts. 5:19).
A
obra de desvendar e transformar o nosso entendimento é atribuída ao Espírito
Santo. Portanto, é importante perguntar: Como é que o Espírito Santo realiza
essa obra? A resposta é uma só: Ele realiza todos os seus propósitos na vida do
homem pela aplicação eficaz das Escrituras Sagradas ao entendimento das pessoas.
O Ap. Paulo registrou a sua oração em favor dos cristãos, observando que o
lugar principal onde o Espírito Santo atua está “no homem interior” do nosso
ser. Ele embasou sua oração “segundo a riqueza” da glória de Deus. E, nessa
confiança, pediu que os cristãos fossem “fortalecidos com poder, mediante o seu
Espírito no homem interior”; que Cristo habitasse em seu “coração”; que, pela fé, estivessem
“arraigados e alicerçados em amor”; que pudessem “compreender, com todos os
santos”, as plenitudes do “amor de Cristo, que excede todo entendimento”;
enfim, que fossem “tomados de toda a plenitude de Deus” (Ef. 3:16-19). Essa
oração pode ser considerada como exemplo de orar “ no Espírito” (Ef. 6:18).
Conclusão:
Em nosso estado natural, sem qualquer obra regeneradora da parte de Deus em
nossa vida, temos um véu invisível que embota a nossa compreensão das
Escrituras Sagradas. Mas essa insensibilidade é removida quando alguém se
converte ao Senhor Jesus Cristo. Assim, com o nosso entendimento desvendado,
podemos progredir na graça e no conhecimento da vontade do nosso Deus. “Assim,
pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém,
muito mais agora na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação no temor e
tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar,
segundo a sua boa vontade” (Fl. 2:12-13).
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