Vasos de Honra

sexta-feira, 1 de novembro de 2013

Rostos Desvendados



“E todos nós, com rosto (entendimento) desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito” (2 Co. 3:18).

Introdução: O contexto desse versículo se encontra em Êxodo 34:29-35. Moisés “esteve com o Senhor quarenta dias e quarenta noites, não comeu pão, nem bebeu água; e escreveu nas tábuas as palavras da aliança, as dez palavras (...). Quando desceu do monte, não sabia Moisés que a pele do seu rosto resplandecia, depois de haver Deus falado com ele” (Ex. 34:28-29). Parte da benção sacerdotal impetra: “O Senhor faça resplandecer o seu rosto sobre ti e tenha misericórdia de ti” (Nm. 6:25). Quando estamos em plena comunhão com Deus, seu rosto resplandece sobre nós, e o efeito é semelhante ao que aconteceu com Moisés: o nosso rosto, ou melhor, o nosso entendimento brilha com a maravilha das palavras “da aliança”, as promessas de um Salvador.

Mas a história de Moisés continua, descrevendo como os filhos de Israel reagiram ao vê-lo. “Eis que resplandecia a pele do seu rosto; e temeram chegar-se a ele”. Por que esse medo? A santidade do Senhor se manifestou, uma santidade que o povo não quis conhecer e nem adotar. Por isso, quando Moisés falava com o povo, ficou constrangido e “ pôs um véu sobre seu rosto”. Esse véu, que não deixou o povo contemplar a glória do Senhor que se manifestava mediante a proclamação da sua palavra, deve ser visto como um castigo judicial, por causa da rebelião e incredulidade deles. O profeta Isaías recebeu esta ordem: “Vai a este povo e dize-lhe: De ouvido, ouvireis e não entendereis; vendo, vereis e não percebereis. Porquanto o coração deste povo se tornou endurecido; com os ouvidos ouviram tardiamente e fecharam os olhos, para que jamais vejam com os olhos, nem ouçam com os ouvidos, para que não entendam com o coração, e se convertam, e por mim sejam curados” (At. 28:26-27). O Ap. Paulo ofereceu esta interpretação inspirada: “Mas o sentindo deles se embotaram (se insensibilizaram). Pois até ao dia de hoje, quando fazem a leitura da Antiga Aliança, o mesmo véu permanece, não lhes sendo revelado que, em Cristo, é removido. Mas até hoje, quando é lido Moisés, o véu está posto sobre o coração deles. Quando, porém, algum deles se converte ao Senhor, o véu é retirado” (2Co. 3:14-16). Agora, podemos perceber melhor a importância do V. 18 da nossa leitura.

1. O Entendimento Desvendado. “E todos nós, com o rosto (entendimento) desvendado, contemplando, como por espelho, a glória do Senhor”. O véu foi retirado do nosso entendimento quando o Espírito Santo nos converteu a Jesus Cristo.

Conversão é uma meia volta: em vez de servirmos a nós mesmos, viramos, e passamos a servir o Deus verdadeiro. Conversão é arrepender-se dos pecados, abandonando-os para que possamos praticar o que Deus tem prescrito para nós nas Escrituras Sagradas. Conversão é deixar de ser incrédulo, é deixar de confiar em nossos próprios méritos, a fim de acreditar na providência de Deus para a nossa salvação. Jesus Cristo é essa providência. Temos que reconhecer a seriedade desse ponto, porque, como Cristo afirmou: “Se não credes que Eu Sou (o prometido Messias e Salvador) morrereis em vossos pecados” (Jo. 8:24).

O Apóstolo faz referência às limitações da nossa compreensão espiritual. Vemos “como espelho”, como se estivéssemos contemplando o nosso rosto refletido na água. Reconhecemos a realidade, porém, nem sempre com a devida clareza. Contudo, apesar dessa limitação, reconhecemos “a glória de Deus”, que é a pessoa de Jesus Cristo. Através da leitura das Escrituras, podemos aumentar a nossa compreensão das verdades espirituais. Por isso, o Ap. Pedro exorta: “Desejai, ardentemente, como crianças recém-nascidas, o genuíno leite espiritual, para que, por ele, vos seja dado crescimento para a salvação, se é que já tendes a experiência de que o Senhor é bondoso” (I Pe. 2:2). Não há necessidade, no início, de entender as profundezas de todas as verdades espirituais; tendo Cristo em nossa vida, temos o suficiente para desfrutar da certeza da nossa aceitação diante de Deus. A partir dessa união com Cristo, passamos a crescer na graça e no conhecimento da verdade. “Por isso, quem crê no Filho (de Deus) tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho (não lhe dando o devido reconhecimento), não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo. 3:36).

2. O Entendimento Transformado. “Somos transformados, de glória em glória, na sua própria imagem”. Somos transformados quando nos convertemos ao Senhor: “Ele nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor” (Cl. 1:13). Devemos saber o que significa ser transformado: “Assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas antigas já passaram, eis que se fizeram novas” (2 Co. 5:17). Deixamos as práticas pecaminosas a fim de adotar uma vida santa e irrepreensível.

Essa transformação “de glória em glória”, indica um progresso espiritual. O nosso primeiro encontro com Cristo, a sua misericórdia para conosco e o perdão de todos os nossos pecados, encheram o nosso coração de glória, ou seja, a honra de sermos chamados filhos de Deus. Mas essa não é a única glória que experimentamos. Dia após dia, independente de circunstâncias negativas, somos sustentados com a graça de Deus. O Ap. Paulo, sentindo o sofrimento causado por um “espinho na carne”, porém, sustentado pela graça de Deus, podia confessar: “De boa vontade, pois, mais me gloriarei nas fraquezas, para que sobre mim repouse o poder de Cristo” (2. Co. 12:9). O Salmista confessava: “ Bem-aventurado o homem cuja força está no Senhor, em cujo o coração se encontram os caminhos aplanados, o qual passando pelo vale árido, faz dele um manancial, de bênçãos o cobre a primeira chuva. Vão indo de força em força, cada um deles aparece diante de Deus em Sião” (Sl. 84: 5-7).

Mas a glória maior é o fato de que estamos sendo transformados na própria imagem de Deus. No início, fomos criados à sua imagem, mas essa glória ficou desfigurada pelo pecado. Agora, em Cristo, ela está sendo restaurada. O Ap. Paulo descreveu essa imagem em termos de justiça, retidão e o pleno conhecimento, (Ef. 4:24; Cl. 3:10). Justiça, plena aceitação diante de Deus; retidão, plena harmonia com o nosso próximo, porque não mais lhe fazemos mal. Essas duas virtudes são realidades em nossa experiência, porque, agora, em Cristo, com o entendimento desvendado, o pleno conhecimento da vontade de Deus está operando eficazmente em nossa vida. Que sejamos visivelmente transformados, “cheios do fruto da justiça, o qual é mediante Jesus Cristo, para a glória e louvor de Deus” (Fl. 1:11).

3. O Entendimento Iluminado. “Como pelo Senhor, o Espírito”. Observemos a colocação dessa frase. Temos a identidade do operador dessas bênçãos. Ele é o Espírito, a terceira pessoa da Santíssima Trindade; e temos a sua posição. Ele é o Senhor, aquele que tem a competência exclusiva para aplicar a vontade da Divindade ao homem pecador. Deus quer que os pecadores arrependidos saibam que seus pecados são perdoados e que “deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus” (Jo. 1:12). “ O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm. 8:16). Devemos valorizar o dom do Espírito Santo, pois é Ele que nos capacita a adorar a Deus em espírito e em verdade. Por isso, o apóstolo nos exorta: “Enchei-vos do Espírito (sendo completamente controlados por Ele), falando entre vós com salmos, entoando e louvando de coração ao Senhor com hinos e cânticos espirituais, dando sempre graças por tudo a nosso Deus e Pai, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo, sujeitando-vos, uns aos outros no temor de Cristo” (Ef. 5:18-21). E uma palavra final: “Não apagueis o Espírito”, a nossa bem-aventurança depende da sua livre atuação, (I Ts. 5:19).

A obra de desvendar e transformar o nosso entendimento é atribuída ao Espírito Santo. Portanto, é importante perguntar: Como é que o Espírito Santo realiza essa obra? A resposta é uma só: Ele realiza todos os seus propósitos na vida do homem pela aplicação eficaz das Escrituras Sagradas ao entendimento das pessoas. O Ap. Paulo registrou a sua oração em favor dos cristãos, observando que o lugar principal onde o Espírito Santo atua está “no homem interior” do nosso ser. Ele embasou sua oração “segundo a riqueza” da glória de Deus. E, nessa confiança, pediu que os cristãos fossem “fortalecidos com poder, mediante o seu Espírito no homem interior”; que Cristo habitasse em seu  “coração”; que, pela fé, estivessem “arraigados e alicerçados em amor”; que pudessem “compreender, com todos os santos”, as plenitudes do “amor de Cristo, que excede todo entendimento”; enfim, que fossem “tomados de toda a plenitude de Deus” (Ef. 3:16-19). Essa oração pode ser considerada como exemplo de orar “ no Espírito” (Ef. 6:18).


Conclusão: Em nosso estado natural, sem qualquer obra regeneradora da parte de Deus em nossa vida, temos um véu invisível que embota a nossa compreensão das Escrituras Sagradas. Mas essa insensibilidade é removida quando alguém se converte ao Senhor Jesus Cristo. Assim, com o nosso entendimento desvendado, podemos progredir na graça e no conhecimento da vontade do nosso Deus. “Assim, pois, amados meus, como sempre obedecestes, não só na minha presença, porém, muito mais agora na minha ausência, desenvolvei a vossa salvação no temor e tremor; porque Deus é quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” (Fl. 2:12-13).

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