Leitura Bíblica: Tito 3:1-8
Introdução: A primeira verdade que devemos observar é o contraste que o Apóstolo estabelece entre o nosso procedimento no passado e o nosso procedimento no presente:
a) O que outrora éramos, V.3. Notemos como o Apóstolo se identifica com os demais homens: “Nós também, outrora, éramos néscios,” etc. Ele destaca sete itens que caracterizam a pessoa não regenerada:
- Néscios, sem entendimento, incapazes de reconhecer e praticar a verdade.
- Desobedientes, desprezadores da autoridade divina, bom como a autoridade civil.
- Desgarrados, que se desviam da verdade, não se submetendo a ela.
- Escravos de toda sorte de paixão e prazeres, ou seja: “aborrecidos de Deus.”
- Malícia, atitudes perversas diante do bem estar do vizinho.
- Inveja, não aceitando com bom agrado a prosperidade do vizinho.
- Odiosos e odiando-nos uns aos outros. Saulo, o perseguidor.
b) O que somos agora, Vs.1-2. O Apóstolo encoraja a Tito na maneira como deve exercer o seu ministério: “Lembra-lhes,” por exemplo, as sete virtudes que devem caracterizar a pessoa regenerada.
- Que se sujeitam aos que governam, às autoridades do país.
- Sejam obedientes às normas estabelecidas pelo governo, pagando os impostos.
- Estejam prontos para toda boa obra: cooperação cívica.
- Não difamam a ninguém, sujando o nome do próximo.
- Não sejam altercadores, provocadores em assuntos polêmicos.
- Dando prova de toda cortesia, respeitando os direitos do próximo.
- Sejam cordatos, afirmando a verdade sem provocar polêmicas.
Depois de sentir a força do contraste entre o que outrora éramos e o que somos agora, uma pergunta surge: O que aconteceu para efetuar esta mudança moral? Foi uma soberana manifestação da “benignidade de Deus” V.4. De passagem, notemos que esta manifestação foi do Deus Triuno. a) A benignidade de Deus, o Pai. b) A obra do Espírito Santo na regeneração e na renovação do pecador. c) E, a graça de Jesus Cristo como a causa da nossa justificação.
1. O Início desta manifestação. “Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia” Vs.4-5a. Novamente, deparamos com os três contrastes que o Apóstolo estabelece: Primeiro, entre a maldade do homem, V.3, e a benignidade de Deus, V.4. Segundo, entre o amor de Deus para com todos, V.4, e o ódio do homem para com seu próximo, V.3 Terceiro, entre a espontaneidade da graça de Deus, V.4, e a inutilidade das obras humanas para merecerem o interesse de Deus, V.5.
Em todas as obras de Deus, na criação do universo, bem como na salvação do pecador, é Ele que toma a iniciativa. Isaías interroga: “Quem guiou o Espírito para que lhe desse compreensão? Quem o instruiu na vereda do juízo, e lhe ensinou sabedoria, e lhe mostrou o caminho de entendimento?” Is.40:13-14. Em todas as suas atividades, Deus age soberanamente, executando a sua própria vontade. “Jurou o Senhor dos exércitos, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e como determinei, assim se efetuará. ... Quem, pois, a fará voltar atrás?” Is.14:24,27. Contudo, as obras de Deus não são arbitrárias. Ele é sempre movido por motivos justos e santos. Quando Deus manifestou a sua benignidade para com o pecador, Ele agiu por causa de “seu amor para com todos” Jo.3:16. E o Ap. Paulo corroborou esta verdade, dizendo: “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” Rm.5:8. Quem pode descobrir a profundidade do sentimento do Apóstolo quando ele confessou: “Cristo me amou e a si mesmo se entregou por mim” Gl.2:20.
Para enfatizar a gratuidade da benignidade de Deus, o Apóstolo acrescenta: “Não por obras de justiça praticadas por nós.” O homem natural é espiritualmente morto. Se Deus não tivesse agido em primeiro lugar, ninguém seria salvo. Por isso, as milícias dos redimidos no céu não deixam de clamar em alta voz: “Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação” Ap.7:10-12. Devemos fazer na terra, agora, o que faremos no céu.
2. O Efeito desta Manifestação. “Ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo, que Ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador” Vs.5b-6. Quando Deus é servido em manifestar-se a alguém, Ele sempre tem uma intenção específica; e, em nosso texto, o propósito é a regeneração e a renovação da pessoa. Observemos que estes dois atos sempre se encontram juntos. Aquele que é regenerado, é também renovado, ou seja, tem uma vida santa e irrepreensível, Ef.1:4. Aquele que não tem esta renovação, ou seja, esta santificação, não é regenerado.
Por natureza, o homem é espiritualmente morto em seus delitos e pecados; portanto, antes de poder realizar qualquer obra espiritual no pecador, ele tem que ser vivificado. Esta é a função principal da regeneração, ou seja, a implantação de uma vida espiritual naquele que é espiritualmente morto. A Bíblia descreve este ato como uma ressurreição, semelhante à qual Deus exerceu em Cristo, ressuscitando-o dentre os mortos, Ef.1:20. O Ap. Paulo, tendo a experiência da regeneração, exclamou jubilosamente: “Ele nos deu vida, estando nós mortos nos nossos delitos e pecados”, Ef.2:1. “Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” Rm.5:8.
Observemos a diferença fundamental entre a regeneração e a renovação, embora estejam inseparavelmente unidas. A regeneração é a obra soberana e exclusiva do Espírito Santo, sem qualquer participação humana. O morto não pode tomar a decisão de retomar a sua vida extinta e ressuscitar-se a si mesmo. Mas a renovação, ou seja, a santificação, apesar de ser a obra do Espírito Santo, requer a cooperação do pecador. A regeneração não apenas nos deu vida, ela implantou em nosso ser uma disposição nova que nos faz desejar cooperar com as indicações do Espírito Santo. “Porque é Deus quem efetua em vós tanto o querer como o realizar, segundo a sua boa vontade” Fl.2:13. O Espírito Santo nos guia na verdade, e nós, livre e espontaneamente O seguimos, Rm.8:14. Ou, como Cristo disse: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz; eu as conheço, e elas (amorosamente) me seguem” Jo.10:27. Neste sentido, podemos entender a exortação que o Apóstolo dirigiu à nossa consciência: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” Rm.12:1-2. Sim, podemos ser exortados, porque o Espírito Santo nos deu uma disposição nova que nos faz desejosos de obedecer em tudo.
3. A Finalidade desta Manifestação. “A fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna.” Vs.7. A grande finalidade desta manifestação de Deus é tornar os pecadores seus herdeiros, segundo a esperança da vida eterna. Porém, para alcançar este objetivo, o problema do pecado tinha que ser resolvido e o pecador justificado, declarado justo.
Como pode Deus, seguindo as normas da sua santa lei, que exige a condenação do transgressor, ser justo, e ao mesmo tempo justificá-lo? A resposta esta na morte vicária de Jesus Cristo, que é o nosso Salvador. “Aquele (Cristo) que não conheceu pecado, ele (Deus o Pai) o fez pecado por nós, para que nele (Jesus Cristo) fôssemos feitos justiça de Deus” 2Co.5:21. O nosso pecado foi imputado (transferido) a Cristo, e Ele, carregando a nossa culpa, sofreu e morreu como o nosso substituto. Como pode um só satisfazer as exigências da lei e justificar os muitos pecadores que nele crêem? A resposta está na doutrina da Representação. Toda a humanidade foi representada em Adão. Deus sujeitou este, o nosso primeiro pai, a uma prova de obediência, e nós, estando nele, participamos deste exame moral. Portanto, quando Adão desobedeceu, a sua decisão foi também a nossa, e, juntos, perdemos a nossa justiça original, a nossa aceitação diante de Deus. Mas os propósitos de Deus não foram frustrados, pois Ele, em sua muita misericórdia, levantou um novo Representante, o seu próprio Filho, Jesus Cristo. O princípio é o mesmo. Todos os que estão representados por Cristo, que crêem nele, participam da sua perfeita justiça, uma justiça que ele adquiriu mediante a sua imaculada obediência à lei de Deus. Portanto, aqueles que estão em Cristo, são considerados justos em virtude dos méritos da sua morte substitutiva. Por causa desta verdade, Deus pode declarar justos todos os que são encontrados em seu Filho, Jesus Cristo. O Apóstolo resumiu esta doutrina, dizendo: “Pois assim como, por uma só ofensa, veio o juízo sobre todos os homens para condenação, assim também, por um só ato de justiça, veio a graça sobre todos os homens, para a justificação que dá vida” Rm.5:18. Esta é a justiça que nos faz herdeiros de Deus, segundo a esperança da vida eterna.
Conclusão: “Fiel é esta palavra, e quero que, no tocante a estas cousas, faças afirmação, confiadamente, para que os que têm crido em Deus (e que fez na sua manifestação) sejam solícitos na prática de boas obras (que são a prática das leis de Deus). Estas coisas são excelentes e proveitosas aos homens” V.8. Devemos confiar e anunciar tudo o que Deus tem feito por nós em Cristo Jesus.
Itajubá, 02 de Agosto de 2010.
Rev. Ivan G. G. Ross.
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