Leitura
Bíblica: Romanos 12:1-2.
Introdução:
No início da Carta aos Romanos, o Apóstolo confessou: “Pois sou devedor tanto a
gregos como a bárbaros, tanto a sábios como a ignorantes; por isso, quanto está
em mim, estou pronto a anunciar o evangelho também a vós outros, em Roma” (Rm.
1:14-15). Em outro lugar, ele explicou esse sentimento: “Se anuncio o
evangelho, não tenho de que me gloriar; pois sobre mim pesa essa obrigação;
porque ai de mim se não pregar o evangelho” (1Co. 9:16). O evangelho é o tema
principal dessa Carta, uma mensagem que fala das misericórdias que Deus tem
derramado tão liberalmente sobre o seu povo. Nos capítulos 1 a 11, podemos
achar algumas dessas dádivas, por exemplo: bondade, um atributo que
desperta em nós anseios espirituais, tais como “arrependimento”, 2:4. Paciência,
Ele “suportou com muita longanimidade” os pecadores, 9:22. Amor, “o amor
de Deus foi derramando em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi
outorgado”, 5:5. Graça, o dom gratuito de Deus. “ No tempo de hoje,
sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça”, 11:5. Justificação,
“Justificados, pois (declarados inocentes porque fomos encontrados vestidos das
virtudes do Filho de Deus), temos paz com Deus por meio do nosso Senhor Jesus
Cristo”, 5:1.
Agora,
tendo ouvido sobre algumas das misericórdias, estamos prontos para entender
como o Apóstolo aplica essas dádivas à nossa vida, visando uma consagração
total da nossa vida a Deus, como uma manifestação da nossa gratidão a Ele.
1.
A Instigação (incentivo) que Promove a Consagração. O Apóstolo dá início a
esta parte, fazendo um apelo forte: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas
misericórdias de Deus”. O fato de termos recebido da mão de Deus tantas
manifestações da sua misericórdia, sentimos que somos os seus devedores. O
Salmista experimentou esse mesmo sentimento, e exclamou: “Que darei ao Senhor
por todos os seus benefícios para comigo?” Jamais conseguiremos pagar a Deus
tudo o que Ele nos dá, contudo, podemos oferecer-lhe o nosso culto em atos
públicos e particulares. Por isso, o Salmista prometeu: “Cumprirei os meus
votos ao Senhor na presença de todo o seu povo” (Sl. 116:12-14). A única
retribuição que Deus aceita de nós, é o nosso culto racional, um ato planejado
e realizado “em espírito e em verdade” (Jo. 4:23-24). Quando os tessalonicenses
se converteram, eles abandonaram o seu antigo modo de agir, a fim de servirem o
Deus vivo e verdadeiro, (1Ts. 1:9). A conversão e o recebimento do perdão de
todos os nossos pecados deve nos conduzir à consagração e a uma vida de
obediência. É como Cristo disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos”
(Jo. 14:15). E Ele acrescentou: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros, assim como eu vos amei; que também vos ameis uns aos outros” (Jo.
13:34).
E,
para nos instigar ainda mais para consagrar a nossa vida a Deus, o Apóstolo nos
mostra como Deus o Pai tem nos “abençoado com toda sorte de benção espiritual
nas regiões celestiais em Cristo”. Quais são essas bênçãos que conduzem a nossa
vida a uma consagração total? Eleição: “Porque Deus não nos destinou
para a ira, mas para alcançar a salvação mediante o nosso Senhor Jesus Cristo,
que morreu por nós”. ( 1Ts. 5:9-10). Adoção: Fomos resgatados da lei,
que nos condenou à morte, “a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl.4:5). Redenção:
Fomos tirados do império das trevas e transportados para o reino de Cristo,
(Cl. 1:13). Remissão: O perdão de
todos os nossos pecados. “Quanto dista o Oriente do Ocidente, assim afasta de nós
as nossas transgressões” (Sl. 103:12). Salvação: “Entretanto,
devemos sempre dar graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor,
porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação” – a vida eterna
na presença consoladora de Deus, (2Ts.
2:13). O Selo do Espírito Santo:
Ele é “o penhor (a garantia) da nossa herança, até ao resgate da sua
propriedade, em louvor da sua glória”
(Ef. 1:14). “O próprio Espírito testifica com o nosso espírito que somos filhos
de Deus”. (Rm. 8:16). Por essas e tantas outras bênçãos que Deus tem nos dado gratuitamente, o Apóstolo fez
este apelo: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que vos
apresenteis o vosso corpo” a Deus em total consagração.
2.
A Instauração (começo) que Promove a Consagração. O Apóstolo estava consciente
da sua vida anterior, mas, apesar de
tanta insolência, ele podia confessar: “Mas obtive misericórdia, pois o fiz na
ignorância, na incredulidade” (1Tm. 1:13). Agora, ele exorta os seus leitores:
“Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus (aquela misericórdia por
ter sido perdoado), que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e
agradável a Deus, que é o vosso culto racional”. Quando alguém nasce de novo, quando está
sentindo a alegria de entender que todos os seus pecados foram graciosamente
perdoados, nasce no coração dele a necessidade de oferecer a totalidade da sua
vida ao seu Salvador, dizendo: “Eis aqui estou
para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb. 10:9). Consagração, portanto, é
um ato espontâneo e a primeira manifestação do amor e gratidão que sentimos em
favor de Deus. “Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos amados; e andai em amor, como também Cristo nos amou e
se entregou a si mesmo por nós, como
oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave” (Ef. 5:1-2).
Consagração é possível somente depois de um
verdadeiro encontro salvador com Jesus Cristo. Existem membros
em nossas Igrejas que nunca foram convencidos de seus pecados e nem da
necessidade de serem nascidos de novo, porque, como dizem: sempre fomos
cristãos. Essas pessoas não gostam de serem exortadas a uma vida consagrada a Deus.
Estão plenamente satisfeitas com sua vida descomprometida, e não querem nada
diferente. O jovem se desculpa, dizendo: Vou pensar sobre esse assunto mais tarde;
preciso aproveitar a minha mocidade! Mas o tempo passa e ele continua adiando
uma decisão. Com certeza, o seu fim será
semelhante ao das cinco virgens néscias, que resolveram agir quando a porta já
estava fechada, (Mt. 25:1-13). Ou, o homem mais maduro, que promete: quando eu
me aposentar da minha profissão secular, consagrarei a minha vida ao serviço de
Deus. Mas, com esta idade, o corpo está cansado e a saúde debilitada; além disso,
seus costumes já estão profundamente estabelecidos e não aceitarão a mudança
que a consagração exige. Deus pede de nós um corpo vivo, cheio de disposição e
pronto para qualquer serviço. Esse é o nosso culto racional e agradável a Deus.
Não podemos procrastinar, aguardando um tempo mais oportuno. Na vida da Igreja
sempre existem oportunidades para servir a Deus. Podemos pensar no presbiterato
e no diaconato, professores para a Escola Dominical, sem esquecer das
atividades que as sociedades internas oferecem. Mas alguém reclama: Eu não
tenho dom para nada dessas coisas! Contudo, serviço a Deus não depende
exatamente das nossas próprias capacidades. A nossa suficiência vem de Deus.
Cristo nos deu esta promessa: “Mas recebereis poder, e sereis as minhas
testemunhas” (At. 1:8). A nossa parte é apresentar o nosso corpo e todas as suas
capacidades a Deus, e Ele nos dará a devida oportunidade. Importa que tenhamos
vidas consagradas a Deus e uma disposição para servir.
3.
A Instância (súplica) que Promove a Consagração. E, para que a nossa
consagração seja autêntica, somos exortados: “E não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente”. De modo geral, a
“mente” deste século é o anseio de satisfazer todos os desejos do
próprio egoísmo, a qualquer custo, mesmo que sejam uma transgressão da lei de
Deus. Essa mentalidade mundana é perigosamente contagiante, por isso, a
advertência: “E não vos conformeis com este século”. Temos que ser firmes,
resistindo às ciladas sutis deste mundo.
Consagração
envolve a respeitosa obediência aos Dez Mandamentos. O mundo ensina, e o nosso
próprio coração também, que estes não são relevantes para o homem moderno,
oferecendo uma infinidade de oportunidades que procuram subverter a seriedade da lei de Deus. Esse
desprezo do Mandamento é visto
especificamente na transgressão do Quarto Mandamento. O mundo ensina, e o nosso
próprio coração também, que o Domingo não é do Senhor, como a Bíblia ensina,
antes, é do homem, e deve ser usado para
satisfazer os seus próprios interesses: viagens, esportes, divertimentos, ociosidade,
etc. Eis aqui como o Dia deve ser observado, juntamente com uma promessa
encorajadora: “Se desviares o pé de profanar o sábado e de cuidar dos teus
próprios interesses no meu santo dia; e chamares ao sábado deleitoso e santo
dia do Senhor, digno de honra e o honrares não seguindo os teus caminhos, não
pretendendo fazer a tua própria vontade, nem falando palavras vãs (palavras não
edificantes), então, te deleitarás no Senhor. Eu te farei cavalgar sobre os
altos da terra (fora do alcance de perigo - Dt. 33:16) e te sustentarei com a
herança de Jacó, teu pai, porque a boca do Senhor o disse” (Is. 58:13-14). Sim,
Deus abençoou e santificou o Seu Dia; e no guardá-lo, há uma promessa de
sustento diferenciado.
Mas,
como podemos guardar os Mandamentos, e, especificamente, o Quarto? Temos que
nos submeter à transformação pela renovação da nossa mente. A mente humana é o
centro do nosso raciocínio, dela procedem todas as nossas determinações, seja
qual for a natureza delas. O Salmista confessou: “Guardo no coração as tuas
palavras, para não pecar contra ti” (Sl. 119:11). E, para colocar essas
palavras no coração, temos que ler a Bíblia atenciosamente todos os dias,
memorizando as palavras chaves para que elas habitem em nosso coração. Dessa
maneira, estaremos crescendo na graça e no conhecimento do nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, estaremos experimentando uma
transformação em nossa mente que nos conduzirá a uma verdadeira consagração
pessoal a Deus. “E todos nós, com rosto desvendado, contemplando, como por
espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo
Senhor, o Espírito” (2Co. 3:18). Consagração, ou seja, dedicação à prática da vontade de Deus, deve ser o grande anseio de cada cristão.
4.
A Instrução (convite) que Promove a Consagração. Qual é o propósito dessa
transformação pela renovação da nossa mente? Eis a resposta: “Para que
experimenteis qual seja a boa, agradável
e perfeita vontade de Deus”. É possível dar a essas três palavras descritíveis este sentido: Tudo o que
é bom, tudo que é agradável, e tudo o que é perfeito, encontra-se somente no
conhecimento e na prática da vontade revelada de Deus. O mundo se esforça para
oferecer substitutos para despertar a imaginação vaidosa do homem, porém, eles
sempre decepcionam. O pregador experimentou esses atrativos fictícios, porém,
teve que concluir: “Pelo que aborreci a vida, pois me foi penosa a obra que se
faz debaixo do sol; sim, tudo é vaidade e correr atrás do vento” (Ec. 2:17). Deus coloca diante de nós muitas opções: vida e morte, benção e
maldição, para depois nos desafiar: “Escolhe, pois, a vida, para que vivas”
(Dt. 30:19). Mas o pecador, em sua cegueira espiritual, não quer reconhecer a
diferença ente a vida e a morte, entre a benção e a maldição. Seu único
interesse é satisfazer os seus desejos do momento, porque ama “mais as trevas
do que a luz” (Jo. 3:19). A nossa oração deve ser: “Ensina-me a fazer a tua
vontade, pois tu és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por terreno plano”
(Sl. 143:10). Essa oração é necessária “para que vos conserveis perfeitos e
plenamente convictos em toda a vontade de Deus” (Cl. 4:12).
A
vontade de Deus deve ser o objetivo principal na vida do cristão, porque ela é
boa, agradável e perfeita, e digna de ser praticada. Ela é a lei de Deus para a
santificação do homem, pois “ é santa, justa e boa” (Rm. 7:12). Devemos confiar
na sabedoria de Deus, pois Ele sabe o que o homem mais precisa. Veja como o
Salmista interpretava essa norma: “A lei do Senhor é perfeita e restaura a
alma; o testemunho do Senhor é fiel e dá sabedoria aos simples. Os preceitos do
Senhor são retos e alegram o coração; o mandamento de Senhor é puro e ilumina
os olhos. O temor do Senhor é límpido e permanece para sempre; os juízos do
Senhor são verdadeiros, e todos igualmente justos”. E qual foi o efeito desse
juízo sobre a sua mente renovada? Ele confessou: “são mais desejáveis do que
ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o
destilar dos favos. Além disso, por eles se admoesta o teu servo; em os guardar
há grande recompensa” (Sl. 19:7-11). Por que estamos falando dessa maneira?
Para que a prática da vontade de Deus
seja o anseio ardente do nosso coração.
Conclusão: Nós, que temos sido
abençoados “com toda sorte de benção espiritual nas regiões celestiais em
Cristo” (Ef. 1:3), devemos nos sentir constrangidos a retribuir a Deus, dando-lhe a nossa vida em
total consagração a seus interesses. “Ou desprezas a riqueza da bondade, e da
tolerância, e longanimidade, ignorando que a bondade de Deus é que te conduz” à
transformação do seu modo de agir e uma atitude mais decisiva que engrandece o
nome de seu Deus. Essa consagração é o nosso “culto racional”, uma devoção que dá honra a Deus. Mas, para a que a nossa
consagração seja verdadeira, o texto instrui: “E não vos conformeis com este
século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente” por meio da leitura
diária das Escrituras Sagradas. E, com a nossa mente agora renovada, estamos dispostos
para ouvir e entender os conselhos do Senhor e experimentar que, de fato, a
vontade de Deus para a nossa vida é boa, agradável e perfeita, própria para a
nossa total felicidade. Consagração a Deus sempre precede qualquer serviço que
possamos oferecer a Ele. “Ora, o Deus da paz que tornou a trazer dentre os
mortos a Jesus, nosso Senhor, o grande Pastor das ovelhas, pelo sangue da
eterna aliança, vos aperfeiçoe em
todo o bem, para cumprirdes a sua vontade, operando em vós o que é
agradável diante dele, por Jesus Cristo, a quem seja a glória para todo o
sempre. Amém” (Hb. 13:20-21).
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