Leitura
Bíblica: Efésios 2:1-10.
Introdução: No primeiro capítulo de Efésios, temos o
esboço do plano da salvação. É uma obra do Deus triúno; como Ele, em toda a sua
gloriosa plenitude, explicou: “Eu, eu sou o Senhor, e fora de mim não há
salvador” (Is. 43:11). É o Pai que “nos tem abençoado com toda sorte de benção
espiritual nas regiões celestiais” (V.3). Em Cristo, o Filho de Deus, temos a
redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados (V.7). E “o Santo Espírito da
promessa; o qual é o penhor (a garantia) da nossa herança” (Vs.13-14). O
resultado de cada Pessoa da Divindade, agindo segundo a sua atribuição
específica, é a Salvação Eterna daqueles que crêem. O Pai sempre toma a
iniciativa (nas obras da criação e da salvação de seu povo); porém, essas
determinações se realizam somente por intermédio de seu Filho: “Todas as cousas
foram feitas por intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez”
(Jo. 1:3). E o Espírito Santo toma, aplica e sela essa obra redentora de Jesus
Cristos àqueles que crêem. “O próprio Espírito Santo testifica com nosso
espírito que somos filhos de Deus” (Rm. 8:16). É o Espírito Santo, habitando em
nosso homem interior, que nos fortalece para permanecermos em Jesus Cristo e
descansarmos na sua na sua obra redentora. (Ef. 3:16-17). No segundo capítulo
de Efésios percebemos que essa salvação, como providência de Deus, é o único
recurso para o bem total do homem pecador.
1. A necessidade da
Salvação, Vs. 1-3. Para entender melhor a necessidade da salvação, temos
que reconhecer o estado espiritual do homem natural. Por causa de seus pecados,
ele é espiritualmente perdido, vivendo sem a presença salvadora de Deus em sua
vida. Nesse estado derrotado, o homem não tem esperança de algo melhor a não ser
que Deus intervenha soberanamente ao seu encontro. Mas, o que significa ser
“perdido”? Nesse estado, o homem está caminhando para uma eternidade onde
existe somente o “choro e ranger de dentes” (Mt. 13:42). Ou, como o Apóstolo
registrou, os perdidos “sofrendo penalidade de eterna destruição, banidos da
face do Senhor e da glória do seu poder” (2 Ts. 1:9). Esses fatos sombrios
fazem com que reconheçamos que há uma grande necessidade da salvação que
somente o Senhor pode oferecer ao pecador.
O Apóstolo usa três realidades para demonstrar a corrupção
original: A) Ele é “morto em seus delitos e pecados” (V.1). Essa morte é uma
inércia total na área espiritual. Como a nossa Confissão de Fé ensina: “Desta
corrupção original, pela qual ficamos totalmente indispostos, incapazes e
adversos a todo bem e inteiramente inclinados a todo mal, é que procedem todas
as transgressões atuais” (Cap. 6:4). A Confissão acrescenta ainda mais: “Por
ser morto no pecado, o homem é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se
ou mesmo preparar-se para isso” (Cap.9:3). Não há dúvida alguma quanto à
necessidade de salvação, da intervenção divina na vida do homem. B)Por
natureza, o homem tem a tendência de seguir modelos. O mundo, composto de
pecadores, tem o seu próprio modo de agir e cuidar de seus desejos carnais. Por
isso, “a amizade do mundo é inimiga de Deus” (Tg 4:4). O homem revela a sua
rejeição de Deus andando “segundo o curso deste mundo, segundo o princípio da
potestade do ar, e do espírito que agora atua nos filhos da desobediência” (V.2).
Para sair dessa cegueira espiritual, o homem tem uma grande necessidade da
salvação que somente o Deus misericordioso pode dar. C) Para pecar, o homem
está fazendo o que lhe é natural. Ele segue as inclinações da sua carne e faz a
vontade da sua carne (V.3). Em outras palavras, o homem vive uma vida
egoística, tendo em vista somente o que é propriamente seu, (Fl. 2:4).
Novamente, o homem precisa de uma
intervenção soberana da parte de Deus a fim de ser salvo de si mesmo.
2. A Natureza da Salvação, Vs. 4-7. Até aqui, o
Apóstolo estava nos preparando para sentir o contraste entre o que éramos,
“mortos em nossos delitos e pecados” e o que temos agora: “Ele nos deu vida,
juntamente com Cristo” (V. 5). Quanto à natureza da salvação, podemos observar
três verdades: A) Esta salvação é uma revelação da misericórdia e grande amor
de Deus para com o seu povo pecador. Por causa do nosso pecado, Deus podia ter
usado todos os rigores da lei contra nós; mas, não, Ele determinou usar a
riqueza da sua misericórdia. Como o Profeta explicou: “As misericórdias do
Senhor são a causa de não sermos consumidos, porque as suas misericórdias não
têm fim; renovam-se cada manhã” (Lm.3:22). E, de modo semelhante, o seu grande amor para
conosco se resume em nossa salvação eterna. “Nisto consiste o amor: Não em que
nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como
propiciação pelos nossos pecados” (1Jo. 4:10). Propiciação significa: desviar a
ira de Deus. Essa ira é direcionada contra todos os pecadores; porém, no caso
de seu povo, Cristo, o nosso fiador, interveio e impediu que essa ira caísse
sobre eles. Esta é a natureza da nossa salvação. B) Para efetuar a nossa
salvação, era necessário realizar uma verdadeira ressurreição espiritual (novo
nascimento, regeneração – Tt.3:5). Por isso, “nos ressuscitou, e nos fez
assentar nos lugares celestiais em Cristo Jesus” (V.6). Não apenas uma vida no
sentido mais sublime da palavra, mas, “nos fez assentar nos lugares celestiais
em Cristo Jesus”! Como Cristo venceu a morte por meio da sua ressurreição e sentou-se à direita de Deus, nós também
venceremos a morte por meio da nossa ressurreição, a fim de estarmos com o
Senhor para sempre. Mas o Apóstolo entende que, mesmo agora, assentados nos
lugares celestiais, desfrutamos de toda sorte de benção espiritual. Somos
riquíssimos! Esta é a natureza da salvação que Deus tem preparado para seu
povo. C) O motivo de Deus quando Ele deu esta salvação a seu povo, “Para
mostrar, nos séculos vindouros, a suprema riqueza da sua graça, em bondade para
conosco, em Cristo Jesus” (V.7). Observamos a repetida frase: “Em Cristo”. Para
lidar com o pecador, o Pai não age diretamente com ele, antes, é sempre
mediante as atribuições de seu Filho Jesus Cristo. A glória de Deus consiste em
revelar a sua natureza divina. A salvação do pecador testifica, durante todos
os séculos, “a suprema riqueza da sua graça, em bondade para conosco”.
Novamente, podemos sentir o espanto que o Apóstolo exprimiu quando disse: “E
estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida em Cristo” (V.3). À luz desta maravilha, o Apóstolo se entregou
irrestritamente ao serviço de Deus,
confessando: “E esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de
Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl. 2:20). Eis a natureza
dessa salvação, temos um vida diferente, disposições diferentes, uma vida
devolvida a Deus em plena consagração, com esta determinação: “Eu de boa
vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma” (2Co.
12:15).
3. A Nobreza da Salvação, Vs 8-10. Nobreza no sentido de
que a salvação é distribuída generosa e gratuitamente para todos os que recebem
os seus termos. “Porque pela graça sois salvos mediante a fé” em Jesus Cristo. Por sermos totalmente incapazes
de merecer a salvação, Deus a concede gratuitamente, para que tenha um povo
exclusivamente seu, adquirido por um preço caríssimo: a morte vicária de seu
próprio Filho. Por esse sacrifício substitutivo, Cristo satisfez, plenamente, todos os requisitos da
lei, pagando todas as nossas dívidas judiciais e fazendo, assim, a nossa
justificação, Deus nos aceitando sem qualquer impedimento. “Cristo nos resgatou
da maldição da lei, fazendo-se ele próprio maldição em nosso lugar” (Gl. 3:13).
Se perguntarmos: Como pode alguém crer salvificamente em Jesus
Cristo, visto que “o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus,
porque lhe são loucura; e não pode entendê-las, porque elas se discernem
espiritualmente”? (1Co. 2:14). Novamente, percebemos a nobreza da salvação que
Deus preparou. Duas ações são introduzidas: primeiro, o homem é regenerado e
recebe uma vida nova, caracterizada por
disposições espirituais; e, em segundo lugar, recebe a fé para crer
salvificamente em Jesus Cristo. Notemos que essa fé não vem de nós mesmos, isto
é, ela não aparece mediante a nossa própria volição: “é dom de Deus”. Tudo o
que é associado com a salvação da nossa alma é concedido gratuitamente. “Não é
de obras, para que ninguém se glorie”. Para que ninguém elogie-se a si mesmo,
dizendo: Eu, com a minha própria integridade, alcancei a salvação da minha
alma. Deus é zeloso por sua própria
glória: “Eu sou o Senhor, este é o meu nome: a minha glória (concedendo a
salvação gratuitamente a meu povo), pois, não a darei a outrem, nem a minha
honra, às imagens de escultura” (Is. 42:8).
Outra verdade que enaltece a nobreza da salvação se encontra
no versículo dez: “Pois somos feitura
dele, criados em Cristo Jesus para boas
obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas”. Quais são
essas boas obras? São aqueles passos relacionados ao recebimento da nossa
salvação. “Na sua providência ordinária Deus emprega meios” (Conf. De Fé 5:3).
Assim, quanto a nossa salvação, Ele preparou, de antemão, os meios pelos quais
podemos experimentar essas bênçãos, e, andando neles, com certeza, teremos a
consciência da nossa salvação. Somos criaturas responsáveis, portanto, para
desfrutar das bênçãos de Deus, temos que obedecer aos seus preceitos. De fato,
Ele tomou a iniciativa, regenerando-nos e capacitando-nos para crer em Jesus
Cristo, porém, somos nós que temos que testemunhar da nossa fé. É sempre, “com
o coração se crê para justiça e com a boca se confessa a respeito da salvação”
(Rm. 10:10). A nossa salvação foi selada com o Santo Espírito da promessa, que
opera em nós o seu fruto, porém, somos nós que temos que externar esse fruto:
amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl. 5:22-23).
Nesse contexto, Cristo exortou: “Assim brilhe também a vossa luz diante dos
homens, para que vejam as vossas boas obras (as evidências da vossa salvação) e
glorifiquem o Pai que está nos céus” (Mt.5:16). O Ap. Tiago explicou: “Assim
também a fé, se não tiver obras (as evidências da obra de Deus), por si só está
morta” (Tg. 2:17).
Conclusão: Aprendemos nesta mensagem que a salvação da nossa
alma é uma obra única do Deus triúno; o Pai, o Filho, e o Espírito Santo, cada
um agindo de acordo com a sua própria atribuição, a fim de providenciar a vida
eterna para o seu povo.
Por causa da pecaminosidade humana, percebemos a sua
necessidade de salvação, sem a qual ele estaria perdido eternamente. Quando
examinamos a natureza da salvação, descobrimos que ela é uma revelação da
misericórdia e do grande amor de Deus. A nobreza da salvação se manifesta
mediante a sua gratuidade. Pela graça somos salvos, portanto, temos a
responsabilidade individual para externar esta obra de Deus através de uma vida
condutiva. Porque, como Cristo observou: “Pelos seus frutos os conhecereis”
(Mt. 7:20). Que a nossa salvação seja visível a todos ao nosso redor!
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