Leitura Bíblica: Cântico dos
Cânticos 5:8-10.
Introdução: O
livro é uma alegoria, composto de diálogos entre, principalmente, o esposo e a
esposa; e, às vezes, entre a esposa e as filhas de Jerusalém. Em qualquer
alegoria, as palavras não podem ser vistas e interpretadas literalmente. Quando
Cristo disse: “Eu sou o pão da vida” (Jo. 6:35), ninguém interpreta a figura em termos literais, antes, sob o
símbolo de pão, Cristo está dizendo que é Ele que sustenta a nossa vida
espiritual.
Assim, no livro
de o Cântico dos Cânticos, quando o esposo diz que os dentes da esposa são
“como o rebanho das ovelhas recém-tosquiadas, que sobem do lavadouro” (Ct.
4:2), ninguém pensa em ovelhas literais, antes, vê a brancura dos dentes.
Ao
interpretarmos os personagens desse livro, cremos que o esposo representa Jesus
Cristo, e a esposa, a Igreja, ou a representante dela. As filhas de Jerusalém
representam os membros leigos da Igreja, que nem sempre estão comprometidos com
a vida cristã.
Através dos
diálogos entre o esposo e a esposa, sentimos, mediante uma linguagem
singularmente expressiva, o amor que Cristo derrama sobre a sua Igreja. E,
semelhantemente, com uma eloquência ímpar, aprendemos como a igreja pode
corresponder ao amor de Cristo. Feliz a pessoa que pode testificar: O meu amado
é Cristo, e eu sou dele (Ct. 2:16). Ou, como o Ap. Paulo confessou: “ Porque
sei em quem tenho crido e estou bem certo de que Ele é poderoso para guardar o
meu depósito (a minha alma que confiei ao seu cuidado) até aquele Dia” (2Tm
1:12). Sim, é possível ter a convicção de um relacionamento pessoal com Jesus
Cristo. “Logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim” (Gl. 2:20).
No texto que
estamos examinando, vemos a esposa, a representante da Igreja, desafiando os
demais membros a buscar uma comunhão mais intensa com Cristo. Esses membros,
que nem sempre têm uma vida muito comprometida com Cristo, estão observando o
procedimento da representante e como ela vive a vida cristã. Por isso, a
curiosidade delas ficou despertada.
1. O
Destaque da Esposa. “Ó tu, a mais formosa entre as mulheres”. A esposa, ou,
o cristão verdadeiro, tem um destaque vistoso, seu modo de proceder é
diferente. Ele possui algo que outras pessoas não têm. Pedro e João possuíam
esse algo, constrangendo o Sinédrio a concluir: “Ao verem a intrepidez de Pedro
e João, sabendo que eram homens iletrados e incultos, admiraram-se; e
reconheceram que haviam eles estado com Jesus” (At. 4:13). Eis a razão desse
destaque na vida do cristão: É Jesus Cristo atuando em sua vida, direcionando o
seu modo de viver, fazendo com que ele tenha uma vida santa e irrepreensível.
Cristo é o Autor da nossa formosura. Essa irrepreensibilidade atua,
principalmente, sobre duas áreas da vida do cristão comprometido:
Em primeiro lugar,
ele é uma testemunha. Quando Pedro e João foram ordenados a não falar e nem
ensinar em nome de Jesus, eles logo responderam: “Julgai se é justo diante de
Deus ouvir-vos antes a vós outros do que a Deus; pois nós não podemos deixar de
falar das cousas que vimos e ouvimos” (At. 4:17-20). O cristão tem uma
experiência salvadora com Cristo Jesus; seus pecados foram todos perdoados e
agora regozija-se na promessa da vida eterna. Por isso, não pode ficar calado.
O Ap. Paulo, como testemunha de Jesus Cristo, reconheceu uma urgência na sua
missão, confessando: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois
sobre mim pesa essa obrigação, porque ai de mim se não pregar o evangelho”
(ICo. 9:16). Ninguém pode se desculpar por não falar de Cristo na medida em que
as circunstâncias o permitirem, porque Ele mesmo disse: “Mas recebereis poder,
ao descer sobre vós o Espírito Santo, e sereis as minhas testemunhas” (At.
1:8). Que cada um de nós sejamos fiéis a Cristo Jesus. A glória de seu nome,
aqui na terra, depende do nosso testemunho audível.
Em segundo
lugar, essa irrepreensibilidade tem que se manifestar em nosso relacionamento
com as pessoas ao nosso redor. O Ap. João realçou esse princípio, afirmando: “Amados,
amemo-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus, e todo aquele que ama
é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois
Deus é amor”(IJo. 4:18). Cristo nos deu esta ordem: “Novo mandamento vos dou:
que vos ameis uns aos outros” (Jo. 13:34). O mandamento é novo no sentido de
que temos, agora, um modelo para imitar, o exemplo de Cristo. Como Ele nos ama,
assim amemos uns aos outros. A prática desse amor é o que nos faz os mais
formosos entre todas as pessoas. Devemos cantar este cântico como uma oração: “Que a
beleza de Cristo se veja em mim, toda a sua admirável pureza e amor. Ó tu,
chama divina, todo o meu ser refina, até que a beleza de Cristo se veja em mim”
(Coro XIV – H. S. Hinos).
2. O Desafio
da Esposa. “Conjuro-vos, ó filhas de Jerusalém, se encontrardes o meu
amado, que lhe direis? Que desfaleço de amor”. Podemos observar três verdades nesse
versículo:
a) A solenidade
do desafio. Conjuro-vos, isto é, com toda urgência ordeno-vos. O Ap. Paulo usa
essa mesma palavra, “Conjuro-te”, para pregar com toda a instância, (2 Tm.
4:1-2). A missão da Igreja não é algo optativo, antes, a ordem de Cristo é
obrigatória: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho” (Mc. 16:15).
b) A segunda
verdade é a necessidade de buscar uma comunhão espiritual com Cristo. “Se encontrardes
o meu amado”. Por diversas razões a presença de Cristo nem sempre é tão
sensível no meio de seu povo. No contexto deste capítulo, a Igreja ficou indolente, não atendendo ao apelos de
Cristo. Por isso, quando ela finalmente se levantou, “Ele se retirara e tinha
ido embora” (Ct. 5:6). Quando a Igreja descobriu a falta da presença de Cristo, a sua “alma se
derreteu”. Existe uma única maneira para consertar as negligências do passado:
temos que voltar ao uso dos meios da graça; à leitura atenciosa das Escrituras
e à oração persistente. Eis a promessa da parte do Senhor: “Buscar-me-eis e me
achareis quando me buscardes de todo o vosso coração” (Jr. 29:13).
c) A terceira
verdade se refere às palavras que usamos quando estamos em plena comunhão com
Cristo. “Se encontrardes o meu amado, que lhe direis? Que desfaleço de amor”.
Em todos os diálogos registrados no livro dos Cânticos, de uma ou de outra
maneira, o assunto principal é o amor que existe entre Cristo e a sua Igreja.
Neste versículo, a Igreja está confessando “que desfalece de amor”. O que ela
está dizendo? Lembramos que seu coração “se derreteu” quando percebeu a
ausência de Cristo. Agora, não mais experimentando a sua presença tocável, ela
sente uma fraqueza tomando conta de seu ser. Ficou lembrando dos tempos
preciosos do passado; os tempos na Igreja, ouvindo a fiel exposição das
promessas das Escrituras Sagradas, e a comunhão espiritual com os demais
membros. Com cada uma dessas recordações, o seu amor para com Cristo se
intensificou a ponto de sentir um tipo de desfalecimento. Não podia mais
suportar a ausência de seu amado. Em suas meditações, ficou perguntando a si
mesma: Que posso falar com o meu Amado quando me encontrar com Ele? Sim,
confessarei o meu amor a Ele. Direi que desfaleço de amor. Essa é a confissão
que Cristo mais anseia ouvir dos lábios de seu povo. Por isso, quando Cristo
reencontrou com Pedro, Ele não pediu uma explicação sobre a sua falta de coragem
de confessá-lo publicamente, antes, Ele tinha uma única pergunta: “Simão, filho
de João, tu me amas?” Agora, humildemente, e com uma voz trêmula, ele responde:
“Sim, Senhor, tu sabes que te amo” (Jo. 21:16). Essa confissão de amor é de tal
modo necessária que: “Se alguém não ama o Senhor, seja anátema (que seja
amaldiçoado). Maranata! ( o Senhor venha)” (ICo. 16:22). Eis o desafio da
Igreja para cada um de nós: Que sejamos diligentes confessando o nome de Cristo
em todos os lugares; que não sejamos remissos no uso dos meios da graça, a fim
de alimentar a nossa comunhão com Ele; e que sejamos espontâneos para confessar
o nosso amor a Cristo.
3. O
Desabafo diante da Esposa. “Que é o teu amado mais que outro amado, ó tu, a
mais formosa entre as mulheres? Que é o teu amado mais do que outro amado que tanto
nos conjuras?” V.9. Com esse desabafo, repetido duas vezes para enfatizar a sua
exasperação, as filhas de Jerusalém estão exigindo uma prova de que o amado da
esposa é melhor do que os amados dessas filhas de Jerusalém. Que oportunidade
maravilhosa para falar da superioridade infinita de Jesus Cristo! Antes de
enumerar algumas virtudes, ela exulta, dizendo: “O meu amado é alvo rosado, o mais distinguido entre dez mil”.
Se fosse possível juntar dez mil dos amados que o mundo oferece a seus
seguidores, o meu Amado, Jesus Cristo, seria o mais diferenciado. “Sim, ele é
totalmente desejável” (Ct. 5:16).
Quais são
alguns dos amados que o mundo oferece a seus adeptos? Valores que os homens
prezam como a primeira preferência? Cristo mencionou alguns. “Os cuidados do
mundo” – preocupações em como vencer as dificuldades desta vida – “a fascinação
da riqueza” – o anseio de vencer na vida através do dinheiro – “e as demais
ambições”- a busca de prestígio a fim de facilitar a vida social. Todas essas
coisas têm o poder para sufocar a Palavra de Deus, anulando a sua influência
sobre a vida do ouvinte, (Mc. 4:19). Outro amado extremamente popular é o futebol,
quando jogado no Domingo, o Dia que deve ser consagrado inteiramente ao Senhor.
Ninguém pode negar que essa diversão tem o primeiro lugar na vida de muitas
pessoas. Cristo nos advertiu: “Ninguém pode servir a dois senhores, porque ou há
de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e desprezará ao
outro. Não podeis servir a Deus e as riquezas” – os amados deste mundo, (Mt.
6:24). Não negamos que esses amados dão alguns instantes de prazer, porém,
passando o seu termo, o que é que a pessoa tem de substância? “E eis que tudo
era vaidade (futilidade), e correr atrás do vento” (Ec. 2:11).
Mas vamos para o que realmente
cativa o coração do cristão. Em que sentido podemos dizer que Cristo é o Amado
“ por excelência”? Ele dá, gratuitamente, o que todas as pessoas anseiam
possuir: Paz. Cristo oferece: “Deixo-vos a paz, a minha paz vos dou; não vo-la
dou como a dá o mundo” (Jo.14:27). Qual é o efeito imediato dessa paz? Ela
guarda, em plena segurança, o nosso coração e a nossa mente em todas as
circunstâncias negativas desta vida, (Fl. 4:7). Sim, acharemos descanso para a
nossa alma, (Mt. 11:29). Essa tranquilidade interior é o fruto da morte substitutiva
de Jesus Cristo agindo eficazmente na vida de cada pessoa que nele crê. Deus, o
Pai, “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do
Filho do seu amor, no qual temos a redenção, a remissão dos pecados”(Cl.
1:13-14).
Podíamos enumerar muitos outros
valores que fazem o nosso Amado o mais distinguido entre dez mil. Contudo, os
valores mais preciosos têm que ser vivenciados pessoalmente para se sentir o
seu impacto. O caminho para essa plenitude é acessível a qualquer pessoa, basta
atender o convite de Cristo: “Vinde a mim todos os que estais cansados e
sobrecarregados, e eu vos aliviarei” (Mt. 11:28). O salmista nos convida a
experimentar: “Oh! Provai e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que
nele se refugia” (Sl. 34:8).
Conclusão: O Livro O Cântico dos
Cânticos é singular em sua categoria porque descreve, alegoricamente, a
comunhão espiritual que existe entre Cristo e a sua Igreja. Por isso, a pessoa
que tem essa união é a mais formosa entre todas as pessoas deste mundo. Esse
foi o destaque da esposa. Há uma necessidade que cada cristão busque o Senhor e
anuncie o seu nome. Esse foi o desafio da esposa. E, finalmente, existem
pessoas que querem saber por que damos tanto valor a Jesus Cristo. Esse foi o
desabafo diante da esposa. “Que é o teu Amado mais do que outro amado?” Que
possamos descobrir mais e mais a riqueza dessa comunhão espiritual com Cristo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário