Leitura
Bíblica: Mateus 18:15-35
A lição principal deste
capítulo é que devemos perdoar aqueles que pecaram contra nós. E, de igual
importância, a necessidade de revelar aos nossos irmãos na fé a mesma graça e
compaixão que o nosso Pai Celestial demonstrou a nós quando perdoou os pecados
que temos praticado contra Ele. Se o Pai Celestial tem cancelado a totalidade
da nossa dívida e tem perdoado as afrontas que temos lançado contra a sua
gloriosa majestade, seríamos indizivelmente ingratos e dignos de todo o
desprezo se deixássemos de ser misericordiosos para com aqueles que têm
transgredido contra nós! Pois, afinal, não há nenhuma comparação entre a ofensa
do nosso pecado contra Deus e a ofensa da transgressão do nosso irmão contra nós.
A diferença é semelhante àquela entre Deus, que é de uma grandeza incomparável
e de uma santidade intocável, e nós, que somos criaturas insignificantes e
pecaminosas. Este é o destaque nos versículos 23 a 34 na parábola.
Na parábola, a dívida do
servo do rei era de dez mil talentos o que, em nossa moeda, seria de milhões de
reais; mas, a quantia que o seu co-servo lhe devia era de cerca de trinta reais. O
rei perdoou a dívida enorme do seu servo, mas este, o perdoado, não teve
nenhuma compaixão para com o seu colega, que lhe devia, por comparação, uma
quantia quase irrisória. Sentimos a vileza da atitude deste homem que recusou
usar de compaixão para com o seu colega. A história ilustra a baixeza
indescritível que revelamos quando ficamos obstinados, ressentidos e
implacáveis diante daqueles que pecaram contra nós.
É uma zombaria quando
buscamos a misericórdia de Deus, se nós mesmos não conseguimos ser
misericordiosos para com o nosso irmão. Esta é a lição no v.35. “Assim também meu Pai Celeste vos fará, se no íntimo não perdoardes cada um a seu irmão”.
A questão de perdoarmos uns
aos outros precisa de cuidado, a fim de não ser mal compreendida e desvirtuada.
O assunto em questão é perdoar o irmão que peca “contra nós” (veja v.21 e
Lc 17:4). Aqui, Jesus não está lidando com o pecado praticado “contra Deus.” É
claro que os pecados praticados “contra nós,” são também pecados praticados
“contra Deus”. E, se são pecados contra nós, é porque foram, em primeiro lugar,
pecados contra Deus. Contudo, não é da nossa prerrogativa perdoar os pecados
contra Deus, mesmo que sejam praticados contra nós. No contexto deste trecho,
nosso foco é o pecado “contra nós”. Eles são, por exemplo, os pecados
direcionados contra a nossa pessoa por meio de injúrias, difamações ou
maldades. Jesus está ensinando a necessidade de sermos prontos para perdoar
este tipo de pecado.
Porém, é necessário
observar que a prontidão para perdoar não é o único dever da nossa
responsabilidade. É verdade que, quando um irmão peca contra nós, ele mesmo,
com toda prontidão, deve se aproximar de nós em confissão e arrependimento.
Mas, se ele não o fizer, nós mesmos devemos ir a ele e repreendê-lo – “Vai argui-lo entre ti e ele só” v.15. Devemos nos esforçar ao máximo para
ajudá-lo a ter uma atitude correta, e isto significa mostrar arrependimento,
para que tenhamos condições para perdoá-lo e desfrutar de um convívio de paz e
harmonia.
É neste ponto que, muitas
vezes, não entendemos o que está implícito quando perdoamos uns aos outros.
Perdão não é passar por cima da transgressão, nem simplesmente ter um espírito
perdoador ou a prontidão para perdoar. Perdão é um ato definitivo, executado
por nós quando certas condições são cumpridas. “Se o teu irmão pecar contra ti, repreende-o; se ele se arrepender,
perdoa-lhe.” Lc 17:3. Perdão é algo ativo, com base no arrependimento da
pessoa que busca o perdão. Onde estaríamos em nossa relação com Deus se Ele
estivesse apenas pronto para perdoar, porém, sem propriamente nos dar a
sentença de remissão ou absolvição?
Este ponto se aplica em
todos os casos de perdão verdadeiro. Essa é a força da resposta que Cristo deu à pergunta de Pedro, v 21-22. O perdão que oferecemos a outros não pode ter
limitações. Confessamos que é difícil perdoar repetidas injúrias e zombarias
praticadas pela mesma pessoa. Contudo, a nossa longanimidade tem que
permanecer. O nosso caso diante de Deus seria desesperador se houvesse limites
ao perdão que Ele dá a nós, os pecadores. Por isso, o nosso procedimento para
com o nosso próximo deve imitar o padrão que Deus usa quando está lidando
conosco.
“E perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós temos perdoado aos
nossos devedores.” Mt 6:12.
Porém, o que devemos fazer
se o irmão que pecou contra nós permanece surdo às nossas súplicas? Este é o
problema que Jesus resolve nos vs. 16-17. O nosso Senhor prescreveu um
procedimento bem definido para este caso.
O Senhor é muito cuidadoso
para garantir, ao máximo, que o problema seja resolvido em privacidade. Em
primeiro lugar, temos que repreender o irmão usando de discrição. Se isso não
tiver bom êxito, então devemos trazer conosco uma ou mais testemunhas. Este
recurso ainda tem uma boa medida de privacidade, e, se a assistência destas
testemunhas induz o irmão ao arrependimento, o caso fica encerrado com o nosso perdão. Somente quando este encontro
testemunhado não produz resultado, então o caso deve ser levado à Igreja de
Deus, tornando-se público. O assunto só deve ser levado à Igreja quando os dois
primeiros recursos não tiveram êxito. Levar o assunto para a Igreja revela dois
princípios: a) O cuidado que deve ser usado para resolver contendas entre
irmãos. b) A autoridade outorgada à Igreja de Deus para promover integridade
dentro do corpo de Cristo.
Não há nenhum outro recurso
no processo. Se a pessoa continuar impenitente, o irmão ofendido deve
considerar o culpado como pagão e publicano, que quer dizer, o culpado não deve ser
considerado ou tratado como membro do Corpo de Cristo. A severidade desta
sentença é indicada pelo fato de ter a sansão e o selo do próprio Deus. “Tudo o que ligardes na terra terá sido
ligado nos céus” v.18. A vontade de Deus nos céus não é diferente daquela
prescrita na sua Palavra escrita. Se a Palavra de Deus tem sido observada,
então, podemos nos sentir seguros de que Deus registrou a sua aprovação nos
céus em relação ao que temos feito na terra. Em resumo, a vontade de Deus, como
revelada em sua Palavra, é a mesma vontade de Deus nos céus. As decisões da
Igreja na terra, quando consoante com a Palavra de Deus escrita, têm a autoridade
e o selo de Deus; não devemos fugir da resposta dizendo que ela foi apenas uma
decisão de homens. Se eles estiverem seguindo as prescrições das Escrituras
Sagradas, então, as respostas são as sentenças de Deus nos céus.
Traduzido de COLLECTED WRITINGS OF JOHN MURRAY Vol.3
Banner of Truth.
Tradutor: Rev. Ivan Ross
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