Leitura:
Efésios 5:25b-27.
Introdução:
A Igreja é composta de todos os que são “santificados em Jesus Cristo, chamados
para serem santos, com todos os que em todo lugar invocam o nome de nosso
Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso” (1Co. 1:2), ou, a definição da nossa
Confissão de Fé, Cap. 25: “A Igreja Universal, que é invisível (no sentido que
só Cristo sabe quais são os seus) consiste do número total dos eleitos que já
foram, dos que agora são e dos que ainda serão reunidos em um só corpo, sob
Cristo, sua cabeça; ela é a esposa, o corpo, a plenitude daquele que enche tudo
em todas as coisas (Ef. 1:10, 22, 23; Cl. 1:18; Ef. 5:23,27,32.)” Este é o povo
que Jesus Cristo ama com um “amor eterno” (Jr. 31:3).
Cremos
que a Igreja de Deus existia no Antigo Testamento e continua no Novo Testamento.
Qual é a base para acreditar nesta continuidade? Porque, desde o princípio, o
povo “começou a invocar o nome do Senhor” (Gn. 4:26). Estes piedosos foram
salvos pelo mesmo ato de nós, isto é, pela fé na providência gratuita de Deus;
como nós, eles se alimentavam da Palavra de Deus; também celebravam os mesmos
sacramentos de acordo com a própria dispensação: circuncisão – batismo (ritos
para tornarem-se membros do povo de Deus na Terra), Páscoa-Ceia do Senhor (ritos
para celebrarem os grandes atos de Deus na redenção e salvação de seu povo); e,
igualmente, aguardavam o pleno cumprimento das promessas de Deus. Estes quatro
elementos continuam sendo o sustento espiritual do povo de Deus em nossos dias.
Como é que devemos contemplar o povo de Deus no Antigo Testamento? “Na verdade
(o Senhor), amas os povos; todos os teus santos estão na tua mão; eles se
colocam a teus pés e aprendem das tuas palavras” (Dt. 33:3). E no Novo
Testamento? Este povo é privilegiado, está na mão de Cristo, vivendo em plena
comunhão espiritual com Ele (Jo 10:28; 15:10).
É
importante observar que Cristo usa o seu próprio amor como padrão para estabelecer
a natureza do amor que devemos praticar em relação ao nosso irmão: “O meu
mandamento é este: que vos ameis uns aos outros, assim como eu vos amei” (Jo.
15:12). Reconhecendo este princípio, somos exortados: “Tende em vós o mesmo
sentimento que houve em Cristo Jesus” (Fl. 2:5).
Vamos
ao estudo, a fim de entender o procedimento, o propósito e o prodígio do amor
de Jesus Cristo para o seu povo.
1.
O Procedimento do Amor de Cristo (V, 25b). “Cristo amou a Igreja e a si
mesmo se entregou por ela”. A maior expressão do amor se manifesta quando
alguém dá a sua própria vida em favor do necessitado. Cristo afirmou: “Ninguém
tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor dos seus
amigos” (Jo. 15:13). O Ap. Paulo sublinhou esta verdade, dizendo: “Mas Deus
prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós,
sendo nós ainda pecadores” (Rm. 5:8).
É
oportuno fazer uma pergunta: Por que Deus foi movido a nos amar e providenciar
para nós a redenção e a salvação? Afinal, somos filhos da desobediência, mais
amigos dos prazeres que amigos de Deus e totalmente incapazes de retribuir com
qualquer ato meretório. Talvez possamos receber uma resposta fazendo uma outra
pergunta. Por que o Samaritano foi movido a ajudar um desconhecido, ferido,
semi-morto, e sem qualquer condição para retribuir com algum pagamento? O
samaritano agiu por compaixão ao infeliz. A compaixão sempre faz o seu
possuidor agir em favor do necessitado. Compaixão é empatia, a capacidade para
se colocar na situação ou circunstância experimentada por outra pessoa. Naquele
caso, o uso de primeiros socorros foi suficiente para demonstrar a sua
compaixão. Uma ferida física pode ser relativamente fácil de tratar. Mas o
problema do pecador é bem mais grave. Ele jaz sob a pena de uma morte
espiritual, sob uma lei imutável que exige o seu banimento da presença
abençoadora de Deus. Como é que Deus conseguiu ser justo – cumprindo a lei e ao
mesmo tempo ser justificador – libertando o pecador desta sentença? Deus
recorreu à lei da substituição, quando um inocente podia assumir a sentença do
culpado. Foi exatamente isso que Cristo, o imaculado Filho de Deus fez quando
assumiu a culpa do pecador. “Aquele que não conheceu o pecado, ele o fez pecado
por nós: para que nele fôssemos feitos justiça de Deus” (2Co. 5:21). O conceito
desta lei foi repetidamente demonstrado mediante o sacrifício de animais
inocentes. “Porque a vida da carne está no sangue. E vo-lo tenho dado sobre o
altar, para fazer expiação pela vossa alma, porquanto é o sangue que fará
expiação (a remoção do pecado) em virtude da vida” (Lv. 17:11). Quando
Cristo deu a sua vida em resgate por muitos,
Ele derramou o seu sangue, sangue que nos purifica de todo o pecado, (1 Jo
1:7). Cristo descreveu a sua abnegação pessoal, dizendo: “Dou a minha vida
pelas ovelhas (...) Por isso o Pai me ama, porque eu dou a minha vida para a
reassumir. Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente a dou”
(Jo. 10:15, 17, 18). E, por causa do contexto de Efésios 5:25-27, acrescentamos
esta aplicação: “Tende em vós o mesmo sentimento que houve também em Cristo
Jesus” (Fl. 2:5). E o Ap. João, comentando sobre este “sentimento”, disse:
“Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós, e devemos dar a
nossa vida pelos irmãos” (1Jo. 3:16).
2.
O Propósito do Amor de Cristo, (V. 26). “Para que a santificasse, tendo-a
purificado por meio da lavagem de água pela palavra”. Todas as pessoas que
entram na Igreja como cristãos professos, entram como pecadores. Portanto, o
grande propósito do amor de Cristo é a purificação deste povo. Depois de enumerar
alguns pecados das pessoas que entraram na Igreja de Corinto, o Ap. Paulo
acrescenta: “Tais fostes alguns de vós; mas vós vos lavastes, mas fostes
santificados, mas fostes justificados em nome do Senhor Jesus Cristo e no
Espírito do nosso Deus” (1Co 6:11). Este processo de purificação se chama santificação do pecador.
Como
é que a santificação se realiza em nós?
O Breve Catecismo da nossa Igreja nos dá esta definição simplificada: “
Santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos renovados em todo
o nosso ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a morrer cada vez mais para
o pecado e a viver para a retidão” (Resp. 35). Morrer para o pecado significa
recusar o desejo de oferecer os membros do nosso corpo ao pecado como instrumentos
de iniqüidade. Em vez de continuar enlouquecidamente no pecado, oferecemo-nos a Deus, como ressurretos
dentre os mortos, e, nossos membros, como instrumentos de justiça, (Rm. 6:13).
Quais
são os meios principais que Deus usa para nos santificar? Ele usa a Palavra e o
seu Espírito Santo para aplicar a virtude e o poder da morte e ressurreição de
Jesus Cristo à nossa vida. O versículo da nossa leitura oferece uma resposta
paralela: tendo purificado a Igreja “por meio da lavagem de água pela palavra”.
O uso de água, nos ritos religiosos, sempre se refere às purificações, (Lv.
8:7). Assim, o Apóstolo está dizendo que a Palavra de Deus tem um efeito
purificador sobre a nossa vida. Cristo disse a seus discípulos: “Vós já estais
limpos pela palavra que vos tenho falado” (Jo. 15:3). A nossa santificação é sempre definitiva,
“porque aquele que começou boa obra em nós há de completá-la até o Dia de Jesus
Cristo” (Fl. 1:6).
3.
O Prodígio do Amor de Cristo, (V. 27). “Para a apresentar a si mesmo Igreja
gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem cousa semelhante, porém, santa e sem
defeito”. Eis o grande prodígio do amor
de Cristo, uma Igreja aperfeiçoada e pronta para as moradas eternas. Cristo
começou a sua obra com um povo pecador, morto em seus delitos e pecados, mas
este foi lavado e santificado, mediante a aplicação poderosa da Palavra de Deus
pelo Espírito Santo na vida de cada um. Sentimos ainda a realidade das nossas
imperfeições do momento, porém, Cristo nos vê em nosso estado final, uma Igreja
“santa e sem defeito.” Ah, se pudéssemos ver a nós mesmos como Cristo nos vê, o
nosso coração transformado com uma “alegria indizível e cheia de glória,” e com
uma “paz que excede todo o entendimento”! (1Pe. 1:8; Fl. 4:7). Contudo, não
podemos esquecer que fomos comprados por preço, o derramamento do precioso
sangue de Jesus Cristo.
Agora,
devemos fazer uma pergunta necessária: Por que Cristo fez tudo isso? No início,
Deus criou o homem para a sua própria glória, porém, o pecado entrou e deturpou
esta glória. Os propósitos de Deus ficaram frustrados? De forma alguma! O seu
povo seria redimido e perdoado para novamente o glorificar. Este povo redimido
pertence a Jesus Cristo, porque foi Ele que amou a Igreja e a si mesmo se entregou
por ela, para a santificar, a fim de apresentar a si mesmo uma Igreja gloriosa
e sem defeito. Quanto à nossa santificação, somos exortados: “Tende em vós o
mesmo sentimento que houve também em Cristo Jesus” (Fl. 2:5). Como Ele fez tudo
para nos santificar, assim nós também devemos buscar essa santificação.
Rev. Ivan G. G. Ross - Itajubá
11
de Janeiro de 2013
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