Vasos de Honra

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A PRONTIDÃO DO SENHOR




Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Salmo 23:1-6.

Introdução:  Embora tenhamos o costume de ouvir: “O Senhor é o meu pastor”, creio que é igualmente apropriado e bíblico dizer: “O Senhor é o meu Guia”. O Salmista, exaltando o Senhor, confessou: “Que este é Deus, o nosso Deus para sempre; Ele será o nosso Guia até a morte” (Sl. 48:14). E esta oração ao Senhor pode ser a nossa: “Guia-me na tua verdade e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação” (Sl. 25:5). Agora, em vez de me considerar como uma ovelha, quero me apreciar como um peregrino, caminhando para a minha morada lá no céu. Creio que  o contexto do Salmo 23 permite vermos o Senhor como nosso Guia, que é sinônimo de Pastor, aquele que cuida de todas as nossas necessidades enquanto caminhamos pelo vale de Sidim (local de guerra, Gn. 14:8).

Notemos que o Salmo 23 é intensamente pessoal, eu e o meu Senhor. Por causa dessa intimidade, “não temerei mal nenhum, porque tu (o Senhor) estás comigo”. Embora existam milhões de pessoas invocando o nome do Senhor, temos que reconhecer a nossa singularidade, temos que lidar com o nosso Deus como indivíduos responsáveis. “E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele para quem temos de prestar contas” (Hb. 4:13).

1. A Provisão do Senhor, Vs. 1-2. Ao peregrinar para o lar celestial, quais são algumas das provisões incluídas nesta promessa preciosa: “Nada me faltará”? O Senhor não nos guia por caminhos que causam decepção, antes, Ele nos “faz repousar em pastos verdejantes”. Ele não nos guia por caminhos áridos, antes, Ele nos leva “para junto das águas de descanso”. Nessas duas figuras, que têm basicamente o mesmo sentido, percebemos o cuidado que o Senhor tem para com o seu povo. Ele consola os desanimados, ampara os fracos e é longânimo para com todos. “Faz forte ao cansado, multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águia, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam” (Is. 40:29-31).

Visto que estamos caminhando para o lar celestial, fundamentamos a nossa vida sobre valores espirituais, aprendemos de Cristo e andamos com Ele. “Aquele que diz que permanece em Cristo, esse deve também andar assim como Ele andou” (1Jo. 2:6). Vamos meditar, por um momento, sobre o que Cristo fez por nós: “Comigo houve pobreza e vacuidade; porém, com Ele, riquezas e plenitudes. Por causa da minha pobreza, Ele se fez pobre; porém, agora, as suas riquezas me fizeram rico, para nunca mais ser pobre. Eu era, muitas vezes, cansado; porém, Ele é sempre forte. Havia um tempo quando o meu cansaço o fez cansado; mas, agora, a sua força me faz forte. Eu conhecia somente os lugares pesados e barulhentos; porém, Ele me fez conhecer os lugares lenimentos (suaves) e tranquilos. Havia um tempo quando Ele, para me buscar, entrou nesses lugares mundanos; e, agora, habito com Ele em pastos verdejantes e águas de descanso. Eu estava com fome e sede num lugar desértico; porém, nele, tenho todas as plenitudes da providência de Deus, onde ele refrigera a minha alma, dia após dia” (citado do livro: The Psalms, por W. E. Scroggie). Agora, o Salmista faz uma pergunta pertinente: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me comprazo na terra” (Sl. 73:25). “Digo ao Senhor: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente” (Sl. 16:2).  

2. A Proteção do Senhor, Vs 3:4. Ele me guia pelas veredas da justiça, por amor do seu nome”. Primeiro, Ele “refrigera” (restaura) a minha alma, colocando-a em plena comunhão espiritual consigo mesmo, para,  em segundo lugar, guiar-me pelas veredas da justiça. A conversão, ser nascido de novo, sempre precede qualquer direção espiritual em nossa vida. Ele não nos guia para alcançar preeminência nos negócios deste mundo, mas, sim, excelência na prática da justiça. E qual a razão dessa direção? Por amor do nome do Senhor. De certa forma, quando fomos chamados para glorificar a Deus pela prática da justiça, Ele envolveu a honra do seu nome em nosso procedimento. Mas Ele não nos deixou sozinhos para glorificar o seu nome, antes, Ele mesmo nos guia soberanamente, dando-nos as necessárias forças para agir de acordo com a sua vontade, por amor do seu nome. Assim, é Ele quem recebe toda glória e é a graça imerecida que há de completar a sua obra santificadora que Ele começou quando fomos “chamados para sermos de Jesus Cristo” (Rm. 1:6).

Na Bíblia, o verbo “andar” normalmente se refere ao nosso modo de viver, “andar nas trevas” (Jo. 8:12); “andar na luz” (Ef. 5:8). O Apóstolo falou sobre o andar negativo: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andaste outrora, segundo o curso deste mundo” (Ef. 2:2). E, agora, o andar positivo: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis dignos da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef. 4:1-3). Andar, portanto, sempre envolve direção; estamos andando de acordo com a vontade de Deus. A experiência nos ensina que, nesse andar, temos que enfrentar todo o tipo de circunstâncias, coisas agradáveis, bem como desagradáveis. Nunca saberemos o que pode acontecer no amanhã; contudo, para o cristão, o desconhecido não lhe dá medo, porque Cristo prometeu: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (Mt. 28:20).

Nesse contexto, o Salmista declarou: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo”. Esse “vale” se refere às circunstâncias aflitivas, e não necessariamente à morte física. Contudo, o Salmista emprega uma frase expressiva: “A sombra da morte”. Uma sombra, apesar de indicar uma presença, não é o objeto em si. Sentimos a possibilidade de um problema, porém, muitas vezes, ele não nos toca. Mas, por outro lado, especialmente no caso da morte, ou de um querido, ou da nossa própria, temos que ficar de sobreaviso.  

Então, como podemos nos preparar para qualquer eventualidade? A resposta do Salmista é que devemos confiar na prometida proteção, cuidado e presença consoladora do Senhor. “Não temerei mal nenhum, porque tu (o Senhor) estás comigo; o teu bordão e o teu cajado (os meios da graça: a Palavra de Deus e a oração), me consolam”. O Apóstolo acrescenta: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino, foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Rm. 15:4). Tempos de grandes elevações espirituais devem ser moderados com a lembrança das palavras solenes do Apóstolo no exercício de seu ministério: “Fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At. 14:22) Variadas circunstâncias, sim, mas em todas essas coisas, somos peregrinos vitoriosos por meio de Jesus Cristo (Rm. 8:37).

3. A Profusão do Senhor, Vs.5-6. O peregrino chegou ao término da sua carreira. Mas qual é a esperança do cristão, que andava no Espírito, evitando as concupiscências da carne? (Gl.5:16). Ele ouvirá: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt. 25:34). Em seguida, será recepcionado de acordo com os costumes de hospedagem do Oriente. Uma mesa de delícias o aguardará; sua cabeça será ungida com óleo e receberá um cálice transbordante de “água das fontes da salvação” (Is. 12:3). Uma referência a esse costume pode ser encontrada em Lucas 7:36-50, onde o convidado receberia os sinais de boas vindas: ter os pés lavados; ter a cabeça ungida com óleo ou bálsamo; receber um ósculo. No caso relatado por Lucas, embora convidado por um fariseu, Jesus não foi honrado com esses sinais de boas vindas, porém, uma pecadora veio com um vaso de alabastro e derramou tudo sobre a pessoa de Jesus, demonstrando, publicamente, o seu muito amor, porque Ele perdoara os seus muitos pecados. O nosso peregrino não foi desprezado, como aconteceu com Jesus na casa do fariseu, antes, foi recebido com uma festa luxuosa, sua cabeça foi ungida com óleo, e na sua mão recebeu um cálice transbordante de toda sorte de bênçãos espirituais. É quase impossível imaginar o que “Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co. 2:9).

Outro detalhe que enaltece o recebimento do peregrino: “Prepara-me uma mesa na presença dos meus adversários”. O povo de Deus tem os seus adversários, pessoas que têm prazer em demonstrar a sua rejeição a Deus e a seu povo. Mas, no Dia Final, esses zombadores serão obrigados, em seu tormento, a contemplar a bem-aventurança daqueles que amam e respeitam a Deus. Na parábola do Rico e do Mendigo, o rico via a felicidade de Lázaro. A circunstância dos dois é resumida com estas palavras ao rico: “Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos”. (Lc. 16:19-31). A lição que  Jesus está inculcando é esta: “Não vos enganeis: de  Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl. 6:7).

Qual é a bem-aventurança do peregrino, já no céu? Com a sua cabeça ungida com óleo purificador, ele tem pensamentos de gratidão, confessando: “ O meu cálice transborda”. O nosso gozo é completo, (Jo. 15:11). Ligado inseparavelmente a esse gozo está a confiança de continuidade: “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida (na eternidade); e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre”. Davi previu essa bem-aventurança espiritual quando escreveu: “Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade! Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas. Fartam-se da abundância da tua casa, e na torrente das tuas delícias lhes dás de beber. Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz” (Sl.36:7-9). 

Conclusão: No Salmo 23, temos uma fonte de riquezas, porém, elas têm que ser descobertas mediante um tempo dedicado a esse fim. O Senhor é o meu Pastor; mas Ele é também o meu guia, “Guiando-me na verdade do  Senhor e ensinando-me, pois Ele é o Deus da minha salvação, em quem eu espero todo o dia” (Sl. 25:5). Temos visto a Provisão do Senhor: “Nada me faltará”. Temos visto a Proteção do Senhor: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo”. E temos visto a Profusão do Senhor: “Preparas-me uma mesa ... o meu cálice transborda”. Terminamos citando o hino: “Peregrinando por sobre os montes, e pelos vales, sempre na luz! Cristo promete nunca deixar-me, eis-me convosco, disse Jesus. – Brilho Celeste! Brilho Celeste! Enche a minha alma, glória do céu! Aleluia! Sigo cantando, dando louvores, pois Cristo é meu!” (HNC 114).

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