Leitura
Bíblica: Romanos 12:9-21.
Introdução:
Temos falado sobre a necessidade de respeitar os dons que outras pessoas têm.
Agora, como cristãos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros.
Reconhecemos as diferenças entre os membros da Igreja, contudo, devemos
respeitar essa diversidade sem sentir ciúmes, visto que alguns têm maior
destaque do que outros. Cada membro tem a sua própria dignidade. Mas, para
praticar esse respeito, temos que amar uns aos outros. Portanto, o título dessa
mensagem: Como amar o nosso próximo? O amor que devemos a Deus será abordado em
cap. 13:8:10.
Primeiro,
temos que tentar definir, de uma maneira prática, a natureza do amor que
devemos ao nosso próximo. Reconhecemos que existem duas manifestações do amor:
um comum, que engloba todas as pessoas, sem considerar o seu estado social ou
espiritual. “O amor não pratica o mal contra o seu próximo”, ou qualquer outra
pessoa, (Rm. 13:10). Por outro lado, existe um amor particular, que derramamos
sobre a nossa família, os irmãos em Cristo, e não necessariamente, sobre os
descrentes. Em dadas circunstâncias, é o irmão em Cristo que recebe a preferência. “Por isso, enquanto tivermos
oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé”
(Gl.6:10). O segredo é: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com
os outros” (1Pe. 4:8). O próprio Deus pratica essas duas manifestações de amor:
um amor comum, pelo qual todos recebem da sua bondade, “Contudo (Deus) não se
deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas
e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e alegria” (At.
14:17; Mt. 5:45); mas, também, um amor particular, reservado exclusivamente
para o seu povo escolhido. Por isso, de necessidade, alguns são colocados à
parte. Basta mencionar a salvação. Nem todos recebem a vida eterna, somente
aqueles que crêem em Jesus Cristo (Jo. 3:16). Cristo não foi dado para morrer
substitutivamente no lugar de cada indíviduo, antes, foi dado para salvar o seu
povo, os eleitos; os demais são excluídos por causa de suas transgressões. José
foi instruído quanto ao nome da criança que iria nascer: “Ela (Maria) dará à
luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos
pecados deles” (Mt. 1:21). Notemos a especificação da missão de Cristo:
“salvará o seu povo”, aqueles que o Pai lhe deu. “Todo aquele que o Pai me dá
(e somente estes), esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o
lançarei fora” (Jo. 6:37). O amor particular de Deus é a base da nossa
esperança espiritual. Como é consolador entender que “Deus não nos destinou para
a ira, mas para alcançar a salvação mediante o nosso Senhor Jesus Cristo, que
morreu por nós” (1Ts. 5:9-10).
No
estudo de como amar o nosso próximo não discernimos uma seqüência específica de
prioridades, nem uma distinção absoluta entre o amor comum e o amor particular.
O Apóstolo se limita a nos dar princípios básicos de como devemos amar o nosso
próximo. Para facilitar a compreensão das diversas partes, oferecemos algumas
sugestões como chave do assunto.
1.
O nosso amor se direciona objetivamente com
atitudes estabelecidas, Vs. 9-10. a) “O amor seja sem hipocrisia”. A
hipocrisia é um dos pecados mais odiosos. Não existe nenhuma outra perversidade
tão danosa contra a integridade quanto a hipocrisia, porque ela contradiz a
verdade. Podemos sentir o veneno desse mal quando Jesus perguntou para Judas
Iscariotes: “Judas, com um beijo trais o Filho do homem?” (Lc. 22:48). O que
agrada a Deus é uma “fé sem fingimento”
(2Tm. 2:15). O amor é a plenitude da virtude, mas a hipocrisia é o epítome da
maldade. b) “Detestai o mal, apegando-vos ao bem”. O nosso amor a Cristo deve
nos constranger em momentos de tentação. Em vez de ficar apegado ao mal,
fiquemos apegados ao bem. “Vós que amais o Senhor, detestai o mal; ele guarda a
alma dos seus santos, livra-os da mão dos ímpios” (Sl. 9:10). c) “Amai-vos
cordialmente uns aos outros com amor fraternal”. Esse é o amor que devemos
praticar dentro da Igreja. Como podemos definir esse “amor fraternal”?
Oferecemos o exemplo de Cristo: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua
vida por nós; e devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (1Jo.3:16). “Ninguém tem
maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor de seus amigos”
(Jo. 15:13). d) “Preferindo-vos em
honra, uns aos outros”. Os fariseus se esforçavam para sempre ocupar os
primeiros lugares, (Mt. 23:6-7). O amor não sente nenhuma necessidade de
receber honras ou destaques especiais entre os homens, pois a honra que Cristo
nos dá o satisfaz plenamente. A advertência de Cristo deve ser lembrada: “Quem
a si mesmo se exalta será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será
exaltado” (Mt. 23:12).
2.
O nosso amor age zelosamente, evitando omissões, Vs. 11-14. a) “No zelo,
não sejais remissos”. Qual foi a atitude de Jesus Cristo diante do trabalho do
Senhor? Zelo, dedicação, diligência; a
preguiça foi desconhecida. Ele mesmo confessou a seu Pai: “O zelo da tua casa
me consumirá” (Jo. 2:11). E o Ap. Paulo confessou: “Mas pela graça de Deus, sou
o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes,
trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus
comigo” (1Co. 15:10). b) “Sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor”. Não
deixemos o desânimo tomar conta de nós quando o trabalho está se tornando
difícil. Timóteo recebeu esta exortação: “Por esta razão, pois, te admoesto que
reavives o dom que há em ti pela
imposição das minhas mãos” (2Tm. 1:6). E, para nos encorajar, está escrito: “E
não cansemos de fazer o bem porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos”
(Gl. 1:6-9). c) “Regozijai-vos na esperança”. A esperança da salvação eterna
é o motivo da nossa alegria; de um dia
“sermos semelhantes a Cristo, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo. 3:2).
d) “Sede pacientes na tribulação”. Os cristãos foram exortados “ a permanecer
firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar
no reino de Deus” (At. 14:22). Cristo nos advertiu: “Se me perseguiram a mim,
também perseguirão a vós outros” (Jo. 15:20). e) “Na oração, perseverantes”.
Sem a oração, não teremos alegria em nossa salvação, nem paciência na
tribulação. Pela oração, ficamos fortalecidos na fé, (Cl. 1:9-12). f)
“Compartilhai as necessidades dos santos”. Com essa virtude, demonstramos que
amamos a Deus. O Ap. João escreveu: “Ora, aquele que possuir recursos deste
mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como
pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, mas de
fato e de verdade” (1Jo. 3:17-18). g) “Praticai a hospitalidade”. Talvez, em
nossos dias, essa palavra não tenha a mesma necessidade como nos tempos
bíblicos, contudo, podemos ainda praticar o espírito dessa exortação. A nossa
casa pode ser um lugar para cultos, quando queremos evangelizar os nossos vizinhos.
Quando lemos sobre o início de uma nova Igreja, quantas vezes a história é como
este relato: O primeiro culto se realizou na casa do irmão tal. A nossa casa
pode ser um refúgio onde o cristão cansado pode chegar a fim de receber uma
palavra de encorajamento espiritual. Veja a atitude de Áquila em At. 18:24-26.
Com portas abertas, podemos receber oportunidades para evangelizar passantes. h)
“Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis”. O Ap. Paulo era um
perseguidor feroz dos cristãos. Mas qual foi a atitude da igreja? Cremos que
eles oravam incessantemente por sua
conversão, e Deus respondeu as suas súplicas, (At. 4:23-31). Assim, Ananias
recebeu esta ordem: “Vai (a Saulo), porque este é para mim um instrumento
escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os
filhos de Israel” (At. 9:15). Deus não pode responder a oração que está pedindo
que os perseguidores sejam amaldiçoados, porém, ouve a oração que pede a benção
para essas pessoas infelizes.
3.
O nosso amor pratica a empatia com os demais irmãos em Cristo, Vs. 15:16.
a) “Alegrai-vos com os que se alegram e
chorai com os que choram”. Eis a empatia: aquela habilidade de sentir o que o
irmão está sentindo. Pensamos na alegria dos
pais cujo filho rebelde se converteu e agora está vivendo uma vida
piedosa. Por que tanta alegria? “Era preciso que nos regozijássemos e nos
alegrássemos, porque este teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e
foi achado” (Lc. 15:32). Ou pensamos na tristeza dos pais piedosos cujo filho
abandonou a igreja a fim de viver uma vida dissoluta. Quantas lágrimas são
derramadas por causa dessa decepção! Seja qual for o caso, a empatia traz
consolo às famílias. b) “Tendo o mesmo
sentimento uns para com os outros”. Empatia é ter harmonia no viver da vida
cristã. c) “Em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde”.
Na igreja, somos um só em Cristo, por isso, evitamos atitudes de superioridade.
d)”Não sejais sábios aos vossos próprios olhos”. Foi o problema principal da igreja de Laudicéia, pois dizia: “Estou rico e abastado
e não preciso de coisa alguma” (Ap. 3:17). Auto-suficiência é uma presunção que leva muitos para a
perdição eterna.
4.
O nosso amor age passivamente em circunstâncias provocadoras, Vs. 17-18. a)
“Não torneis a ninguém mal por mal”. Em vez de pagar com a mesma moeda:
“Esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens”. Cristo disse: “Assim
brilhe também a vossa luz (a realidade da nossa vida cristã) para que vejam as
vossas boas obras (o fruto transformador de Cristo em nós) e glorifiquem a
vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5:16). b) “Se possível, quanto depender de
vós, tende paz com todos os homens”. Existem circunstâncias nas quais é
impossível viver em concordância de opiniões. Nessas provocações, é melhor
mantermos o silêncio, mas, sem negar a verdade. É melhor encerrar o assunto
passivamente em vez de prolongá-lo, alimentando mais desgostos. “Porque todos
tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão,
capaz de refrear também todo o corpo” (Tg. 3:2). “Do muito falar (nascem)
palavras néscias” (Ec. 5:3).
5.
O nosso amor se manifesta quando conseguimos entregar todos os ultrajes que
recebemos àquele que julga retamente, Vs. 19-21. No primeiro versículo deste
capítulo, o Apóstolo destacou as misericórdias de Deus, ou seja, a natureza de
seu interesse para com o seu povo. Aqui, no V.19, é o Apóstolo que abre o seu
coração diante dos membros da Igreja, chamando-os de “amados”, a fim de incutir
a seriedade do seu apelo: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar
à ira (de Deus); porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que
retribuirei, diz o Senhor”. a) A vingança é uma prerrogativa exclusiva de Deus;
e, se alguém praticar a sua própria
vingança, está pecando, porque está fazendo o que Deus proíbe. Guardar e
cumprir as ordens de Deus são disposições sábias e gratificantes, (Dt. 4:6). b)
A passividade diante das injúrias é um ato de fé, porque cremos que Deus é o
Vingador por excelência; Ele fará bem melhor do que nós. c) “Pelo contrário,
(em vez de tentar se vingar), se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se
tiver sede, dá-lhe de beber, porque fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre
a sua cabeça”. Esse princípio é uma exposição prática do V.14. “Abençoai os que
vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis”. Qual será o resultado desse ato de altruísmo? “Amontoarás brasas vivas sobre
a cabeça” do seu adversário. Embora não aconteça sempre, sabemos que uma
resposta desprendida pode mexer com a consciência do antagonista e resultar
numa reconciliação que exalta o poder de Deus – Deus abençoando o ato de seu servo. d) “Não te deixes vencer do
mal, mas vence o mal com o bem”. O
pensamento é: Não deixes o mal sacudir a sua confiança nas promessas de Deus,
praticando uma vingança particular, antes, vença o mal praticando um ato de
altruísmo, lembrando que o seu adversário pode ser amolentado por um ato de
bondade. Em circunstâncias adversas, o cristão tem uma oportunidade para provar
a realidade da sua fé em Cristo. “Assim,
brilhe também a vossa luz diante dos
homens (diante dos vossos adversários), para que vejam as vossas boas obras
(por exemplo, o altruísmo) e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt.
5:16).
Conclusão:
O desafio para amar o nosso próximo
continua sendo um mandamento irrevogável. O nosso texto nos deu algumas chaves,
para que pudéssemos demonstrar a realidade da nossa vida em Cristo. Nesse
contexto, o Apóstolo ordena: “Portanto, despojando-vos de toda impureza e
acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual
é poderosa para salvar a vossa alma. Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e
não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg. 1:21-22).
Rev. Ivan G. G. Ross
Nenhum comentário:
Postar um comentário