Introdução: O Salmo 14 descreve o homem natural; ele é um insensato e vive praticando a injustiça. O Salmo 15 descreve o homem espiritual; ele vive com integridade e pratica a justiça. O injusto vive afastado dos caminhos do Senhor, pois não O invoca; enquanto que o justo vive no temor do Senhor e, de coração, fala a verdade. Um serve os seus próprios interesses, por isso, corrompe-se e pratica abominação; ao passo que o outro serve ao Senhor e vive irrepreensivelmente como na presença dele. Convém lembrar que o Senhor distingue entre um e o outro. “Então vereis outra vez a diferença entre o justo e o perverso, entre o que serve a Deus e o que não o serve” Ml.3:18.
Portanto, o Salmo 15 não está descrevendo como o pecador se salva; antes, está mostrando como o pecador regenerado demonstra a sua nova vida em comunhão com Deus. Mas qual é o fator que provoca esta diferença entre as pessoas deste mundo? Para receber esta nova espiritualidade, a pessoa tem de nascer de novo, tem de ser regenerada pela intervenção do Espírito Santo. Cristo enfatizou: “Se alguém não nascer de novo não pode ver (e nem entender as verdades que pertencem a) o reino de Deus... O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito” Jo.3:3,6. Nascer da carne significa entrar nesta vida carregando todo o legado do pecado; isto é, “não tendo esperança e sem Deus no Mundo” Ef.2:12. Mas aquele que é nascido do Espírito, é aquele que crê em Jesus Cristo, e que experimentou “a benignidade de Deus, nosso Salvador ... ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” Tt.3:4-5.
No entanto, a experiência do novo nascimento nem sempre é tão sensível, antes, muitas vezes, é uma consciência sutil da obra progressiva de Deus em nossa vida, um crescimento perceptível na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador, Jesus Cristo, 2Pe.3:18. Portanto, na falta de uma experiência momentosa, é necessário discernir as evidências do novo nascimento. A natureza de cada pessoa é descoberta pelo fruto que produz, Mt.7:15-16. Aquele que crê em Cristo desfruta de uma união vital com ele. “E, assim, se alguém está em Cristo (unido com Ele), é nova criatura; as cousas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” 2Co.5:17.
O Salmo 15 apresenta alguns aspectos desta nova vida em Cristo Jesus. A verdadeira justiça é sempre demonstrável, isto é, a mudança no procedimento moral e espiritual é visível a todos, Mt.5:16.
1. Uma Pergunta que Exige uma Resposta, V.1. Devemos entender que o Salmista levantou seus olhos para contemplar o “Tabernáculo” e o “santo monte” de Jeová. Este é o nome pessoal e mais sublime do Deus verdadeiro, Ex.3:15. O pensamento principal neste nome vem do verbo “Ser”: “Eu Sou”, como se encontra em Ex.3:6, 13-15; 6:2-3, e enfatiza a sua auto subsistência e eternidade. Jeová revelou o sentido deste nome a Moisés, dizendo: “Senhor, Senhor Deus compassivo, clemente e longânimo e grande em misericórdia e fidelidade; que guarda a misericórdia em mil gerações, e perdoa a iniqüidade, a transgressão e o pecado, ainda que não inocenta o culpado, e visita a iniqüidade dos pais nos filhos e nos filhos dos filhos, até a terceira e quarta geração” Ex.34:5-8,14. Ao ouvir este Nome, Moisés imediatamente se curvou para a terra e O adorou, porque, nele, está o perdão do pecado, Sl.130:4.
Quando o Profeta Isaías viu o Senhor (Jeová) assentado sobre um alto e sublime trono, ele logo percebeu a santidade deste Deus, pois os serafins “clamavam uns para os outros: Santo, Santo Santo é o Senhor dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.” E qual foi a reação do Profeta? Ele sentiu a sua pecaminosidade condenadora e a impossibilidade de ser aceito por um Deus tão santo e separado de pecadores, Is.6:1-5. O Salmista em nossa leitura sentiu algo semelhante, por isso, a pergunta: “Quem, Senhor, habitará no teu tabernáculo? Quem há de morar no teu santo monte?” Que pode se aproximar deste Deus, em cuja presença os imaculados Serafins são constrangidos a encobrir seus rostos, pois a santidade do Senhor é demasiadamente fulgurante e gloriosa? Quem pode entrar na presença deste Deus intocável e prestar-lhe um culto aceitável?
Contudo, apesar desta aparente inacessibilidade, Jeová é o Deus da Aliança da Graça; isto é, Ele entrou em contato com o pecador e estabeleceu os meios pelos quais seus pecados seriam perdoados e o seu culto feito aceitável. Jesus Cristo é o Anjo da Aliança e o seu Mediador, Ml.3:1; Hb.12:24. De acordo com os termos da Aliança, temos acesso à presença de Deus por intermédio exclusivo de seu Filho unigênito, Jesus Cristo, Hb.7:25. No exercício deste ofício, Ele convida: “Vinde a mim, todos os que estais cansados, e eu vos aliviarei.” “Não existe nenhum outro nome, dado entre os homens, pelo qual importa que sejam salvos” At.4:12. Portanto, quais são os padrões de justiça necessários para que o homem redimido tenha plena comunhão com Deus. É Ele mesmo que estabelece as condições.
2. A Resposta Positiva – o que o regenerado pratica, Vs.2,4b. O Salmista ressaltou cinco princípios que caracterizam os hábitos daquele que é nascido pelo Espírito Santo. Através deste procedimento, ele procura glorificar a Deus em todas as suas atividades.
a) Ele vive com integridade. Ele tem uma só maneira para conduzir a sua vida. O Ap. Tiago fala do “homem de ânimo dobre, inconstante em todos os seus caminhos” Tg.1:8. Um dia está no meio dos cristãos, gabando-se da sua piedade; outro dia está no meio dos mundanos, gabando-se da sua mente aberta e da sua tolerância. Mas aquele que é nascido de novo é íntegro, e de testemunho santo e irrepreensível. Ele se esforça para ser operoso praticante da palavra de Cristo: “Portanto, sede vós perfeitos como perfeito é o vosso Pai celeste” Mt.5:48.
b) Ele pratica a justiça. Esta característica se refere mais à maneira pelo qual o regenerado lida com o seu próximo. Ele é rigorosamente honesto em tudo. “Nesta matéria, ninguém ofenda, nem defraude a seu irmão”, porque o Senhor é vingador de todas estas injustiças, 1Ts.4:6. Enfim, aquele que é nascido de novo ama a seu vizinho, e “o amor não pratica o mal contra o seu próximo” Rm.13:10.
c) Ele, de coração, fala a verdade. A mentira é a marca característica do diabo e de seus filhos, Jo.8:44. O homem natural, isto é, aquele que não é regenerado pelo Espírito Santo, vive mentindo e enganando a seu próximo. Mas aquele que é nascido de novo, já se despojou de toda linguagem obscena e mentirosa; é uma nova criatura em Cristo Jesus, Cl.3:8-10.
d) Ele honra os que temem ao Senhor. O Salmista confessou: “Quanto aos santos que há na terra, são eles os notáveis nos quais tenho todo o meu prazer” Sl.16:3. Os que temem ao Senhor são os santos aqui na terra; e, juntos, formam uma grande fraternidade. Esta família, salva por Cristo Jesus, é unida pelos laços do amor, por isso, a exortação: “Amai os irmãos” 1Pe.2:17.
e) Ele jura com dano próprio e não se retrata. Quando o verdadeiro crente assume um compromisso através de uma promessa solene, seja qual for a área: casamento, batismo de seus filhos, pública profissão de fé e serviço a Deus através de cargos de responsabilidade na Igreja, ele é fiel, é cumpridor da sua promessa. Enfim, ele faz tudo, de coração, como ao Senhor e não para homens, Cl.3:23. Estes compromissos podem causar-lhe dano próprio, porém, não se retrata. A leviandade não mais existe naquele que é nascido pelo poder do Espírito Santo.
3. A Resposta Negativa – o que o regenerado não pratica, Vs. 3, 4a, 5a. O Salmista ressaltou seis atividades que o nascido de novo sempre evita. Assim, através de uma vida que não provoca escândalos, ele procura glorificar a Deus. Ele não pratica estas cousas por serem elas formas de injustiça. “Empenhai-vos por serdes achados por ele (Cristo) em paz, sem mácula e irrepreensíveis” 2Pe.3:14.
a) Ele não difama com a língua. Ele não procura descobrir os segredos íntimos de seu vizinho, a fim de o desacreditar perante as demais pessoas, Lv.19:16.
b) Ele não faz mal ao próximo. O verdadeiro cristão não anuncia todas as notícias negativas que ouve. Ele zela pelo bem do seu próximo, pois sabe que o nome de alguém é de sumo valor, Pv.22:1.
c) Ele não lança injúria contra o seu vizinho. Além de não fazer falsas acusações, ele repreende aquele que dá prosseguimento às encrencas. “O vento norte traz chuva, e a língua fingida, o rosto irado” Pv.25:23. Tudo tem as devidas consequências, ou o bem ou o mal.
d) Ele não tem amizade com os perversos. A Bíblia exorta: “Retirai-vos do meio deles, diz o Senhor; não toqueis em cousas impuras; e eu vos receberei, serei o vosso Pai, e vós sereis para mim filhos e filhas, diz o Senhor Todo-Poderoso” 2Co.6:17-18.
e) Ele não empresta o seu dinheiro com usura (juros exagerados). A agiotagem é uma das formas mais cruéis para oprimir o necessitado, um crime condenado pela lei de Deus, Lv.25:35-38; Ez.18:5-9.
f) Ele não aceita suborno contra o inocente. O suborno corrompe todos os padrões da justiça, uma prática condenada pelas Escrituras Sagradas, Ex.23:8; Dt.16:19. O regenerado sempre promove a justiça, Sl.23:3; Ef.5:8-10.
4. Uma Promessa de Segurança, V.5b. “Quem deste modo procede (sempre demonstrando a sua regeneração através de uma vida santa e irrepreensível) não será jamais abalado.” O fruto do Espírito é a prova da sua habitação em nossa vida e a base da nossa segurança espiritual, Rm.8:9; 1Jo.4:13.
Itajubá, 12 de Setembro de 2006
Rev. Ivan G. G. Ross.
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