Leitura Bíblica: 2
Timóteo 4:6-8
Introdução:
O Apóstolo estava numa prisão em Roma. Embora não tenhamos todos os
detalhes, entendemos que ele foi julgado e condenado à morte. Em vez de ficar choramingando
por causa das traições e da injustiça recebida,
ele passou a relembrar sua vida como servo de Deus. Certamente ele podia
ter pensado nas experiências negativas
que a vida lhe impôs, porém, não lemos nada sobre as suas tristezas, antes, com
coração grato a Deus, ele lembrou das
vitórias em seu ministério, e, agora, pela fé, ansiava por seu encontro com “o
Senhor, reto juiz” que lhe daria o prêmio da vitória. No texto lido, temos o relato
de como ele entendeu a natureza da morte: “tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que
é incomparavelmente melhor” (Fp. 1:23). Além dessas conclusões, ele
registrou para a nossa edificação o seu
testemunho, palavras finais.
Creio
que esta exposição não foi registrada somente para nos informar sobre os últimos
dias do Ap. Paulo, antes, foi escrito para a nossa edificação e encorajamento,
para que possamos enfrentar o nosso dia final com a mesma atitude de gratidão a
Deus por termos sido guardados, amorosamente, a fim de entrarmos vitoriosamente
nas moradas eternas. Agora, devemos estar prontos para meditar sobre o testemunho final, e aprender do exemplo dele.
1.
O Apóstolo Olhou para Baixo V.6. O Apóstolo podia contemplar a morte e o
túmulo com confiança porque a sua vida foi radicada, edificada e confirmada na
obra salvífica de Jesus Cristo. Essa é a
experiência que nos dá uma segurança inabalável na hora da morte. Como é
precioso e fortalecedor poder confessar: “Não me envergonho, porque sei em quem
tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito (a
minha vida que foi confiada a Ele) até aquele Dia” (2Tm. 1:12).
No
testemunho do Apóstolo, uma realidade se destaca de maneira clara e
inconfundível: a sua morte seria um ato de culto a Deus. Essa verdade se torna
evidente pela referência ao ritual praticado em alguns dos sacrifícios do
Antigo Testamento: “Estou sendo já oferecido por libação”. No sacrifício, uma
medida de vinho era derramada sobre o animal sendo sacrificado, “como oferta
queimada de aroma agradável ao Senhor” (Nm 15:5-10). Ao usar essa figura, o
Apóstolo está dizendo: A minha vida é
como aquele vinho que foi derramado sobre o altar de Deus, como um ato de culto
ao meu Senhor e Salvador. Semelhantemente, as últimas palavras que Cristo falou
quando sofria sobre a cruz foram dirigidas ao Pai, como um ato de culto: “Pai,
nas tuas mãos entrego o meu espírito! E dito isto, expirou” (Lc. 23:46). A
atitude de Estevão, quando estava sendo apedrejado, foi também um ato de culto.
Primeiro, cheio do Espírito Santo, viu os céus abertos, e a glória de Deus, e
Jesus em pé. Por isso, num ato espontâneo de adoração, disse: “Senhor Jesus,
recebe o meu espírito” (At. 7:54-60). O Apóstolo Paulo estava seguindo o bom
exemplo de muitos de seus antecessores. Devemos lembrar que a nossa morte é uma
ocasião quando devemos glorificar a Deus, (Jo. 21:19). Portanto, devemos nos
preparar para que a nossa morte seja um momento oportuno para dar o nosso
testemunho final. A graça de Deus estará conosco naquela hora.
O
Apóstolo continua falando sobre a sua morte iminente, decretada pelo tribunal
romano. Mas, por outro lado, ele reconheceu que era o momento preordenado por
Deus: “O tempo da minha partida é chegado”. Chegou, porque ele tinha completado
a obra que Deus lhe confiara; não tinha mais nada para fazer aqui na terra. Por
que a consciência do Apóstolo ficou tão livre de acusações naquela hora tão
singular na experiência humana? Embora o seu ministério não tivesse sido
perfeito, ele não foi culpado de omissões propositadas. O seu zelo pode ser
entendido, quando disse: “Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei
gastar em prol da vossa alma” (2Co. 12:16). E, em outro lugar, revelou: “Se
anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa
obrigação: porque ai de mim se não pregar o evangelho” (1Co. 9:16).
Quanto
à realidade inescapável da morte, está escrito: “E, assim como aos homens está
ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disto, o juízo” (Hb. 9:27). Quando o
rei Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal, ele recebeu esta ordem: “Põe em ordem a tua casa, porque
morrerás e não viverás”. Ao ouvir essa palavra, ele “chorou muitíssimo” (2Rs.
20:1-3). Por que esse choro e lamentação? Evidentemente, ele não se sentia
preparado para enfrentar o juízo final. Ai da pessoa que se encontrar nesse
estado de despreparo no seu dia final! Não é necessário ficar aterrorizado com
a notícia da nossa morte, antes, devemos usar a oportunidade para nos preparar
para “por em ordem” a nossa vida
espiritual. O Ap. João nos encoraja, dizendo: “Filhinhos, agora, pois,
permanecei nele (em Jesus Cristo), para que quando ele se manifestar, tenhamos
confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda” (1Jo. 2:28).
Portanto, que estejamos preparados para que esse Dia não seja de terror.
2.
O Apóstolo Olhou para Trás, V. 7. O
Apóstolo olhou para trás e passou a meditar sobre os anos de seu ministério, no
serviço de seu Senhor e Salvador. Ele menciona três fatos que caracterizaram a
sua vida durante o longo dos anos. Ele colocou a sua mão no arado e nunca mais
olhou para trás, (Lc. 9:62).
Primeiro,
ele meditou sobre o combate espiritual que tinha enfrentado dia após dia. “Combati
o bom combate”. A vida cristã é composta de lutas espirituais, forças
espirituais que procuram colocar uma pedra de tropeço em nossa vida, a fim de
interromper a nossa fidelidade a Jesus Cristo. O Apóstolo enfrentou essas
forças e confessou: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores,
por meio daquele que nos amou”, Jesus Cristo (Rm. 8:30). Portanto, essa luta é
um “bom combate”, porque é Cristo quem nos dá as vitórias. Esse combate tem
três frentes onde somos assaltados: o mundo, a carne e o diabo, Satanás.
- A primeira frente é o
mundo. Cristo falou sobre os “cuidados do mundo e a fascinação das riquezas”
que sufocam o testemunho cristão. Demas, que ajudava o Ap. Paulo em seu
ministério, o abandonou e se perdeu, “tendo amado o presente século” (2Tm.
4:10). Não há como conciliar o mundo com a vida cristã. A palavra do
Apóstolo é categórica: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo.
Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo. 2:15). O Ap.
Paulo podia confessar: “O mundo está crucificado para mim (o mundo é morto
e não tem nada para me oferecer), e, eu, para o mundo (sou morto e o mundo
não pode despertar o meu interesse)”. Não existia nenhuma atração entre os
dois, (Gl. 6:14).
- A segunda frente é a carne,
a nossa natureza pecaminosa. Como cristãos nascidos de novo, o dever
constante é não ceder aos desejos pecaminosos. É possível rejeitá-los por
causa do Espírito Santo que habita em nós: “Se viverdes segundo a carne, caminhais
para a morte; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo,
certamente viverás” (Rm. 8:13). O Apóstolo praticava esta necessidade:
“Sabendo isto: foi crucificado com Cristo o nosso velho homem, para que o
corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos”
(Rm. 6:6).
- A terceira frente é o
diabo. A advertência é esta: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, o vosso
adversário, anda em derredor, como
leão que ruge procurando alguém para devorar”. O nosso dever constante é
“resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos
estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo” (1Pe. 5:8). O
diabo tem uma arma principal para destruir os incautos, a mentira, pois
ele é o pai da mentira, (Jo. 8:44). Ele usa a mentira para nos desviar,
tanto nas áreas de doutrina, como também nas questões de procedimento.
Para ele, não existem padrões, tudo é normal, aceitável e útil para que
alcancemos experiências. O segredo é: “Tomai toda a armadura de Deus, para
que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo,
permanecer inabaláveis”, prontos para a próxima investida, (Ef. 6:13). O
Apóstolo combatia nessas mesmas frentes e experimentou muitas vitórias
para a glória de Deus. Nós também podemos ser vitoriosos, porque o nosso
socorro vem do Senhor, o nosso Salvador e guia.
Em
segundo lugar, ele meditou sobre a sua carreira: “Completei a carreira”. Ele
cumpriu toda a vontade de Deus. O Apóstolo usou a figura de uma “pista de
corrida”. O atleta tem que começar, obedecer às regras e perseverar até o ponto
final, a fim de ser vencedor. Entramos nessa pista mediante a regeneração, e
corremos até o fim pelo poder do Espírito Santo. Escrito sobre a nossa camiseta,
em letras maiúsculas, está o nosso emblema: “SANTIDADE AO SENHOR”. Todas as
nossas atividades nessa “pista de corrida”, sejam seculares, sejam espirituais,
são realizadas de acordo com o nosso distintivo. Sem essa santidade, ninguém
chegará até o ponto final. Essa pista se chama: “O caminho santo, o imundo não
passará por ele, pois será somente para o povo do Senhor” (Is. 35:8). O
Apóstolo corria nessa pista e chegou ao ponto final vitoriosamente. E nós,
também, seremos vitoriosos, se corrermos de acordo com as regras, isto é,
olhando firmemente para Jesus Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé (Hb.
12:2).
Em
terceiro lugar, ele meditou sobre a sua fé. “Guardei a fé”. Essa frase admite
duas interpretações igualmente necessárias. Primeiro, a fé é vista como aquele
corpo de sã doutrina que a Igreja Cristã adota e vive. Ela acredita que esses
ensinos estão registrados inerrantemente nas Escrituras Sagradas. Sim, o Apóstolo,
apesar de ser tentado a modificar o claro ensino das Escrituras, permaneceu
fiel, sem qualquer vacilação. E, a segunda interpretação, a fé, crendo de
coração na Pessoa de Jesus Cristo, uma confiança que nos faz entregar a nossa
vida a Ele sem qualquer restrição, sabendo que Ele é poderoso para nos salvar
totalmente das conseqüências condenatórias do nosso pecado. “Nele, temos a
redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua
graça” (Ef. 1:7). Mas, devemos lembrar que a fé do Apóstolo continuou
inabalável, mesmo no meio de circunstâncias
extremamente difíceis. Quais foram os seus pensamentos no meio daquelas
circunstâncias terríveis registradas em 2 Coríntios 11:16-33? Em prisões, em
açoites, sem medida; em perigos de
morte, muitas vezes, etc. Mas em cada um desses momentos, jamais questionou a
soberania de Deus que direcionava essas dificuldades, antes, confessou: “Que
variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o
Senhor”, guardei a fé, (2Tm.3:11). Ele
não deixou circunstâncias adversas sacudirem a sua fé. Antes, sempre grato pelo
privilégio de ter “a comunhão dos sofrimentos de Cristo, conformando-se com ele
na sua morte” (Fp. 3:10). O Apóstolo guardou a fé, e nós também guardaremos a
fé se cultivarmos as mesmas atitudes daquele homem. Como é bom poder chegar ao fim da nossa vida,
confessando: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”.
Consolemo-nos com estas palavras: “Porque Deus não é injusto para ficar
esquecido do vosso trabalho e do amor
que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos
santos” (Hb. 6:10).
3.
O Apóstolo Olhou para Cima, V8. Ele passou a meditar sobre o futuro, o que
iria acontecer depois da sua partida. Ele irradiava uma paz transparente diante
da morte, e nem se preocupava com o instrumento que seria usado, porque estava
contemplando o galardão. “Já agora a coroa de justiça me está guardada, a qual
o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a
todos quantos amam a sua vinda”. Podemos observar três verdades nesse
versículo:
a) É
bíblico cultivar uma certeza da vida eterna e
o que está incluído nessa promessa. O Apóstolo podia dizer: “Já agora a coroa da justiça me está
guardada”. Creio que essa coroa é algo espiritual, um sinal de que temos o direito
para tomar posse da vida eterna. O Ap. Tiago disse: “Bem-aventurado o homem que
suportar com perseverança a provação (as tentações provocadas pelo mundo, a
carne e o diabo), porque depois de ser aprovado (como vencedor), receberá a
coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg 1:12). Cristo disse
a mesma verdade: “Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap. 2:10).
Essa certeza da vida eterna não é dada a qualquer pessoa; a pessoa tem que amar
a Cristo de todo coração e viver uma vida santa, de acordo com a imagem de seu
Salvador, (Rm. 8:29). Devemos lembrar que a vida eterna não é algo que nós
ganhamos por nossos próprios méritos, antes, é o dom gratuito que Cristo nos
concede. Veja o processo: “Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus,
nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça
praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o
lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (algo que é sempre purificador),
que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador,
a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a
esperança da vida” (Tt. 3:4-7).
b) É
bíblico acreditar no juízo vindouro. “Porque importa que todos nós (crentes e não
crentes) compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba
segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2Co. 5:10). Este não
é um Dia de medo para aqueles que são salvos por Cristo Jesus. Por que? Porque
teremos “reto juiz”. Com Ele, não há acepção de pessoas, nem favoritismo, (Rm.
2:11). Ele conhece o povo redimido por seu Filho Jesus Cristo, e cada um desses
redimidos serão recebidos com total aprovação e galardoados com a vida eterna.
c) É
bíblico acreditar que entre os redimidos não existem distinções, pois todos são
herdeiros da vida eterna. O Ap. Paulo tinha certeza de receber a “coroa da
justiça”, mas não esqueceu de
acrescentar: “E não somente a mim (como se fosse alguém melhor), mas também
a todos quantos amam a sua vinda”. O fim do mundo será anunciado pela Segunda
Vinda de Jesus Cristo. Ele dará a ordem e os vivos e os mortos serão levantados
para comparecer perante o tribunal, a fim de que cada um seja julgado de acordo
com as suas obras. Naquele Dia, todos receberão
seu lugar na eternidade; os injustos para o castigo eterno e os justos
para a vida eterna, (Mt. 25:46).
Conclusão:
Todos nós estamos caminhando para a morte, mas, qual será o testemunho que deixaremos para aqueles que ficam? O Apóstolo
Paulo disse, com a alegria de um vencedor: “Combati o bom combate, completei a
carreira, guardei a fé”. E, com esse
testemunho de vitória, acrescentou com a mesma alegria: “Já agora a coroa da justiça me está aguardada, a qual o
Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos
quantos amam a sua vinda”. Que cada um de nós possamos viver e servir de
tal forma que o nosso testemunho final seja tão jubiloso quanto o do Ap. Paulo.
Termino
com uma doxologia: “Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e
para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, ao único
Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade,
império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos.
Amém” (Judas, versículos 24 e 25).
Nenhum comentário:
Postar um comentário