Vasos de Honra

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segunda-feira, 4 de setembro de 2017

A PRONTIDÃO DO SENHOR




Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Salmo 23:1-6.

Introdução:  Embora tenhamos o costume de ouvir: “O Senhor é o meu pastor”, creio que é igualmente apropriado e bíblico dizer: “O Senhor é o meu Guia”. O Salmista, exaltando o Senhor, confessou: “Que este é Deus, o nosso Deus para sempre; Ele será o nosso Guia até a morte” (Sl. 48:14). E esta oração ao Senhor pode ser a nossa: “Guia-me na tua verdade e ensina-me, pois tu és o Deus da minha salvação” (Sl. 25:5). Agora, em vez de me considerar como uma ovelha, quero me apreciar como um peregrino, caminhando para a minha morada lá no céu. Creio que  o contexto do Salmo 23 permite vermos o Senhor como nosso Guia, que é sinônimo de Pastor, aquele que cuida de todas as nossas necessidades enquanto caminhamos pelo vale de Sidim (local de guerra, Gn. 14:8).

Notemos que o Salmo 23 é intensamente pessoal, eu e o meu Senhor. Por causa dessa intimidade, “não temerei mal nenhum, porque tu (o Senhor) estás comigo”. Embora existam milhões de pessoas invocando o nome do Senhor, temos que reconhecer a nossa singularidade, temos que lidar com o nosso Deus como indivíduos responsáveis. “E não há criatura que não seja manifesta na sua presença; pelo contrário, todas as coisas estão descobertas e patentes aos olhos daquele para quem temos de prestar contas” (Hb. 4:13).

1. A Provisão do Senhor, Vs. 1-2. Ao peregrinar para o lar celestial, quais são algumas das provisões incluídas nesta promessa preciosa: “Nada me faltará”? O Senhor não nos guia por caminhos que causam decepção, antes, Ele nos “faz repousar em pastos verdejantes”. Ele não nos guia por caminhos áridos, antes, Ele nos leva “para junto das águas de descanso”. Nessas duas figuras, que têm basicamente o mesmo sentido, percebemos o cuidado que o Senhor tem para com o seu povo. Ele consola os desanimados, ampara os fracos e é longânimo para com todos. “Faz forte ao cansado, multiplica as forças ao que não tem nenhum vigor. Os jovens se cansam e se fatigam e os moços de exaustos caem, mas os que esperam no Senhor renovam as suas forças, sobem com asas como águia, correm e não se cansam, caminham e não se fatigam” (Is. 40:29-31).

Visto que estamos caminhando para o lar celestial, fundamentamos a nossa vida sobre valores espirituais, aprendemos de Cristo e andamos com Ele. “Aquele que diz que permanece em Cristo, esse deve também andar assim como Ele andou” (1Jo. 2:6). Vamos meditar, por um momento, sobre o que Cristo fez por nós: “Comigo houve pobreza e vacuidade; porém, com Ele, riquezas e plenitudes. Por causa da minha pobreza, Ele se fez pobre; porém, agora, as suas riquezas me fizeram rico, para nunca mais ser pobre. Eu era, muitas vezes, cansado; porém, Ele é sempre forte. Havia um tempo quando o meu cansaço o fez cansado; mas, agora, a sua força me faz forte. Eu conhecia somente os lugares pesados e barulhentos; porém, Ele me fez conhecer os lugares lenimentos (suaves) e tranquilos. Havia um tempo quando Ele, para me buscar, entrou nesses lugares mundanos; e, agora, habito com Ele em pastos verdejantes e águas de descanso. Eu estava com fome e sede num lugar desértico; porém, nele, tenho todas as plenitudes da providência de Deus, onde ele refrigera a minha alma, dia após dia” (citado do livro: The Psalms, por W. E. Scroggie). Agora, o Salmista faz uma pergunta pertinente: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me comprazo na terra” (Sl. 73:25). “Digo ao Senhor: Tu és o meu Senhor; outro bem não possuo, senão a ti somente” (Sl. 16:2).  

2. A Proteção do Senhor, Vs 3:4. Ele me guia pelas veredas da justiça, por amor do seu nome”. Primeiro, Ele “refrigera” (restaura) a minha alma, colocando-a em plena comunhão espiritual consigo mesmo, para,  em segundo lugar, guiar-me pelas veredas da justiça. A conversão, ser nascido de novo, sempre precede qualquer direção espiritual em nossa vida. Ele não nos guia para alcançar preeminência nos negócios deste mundo, mas, sim, excelência na prática da justiça. E qual a razão dessa direção? Por amor do nome do Senhor. De certa forma, quando fomos chamados para glorificar a Deus pela prática da justiça, Ele envolveu a honra do seu nome em nosso procedimento. Mas Ele não nos deixou sozinhos para glorificar o seu nome, antes, Ele mesmo nos guia soberanamente, dando-nos as necessárias forças para agir de acordo com a sua vontade, por amor do seu nome. Assim, é Ele quem recebe toda glória e é a graça imerecida que há de completar a sua obra santificadora que Ele começou quando fomos “chamados para sermos de Jesus Cristo” (Rm. 1:6).

Na Bíblia, o verbo “andar” normalmente se refere ao nosso modo de viver, “andar nas trevas” (Jo. 8:12); “andar na luz” (Ef. 5:8). O Apóstolo falou sobre o andar negativo: “Ele vos deu vida, estando vós mortos nos vossos delitos e pecados, nos quais andaste outrora, segundo o curso deste mundo” (Ef. 2:2). E, agora, o andar positivo: “Rogo-vos, pois, eu, o prisioneiro no Senhor, que andeis dignos da vocação a que fostes chamados, com toda a humildade e mansidão, com longanimidade, suportando-vos uns aos outros em amor, esforçando-vos diligentemente por preservar a unidade do Espírito no vínculo da paz” (Ef. 4:1-3). Andar, portanto, sempre envolve direção; estamos andando de acordo com a vontade de Deus. A experiência nos ensina que, nesse andar, temos que enfrentar todo o tipo de circunstâncias, coisas agradáveis, bem como desagradáveis. Nunca saberemos o que pode acontecer no amanhã; contudo, para o cristão, o desconhecido não lhe dá medo, porque Cristo prometeu: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século” (Mt. 28:20).

Nesse contexto, o Salmista declarou: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo”. Esse “vale” se refere às circunstâncias aflitivas, e não necessariamente à morte física. Contudo, o Salmista emprega uma frase expressiva: “A sombra da morte”. Uma sombra, apesar de indicar uma presença, não é o objeto em si. Sentimos a possibilidade de um problema, porém, muitas vezes, ele não nos toca. Mas, por outro lado, especialmente no caso da morte, ou de um querido, ou da nossa própria, temos que ficar de sobreaviso.  

Então, como podemos nos preparar para qualquer eventualidade? A resposta do Salmista é que devemos confiar na prometida proteção, cuidado e presença consoladora do Senhor. “Não temerei mal nenhum, porque tu (o Senhor) estás comigo; o teu bordão e o teu cajado (os meios da graça: a Palavra de Deus e a oração), me consolam”. O Apóstolo acrescenta: “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino, foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras tenhamos esperança” (Rm. 15:4). Tempos de grandes elevações espirituais devem ser moderados com a lembrança das palavras solenes do Apóstolo no exercício de seu ministério: “Fortalecendo a alma dos discípulos, exortando-os a permanecer firmes na fé; mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At. 14:22) Variadas circunstâncias, sim, mas em todas essas coisas, somos peregrinos vitoriosos por meio de Jesus Cristo (Rm. 8:37).

3. A Profusão do Senhor, Vs.5-6. O peregrino chegou ao término da sua carreira. Mas qual é a esperança do cristão, que andava no Espírito, evitando as concupiscências da carne? (Gl.5:16). Ele ouvirá: “Vinde, benditos de meu Pai! Entrai na posse do reino que vos está preparado desde a fundação do mundo” (Mt. 25:34). Em seguida, será recepcionado de acordo com os costumes de hospedagem do Oriente. Uma mesa de delícias o aguardará; sua cabeça será ungida com óleo e receberá um cálice transbordante de “água das fontes da salvação” (Is. 12:3). Uma referência a esse costume pode ser encontrada em Lucas 7:36-50, onde o convidado receberia os sinais de boas vindas: ter os pés lavados; ter a cabeça ungida com óleo ou bálsamo; receber um ósculo. No caso relatado por Lucas, embora convidado por um fariseu, Jesus não foi honrado com esses sinais de boas vindas, porém, uma pecadora veio com um vaso de alabastro e derramou tudo sobre a pessoa de Jesus, demonstrando, publicamente, o seu muito amor, porque Ele perdoara os seus muitos pecados. O nosso peregrino não foi desprezado, como aconteceu com Jesus na casa do fariseu, antes, foi recebido com uma festa luxuosa, sua cabeça foi ungida com óleo, e na sua mão recebeu um cálice transbordante de toda sorte de bênçãos espirituais. É quase impossível imaginar o que “Deus tem preparado para aqueles que o amam” (1Co. 2:9).

Outro detalhe que enaltece o recebimento do peregrino: “Prepara-me uma mesa na presença dos meus adversários”. O povo de Deus tem os seus adversários, pessoas que têm prazer em demonstrar a sua rejeição a Deus e a seu povo. Mas, no Dia Final, esses zombadores serão obrigados, em seu tormento, a contemplar a bem-aventurança daqueles que amam e respeitam a Deus. Na parábola do Rico e do Mendigo, o rico via a felicidade de Lázaro. A circunstância dos dois é resumida com estas palavras ao rico: “Filho, lembra-te de que recebeste os teus bens em tua vida, e Lázaro, igualmente, os males; agora, porém, aqui, ele está consolado; tu, em tormentos”. (Lc. 16:19-31). A lição que  Jesus está inculcando é esta: “Não vos enganeis: de  Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl. 6:7).

Qual é a bem-aventurança do peregrino, já no céu? Com a sua cabeça ungida com óleo purificador, ele tem pensamentos de gratidão, confessando: “ O meu cálice transborda”. O nosso gozo é completo, (Jo. 15:11). Ligado inseparavelmente a esse gozo está a confiança de continuidade: “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida (na eternidade); e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre”. Davi previu essa bem-aventurança espiritual quando escreveu: “Como é preciosa, ó Deus, a tua benignidade! Por isso, os filhos dos homens se acolhem à sombra das tuas asas. Fartam-se da abundância da tua casa, e na torrente das tuas delícias lhes dás de beber. Pois em ti está o manancial da vida; na tua luz, vemos a luz” (Sl.36:7-9). 

Conclusão: No Salmo 23, temos uma fonte de riquezas, porém, elas têm que ser descobertas mediante um tempo dedicado a esse fim. O Senhor é o meu Pastor; mas Ele é também o meu guia, “Guiando-me na verdade do  Senhor e ensinando-me, pois Ele é o Deus da minha salvação, em quem eu espero todo o dia” (Sl. 25:5). Temos visto a Provisão do Senhor: “Nada me faltará”. Temos visto a Proteção do Senhor: “Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo”. E temos visto a Profusão do Senhor: “Preparas-me uma mesa ... o meu cálice transborda”. Terminamos citando o hino: “Peregrinando por sobre os montes, e pelos vales, sempre na luz! Cristo promete nunca deixar-me, eis-me convosco, disse Jesus. – Brilho Celeste! Brilho Celeste! Enche a minha alma, glória do céu! Aleluia! Sigo cantando, dando louvores, pois Cristo é meu!” (HNC 114).

domingo, 14 de maio de 2017

O GRANDE MANDAMENTO



Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Marcos 12:28:34.
Introdução: No tempo de Jesus, dentro da religião judaica, existiam muitos grupos diferentes. Os três principais eram: Os Saduceus - eles aceitavam somente os escritos de Moisés, porém, negavam a ressurreição dos mortos e tudo o que estava ligado a essa doutrina; também, negavam a existência de anjos e de espíritos; veja Marcos 12:18:27.  Os Fariseus - a ênfase era mais ética do que teológica. Eles exigiam uma obediência literal à lei de Deus e às tradições, tais como a guarda do sábado, o pagamento do dízimo e a proibição de comer na casa de um não fariseu. Para se ter uma ideia de como eles viviam, veja Lucas 6:1-5. Os Escribas, ou Intérpretes da Lei - eram os mestres para interpretar e ensinar a lei de Deus. No exercício desse ministério, eles acrescentaram à lei as próprias opiniões que, gradativamente, tornaram-se “tradições”. Estas passaram a receber uma autoridade igual ou superior à das Escrituras Sagradas. Por isso, Cristo condenou essas tradições, dizendo: “Assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição” (MT. 15:5-6).  Veja como Cristo condenou as atitudes dos fariseus e escribas. Mas, em vez de aceitar a repreensão, eles tornaram-se seus inimigos, (Lc. 11:37-54). Contudo, cremos que alguns dos escribas temiam a Deus. Eles foram responsáveis pela preservação das Escrituras, fazendo cópias delas. Graças a esses homens fiéis, temos, hoje, a verdadeira Palavra de Deus em forma escrita, porque o Espírito Santo zelava por sua Palavra, capacitando homens a escrever com honestidade. Desse grupo, veio o escriba do nosso texto. Sentimos que ele era um homem sincero, e não um daqueles que tentavam apanhar o Senhor Jesus em uma palavra, a fim de contradizer tudo o que Ele ensinava.

1. A Indagação do Escriba, V.28. Grandes multidões seguiam a Jesus e, sempre no meio destas, os saduceus, fariseus e escribas se faziam presentes. Num desses encontros, os saduceus tentaram ridicularizar a doutrina da ressurreição. Mas Jesus os dirigiu ao livro de Moisés, aquele que eles supostamente seguiam, dizendo: “Quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido no Livro de Moisés, no trecho referente à sarça, como Deus lhe falou: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora, Ele não é Deus de mortos, e sim de vivos. Laborais em grande erro” (Mc. 12:18-27). Agora, voltando para o escriba do nosso texto, ele também estava no meio daquela multidão que seguia a Jesus, e ouviu como Jesus havia respondido bem ao drama criado pelos saduceus. Podemos imaginar como ele raciocinava: Este homem é diferente, Ele não é como os meus colegas dizem... Vou ver como Ele responderá à minha pergunta! (Que foi: “Qual é o principal de todos os mandamentos?”) Devemos lembrar que, entre os escribas, não havia nenhum acordo sobre essa questão. Contudo, reconhecemos que essa pergunta é a mais importante que o homem pode fazer. Se ele erra a resposta, continua perdido, porque não ama a Deus.

2. A Informação de Jesus Vs. 29:31. A resposta é dupla: O homem deve começar a sua busca espiritual, em primeiro lugar, crendo na unicidade do Deus verdadeiro. Muitos seguem deuses que, por natureza, não o são (Gl. 4:8). Por isso, a importância da informação de Cristo: “Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso Deus é o único Senhor”. A segunda parte da sua resposta é: “Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força”. Esse amor é sempre dirigido unicamente a Deus, (Dt. 10:12-13). O Senhor continua, dizendo: “O segundo é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que este”. O nosso ser não é dividido em partes, uma independente da outra. Somos uma unidade indivisível. Quando dizemos que amamos a Deus, é uma impossibilidade dizer: Eu amo a Deus de coração, porém, não com todas as minhas forças, porque tenho outras responsabilidades e interesses. Tentando agir assim, é uma negação da realidade de seu amor. As quatro palavras: coração, alma, entendimento e força estão representando a totalidade da nossa disposição para amar a Deus.

A Bíblia ilustra como esse amor deve ser: “Agradou-se o Senhor de Abel e de sua oferta; a passo que de Caim e sua oferta não se agradou” (Gn. 4:4-5). Por que essa diferença entre os dois irmãos? Porque Abel obedeceu à norma que Deus estabelecera de receber culto dos pecadores. Essa norma seria unicamente mediante um sacrifício e o derramamento do sangue de um cordeiro. Caim desprezou o que Deus estabelecera. Talvez, ele pensou: Eu posso ofertar a Deus o que eu tenho, afinal, Deus tem que reconhecer o que eu faço com as minhas próprias mãos, visto que o fruto do meu trabalho é tão importante quanto os cordeiros de meu irmão, (Gn 4:3-5). Mas Deus jamais aceitará a justiça própria do homem. Amar a Deus requer obediência ao que Ele tem ordenado. Cristo disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo. 14:15). A obediência é a prova da veracidade do nosso amor. Outro exemplo: “Andou Enoque com Deus e já não era, porque Deus o tomou para si” (Gn. 5:22). Se nós amamos a Deus segundo as normas que Ele mesmo estabeleceu, estaremos em comunhão constante com  Ele, à semelhança de Enoque. Alimentamos essa comunhão espiritual lendo a Bíblia, fazendo orações todos os dias e procurando a vontade de Deus em cada uma das nossas decisões. Cristo revelou o seu modo de viver diante de Deus: “Eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo. 8:29). Essa é a disposição que revela a realidade do nosso amor a Deus. O amor sempre envolve a totalidade do nosso ser. Quando Cristo nos amou e a si mesmo se entregou à morte como o nosso substituto, a totalidade do seu ser foi necessária, a fim de ser vitorioso e adquirir a nossa redenção e salvação. Portanto, devemos confirmar a nossa eleição através de uma vida santa e irrepreensível, andando em amor, (Ef. 1:4; 5:2).

Agora, não podemos esquecer o nosso irmão. Se nós realmente amamos a Deus, de necessidade amaremos o nosso irmão, porque Deus é amor. O Ap. João deu este exemplo: “Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado” (1Jo. 4:11-12). O amor ao próximo é a prova de que somos parte do povo que Deus adotou como seus filhos.

3. A Inclinação do Escriba, V.32-33. Podemos sentir a sinceridade desse escriba com a sua exclamação: “Muito bem, Mestre!”. Por ser um intérprete da lei e um instrutor dela, ele fez questão de repetir a resposta que Jesus lhe dera; e acrescentou uma verdade profunda: “E, com verdade disseste que Ele é o único Deus, e não há outro senão Ele; e que amar a Deus de todo coração, de todo entendimento e de toda a força e amar o próximo como a si mesmo”. Agora, repare no acréscimo: esse amor “excede a todos os holocaustos e sacrifícios.” O que ele está dizendo com essas palavras? Ele estava confessando que não há nada que possa substituir a prática do amor. “O cumprimento da lei é o amor” (Rm. 13:10). Existem pessoas que estão se esforçando para substituir a necessidade de praticar o amor. Davi confessou ao Senhor: “Pois não te comprazes em sacrifícios: do contrário eu tos daria; e não te agradas de holocausto” (Sl. 51:16). Fazer qualquer coisa física é bem mais fácil do que amar de todo o nosso coração. Cristo repreendeu os escribas e os fariseus: “Ai de vós, escribas e fariseus (que tentam substituir a prática do amor), hipócritas,  porque dais o dízimo do hortelã, do endro e do cominho (coisas mínimas) e tendes negligenciado os preceitos mais importantes da lei: a justiça, a misericórdia, (o amor), e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Mt. 23:23). O Ap. Paulo, abordando o mesmo assunto, escreveu: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o símbolo que retine. Ainda que eu tenha o dom de profetizar, e conheça todos os mistérios e toda a ciência; ainda que tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver amor, nada disso me aproveitará” (1 Co. 13:1-3). Novamente, reiteramos: não existe nada que possa substituir a prática de um amor verdadeiro e visível. Esse amor supremo é sempre dirigido a Deus e ao próximo. E, para finalizar sobre o lugar institutível do amor, o Apóstolo escreveu: “Se alguém não amar o Senhor, seja anátema. Maranata” (1Co. 16:22).

4. A Intuição de Cristo, V 34. “Vendo Jesus que ele (o escriba) havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus”. O que Jesus estava dizendo com essa observação? Entendemos que o homem, num sentido, pode chegar perto de reino de Deus por seu próprio esforço, estudando a Bíblia e abandonando certos pecados. O jovem rico é um exemplo daqueles que procuram “estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitando à que vem de Deus” (Rm. 10:3). O que lhes falta é aquela obra insubstituível do Espírito Santo, que soberanamente efetua a tão necessária regeneração. Cristo ensinou: O que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito, isto é, tem a vida verdadeiramente espiritual e é herdeiro da salvação, (Jo.3:6). Ninguém se torna cristão por ter nascido num lar cristão, visto que tornar-se cristão é uma experiência posterior. Ser cristão é um processo que deve ser reconhecido. Primeiro, no devido tempo, a pessoa sente uma necessidade espiritual. O Espírito Santo está agindo, dirigindo-a a ler a Bíblia, de onde receberá a resposta que saciará o seu anseio. Com a leitura das Escrituras Sagradas, o Espírito Santo a convencerá de seu pecado e como este deve ser confessado e abandonado. E, em seguida, será dirigida a Jesus Cristo, “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos nossos pecados” (Ef. 1:7).

Podemos traçar a experiência desse escriba da seguinte maneira: Mediante o seu contato com as Escrituras Sagradas, ele reconheceu a sua necessidade espiritual. Na esperança de alcançar paz com Deus, ele começou a praticar as obras da lei, algo que ele não conseguia fazer com a devida perfeição, “visto que ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”, mas ela não oferece nenhum perdão,  (Rm. 3:20). O escriba estava caminhando para aquele ponto quando teria que reconhecer que, por seus próprios esforços, jamais seria justificado diante de Deus. O jovem rico chegou a esse ponto, por isso, foi a Jesus e lhe perguntou: “Bom Mestre, que farei para herdar a vida eterna?” (Mc 10:17). Com certeza, como Intérprete da Lei, o escriba conhecia as promessas Messiânicas do Cristo que salvaria o seu povo dos pecados deles. Cremos que ele estava examinando Jesus a fim de saber se Ele era, porventura, o prometido Salvador. Nesse ponto, ele parou, não sabemos se ele chegou a confessar que Jesus era, de fato, o verdadeiro Messias, o Cristo de Deus.

A história do jovem rico descreve o que estamos dizendo, (Lc. 18:18-23). Apesar de toda a sua obediência à lei, ele sabia que não tinha a salvação, e não estava preparado para o tribunal de Deus. E, por causa disso, aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: “Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna?” Jesus não lhe deu uma resposta direta. Em vez disso, Ele lhe disse: “Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá aos pobres e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me”. Por que Jesus lhe deu essa resposta? O jovem era muito rico, e ele tinha que descobrir se as suas posses eram mais importantes que vendê-las e seguir a Jesus. Esse é o ponto onde muitas pessoas chegam. Estão  caminhado bem e não estão longe do reino de Deus, mas não querem tomar aquele passo decisivo para deixar tudo e seguir a Jesus, não querem entregar-se, corpo e alma, aos cuidados salvíficos de Jesus Cristo. O preço é alto demais. A história das dez virgens é semelhante. Todas as dez seguiam as normas exteriores de uma vida piedosa, porém, com uma diferença. Cinco eram prudentes e se muniram com azeite, com aquela devoção sincera do coração; e, quando o noivo chegou, entraram com ele pela porta aberta. Mas as cinco néscias não se preocuparam quanto à necessidade do azeite, ficando satisfeitas com a simples observância de algumas formalidades, em vez de uma devoção sincera. Por isso, quando foi anunciada a vinda do noivo, elas descobriram, já tarde demais, a sua falta de azeite, e a porta se fechou contra elas. Não é suficiente ficar perto do reino de Deus: temos que tomar aquela decisão imperativa, crendo e entregando-se, corpo e alma, sem reservas, a Jesus Cristo, para que sejamos salvos por Ele. Somente unidos com Jesus Cristo é que podemos praticar o grande mandamento.


Conclusão: Temos falado sobre a importância de conhecer e obedecer ao Grande Mandamento que fala sobre a excelência  do amor, não apenas a Deus, mas também ao próximo. Salientamos a necessidade de praticar esse amor com a totalidade do nosso ser. Em nosso procedimento, não existe nada que possa substituir esse amor. Sacrifícios e boas obras não podem agradar a Deus. O que Ele requer de cada um de nós é o amor que emana de um coração sincero. Muitos chegam perto do reino de Deus por seu conhecimento das Escrituras Sagradas, porém, não querem abrir mão da sua própria independência e auto-suficiência. Chegam perto do reino de Deus, porém, não entram. Sem Cristo em nossa vida, dirigindo os nossos passos, é impossível alcançar a dádiva da vida eterna. Não seja como as virgens néscias, descobrindo a sua falta  quando já era tarde demais para ser remediada. Cristo explicou o problema: “Contudo, não querei vir a mim para terdes vida” (Jo. 5:40). Então, sabemos o que devemos fazer. Que sejamos prudentes!

domingo, 26 de fevereiro de 2017

O NOSSO TESTEMUNHO FINAL



Leitura Bíblica:  2 Timóteo 4:6-8

Introdução: O Apóstolo estava numa prisão em Roma. Embora não tenhamos todos os detalhes, entendemos que ele foi julgado e condenado à morte. Em vez de ficar choramingando por causa das traições e da injustiça recebida,  ele passou a relembrar sua vida como servo de Deus. Certamente ele podia ter pensado nas experiências  negativas que a vida lhe impôs, porém, não lemos nada sobre as suas tristezas, antes, com coração grato a Deus, ele  lembrou das vitórias em seu ministério, e, agora, pela fé, ansiava por seu encontro com “o Senhor, reto juiz” que lhe daria o prêmio da vitória. No texto lido, temos o relato de como ele entendeu a natureza da morte: “tendo  o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor” (Fp. 1:23). Além dessas conclusões, ele registrou  para a nossa edificação o seu testemunho, palavras finais.

Creio que esta exposição não foi registrada somente para nos informar sobre os últimos dias do Ap. Paulo, antes, foi escrito para a nossa edificação e encorajamento, para que possamos enfrentar o nosso dia final com a mesma atitude de gratidão a Deus por termos sido guardados, amorosamente, a fim de entrarmos vitoriosamente nas moradas eternas. Agora, devemos estar prontos para meditar sobre o  testemunho final, e aprender do exemplo dele.

1. O Apóstolo Olhou para Baixo V.6. O Apóstolo podia contemplar a morte e o túmulo com confiança porque a sua vida foi radicada, edificada e confirmada na obra salvífica  de Jesus Cristo. Essa é a experiência que nos dá uma segurança inabalável na hora da morte. Como é precioso e fortalecedor poder confessar: “Não me envergonho, porque sei em quem tenho crido e estou certo de que ele é poderoso para guardar o meu depósito (a minha vida que foi confiada a Ele) até aquele Dia” (2Tm. 1:12).

No testemunho do Apóstolo, uma realidade se destaca de maneira clara e inconfundível: a sua morte seria um ato de culto a Deus. Essa verdade se torna evidente pela referência ao ritual praticado em alguns dos sacrifícios do Antigo Testamento: “Estou sendo já oferecido por libação”. No sacrifício, uma medida de vinho era derramada sobre o animal sendo sacrificado, “como oferta queimada de aroma agradável ao Senhor” (Nm 15:5-10). Ao usar essa figura, o Apóstolo  está dizendo: A minha vida é como aquele vinho que foi derramado sobre o altar de Deus, como um ato de culto ao meu Senhor e Salvador. Semelhantemente, as últimas palavras que Cristo falou quando sofria sobre a cruz foram dirigidas ao Pai, como um ato de culto: “Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! E dito isto, expirou” (Lc. 23:46). A atitude de Estevão, quando estava sendo apedrejado, foi também um ato de culto. Primeiro, cheio do Espírito Santo, viu os céus abertos, e a glória de Deus, e Jesus em pé. Por isso, num ato espontâneo de adoração, disse: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At. 7:54-60). O Apóstolo Paulo estava seguindo o bom exemplo de muitos de seus antecessores. Devemos lembrar que a nossa morte é uma ocasião quando devemos glorificar a Deus, (Jo. 21:19). Portanto, devemos nos preparar para que a nossa morte seja um momento oportuno para dar o nosso testemunho final. A graça de Deus estará conosco naquela hora.

O Apóstolo continua falando sobre a sua morte iminente, decretada pelo tribunal romano. Mas, por outro lado, ele reconheceu que era o momento preordenado por Deus: “O tempo da minha partida é chegado”. Chegou, porque ele tinha completado a obra que Deus lhe confiara; não tinha mais nada para fazer aqui na terra. Por que a consciência do Apóstolo ficou tão livre de acusações naquela hora tão singular na experiência humana? Embora o seu ministério não tivesse sido perfeito, ele não foi culpado de omissões propositadas. O seu zelo pode ser entendido, quando disse: “Eu de boa vontade me gastarei e ainda me deixarei gastar em prol da vossa alma” (2Co. 12:16). E, em outro lugar, revelou: “Se anuncio o evangelho, não tenho de que me gloriar, pois sobre mim pesa essa obrigação: porque ai de mim se não pregar o evangelho” (1Co. 9:16).

Quanto à realidade inescapável da morte, está escrito: “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo depois disto, o juízo” (Hb. 9:27). Quando o rei Ezequias adoeceu de uma enfermidade mortal, ele recebeu  esta ordem: “Põe em ordem a tua casa, porque morrerás e não viverás”. Ao ouvir essa palavra, ele “chorou muitíssimo” (2Rs. 20:1-3). Por que esse choro e lamentação? Evidentemente, ele não se sentia preparado para enfrentar o juízo final. Ai da pessoa que se encontrar nesse estado de despreparo no seu dia final! Não é necessário ficar aterrorizado com a notícia da nossa morte, antes, devemos usar a oportunidade para nos preparar para  “por em ordem” a nossa vida espiritual. O Ap. João nos encoraja, dizendo: “Filhinhos, agora, pois, permanecei nele (em Jesus Cristo), para que quando ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos afastemos envergonhados na sua vinda” (1Jo. 2:28). Portanto, que estejamos preparados para que esse Dia não seja de terror.     

2. O Apóstolo Olhou para Trás, V. 7.   O Apóstolo olhou para trás e passou a meditar sobre os anos de seu ministério, no serviço de seu Senhor e Salvador. Ele menciona três fatos que caracterizaram a sua vida durante o longo dos anos. Ele colocou a sua mão no arado e nunca mais olhou para trás, (Lc. 9:62).

Primeiro, ele meditou sobre o combate espiritual que tinha enfrentado dia após dia. “Combati o bom combate”. A vida cristã é composta de lutas espirituais, forças espirituais que procuram colocar uma pedra de tropeço em nossa vida, a fim de interromper a nossa fidelidade a Jesus Cristo. O Apóstolo enfrentou essas forças e confessou: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”, Jesus Cristo (Rm. 8:30). Portanto, essa luta é um “bom combate”, porque é Cristo quem nos dá as vitórias. Esse combate tem três frentes onde somos assaltados: o mundo, a carne e o diabo, Satanás.

  1. A primeira frente é o mundo. Cristo falou sobre os “cuidados do mundo e a fascinação das riquezas” que sufocam o testemunho cristão. Demas, que ajudava o Ap. Paulo em seu ministério, o abandonou e se perdeu, “tendo amado o presente século” (2Tm. 4:10). Não há como conciliar o mundo com a vida cristã. A palavra do Apóstolo é categórica: “Não ameis o mundo nem as coisas que há no mundo. Se alguém amar o mundo, o amor do Pai não está nele” (1Jo. 2:15). O Ap. Paulo podia confessar: “O mundo está crucificado para mim (o mundo é morto e não tem nada para me oferecer), e, eu, para o mundo (sou morto e o mundo não pode despertar o meu interesse)”.  Não existia nenhuma atração entre os dois, (Gl. 6:14).
  2. A segunda frente é a carne, a nossa natureza pecaminosa. Como cristãos nascidos de novo, o dever constante é não ceder aos desejos pecaminosos. É possível rejeitá-los por causa do Espírito Santo que habita em nós: “Se viverdes segundo a carne, caminhais para a morte; mas, se pelo Espírito mortificardes os feitos do corpo, certamente viverás” (Rm. 8:13). O Apóstolo praticava esta necessidade: “Sabendo isto: foi crucificado com Cristo o nosso velho homem, para que o corpo do pecado seja destruído, e não sirvamos o pecado como escravos” (Rm. 6:6).
  3. A terceira frente é o diabo. A advertência é esta: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, o vosso adversário, anda em  derredor, como leão que ruge procurando alguém para devorar”. O nosso dever constante é “resisti-lhe firmes na fé, certos de que sofrimentos iguais aos vossos estão se cumprindo na vossa irmandade espalhada pelo mundo” (1Pe. 5:8). O diabo tem uma arma principal para destruir os incautos, a mentira, pois ele é o pai da mentira, (Jo. 8:44). Ele usa a mentira para nos desviar, tanto nas áreas de doutrina, como também nas questões de procedimento. Para ele, não existem padrões, tudo é normal, aceitável e útil para que alcancemos experiências. O segredo é: “Tomai toda a armadura de Deus, para que possais resistir no dia mau e, depois de terdes vencido tudo, permanecer inabaláveis”, prontos para a próxima investida, (Ef. 6:13). O Apóstolo combatia nessas mesmas frentes e experimentou muitas vitórias para a glória de Deus. Nós também podemos ser vitoriosos, porque o nosso socorro vem do Senhor, o nosso Salvador e guia.

Em segundo lugar, ele meditou sobre a sua carreira: “Completei a carreira”. Ele cumpriu toda a vontade de Deus. O Apóstolo usou a figura de uma “pista de corrida”. O atleta tem que começar, obedecer às regras e perseverar até o ponto final, a fim de ser vencedor. Entramos nessa pista mediante a regeneração, e corremos até o fim pelo poder do Espírito Santo. Escrito sobre a nossa camiseta, em letras maiúsculas, está o nosso emblema: “SANTIDADE AO SENHOR”. Todas as nossas atividades nessa “pista de corrida”, sejam seculares, sejam espirituais, são realizadas de acordo com o nosso distintivo. Sem essa santidade, ninguém chegará até o ponto final. Essa pista se chama: “O caminho santo, o imundo não passará por ele, pois será somente para o povo do Senhor” (Is. 35:8). O Apóstolo corria nessa pista e chegou ao ponto final vitoriosamente. E nós, também, seremos vitoriosos, se corrermos de acordo com as regras, isto é, olhando firmemente para Jesus Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé (Hb. 12:2).         

Em terceiro lugar, ele meditou sobre a sua fé. “Guardei a fé”. Essa frase admite duas interpretações igualmente necessárias. Primeiro, a fé é vista como aquele corpo de sã doutrina que a Igreja Cristã adota e vive. Ela acredita que esses ensinos estão registrados inerrantemente nas Escrituras Sagradas. Sim, o Apóstolo, apesar de ser tentado a modificar o claro ensino das Escrituras, permaneceu fiel, sem qualquer vacilação. E, a segunda interpretação, a fé, crendo de coração na Pessoa de Jesus Cristo, uma confiança que nos faz entregar a nossa vida a Ele sem qualquer restrição, sabendo que Ele é poderoso para nos salvar totalmente das conseqüências condenatórias do nosso pecado. “Nele, temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef. 1:7). Mas, devemos lembrar que a fé do Apóstolo continuou inabalável, mesmo no meio de circunstâncias  extremamente difíceis. Quais foram os seus pensamentos no meio daquelas circunstâncias terríveis registradas em 2 Coríntios 11:16-33? Em prisões, em açoites, sem  medida; em perigos de morte, muitas vezes, etc. Mas em cada um desses momentos, jamais questionou a soberania de Deus que direcionava essas dificuldades, antes, confessou: “Que variadas perseguições tenho suportado! De todas, entretanto, me livrou o Senhor”, guardei  a fé, (2Tm.3:11). Ele não deixou circunstâncias adversas sacudirem a sua fé. Antes, sempre grato pelo privilégio de ter “a comunhão dos sofrimentos de Cristo, conformando-se com ele na sua morte” (Fp. 3:10). O Apóstolo guardou a fé, e nós também guardaremos a fé se cultivarmos as mesmas atitudes daquele homem.  Como é bom poder chegar ao fim da nossa vida, confessando: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé”. Consolemo-nos com estas palavras: “Porque Deus não é injusto para ficar esquecido do vosso  trabalho e do amor que evidenciastes para com o seu nome, pois servistes e ainda servis aos santos” (Hb. 6:10).

3. O Apóstolo Olhou para Cima, V8. Ele passou a meditar sobre o futuro, o que iria acontecer depois da sua partida. Ele irradiava uma paz transparente diante da morte, e nem se preocupava com o instrumento que seria usado, porque estava contemplando o galardão. “Já agora a coroa de justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda”. Podemos observar três verdades nesse versículo:

a)      É bíblico cultivar uma certeza da vida eterna e  o que está incluído nessa promessa. O Apóstolo podia  dizer: “Já agora a coroa da justiça me está guardada”. Creio que essa coroa é algo espiritual, um sinal de que temos o direito para tomar posse da vida eterna. O Ap. Tiago disse: “Bem-aventurado o homem que suportar com perseverança a provação (as tentações provocadas pelo mundo, a carne e o diabo), porque depois de ser aprovado (como vencedor), receberá a coroa da vida, a qual o Senhor prometeu aos que o amam” (Tg 1:12). Cristo disse a mesma verdade: “Sê fiel até a morte e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap. 2:10). Essa certeza da vida eterna não é dada a qualquer pessoa; a pessoa tem que amar a Cristo de todo coração e viver uma vida santa, de acordo com a imagem de seu Salvador, (Rm. 8:29). Devemos lembrar que a vida eterna não é algo que nós ganhamos por nossos próprios méritos, antes, é o dom gratuito que Cristo nos concede. Veja o processo: “Quando, porém, se manifestou a benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo (algo que é sempre purificador), que ele derramou sobre nós ricamente, por meio de Jesus Cristo, nosso Salvador, a fim de que, justificados por graça, nos tornemos seus herdeiros, segundo a esperança da vida” (Tt. 3:4-7).
b)      É bíblico acreditar no juízo vindouro. “Porque importa que todos nós (crentes e não crentes) compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2Co. 5:10). Este não é um Dia de medo para aqueles que são salvos por Cristo Jesus. Por que? Porque teremos “reto juiz”. Com Ele, não há acepção de pessoas, nem favoritismo, (Rm. 2:11). Ele conhece o povo redimido por seu Filho Jesus Cristo, e cada um desses redimidos serão recebidos com total aprovação e galardoados com a vida eterna.
c)      É bíblico acreditar que entre os redimidos não existem distinções, pois todos são herdeiros da vida eterna. O Ap. Paulo tinha certeza de receber a “coroa da justiça”, mas não esqueceu de  acrescentar: “E não somente a mim (como se fosse alguém melhor), mas também a todos quantos amam a sua vinda”. O fim do mundo será anunciado pela Segunda Vinda de Jesus Cristo. Ele dará a ordem e os vivos e os mortos serão levantados para comparecer perante o tribunal, a fim de que cada um seja julgado de acordo com as suas obras. Naquele Dia, todos receberão  seu lugar na eternidade; os injustos para o castigo eterno e os justos para a vida eterna, (Mt. 25:46).

Conclusão: Todos nós estamos caminhando para a morte, mas, qual será o testemunho que  deixaremos para aqueles que ficam? O Apóstolo Paulo disse, com a alegria de um vencedor: “Combati o bom combate, completei a carreira, guardei a  fé”. E, com esse testemunho de vitória, acrescentou com a mesma alegria: “Já agora a  coroa da justiça me está aguardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia; e não somente a mim, mas também a todos quantos  amam a sua vinda”.  Que cada um de nós possamos viver e servir de tal forma que o nosso testemunho final seja tão jubiloso quanto o do Ap. Paulo.


Termino com uma doxologia: “Ora, aquele que é poderoso para vos guardar de tropeços e para vos apresentar com exultação, imaculados diante da sua glória, ao único Deus, nosso Salvador, mediante Jesus Cristo, Senhor nosso, glória, majestade, império e soberania, antes de todas as eras, e agora, e por todos os séculos. Amém” (Judas, versículos 24 e 25).    

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

COMO AMAR O NOSSO PRÓXIMO




Leitura Bíblica: Romanos 12:9-21.

Introdução: Temos falado sobre a necessidade de respeitar os dons que outras pessoas têm. Agora, como cristãos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros. Reconhecemos as diferenças entre os membros da Igreja, contudo, devemos respeitar essa diversidade sem sentir ciúmes, visto que alguns têm maior destaque do que outros. Cada membro tem a sua própria dignidade. Mas, para praticar esse respeito, temos que amar uns aos outros. Portanto, o título dessa mensagem: Como amar o nosso próximo? O amor que devemos a Deus será abordado em cap. 13:8:10.

Primeiro, temos que tentar definir, de uma maneira prática, a natureza do amor que devemos ao nosso próximo. Reconhecemos que existem duas manifestações do amor: um comum, que engloba todas as pessoas, sem considerar o seu estado social ou espiritual. “O amor não pratica o mal contra o seu próximo”, ou qualquer outra pessoa, (Rm. 13:10). Por outro lado, existe um amor particular, que derramamos sobre a nossa família, os irmãos em Cristo, e não necessariamente, sobre os descrentes. Em dadas circunstâncias, é o irmão em Cristo que recebe a  preferência. “Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl.6:10). O segredo é: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros” (1Pe. 4:8). O próprio Deus pratica essas duas manifestações de amor: um amor comum, pelo qual todos recebem da sua bondade, “Contudo (Deus) não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e alegria” (At. 14:17; Mt. 5:45); mas, também, um amor particular, reservado exclusivamente para o seu povo escolhido. Por isso, de necessidade, alguns são colocados à parte. Basta mencionar a salvação. Nem todos recebem a vida eterna, somente aqueles que crêem em Jesus Cristo (Jo. 3:16). Cristo não foi dado para morrer substitutivamente no lugar de cada indíviduo, antes, foi dado para salvar o seu povo, os eleitos; os demais são excluídos por causa de suas transgressões. José foi instruído quanto ao nome da criança que iria nascer: “Ela (Maria) dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt. 1:21). Notemos a especificação da missão de Cristo: “salvará o seu povo”, aqueles que o Pai lhe deu. “Todo aquele que o Pai me dá (e somente estes), esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo. 6:37). O amor particular de Deus é a base da nossa esperança espiritual. Como é consolador entender que “Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante o nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós” (1Ts. 5:9-10).

No estudo de como amar o nosso próximo não discernimos uma seqüência específica de prioridades, nem uma distinção absoluta entre o amor comum e o amor particular. O Apóstolo se limita a nos dar princípios básicos de como devemos amar o nosso próximo. Para facilitar a compreensão das diversas partes, oferecemos algumas sugestões como chave do assunto.  

1. O nosso amor se direciona objetivamente com  atitudes estabelecidas, Vs. 9-10. a) “O amor seja sem hipocrisia”. A hipocrisia é um dos pecados mais odiosos. Não existe nenhuma outra perversidade tão danosa contra a integridade quanto a hipocrisia, porque ela contradiz a verdade. Podemos sentir o veneno desse mal quando Jesus perguntou para Judas Iscariotes: “Judas, com um beijo trais o Filho do homem?” (Lc. 22:48). O que agrada a Deus  é uma “fé sem fingimento” (2Tm. 2:15). O amor é a plenitude da virtude, mas a hipocrisia é o epítome da maldade. b) “Detestai o mal, apegando-vos ao bem”. O nosso amor a Cristo deve nos constranger em momentos de tentação. Em vez de ficar apegado ao mal, fiquemos apegados ao bem. “Vós que amais o Senhor, detestai o mal; ele guarda a alma dos seus santos, livra-os da mão dos ímpios” (Sl. 9:10). c) “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal”. Esse é o amor que devemos praticar dentro da Igreja. Como podemos definir esse “amor fraternal”? Oferecemos o exemplo de Cristo: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (1Jo.3:16). “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor de seus amigos” (Jo. 15:13). d) “Preferindo-vos  em honra, uns aos outros”. Os fariseus se esforçavam para sempre ocupar os primeiros lugares, (Mt. 23:6-7). O amor não sente nenhuma necessidade de receber honras ou destaques especiais entre os homens, pois a honra que Cristo nos dá o satisfaz plenamente. A advertência de Cristo deve ser lembrada: “Quem a si mesmo se exalta será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mt. 23:12).  

2. O nosso amor age zelosamente, evitando omissões, Vs. 11-14. a) “No zelo, não sejais remissos”. Qual foi a atitude de Jesus Cristo diante do trabalho do Senhor?  Zelo, dedicação, diligência; a preguiça foi desconhecida. Ele mesmo confessou a seu Pai: “O zelo da tua casa me consumirá” (Jo. 2:11). E o Ap. Paulo confessou: “Mas pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1Co. 15:10). b) “Sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor”. Não deixemos o desânimo tomar conta de nós quando o trabalho está se tornando difícil. Timóteo recebeu esta exortação: “Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom que há em  ti pela imposição das minhas mãos” (2Tm. 1:6). E, para nos encorajar, está escrito: “E não cansemos de fazer o bem porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gl. 1:6-9). c) “Regozijai-vos na esperança”. A esperança da salvação eterna é  o motivo da nossa alegria; de um dia “sermos semelhantes a Cristo, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo. 3:2). d) “Sede pacientes na tribulação”. Os cristãos foram exortados “ a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At. 14:22). Cristo nos advertiu: “Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros” (Jo. 15:20). e) “Na oração, perseverantes”. Sem a oração, não teremos alegria em nossa salvação, nem paciência na tribulação. Pela oração, ficamos fortalecidos na fé, (Cl. 1:9-12). f) “Compartilhai as necessidades dos santos”. Com essa virtude, demonstramos que amamos a Deus. O Ap. João escreveu: “Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, mas de fato e de verdade” (1Jo. 3:17-18). g) “Praticai a hospitalidade”. Talvez, em nossos dias, essa palavra não tenha a mesma necessidade como nos tempos bíblicos, contudo, podemos ainda praticar o espírito dessa exortação. A nossa casa pode ser um lugar para cultos, quando queremos evangelizar os nossos vizinhos. Quando lemos sobre o início de uma nova Igreja, quantas vezes a história é como este relato: O primeiro culto se realizou na casa do irmão tal. A nossa casa pode ser um refúgio onde o cristão cansado pode chegar a fim de receber uma palavra de encorajamento espiritual. Veja a atitude de Áquila em At. 18:24-26. Com portas abertas, podemos receber oportunidades para evangelizar passantes. h) “Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis”. O Ap. Paulo era um perseguidor feroz dos cristãos. Mas qual foi a atitude da igreja? Cremos que eles oravam  incessantemente por sua conversão, e Deus respondeu as suas súplicas, (At. 4:23-31). Assim, Ananias recebeu esta ordem: “Vai (a Saulo), porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (At. 9:15). Deus não pode responder a oração que está pedindo que os perseguidores sejam amaldiçoados, porém, ouve a oração que pede a benção para essas pessoas infelizes.    

3. O nosso amor pratica a empatia com os demais irmãos em Cristo, Vs. 15:16. a) “Alegrai-vos com  os que se alegram e chorai com os que choram”. Eis a empatia: aquela habilidade de sentir o que o irmão está sentindo. Pensamos na alegria dos  pais cujo filho rebelde se converteu e agora está vivendo uma vida piedosa. Por que tanta alegria? “Era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque este teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado” (Lc. 15:32). Ou pensamos na tristeza dos pais piedosos cujo filho abandonou a igreja a fim de viver uma vida dissoluta. Quantas lágrimas são derramadas por causa dessa decepção! Seja qual for o caso, a empatia traz consolo às famílias. b) “Tendo o  mesmo sentimento uns para com os outros”. Empatia é ter harmonia no viver da vida cristã. c) “Em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde”. Na igreja, somos um só em Cristo, por isso, evitamos atitudes de superioridade. d)”Não sejais sábios aos vossos próprios olhos”. Foi  o problema principal da igreja de  Laudicéia, pois dizia: “Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma” (Ap. 3:17). Auto-suficiência  é uma presunção que leva muitos para a perdição eterna.

4. O nosso amor age passivamente em circunstâncias provocadoras, Vs. 17-18. a) “Não torneis a ninguém mal por mal”. Em vez de pagar com a mesma moeda: “Esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens”. Cristo disse: “Assim brilhe também a vossa luz (a realidade da nossa vida cristã) para que vejam as vossas boas obras (o fruto transformador de Cristo em nós) e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5:16). b) “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”. Existem circunstâncias nas quais é impossível viver em concordância de opiniões. Nessas provocações, é melhor mantermos o silêncio, mas, sem negar a verdade. É melhor encerrar o assunto passivamente em vez de prolongá-lo, alimentando mais desgostos. “Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo” (Tg. 3:2). “Do muito falar (nascem) palavras néscias” (Ec. 5:3).

5. O nosso amor se manifesta quando conseguimos entregar todos os ultrajes que recebemos àquele que julga retamente, Vs. 19-21. No primeiro versículo deste capítulo, o Apóstolo destacou as misericórdias de Deus, ou seja, a natureza de seu interesse para com o seu povo. Aqui, no V.19, é o Apóstolo que abre o seu coração diante dos membros da Igreja, chamando-os de “amados”, a fim de incutir a seriedade do seu apelo: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira (de Deus); porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor”. a) A vingança é uma prerrogativa exclusiva de Deus; e, se alguém praticar  a sua própria vingança, está pecando, porque está fazendo o que Deus proíbe. Guardar e cumprir as ordens de Deus são disposições sábias e gratificantes, (Dt. 4:6). b) A passividade diante das injúrias é um ato de fé, porque cremos que Deus é o Vingador por excelência; Ele fará bem melhor do que nós. c) “Pelo contrário, (em vez de tentar se vingar), se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber, porque fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça”. Esse princípio é uma exposição prática do V.14. “Abençoai os que vos perseguem,  abençoai e não amaldiçoeis”.  Qual será o resultado desse ato  de altruísmo? “Amontoarás brasas vivas sobre a cabeça” do seu adversário. Embora não aconteça sempre, sabemos que uma resposta desprendida pode mexer com a consciência do antagonista e resultar numa reconciliação que exalta o poder de Deus – Deus abençoando o ato  de seu servo. d) “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”.  O pensamento é: Não deixes o mal sacudir a sua confiança nas promessas de Deus, praticando uma vingança particular, antes, vença o mal praticando um ato de altruísmo, lembrando que o seu adversário pode ser amolentado por um ato de bondade. Em circunstâncias adversas, o cristão tem uma oportunidade para provar a realidade  da sua fé em Cristo. “Assim, brilhe também a vossa  luz diante dos homens (diante dos vossos adversários), para que vejam as vossas boas obras (por exemplo, o altruísmo) e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5:16).


Conclusão:  O desafio para amar o nosso próximo continua sendo um mandamento irrevogável. O nosso texto nos deu algumas chaves, para que pudéssemos demonstrar a realidade da nossa vida em Cristo. Nesse contexto, o Apóstolo ordena: “Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma. Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg. 1:21-22).


Rev. Ivan G. G. Ross

terça-feira, 4 de outubro de 2016

RESPEITANDO OS DONS DOS OUTROS




Leitura Bíblica: Romanos 12: 3-8

Introdução: Temos falado sobre as “misericórdias de Deus”, e, com a consciência delas em nossa vida, devemos nos sentir constrangidos a entregar a nossa vida a Ele numa consagração irrestrita, como uma manifestação de agradecimento. Sim, temos sido enriquecidos em tudo. Mas devemos prosseguir. Consagração necessita que tenhamos uma comunhão espiritual com Deus, pois “ a intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a conhecer a sua aliança” – a sua vontade, (Sl. 25:14). E, para ter essa intimidade com Deus, é necessário que tenhamos uma vida santa e irrepreensível, uma santidade que demonstra a realidade da nossa vida cristã.

Mas, como podemos entender o sentido dessa santidade de vida? Em primeiro lugar, santidade é a renovação da imagem de Deus em nossa vida. O pecado desfigurou a imagem na qual fomos criados, mas, agora, mediante a regeneração pela ação do Espírito Santo, essa imagem está sendo remoldada em nós. Deus nos predestinou para que sejamos “conformes à imagem de seu Filho” (Gl. 4:19).  Em segundo lugar, santidade necessita de uma obediência singular à prática consciente da vontade de Deus. Cristo confessou: “Não procuro a minha vontade, e sim daquele que me enviou” (Jo. 5:30). E nós, que somos os seus seguidores, não podemos ter uma disposição que entra em choque com aquela do nosso Mestre. “Tudo quando fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens, cientes de que recebereis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo” (Cl. 3:23-24).

Por que essa ênfase sobre a santidade em nossa vida? Porque vivemos no meio de pessoas cujas vidas foram dotadas com diferentes capacidades. Alguns desses dons têm um destaque maior do que outros, porém, todos têm a sua própria importância e foram distribuídos  pelo Espírito Santo para o bem total da nossa sociedade. Portanto, como cristãos, o nosso dever é respeitar os dons que outras pessoas têm. Esse respeito é uma das manifestações da nossa santidade. Vamos examinar os princípios de respeito contidos no texto da nossa leitura, e, ao mesmo tempo, sentir a importância de revelar  uma vida santa e irrepreensível no meio dessa diversidade de dons. “O amor é paciente, é benigno; o amor não se arde em ciúmes, não se ufana, não se ensoberbece; não se conduz inconvenientemente” no meio de pessoas que têm dons superiores,   (1Co. 13:4-5).

1. A Distribuição dos Dons Vs. 3-6a. O Espírito Santo é o autor dos dons que cada pessoa tem, e foram distribuídos “ como lhe apraz, a cada um, individualmente” (1Co. 12:11). Cada dom, apesar das diferenças, tem a sua própria importância, portanto, devemos evitar todo tipo de comparação que tende a exaltar um e a inferiorizar o outro. Nesse contexto, somos exortados: “Porque, pela graça que me foi dada, digo a cada um dentre vós que não pense de si mesmo além do que convém; antes, pense com moderação, segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um”. A exortação se refere a dois perigos insidiosos. Primeiro, o orgulho humano. O meu dom é mais importante do que o seu, portanto, mereço receber maior honra e destaque entre o povo. Tal pessoa está se esquecendo de que a  sua capacidade é um dom que foi concedido pela graça de Deus, e, portanto, pode ser revogado. “Pois quem é que te faz sobressair? E que tens tu que não tenhas recebido? E, se o recebeste, por que te vanglorias como se o não tiveras recebido?” (1Co. 4:7). Sem o dom de Deus, seríamos incógnitos e desprezados por causa da ausência de qualquer capacidade específica. O Ap. Paulo confessou: “Mas pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1Co. 15:10). Notemos como o Apóstolo deu todo o crédito à graça de Deus, que operou eficazmente em sua vida. Assim, devemos pensar com moderação e honestidade. O segundo perigo é igualmente insidioso, porque não procura reconhecer a existência de um dom da parte de Deus. O que eu posso fazer é tão insignificativo que não vale a pena ser reconhecido  como algo útil. Essa pessoa é semelhante ao servo mau e negligente, que escondeu o talento que recebera, (Mt. 25:24-27). Novamente, temos que pensar com moderação e honestidade, lembrando que os dons são distribuídos “ a cada um segundo a sua própria capacidade” (Mt. 25:15). A frase: “segundo a medida da fé que Deus repartiu a cada um” tem este pensamento: O cristão, ao contemplar o dom que o Espírito Santo lhe confiou, pergunta: Como  posso usar esse dom para a glória de Deus? E, percebendo uma oportunidade que corresponde com o dom que recebeu, ele logo age pela fé para que o propósito de Deus se cumpra mediante a sua instrumentalidade. 

Para ilustrar a diversidade dos dons que cada pessoa recebe, pois ninguém ficou esquecido na distribuição e desprovido de qualquer capacidade, o Apóstolo usou o corpo humano que tem muitos membros, alguns visíveis e outros invisíveis, alguns com uma importância e outros com menos valor, porém, todos têm o seu lugar e utilidade no corpo; e se um membro estivesse faltando, mesmo sendo o menor, o  corpo seria incompleto e incapaz de seu pleno potencial. “Porque assim como num só corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim também nós, conquanto muitos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros, tendo, porém, diferentes dons segundo a graça que nos foi dada”. Vamos lembrar que nós, como membros da Igreja, somos “ membros uns dos outros”. Quando um membro está faltando, todos sentem a sua ausência; “se um membro sofre, todos sofrem com ele”. Mas, por outro lado, “se um deles é honrado, com ele todos se regozijam” (1Co. 12:26). Portanto, na vida da Igreja, somos exortados: Consideremo-nos também uns aos outros, para os estimularmos ao amor e às boas obras. Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações, e tanto mais quanto vedes que o Dia se aproxima” (Hb. 10:24-25).

2 A Diversidade dos Dons, Vs. 6b-8. Aqui, o Apóstolo fala de apenas sete dons. Existem muitos outros, porém, esses sete são suficientes para ilustrar a diversidade dos dons que o Espírito Santo pode derramar sobre o seu povo, para que “seja tudo feito para edificação” (1Co. 12:26). Vamos examinar, ligeiramente, o sentido geral de cada um desses dons, lembrando que eles são concedidos para serem usados para a glória de Deus.

1)      “Se profecia, seja segundo a proporção da fé”. Profecia, em seu sentido simples, significa a declaração da Palavra de Deus, seja qual for o seu assunto. Somos exortados: “Procurai com zelo, os melhores dons” (1Co. 12:31). A profecia, sem dúvida alguma, é o melhor dom, porque, por seu intermédio, a Palavra de Deus está sendo anunciada, e o Espírito Santo, usando-a, está atraindo os ouvintes para congregarem-se aos pés de Jesus Cristo, de quem recebem o perdão de seus pecados e o dom da vida eterna. Podemos exercer esse dom com a maior confiança, porque o próprio Senhor garantiu: “Assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo para que a designei” (Is. 55:11). Pregar, profetizar e anunciar são sinônimos que descrevem a ordem de Cristo: “Ide por todo mundo e pregai o evangelho a toda criatura” (Mc. 16:15). Esse é o melhor dom.
2)      “Se ministério, dediquemo-nos ao ministério”. A palavra é diaconia - serviço, qualquer atividade prática e útil, tal como: “Para servir as mesas”,(At.6:2). Ou, preparar uma refeição. Marta exercia esse dom, (Lc. 10:38-42). O diácono, como oficial da igreja, é um homem chamado e encarregado para fazer qualquer serviço prático dentro da igreja, a fim de manter a boa ordem nos cultos.
3)      “O que ensina, esmere-se no fazê-lo”. O Profeta recebia a sua mensagem diretamente da boca do Senhor, sem qualquer esforço próprio. Jeremias recebeu esta explicação do Senhor: “Eis que ponho na tua boca as minhas palavras” (Jr. 1:9). Mas aquele que ensina, seja pastor ou professor da Escola Dominical, tem que trabalhar  a fim de receber a sua mensagem, mediante o estudo cuidadoso da Bíblia e a pesquisa criteriosa de livros apropriados. Esmerar-se significa esforçar-se por fazer as coisas com perfeição. O Senhor nos deu esta palavra a fim de tirar de nós qualquer indolência no preparo das nossas lições: “Maldito aquele que  fizer a obra do Senhor relaxadamente” (Jr. 48:10). Em nosso ministério, devemos lembrar que estamos ensinando um povo que  está caminhando rumo à eternidade, onde existem apenas dois destinos, ou o céu ou o inferno.
4)      “O que exorta, faça-o com dedicação”. O ensino é direcionado para o nosso entendimento, enquanto que a exortação procura vivificar a consciência e os sentimentos. José, querendo tranqüilizar os seus irmãos inquietos, deu-lhes promessas: “Assim, os consolou e lhes falou ao coração” (Gn. 50:21). Alguns sabem ensinar e comunicar os fatos com clareza, porém, nem sempre sabem como aplicá-los à consciência; por isso a necessidade de exortadores dedicados a seu ministério, pessoas que fazem os fatos chegarem ao coração do povo. “E o Deus da esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do Espírito Santo” (Rm. 15:13).
5)      “O que contribui, com liberalidade”. Alguns têm mais recursos financeiros do que outros; contudo, todos podem dar alguma contribuição à necessidade dos pobres. Mas a ênfase quanto às contribuições recai sobre a atitude do coração. Os cristãos da Macedônia revelaram esta liberalidade. “Porque eles, testemunho eu, na medida de suas posses e mesmo acima delas, se mostraram voluntários, pedindo-nos com muitos rogos, a graça de participarem da assistência aos santos” (2Co. 8:3-4). Mas, por outro lado, temos o caso de Ananias e Safira. Sim, eles deram, mas não com liberalidade espontânea, porque reservaram parte do valor prometido para si mesmos. E, para tentarem se justificar, mentiram ao Espírito Santo, (At. 5:1-5). Qual deve ser a nossa atitude quanto à graça de contribuir? “De graça recebestes, de graça dai” (Mt. 10:18). Veja como Cristo ilustrou o sentido de liberalidade: “Dai, e dar-se-vos-á; boa medida, sacudida, transbordante, generosamente vos darão” (Lc. 6:38).
6)      “O que preside, com diligência”. “O que preside” se refere especificamente aos oficiais da Igreja, ao pastor e aos presbíteros. Eles têm que exercer o seu ministério com diligência, imparcialidade e honestidade. O Ap. Pedro deu esta interpretação: “Rogo, pois, aos presbíteros que há entre vós, eu, presbítero como eles, e testemunha dos sofrimentos de Cristo e ainda co-participante da glória que há de ser revelada: pastoreai o rebanho de Deus que há entre vós, não por constrangimento, mas espontaneamente, como Deus quer; nem por sórdida ganância, mas de boa vontade; nem como dominadores dos que vos foram confiados, tornando-vos modelos do rebanho” (1Pe. 5:1-3). Os que presidem dessa maneira merecem nosso respeito. E honrai sempre homens que presidem com diligência (Fp. 2:29).
7)      “Quem exerce misericórdia, com alegria”. Todos os cristãos, como um ato de amor, devem exercer a misericórdia aos que precisam, contudo, é o diácono que tem esse ministério. Ele dedica-se “ao cuidado dos pobres, doentes e inválidos, com ações de conforto, como orienta a Constituição da nossa Igreja. Esse ato de amor tem valor especial quando exercido com alegria e boa vontade. “Tudo quanto fizerdes, faze-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens,  cientes de que recebeis do Senhor a recompensa da herança. A Cristo, o Senhor, é que estais servindo” (Cl. 3:23-24). Nesse contexto, Provérbios 15:30 tem uma palavra oportuna: “O olhar de amigo alegra o coração; as boas-novas fortalecem até os ossos”.

Notemos que cada um desses sete dons tem uma palavra que ensina como eles devem ser praticados. “Quem exerce misericórdia, com alegria”, etc. Em cada parte do nosso culto, Deus pede a totalidade do nosso ser, sem qualquer reserva.  “Agora, pois, ó Israel, que é que o Senhor requer de ti? Não é que temas ao Senhor, teu Deus, e andes em todos os seus caminhos, e o ames e sirvas ao Senhor, teu Deus, de todo o teu coração e de toda a tua alma, para guardardes os mandamentos do Senhor e os seus  estatutos que hoje te ordeno, para o teu bem?” (Dt. 10:12-13). E, para podermos agir dessa maneira, temos que cultivar uma vida santa e irrepreensível; lembrando sempre que consagração a Deus necessita de uma comunhão, uma intimidade com Deus, e o resultado não pode ser outro senão uma verdadeira santidade, sem a qual ninguém verá o Senhor.

Conclusão: Começamos esta mensagem mencionando a tríplice unidade, são três realidades inseparáveis na vida cristã. Consagração a Deus necessita que tenhamos comunhão espiritual com Ele; e essa intimidade sempre se manifesta através de uma vida santa e irrepreensível, uma santidade que pode ser reconhecida por todos. Santidade está unida inseparavelmente à pratica  do amor. “Nós sabemos que já passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos; aquele que não ama permanece na morte” – separado de Deus (1Jo. 3:14). A prática do amor fraternal significa que respeitamos os dons que o irmão tem. Talvez eu não possa profetizar como convém, porém, reconheço que o meu irmão tem esse dom, por isso, fico grato a Deus, porque a Palavra de Deus está sendo proclamada e o seu Nome está sendo conhecido e glorificado. Mas, por lado, reconheço que Deus tem me dado um dom de acordo com a minha capacidade. Talvez não se sobressaia tanto quanto a profecia, contudo, é o dom que posso usar livremente e também glorificar a Deus.


Nos dias do Ap. Paulo, existia uma certa rivalidade quanto ao uso dos dons. Mas, qual foi a  atitude desse nobre servo de Deus? Ele escreveu: “Alguns, efetivamente, proclamam a Cristo por  inveja e porfia; outros, porém, o fazem de boa vontade; estes, por amor, sabendo que estou incumbido da defesa do evangelho; aqueles, contudo, pregam Cristo por discórdia, insinceramente, julgando suscitar tribulação às minhas cadeias. Todavia, que importa? Uma vez que Cristo, de qualquer modo, está sendo pregado, quer por pretexto, quer por verdade, também com isto me regozijo, sim, sempre me regozijarei” (Fp. 1:15-18). Irmãos, vamos sempre lembrar: “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm. 13:10). Que cada um de nós possamos usar o nosso próprio dom, sem qualquer inveja, com a devida diligência, como para o Senhor, sempre respeitando os dons que os demais membros da Igreja receberam do Senhor. “A Cristo, o Senhor, é que estais servindo” (Cl. 3:24).



Rev. Ivan G. G. Ross

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A PRUDÊNCIA CONTRA A IMPRUDÊNCIA


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica:  Salmo 2:1-12

Introdução: Este Salmo nos mostra qual é a natureza da corrupção humana. O pecado é a transgressão da lei e uma rebelião contra o único legislador do universo, e contra as normas morais e espirituais que Ele prescreveu para toda a humanidade. Se o pecado fosse permitido a continuar impune, aniquilaria o domínio soberano de Deus e o destronizaria. Essa é a verdade a respeito de todos os pecados; e, especialmente, quanto à rejeição de Jesus Cristo. O clamor universal é este: “Não queremos que este (Jesus) reine sobre nós” (Lc. 19:1). Aqueles que recusam prestar obediência à Jesus Cristo estão negando a autoridade do próprio Deus que o enviou. Vamos examinar como este Salmo descreve as manifestações do pecado.

Este Salmo precioso tem uma seqüência de quatro pontos: A destemperança dos povos provoca em Deus uma desafronta; por isso, Ele fez uma declaração quanto aos seus propósitos diante da pecaminosidade humana. Por causa do prometido juízo, os povos são exortados a tomar uma decisão a respeito de Jesus Cristo e da necessidade de refugiar-se nele, a fim de serem salvos.

1. A Grande Destemperança, Vs. 1-3. O primeiro versículo faz uma pergunta séria: “Por que enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs?”. Qual é a razão dessa fúria e de tantos sonhos impossíveis? É o pecado que provoca essa grande destemperança. O diabo é “o pai da mentira” (Jo. 8:44). Ele incita os povos para acreditar que podem se rebelar contra a lei de Deus e vencer impunes. E, para promulgar essa mentira diabólica, ele reúne as lideranças a fim de dar uma aparência formal de autoridade a seus ditames. No mundo inteiro, são os governantes que, em vez de promoverem os interesses do reino de Deus, fazem de tudo, através de suas legislações liberais, para prejudicar e impedir a plena expressão do ministério da Igreja. O problema não é uma falta do conhecimento das leis de Deus, antes, é uma revolta contra essas leis. O grande anseio dessas lideranças é livrar-se  de Deus e de suas leis. O seu objetivo principal é resumido em sua própria declaração: “Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas” (V.3).

Mas, de uma maneira mais específica, estes “príncipes conspiram contra o Senhor e contra o seu Ungido”, Jesus Cristo, (V.2). Basta ler os Evangelhos para reconhecer a verdade dessa conspiração. Logo no início de seu ministério, Jesus sentiu a fúria deste ódio: “Os fariseus conspiravam contra ele sobre como lhe tirariam a vida” (Mt. 12:14). Até hoje, se falarmos de Jesus como o melhor amigo, ninguém faz objeção séria, porém, se falarmos sobre o seu direito soberano de reinar sobre a nossa vida, provocaremos uma onda de resistências e até perseguições. Os povos não querem que Cristo reine sobre as suas vidas e sobre os seus interesses pessoas. Qual é a atitude de Deus diante dessa insurreição?  Vemos...

2. A Grande Desafronta, Vs. 4-6. Deus sente uma forte indignação. Qual é a primeira manifestação desta desafronta? “Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles” (V4). O riso de Deus, nesse contexto, deve ser um som extremamente terrificante, porque, na verdade, Ele está zombando da loucura dessa rebelião. Como um homem, feito do pó da terra, pode prevalecer contra o Deus Todo-Poderoso? Quem pode suportar as zombarias de Deus e suas manifestações de ira? A luta entre os dois contendores é totalmente desigual. Mesmo em nossos dias, a ira de Deus contra os ímpios se manifesta através de circunstâncias adversas. “Por causa da ira do Senhor dos Exércitos, a terra está abrasada, e o povo é pasto de fogo (Is. 9:19). Contudo, a plenitude dessa ira é reservada para o Dia Final. “Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá” (V.5.) O que Deus vai falar a esses insurretos naquele Dia? “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt. 25:41). Sim, “Horrível cousa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb. 10:31).

Como Deus realizará essas manifestações da sua justiça? Ele mesmo responde: “Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião” (V.6). É de suma importância que acreditemos que Deus realiza todos os seus propósitos a respeito do homem pecador pela mediação exclusiva de Jesus Cristo. “Este é o designo que se  formou concernente  a toda a terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? A sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?” (Is. 14:26-27).
O Pai valoriza e “ama ao seu Filho, e todas as cousas tem confiado às suas mãos” (Jo. 3:35). Estamos, agora, prontos para ouvir...

3. A Grande  Declaração, Vs. 7-9. Nesses versículos, Cristo está repetindo o que o Pai lhe disse nos tempos da eternidade. O assunto é o seu decreto inalterável. Cristo, como o Profeta de Deus, é aquele que revela os propósitos da Divindade; por isso, Ele começa, dizendo: “Proclamarei o decreto do Senhor” (V.7a). Cristo tem três assuntos para revelar:

a) A declaração pública de que o homem, Jesus de Nazaré, é o Cristo, o Filho de Deus, (At. 2:36; 18:5). “Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl. 1:9). “Ele (o Pai) me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei” (V.16). Essa declaração foi feita quando Cristo ressuscitou dentre os mortos, (Rm. 1:4). O impacto da ressurreição silenciou todos os argumentos contra a Divindade de Cristo. A sua ressurreição é o prometido “sinal de Jonas” (Lc. 11:29-30).

b) A herança oferecida a Jesus Cristo. O Pai o convidou: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança” (V.8). Aqui temos uma referência ao ministério intercessor de Cristo e como Ele suplica pela salvação de seu povo. E, de fato, Ele ajuntou para si mesmo uma “grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas” (Ap. 7:9). A intercessão de Cristo garante a salvação total de todo o seu povo; “e nenhum deles se perdeu” (Jo. 17:10).

c) Como Cristo conseguirá receber essa prometida herança? “Com vara de ferro as regerás e as  despedaçarás como um vaso de oleiro” (V.9). Cristo consegue as suas conquistas através de um domínio soberano e inflexível. O decreto afirma: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap. 11:15). Esse reinado é tão soberano e seguro que ninguém pode resistir, (Rm. 9:19-24). À luz desse reinado, queremos saber o que devemos fazer em termos de preparo espiritual. Portanto, a necessidade de tomar...

4. A Grande Decisão, Vs. 10:12. Em vez de ser despedaçado pela ira de Cristo, é melhor sujeitar-se à sua regência, tomando as devidas decisões.

Primeiro, o texto se dirige às lideranças mundiais: “Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juizes da terra. Servi ao Senhor com temor e alegrai-vos nele com tremor” (Vs. 10-11). Em vez de levantar-se contra o Senhor em rebelião, é melhor ser prudente e submeter-se a seu reinado. A advertência foi dada, é melhor obedecer e conservar a sua vida. Qual seria a evidência de uma decisão séria?  Servindo ao Senhor com temor e respeitando a sua majestade. Essa obediência não pode ser insincera e de má vontade, antes, deve ser realizada com alegria e tremor. Em outras palavras, por esse serviço as lideranças devem legislar leis justas que promovem a glória de Deus.  

Em segundo lugar, a advertência é dirigida aos povos em geral. “Beijai o Filho para que não se irrite e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira” (V.12a). O beijo, nesse contexto, é o ato de adoração. Os povos beijavam o deus Baal, (1Rs. 19:18). Mas, a ordem de Deus é “Não adorarás outro deus; pois o nome do Senhor é zeloso, sim, Deus zeloso é Ele” (Ex. 34:14). O resumo do nosso culto é este: “Beijai o Filho”, ou seja: “Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc. 12:29-30).

E, finalmente, qual é a recompensa de tomar essas duas decisões? “Bem-aventurados todos os que nele se refugiam” (v.12). Beijar o filho, Jesus Cristo, é um ato de reconciliação, uma confiança na veracidade de sua Palavra, um sinal de submissão à sua autoridade e uma manifestação da adoração que lhe devemos. Eis o caminho para uma verdadeira bem-aventurança.

Conclusão: O Salmo começou descrevendo a fúria dos povos, uma fúria dirigida “contra o Senhor e o seu Ungido”, Jesus Cristo. Qual é a razão que provoca essa rebelião? Eles não aceitam as leis e o domínio de Deus. Por isso, a luta é para romper os laços e sacudir de si mesmos as restrições que a lei lhes impõe.

Mas, qual é a atitude de Deus diante dessa insurreição? “Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles”. A rebelião é destinada a falhar e deixar os povos em plena confusão.

Qual é a providência que Deus deu, a fim de estabelecer ordem e justiça entre os povos? Ele enviou o seu próprio Filho, para reinar,  soberanamente, com uma vara de ferro, a fim de tomar posse da sua herança.


Qual é o conselho dado aos povos? Beijai o Filho e dai-lhe o culto que Ele tem o direito de receber. Esse é o caminho que nos oferece uma verdadeira segurança espiritual. Bem-aventurados todos os que se refugiam em Jesus Cristo, porque, nele, terão a salvação eterna.