Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura Bíblica: Marcos 12:28:34.
Introdução: No tempo de Jesus, dentro da religião judaica,
existiam muitos grupos diferentes. Os três principais eram: Os Saduceus
- eles aceitavam somente os escritos de Moisés, porém, negavam a ressurreição
dos mortos e tudo o que estava ligado a essa doutrina; também, negavam a existência
de anjos e de espíritos; veja Marcos 12:18:27. Os Fariseus - a ênfase era mais ética do
que teológica. Eles exigiam uma obediência literal à lei de Deus e às
tradições, tais como a guarda do sábado, o pagamento do dízimo e a proibição de
comer na casa de um não fariseu. Para se ter uma ideia de como eles viviam,
veja Lucas 6:1-5. Os Escribas, ou Intérpretes da Lei - eram os mestres
para interpretar e ensinar a lei de Deus. No exercício desse ministério, eles
acrescentaram à lei as próprias opiniões que, gradativamente, tornaram-se
“tradições”. Estas passaram a receber uma autoridade igual ou superior à das
Escrituras Sagradas. Por isso, Cristo condenou essas tradições, dizendo:
“Assim, invalidastes a palavra de Deus, por causa da vossa tradição” (MT.
15:5-6). Veja como Cristo condenou as
atitudes dos fariseus e escribas. Mas, em vez de aceitar a repreensão, eles tornaram-se
seus inimigos, (Lc. 11:37-54). Contudo, cremos que alguns dos escribas temiam a
Deus. Eles foram responsáveis pela preservação das Escrituras, fazendo cópias
delas. Graças a esses homens fiéis, temos, hoje, a verdadeira Palavra de Deus
em forma escrita, porque o Espírito Santo zelava por sua Palavra, capacitando
homens a escrever com honestidade. Desse grupo, veio o escriba do nosso texto.
Sentimos que ele era um homem sincero, e não um daqueles que tentavam apanhar o
Senhor Jesus em uma palavra, a fim de contradizer tudo o que Ele ensinava.
1. A Indagação do Escriba, V.28. Grandes multidões seguiam a
Jesus e, sempre no meio destas, os saduceus, fariseus e escribas se faziam
presentes. Num desses encontros, os saduceus tentaram ridicularizar a doutrina
da ressurreição. Mas Jesus os dirigiu ao livro de Moisés, aquele que eles supostamente
seguiam, dizendo: “Quanto à ressurreição dos mortos, não tendes lido no Livro
de Moisés, no trecho referente à sarça, como Deus lhe falou: Eu sou o Deus de
Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó? Ora, Ele não é Deus de mortos, e sim
de vivos. Laborais em grande erro” (Mc. 12:18-27). Agora, voltando para o
escriba do nosso texto, ele também estava no meio daquela multidão que seguia a
Jesus, e ouviu como Jesus havia respondido bem ao drama criado pelos saduceus.
Podemos imaginar como ele raciocinava: Este homem é diferente, Ele não é como
os meus colegas dizem... Vou ver como Ele responderá à minha pergunta! (Que
foi: “Qual é o principal de todos os mandamentos?”) Devemos lembrar que, entre
os escribas, não havia nenhum acordo sobre essa questão. Contudo, reconhecemos
que essa pergunta é a mais importante que o homem pode fazer. Se ele erra a resposta,
continua perdido, porque não ama a Deus.
2. A Informação de Jesus Vs. 29:31. A resposta é dupla: O homem
deve começar a sua busca espiritual, em primeiro lugar, crendo na unicidade do Deus
verdadeiro. Muitos seguem deuses que, por natureza, não o são (Gl. 4:8). Por
isso, a importância da informação de Cristo: “Ouve, ó Israel, o Senhor, o nosso
Deus é o único Senhor”. A segunda parte da sua resposta é: “Amarás, pois, o
Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento
e de toda a tua força”. Esse amor é sempre dirigido unicamente a Deus, (Dt.
10:12-13). O Senhor continua, dizendo: “O segundo é: Amarás o teu próximo como
a ti mesmo. Não há outro mandamento maior do que este”. O nosso ser não é
dividido em partes, uma independente da outra. Somos uma unidade indivisível.
Quando dizemos que amamos a Deus, é uma impossibilidade dizer: Eu amo a Deus de
coração, porém, não com todas as minhas forças, porque tenho outras
responsabilidades e interesses. Tentando agir assim, é uma negação da realidade
de seu amor. As quatro palavras: coração, alma, entendimento e força estão
representando a totalidade da nossa disposição para amar a Deus.
A Bíblia ilustra como esse amor deve ser: “Agradou-se o Senhor de Abel
e de sua oferta; a passo que de Caim e sua oferta não se agradou” (Gn. 4:4-5).
Por que essa diferença entre os dois irmãos? Porque Abel obedeceu à norma que
Deus estabelecera de receber culto dos pecadores. Essa norma seria unicamente
mediante um sacrifício e o derramamento do sangue de um cordeiro. Caim
desprezou o que Deus estabelecera. Talvez, ele pensou: Eu posso ofertar a Deus
o que eu tenho, afinal, Deus tem que reconhecer o que eu faço com as minhas
próprias mãos, visto que o fruto do meu trabalho é tão importante quanto os
cordeiros de meu irmão, (Gn 4:3-5). Mas Deus jamais aceitará a justiça própria
do homem. Amar a Deus requer obediência ao que Ele tem ordenado. Cristo disse:
“Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo. 14:15). A obediência é a
prova da veracidade do nosso amor. Outro exemplo: “Andou Enoque com Deus e já
não era, porque Deus o tomou para si” (Gn. 5:22). Se nós amamos a Deus segundo
as normas que Ele mesmo estabeleceu, estaremos em comunhão constante com Ele, à semelhança de Enoque. Alimentamos essa
comunhão espiritual lendo a Bíblia, fazendo orações todos os dias e procurando
a vontade de Deus em cada uma das nossas decisões. Cristo revelou o seu modo de
viver diante de Deus: “Eu faço sempre o que lhe agrada” (Jo. 8:29). Essa é a disposição
que revela a realidade do nosso amor a Deus. O amor sempre envolve a totalidade
do nosso ser. Quando Cristo nos amou e a si mesmo se entregou à morte como o
nosso substituto, a totalidade do seu ser foi necessária, a fim de ser
vitorioso e adquirir a nossa redenção e salvação. Portanto, devemos confirmar a
nossa eleição através de uma vida santa e irrepreensível, andando em amor, (Ef.
1:4; 5:2).
Agora, não podemos esquecer o nosso irmão. Se nós realmente amamos a
Deus, de necessidade amaremos o nosso irmão, porque Deus é amor. O Ap. João deu
este exemplo: “Amados, se Deus de tal maneira nos amou, devemos nós também amar
uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus; se amarmos uns aos outros, Deus
permanece em nós, e o seu amor é, em nós, aperfeiçoado” (1Jo. 4:11-12). O amor
ao próximo é a prova de que somos parte do povo que Deus adotou como seus
filhos.
3. A Inclinação do Escriba, V.32-33. Podemos sentir a
sinceridade desse escriba com a sua exclamação: “Muito bem, Mestre!”. Por ser
um intérprete da lei e um instrutor dela, ele fez questão de repetir a resposta
que Jesus lhe dera; e acrescentou uma verdade profunda: “E, com verdade
disseste que Ele é o único Deus, e não há outro senão Ele; e que amar a Deus de
todo coração, de todo entendimento e de toda a força e amar o próximo como a si
mesmo”. Agora, repare no acréscimo: esse amor “excede a todos os holocaustos e
sacrifícios.” O que ele está dizendo com essas palavras? Ele estava confessando
que não há nada que possa substituir a prática do amor. “O cumprimento da lei é
o amor” (Rm. 13:10). Existem pessoas que estão se esforçando para substituir a
necessidade de praticar o amor. Davi confessou ao Senhor: “Pois não te
comprazes em sacrifícios: do contrário eu tos daria; e não te agradas de
holocausto” (Sl. 51:16). Fazer qualquer coisa física é bem mais fácil do que
amar de todo o nosso coração. Cristo repreendeu os escribas e os fariseus: “Ai
de vós, escribas e fariseus (que tentam substituir a prática do amor),
hipócritas, porque dais o dízimo do hortelã,
do endro e do cominho (coisas mínimas) e tendes negligenciado os preceitos mais
importantes da lei: a justiça, a misericórdia, (o amor), e a fé; deveis, porém,
fazer estas coisas, sem omitir aquelas” (Mt. 23:23). O Ap. Paulo, abordando o
mesmo assunto, escreveu: “Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se
não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como o símbolo que retine. Ainda
que eu tenha o dom de profetizar, e conheça todos os mistérios e toda a
ciência; ainda que tenha tamanha fé, a ponto de transportar montes, se não
tiver amor, nada serei. E ainda que eu distribua todos os meus bens entre os
pobres e ainda que entregue o meu próprio corpo para ser queimado, se não tiver
amor, nada disso me aproveitará” (1 Co. 13:1-3). Novamente, reiteramos: não
existe nada que possa substituir a prática de um amor verdadeiro e visível. Esse
amor supremo é sempre dirigido a Deus e ao próximo. E, para finalizar sobre o
lugar institutível do amor, o Apóstolo escreveu: “Se alguém não amar o Senhor, seja
anátema. Maranata” (1Co. 16:22).
4. A Intuição de Cristo, V 34. “Vendo Jesus que ele (o escriba)
havia respondido sabiamente, declarou-lhe: Não estás longe do reino de Deus”. O
que Jesus estava dizendo com essa observação? Entendemos que o homem, num
sentido, pode chegar perto de reino de Deus por seu próprio esforço, estudando
a Bíblia e abandonando certos pecados. O jovem rico é um exemplo daqueles que
procuram “estabelecer a sua própria justiça, não se sujeitando à que vem de
Deus” (Rm. 10:3). O que lhes falta é aquela obra insubstituível do Espírito
Santo, que soberanamente efetua a tão necessária regeneração. Cristo ensinou: O
que é nascido da carne é carne; e o que é nascido do Espírito é espírito, isto
é, tem a vida verdadeiramente espiritual e é herdeiro da salvação, (Jo.3:6).
Ninguém se torna cristão por ter nascido num lar cristão, visto que tornar-se
cristão é uma experiência posterior. Ser cristão é um processo que deve ser
reconhecido. Primeiro, no devido tempo, a pessoa sente uma necessidade
espiritual. O Espírito Santo está agindo, dirigindo-a a ler a Bíblia, de onde
receberá a resposta que saciará o seu anseio. Com a leitura das Escrituras
Sagradas, o Espírito Santo a convencerá de seu pecado e como este deve ser
confessado e abandonado. E, em seguida, será dirigida a Jesus Cristo, “no qual
temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos nossos pecados” (Ef. 1:7).
Podemos traçar a experiência desse escriba da seguinte maneira:
Mediante o seu contato com as Escrituras Sagradas, ele reconheceu a sua
necessidade espiritual. Na esperança de alcançar paz com Deus, ele começou a
praticar as obras da lei, algo que ele não conseguia fazer com a devida
perfeição, “visto que ninguém será justificado diante de Deus por obras da lei,
em razão de que pela lei vem o pleno conhecimento do pecado”, mas ela não
oferece nenhum perdão, (Rm. 3:20). O
escriba estava caminhando para aquele ponto quando teria que reconhecer que,
por seus próprios esforços, jamais seria justificado diante de Deus. O jovem rico
chegou a esse ponto, por isso, foi a Jesus e lhe perguntou: “Bom Mestre, que
farei para herdar a vida eterna?” (Mc 10:17). Com certeza, como Intérprete da
Lei, o escriba conhecia as promessas Messiânicas do Cristo que salvaria o seu
povo dos pecados deles. Cremos que ele estava examinando Jesus a fim de saber se
Ele era, porventura, o prometido Salvador. Nesse ponto, ele parou, não sabemos
se ele chegou a confessar que Jesus era, de fato, o verdadeiro Messias, o
Cristo de Deus.
A história do jovem rico descreve o que estamos dizendo, (Lc.
18:18-23). Apesar de toda a sua obediência à lei, ele sabia que não tinha a
salvação, e não estava preparado para o tribunal de Deus. E, por causa disso,
aproximou-se de Jesus e lhe perguntou: “Mestre, que farei eu de bom, para
alcançar a vida eterna?” Jesus não lhe deu uma resposta direta. Em vez disso,
Ele lhe disse: “Uma coisa ainda te falta: vende tudo o que tens, dá aos pobres
e terás um tesouro nos céus; depois, vem e segue-me”. Por que Jesus lhe deu essa
resposta? O jovem era muito rico, e ele tinha que descobrir se as suas posses
eram mais importantes que vendê-las e seguir a Jesus. Esse é o ponto onde
muitas pessoas chegam. Estão caminhado
bem e não estão longe do reino de Deus, mas não querem tomar aquele passo
decisivo para deixar tudo e seguir a Jesus, não querem entregar-se, corpo e
alma, aos cuidados salvíficos de Jesus Cristo. O preço é alto demais. A
história das dez virgens é semelhante. Todas as dez seguiam as normas
exteriores de uma vida piedosa, porém, com uma diferença. Cinco eram prudentes
e se muniram com azeite, com aquela devoção sincera do coração; e, quando o
noivo chegou, entraram com ele pela porta aberta. Mas as cinco néscias não se
preocuparam quanto à necessidade do azeite, ficando satisfeitas com a simples
observância de algumas formalidades, em vez de uma devoção sincera. Por isso,
quando foi anunciada a vinda do noivo, elas descobriram, já tarde demais, a sua
falta de azeite, e a porta se fechou contra elas. Não é suficiente ficar perto do
reino de Deus: temos que tomar aquela decisão imperativa, crendo e
entregando-se, corpo e alma, sem reservas, a Jesus Cristo, para que sejamos
salvos por Ele. Somente unidos com Jesus Cristo é que podemos praticar o grande
mandamento.
Conclusão: Temos falado sobre a importância de conhecer e
obedecer ao Grande Mandamento que fala sobre a excelência do amor, não apenas a Deus, mas também ao
próximo. Salientamos a necessidade de praticar esse amor com a totalidade do
nosso ser. Em nosso procedimento, não existe nada que possa substituir esse
amor. Sacrifícios e boas obras não podem agradar a Deus. O que Ele requer de
cada um de nós é o amor que emana de um coração sincero. Muitos chegam perto do
reino de Deus por seu conhecimento das Escrituras Sagradas, porém, não querem
abrir mão da sua própria independência e auto-suficiência. Chegam perto do
reino de Deus, porém, não entram. Sem Cristo em nossa vida, dirigindo os nossos
passos, é impossível alcançar a dádiva da vida eterna. Não seja como as virgens
néscias, descobrindo a sua falta quando
já era tarde demais para ser remediada. Cristo explicou o problema: “Contudo,
não querei vir a mim para terdes vida” (Jo. 5:40). Então, sabemos o que devemos
fazer. Que sejamos prudentes!
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