Vasos de Honra

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quarta-feira, 2 de novembro de 2016

COMO AMAR O NOSSO PRÓXIMO




Leitura Bíblica: Romanos 12:9-21.

Introdução: Temos falado sobre a necessidade de respeitar os dons que outras pessoas têm. Agora, como cristãos, somos um só corpo em Cristo e membros uns dos outros. Reconhecemos as diferenças entre os membros da Igreja, contudo, devemos respeitar essa diversidade sem sentir ciúmes, visto que alguns têm maior destaque do que outros. Cada membro tem a sua própria dignidade. Mas, para praticar esse respeito, temos que amar uns aos outros. Portanto, o título dessa mensagem: Como amar o nosso próximo? O amor que devemos a Deus será abordado em cap. 13:8:10.

Primeiro, temos que tentar definir, de uma maneira prática, a natureza do amor que devemos ao nosso próximo. Reconhecemos que existem duas manifestações do amor: um comum, que engloba todas as pessoas, sem considerar o seu estado social ou espiritual. “O amor não pratica o mal contra o seu próximo”, ou qualquer outra pessoa, (Rm. 13:10). Por outro lado, existe um amor particular, que derramamos sobre a nossa família, os irmãos em Cristo, e não necessariamente, sobre os descrentes. Em dadas circunstâncias, é o irmão em Cristo que recebe a  preferência. “Por isso, enquanto tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, mas principalmente aos da família da fé” (Gl.6:10). O segredo é: “Acima de tudo, porém, tende amor intenso uns para com os outros” (1Pe. 4:8). O próprio Deus pratica essas duas manifestações de amor: um amor comum, pelo qual todos recebem da sua bondade, “Contudo (Deus) não se deixou ficar sem testemunho de si mesmo, fazendo o bem, dando-vos do céu chuvas e estações frutíferas, enchendo o vosso coração de fartura e alegria” (At. 14:17; Mt. 5:45); mas, também, um amor particular, reservado exclusivamente para o seu povo escolhido. Por isso, de necessidade, alguns são colocados à parte. Basta mencionar a salvação. Nem todos recebem a vida eterna, somente aqueles que crêem em Jesus Cristo (Jo. 3:16). Cristo não foi dado para morrer substitutivamente no lugar de cada indíviduo, antes, foi dado para salvar o seu povo, os eleitos; os demais são excluídos por causa de suas transgressões. José foi instruído quanto ao nome da criança que iria nascer: “Ela (Maria) dará à luz um filho e lhe porás o nome de Jesus, porque ele salvará o seu povo dos pecados deles” (Mt. 1:21). Notemos a especificação da missão de Cristo: “salvará o seu povo”, aqueles que o Pai lhe deu. “Todo aquele que o Pai me dá (e somente estes), esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo. 6:37). O amor particular de Deus é a base da nossa esperança espiritual. Como é consolador entender que “Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante o nosso Senhor Jesus Cristo, que morreu por nós” (1Ts. 5:9-10).

No estudo de como amar o nosso próximo não discernimos uma seqüência específica de prioridades, nem uma distinção absoluta entre o amor comum e o amor particular. O Apóstolo se limita a nos dar princípios básicos de como devemos amar o nosso próximo. Para facilitar a compreensão das diversas partes, oferecemos algumas sugestões como chave do assunto.  

1. O nosso amor se direciona objetivamente com  atitudes estabelecidas, Vs. 9-10. a) “O amor seja sem hipocrisia”. A hipocrisia é um dos pecados mais odiosos. Não existe nenhuma outra perversidade tão danosa contra a integridade quanto a hipocrisia, porque ela contradiz a verdade. Podemos sentir o veneno desse mal quando Jesus perguntou para Judas Iscariotes: “Judas, com um beijo trais o Filho do homem?” (Lc. 22:48). O que agrada a Deus  é uma “fé sem fingimento” (2Tm. 2:15). O amor é a plenitude da virtude, mas a hipocrisia é o epítome da maldade. b) “Detestai o mal, apegando-vos ao bem”. O nosso amor a Cristo deve nos constranger em momentos de tentação. Em vez de ficar apegado ao mal, fiquemos apegados ao bem. “Vós que amais o Senhor, detestai o mal; ele guarda a alma dos seus santos, livra-os da mão dos ímpios” (Sl. 9:10). c) “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal”. Esse é o amor que devemos praticar dentro da Igreja. Como podemos definir esse “amor fraternal”? Oferecemos o exemplo de Cristo: “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar a nossa vida pelos irmãos” (1Jo.3:16). “Ninguém tem maior amor do que este: de dar alguém a própria vida em favor de seus amigos” (Jo. 15:13). d) “Preferindo-vos  em honra, uns aos outros”. Os fariseus se esforçavam para sempre ocupar os primeiros lugares, (Mt. 23:6-7). O amor não sente nenhuma necessidade de receber honras ou destaques especiais entre os homens, pois a honra que Cristo nos dá o satisfaz plenamente. A advertência de Cristo deve ser lembrada: “Quem a si mesmo se exalta será humilhado; e quem a si mesmo se humilhar será exaltado” (Mt. 23:12).  

2. O nosso amor age zelosamente, evitando omissões, Vs. 11-14. a) “No zelo, não sejais remissos”. Qual foi a atitude de Jesus Cristo diante do trabalho do Senhor?  Zelo, dedicação, diligência; a preguiça foi desconhecida. Ele mesmo confessou a seu Pai: “O zelo da tua casa me consumirá” (Jo. 2:11). E o Ap. Paulo confessou: “Mas pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça, que me foi concedida, não se tornou vã; antes, trabalhei muito mais do que todos eles; todavia, não eu, mas a graça de Deus comigo” (1Co. 15:10). b) “Sede fervorosos de espírito, servindo ao Senhor”. Não deixemos o desânimo tomar conta de nós quando o trabalho está se tornando difícil. Timóteo recebeu esta exortação: “Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom que há em  ti pela imposição das minhas mãos” (2Tm. 1:6). E, para nos encorajar, está escrito: “E não cansemos de fazer o bem porque a seu tempo ceifaremos, se não desfalecermos” (Gl. 1:6-9). c) “Regozijai-vos na esperança”. A esperança da salvação eterna é  o motivo da nossa alegria; de um dia “sermos semelhantes a Cristo, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo. 3:2). d) “Sede pacientes na tribulação”. Os cristãos foram exortados “ a permanecer firmes na fé; e mostrando que, através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At. 14:22). Cristo nos advertiu: “Se me perseguiram a mim, também perseguirão a vós outros” (Jo. 15:20). e) “Na oração, perseverantes”. Sem a oração, não teremos alegria em nossa salvação, nem paciência na tribulação. Pela oração, ficamos fortalecidos na fé, (Cl. 1:9-12). f) “Compartilhai as necessidades dos santos”. Com essa virtude, demonstramos que amamos a Deus. O Ap. João escreveu: “Ora, aquele que possuir recursos deste mundo, e vir a seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus? Filhinhos, não amemos de palavra, mas de fato e de verdade” (1Jo. 3:17-18). g) “Praticai a hospitalidade”. Talvez, em nossos dias, essa palavra não tenha a mesma necessidade como nos tempos bíblicos, contudo, podemos ainda praticar o espírito dessa exortação. A nossa casa pode ser um lugar para cultos, quando queremos evangelizar os nossos vizinhos. Quando lemos sobre o início de uma nova Igreja, quantas vezes a história é como este relato: O primeiro culto se realizou na casa do irmão tal. A nossa casa pode ser um refúgio onde o cristão cansado pode chegar a fim de receber uma palavra de encorajamento espiritual. Veja a atitude de Áquila em At. 18:24-26. Com portas abertas, podemos receber oportunidades para evangelizar passantes. h) “Abençoai os que vos perseguem, abençoai e não amaldiçoeis”. O Ap. Paulo era um perseguidor feroz dos cristãos. Mas qual foi a atitude da igreja? Cremos que eles oravam  incessantemente por sua conversão, e Deus respondeu as suas súplicas, (At. 4:23-31). Assim, Ananias recebeu esta ordem: “Vai (a Saulo), porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel” (At. 9:15). Deus não pode responder a oração que está pedindo que os perseguidores sejam amaldiçoados, porém, ouve a oração que pede a benção para essas pessoas infelizes.    

3. O nosso amor pratica a empatia com os demais irmãos em Cristo, Vs. 15:16. a) “Alegrai-vos com  os que se alegram e chorai com os que choram”. Eis a empatia: aquela habilidade de sentir o que o irmão está sentindo. Pensamos na alegria dos  pais cujo filho rebelde se converteu e agora está vivendo uma vida piedosa. Por que tanta alegria? “Era preciso que nos regozijássemos e nos alegrássemos, porque este teu irmão estava morto e reviveu, estava perdido e foi achado” (Lc. 15:32). Ou pensamos na tristeza dos pais piedosos cujo filho abandonou a igreja a fim de viver uma vida dissoluta. Quantas lágrimas são derramadas por causa dessa decepção! Seja qual for o caso, a empatia traz consolo às famílias. b) “Tendo o  mesmo sentimento uns para com os outros”. Empatia é ter harmonia no viver da vida cristã. c) “Em lugar de serdes orgulhosos, condescendei com o que é humilde”. Na igreja, somos um só em Cristo, por isso, evitamos atitudes de superioridade. d)”Não sejais sábios aos vossos próprios olhos”. Foi  o problema principal da igreja de  Laudicéia, pois dizia: “Estou rico e abastado e não preciso de coisa alguma” (Ap. 3:17). Auto-suficiência  é uma presunção que leva muitos para a perdição eterna.

4. O nosso amor age passivamente em circunstâncias provocadoras, Vs. 17-18. a) “Não torneis a ninguém mal por mal”. Em vez de pagar com a mesma moeda: “Esforçai-vos por fazer o bem perante todos os homens”. Cristo disse: “Assim brilhe também a vossa luz (a realidade da nossa vida cristã) para que vejam as vossas boas obras (o fruto transformador de Cristo em nós) e glorifiquem a vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5:16). b) “Se possível, quanto depender de vós, tende paz com todos os homens”. Existem circunstâncias nas quais é impossível viver em concordância de opiniões. Nessas provocações, é melhor mantermos o silêncio, mas, sem negar a verdade. É melhor encerrar o assunto passivamente em vez de prolongá-lo, alimentando mais desgostos. “Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se alguém não tropeça no falar, é perfeito varão, capaz de refrear também todo o corpo” (Tg. 3:2). “Do muito falar (nascem) palavras néscias” (Ec. 5:3).

5. O nosso amor se manifesta quando conseguimos entregar todos os ultrajes que recebemos àquele que julga retamente, Vs. 19-21. No primeiro versículo deste capítulo, o Apóstolo destacou as misericórdias de Deus, ou seja, a natureza de seu interesse para com o seu povo. Aqui, no V.19, é o Apóstolo que abre o seu coração diante dos membros da Igreja, chamando-os de “amados”, a fim de incutir a seriedade do seu apelo: “Não vos vingueis a vós mesmos, amados, mas dai lugar à ira (de Deus); porque está escrito: A mim me pertence a vingança; eu é que retribuirei, diz o Senhor”. a) A vingança é uma prerrogativa exclusiva de Deus; e, se alguém praticar  a sua própria vingança, está pecando, porque está fazendo o que Deus proíbe. Guardar e cumprir as ordens de Deus são disposições sábias e gratificantes, (Dt. 4:6). b) A passividade diante das injúrias é um ato de fé, porque cremos que Deus é o Vingador por excelência; Ele fará bem melhor do que nós. c) “Pelo contrário, (em vez de tentar se vingar), se teu inimigo tiver fome, dá-lhe de comer; se tiver sede, dá-lhe de beber, porque fazendo isto, amontoarás brasas vivas sobre a sua cabeça”. Esse princípio é uma exposição prática do V.14. “Abençoai os que vos perseguem,  abençoai e não amaldiçoeis”.  Qual será o resultado desse ato  de altruísmo? “Amontoarás brasas vivas sobre a cabeça” do seu adversário. Embora não aconteça sempre, sabemos que uma resposta desprendida pode mexer com a consciência do antagonista e resultar numa reconciliação que exalta o poder de Deus – Deus abençoando o ato  de seu servo. d) “Não te deixes vencer do mal, mas vence o mal com o bem”.  O pensamento é: Não deixes o mal sacudir a sua confiança nas promessas de Deus, praticando uma vingança particular, antes, vença o mal praticando um ato de altruísmo, lembrando que o seu adversário pode ser amolentado por um ato de bondade. Em circunstâncias adversas, o cristão tem uma oportunidade para provar a realidade  da sua fé em Cristo. “Assim, brilhe também a vossa  luz diante dos homens (diante dos vossos adversários), para que vejam as vossas boas obras (por exemplo, o altruísmo) e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5:16).


Conclusão:  O desafio para amar o nosso próximo continua sendo um mandamento irrevogável. O nosso texto nos deu algumas chaves, para que pudéssemos demonstrar a realidade da nossa vida em Cristo. Nesse contexto, o Apóstolo ordena: “Portanto, despojando-vos de toda impureza e acúmulo de maldade, acolhei, com mansidão, a palavra em vós implantada, a qual é poderosa para salvar a vossa alma. Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg. 1:21-22).


Rev. Ivan G. G. Ross

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

DO LIVRE ARBÍTRIO – CONFISSÃO DE FÉ CAP. IX


(A CAPACIDADE PARA ESCOLHER O QUE DESEJAMOS)

Rev. Ivan G. G. Ross

Texto Bíblico: “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra” (2Tm 3:16-17).

O Motivo do Estudo: Existem muitas confusões e discórdias a respeito do “Livre Arbítrio”.  Contudo, cremos que a Bíblia tem ensinos claros e exemplos práticos sobre essa parte essencial da constituição humana. Portanto, como pastor da Igreja Presbiteriana do Brasil, quero reafirmar a minha plena aceitação do primeiro artigo no capítulo primeiro da nossa Constituição: “A Igreja Presbiteriana do Brasil é uma federação de igrejas locais, que adota como única regra de fé e prática as Escrituras Sagradas do Velho e do Novo Testamento e como sistema expositivo de doutrina e prática a sua Confissão de Fé e os Catecismos Maior e Breve...”. E, no ato da nossa ordenação para o ministério da Palavra de Deus, confessamos diante de Deus e da Igreja reunida, que cremos sinceramente na veracidade das Escrituras Sagradas e da Confissão de Fé e seus dois Catecismos. Portanto, ao comentar sobre o “Livre Arbítrio”, seguiremos a direção da nossa Confissão de Fé, porque cremos que ela oferece uma “fiel exposição do sistema de doutrina ensinado nas Santas Escrituras”. Como alguém disse: “Devemos voltar às raízes doutrinárias da nossa Igreja”.

1. A Natureza do Livre Arbítrio. “Deus dotou a vontade do homem de tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o mal, nem a isso é determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza.  Referências: Dt. 30:19; Jo. 7:17; Tg. 1:14; Ap. 22:17; Jo. 5:40. Parte 1ª.” Fazemos duas afirmações: O livre arbítrio é a faculdade que Deus nos concedeu para que possamos livremente o glorificar mediante as escolhas da nossa própria vontade. Quando tomamos uma decisão, estamos escolhendo entre outras opções, o que nós realmente queremos naquele momento. E, sabemos que a decisão tomada poderia ter sido outra, as circunstâncias sendo iguais. Por causa desse atributo, Deus coloca diante de nós desafios para que usemos a nossa capacidade para escolher. Ele deu a Adão o desafio para escolher entre duas árvores, mas, primeiro, dando-lhe a devida orientação para estimular a decisão certa. Se escolhesse o fruto da árvore do conhecimento do bem e do mal, o resultado seria a morte, separação de Deus. “E o Senhor Deus lhe deu esta ordem: De toda árvore do jardim comerás livremente (inclusive da árvore da vida), mas da árvore do conhecimento do bem e do mal não comerás; porque, no dia em que dela comeres, certamente morrerás” (Gn 2: 16-17).  E, embora não seja explícito, porém, implícito, se tivesse escolhido da árvore da vida, teriam uma vida de perfeição, confirmada para todo o sempre, (Gn 3:24). Por causa do livre arbítrio, Deus não impediu a escolha para comer do fruto da árvore proibida, por isso, Adão e Eva tinham que sofrer as conseqüências da sua decisão infeliz. Esse princípio continua em pleno vigor até os nossos dias. “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois o que o homem semear, isso também ceifará” (Gl. 6:7). Esse atributo nunca foi revogado, por isso, Deus continua apelando para a nossa capacidade para escolher responsavelmente. “Os céus e a terra tomo, hoje, por testemunhas contra ti, que te propus a vida e a morte, a benção e a maldição; escolhe, pois, a vida, para que vivas tu e a tua descendência, amando o Senhor, teu Deus, dando ouvidos à sua voz e apegando-te a ele; pois disto depende a tua vida e a tua longevidade” (Dt. 30:19-20).

A definição da palavra “livre”. Ser livre para escolher alguma coisa significa que podemos realmente agir de acordo com o desejo do momento. Ninguém escolhe algo contra a sua própria vontade. “Temos tal liberdade natural, que ela nem é forçada para o bem nem para o mal”. Adão e Eva agiram de acordo com essa “liberdade natural”. Não há necessidade para incluir os propósitos de Deus nesse assunto. Se Ele estivesse agindo a decisão do casal não teria sido verdadeiramente livre, visto que a ação de Deus teria sido uma influência formativa na decisão. Todos nós somos dotados com propriedades, ou, instintos, que são necessários para a nossa sobrevivência, porém, no uso dessas capacidades “nem a isso é determinada por qualquer necessidade absoluta de sua natureza”. Não somos obrigados a usar esses instintos indiscriminadamente. Esses dons foram concedidos para que sejam administrados para a glória de Deus. “Portanto, quer comais, quer bebais ou façais outra coisa qualquer, fazei tudo para a glória de Deus” (1Co. 10:31). O livre arbítrio, em sua forma original, recebeu o louvor divino. “ Viu Deus tudo quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn 1:31).    

2. O Homem no Estado de Inocência.  “O homem, em seu estado de inocência, tinha a liberdade e o poder de querer e fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas, mutavelmente, de sorte que pudesse cair dessa liberdade e poder. Referências: Gn. 1:26; Gn 2:16-17; Gn 3:6; Ex 7:29. Parte 2ª”. Deus criou o homem sem nenhum defeito, tanto na área espiritual bem como na área moral, uma retidão imaculada. Ele foi vestido com “o poder de querer fazer aquilo que é bom e agradável a Deus, mas, mutavelmente, de sorte que pudesse cair dessa liberdade e poder”. Entendemos que essa frase se refere a um tempo probatório, um período no qual Adão e Eva teriam de provar, mediante uma escolha específica, a sua lealdade à liderança de Deus em suas vidas. Essa prova foi feita de uma maneira simples e prática, através de uma escolha de preferência entre as duas árvores específicas que cresciam no Jardim do Éden. Sabemos que o casal extrapolou a sua liberdade, o que resultou numa mudança negativa em seu caráter moral, perdendo a sua retidão original, que lhe dava pleno acesso à presença de Deus. Num sentido, todos nós nascemos dentro daquele estado probatório, temos que escolher a quem serviremos. “Então Elias se chegou a todo o povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o Senhor é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém o povo nada respondeu” (1Rs 18:21). O silêncio do povo demonstrou a sua rebeldia, pois no fundo do coração, queriam continuar seguindo a sua própria vontade. O silêncio jamais inocentará a ninguém. Temos que tomar aquela decisão imperativa: a quem seguiremos e à quem obedeceremos. Jesus convida a todos: “Em verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna. Eu sou o pão da vida” (Jo. 6:47-48). Cristo é o Doador e o Sustentador da vida espiritual de seu povo.

3. O Homem no Estado do Pecado. “O homem, ao cair em pecado, perdeu inteiramente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação; de sorte que um homem natural, inteiramente avesso a esse bem e morto no pecado, é incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso. Referência. Rm. 5:6 e 8:7-8; Jo. 15:5; Rm. 3:9, 12, 23; Ef. 2:1-5; Cl 2:13; Jo. 6:44, 65; 1Co. 2:14; Tt. 3:3-5. Parte 3ª”. Quando o homem  pecou, ele não perdeu o seu livre arbítrio; ele continua escolhendo o que ele realmente quer. Em termos temporais, o homem está livre para escolher seu estilo de vida. Ele não é obrigado a fazer nenhuma coisa que fere os seus princípios normais. Pode escolher a sua profissão, casar-se, divertir-se ou qualquer outra coisa de acordo com as suas inclinações e desejos. A sociedade secular funciona seguindo as tendências de cada um. Por outro lado, ele não é obrigado, forçosamente, a envolver-se em nenhuma dessas coisas.

Temos falado sobre a liberdade natural do homem, sem referir-se a seu estado religioso. Agora, vamos meditar sobre o efeito do pecado sobre a vida espiritual do homem. Ele não perdeu o seu livre arbítrio; o que ele perdeu foi o poder de usá-lo para o seu próprio bem espiritual. “O homem, ao cair no pecado, perdeu inteiramente todo o poder de vontade quanto a qualquer bem espiritual que acompanhe a salvação”. O pecado, essa nova influência que entrou na vida do homem, é o poder que determina a natureza de suas escolhas. Eles são agora “mais amigos dos prazeres que amigos de Deus” (2Tm. 3:4). Não podem escolher nada que se refere a seu melhoramento espiritual; não podem, porque não querem. “Porquanto, tendo conhecimento de Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças, antes, se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (Rm. 1:21). Qual foi a conseqüência dessa negligência do conhecimento de Deus? “E, por haverem desprezado o conhecimento de Deus, o próprio Deus os entregou a uma disposição mental reprovável, para praticarem cousas inconvenientes, cheios de toda injustiça, malícia, avareza e maldade” (Rm. 1:28-29). “De sorte, que um homem natural, inteiramente avesso a esse bem (tais como desejos de salvação), é morto no pecado, e incapaz de, pelo seu próprio poder, converter-se ou mesmo preparar-se para isso”. O homem ainda tem o livre arbítrio, porém, no estado de pecado, esse arbítrio é usado para alimentar a sua própria vontade, e, por conseqüência, a sua oposição a qualquer valor espiritual.

Como é que Deus resolveu esse impasse? Se tudo dependesse do livre arbítrio do homem, ninguém seria salvo, visto que todas as suas escolhas inclinam-se para o seu próprio egoísmo, que o afasta de Deus. Esse problema foi resolvido mediante uma intervenção soberana da parte de Deus, elegendo e convertendo um “povo de propriedade exclusiva de Deus”. Como o Apóstolo comentou: “Se o Senhor dos Exércitos não nos tivesse deixado descendência, ter-nos-íamos tornado como Sodoma e semelhantes a Gomorra”, entregues à destruição. E, outra vez: “Assim, pois,  também agora, no tempo de hoje, sobrevive um remanescente segundo a eleição da graça” (Rm. 11:15). Graças a Deus, alguns são salvos, “não por obras de justiça praticadas por nós, mas segundo a sua misericórdia, ele nos salvou mediante o lavar regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt. 3:5).

4. O Homem no Estado de Graça. “Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta de sua natural escravidão ao pecado e, somente por sua graça, o habilita a querer e a fazer, com toda liberdade, o que é espiritualmente bom, mas isso de tal modo que,  por causa da corrupção ainda existente nele, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas, também, o que é mau. Referência. Cl. 1:13; Jo. 8:34,36; Fp. 2:13; Rm. 6:18,22; Gl.5:17; Rm. 7:15,21-23; 1Jo. 1:8,10. Parte 4ª”. Começamos fazendo uma pergunta prática. Como é que Deus converte um pecador? Sem preocupar-nos com colocações teológicas, vamos apresentar, de maneira acessível, o que a Bíblia enfatiza. Somos convertidos pelo ouvir da Palavra de Deus. “A fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm. 10:16). Não devemos subestimar o poder das Escrituras. “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até ao ponto de dividir a alma e espírito, juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e propósitos do  coração” (Hb. 4:12). É Deus que nos dá a oportunidade para ouvir o evangelho para que usemos a nossa vontade para crer na mensagem de Cristo. Por isso, o Apóstolo explica: “Depois que ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa; o qual é o penhor da nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef. 1:13-14). Note a seqüência que  opera na conversão de um pecador: ouvir, crer, e, tendo crido, a nossa fé é selada com o dom do Espírito Santo, a garantia da nossa salvação. Não existe nenhum outro meio para alcançar e converter o pecador, senão pelo ouvir do evangelho. Por que alguns ouvintes da Palavra não se convertem? Porque eles não crêem na mensagem ouvida, preferindo, acomodadamente, continuar praticando seu próprio estilo de vida pecaminoso. “Os homens amam mais as trevas do que a luz” (Jo. 3:19). Vamos entender e crer que Deus tem uma única maneira para comunicar a sua vontade ao mundo: é sempre mediante a pregação da sua Palavra; por isso, a insistência: “Prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade” (2Tm. 4:2). Eis o método bíblico para que Deus possa converter o pecador.

O que acontece quando alguém se converte? “Quando Deus converte um pecador e o transfere para o estado de graça, ele o liberta de sua natural escravidão ao pecado e, somente por sua graça, o habilita a querer e a fazer, com toda a liberdade, o que é espiritualmente bom”. O livre arbítrio continua agindo em sua vida, mas, agora, com o auxílio do Espírito Santo, ele procura escolher somente o que agrada a Deus. A conversão efetua uma verdadeira mudança em nossa disposição espiritual: “Ele (Deus o Pai) nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do seu amor”(Cl. 1:13). Eis a evidência prática dessa mudança: “Assim, se alguém está (crê) em Cristo, é nova criatura; as coisas velhas passaram; eis que se fizeram novas” (2Co. 5:17). O convertido foge do pecado.

As limitações da nossa conversão. Apesar da mudança visível que a nossa conversão promove, a nossa habilidade para escolher nem sempre age como convém. “Por causa da corrupção ainda existente nele, o pecador não faz o bem perfeitamente, nem deseja somente o que é bom, mas, também, o que é mau”. Cada cristão reconhece a realidade desse conflito espiritual e a luta entre o bem e o mal. Por isso, o Apóstolo, descrevendo essa “corrupção ainda existente” na vida do homem convertido, disse: “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne, porque são opostos entre si; para que não façais, o que porventura, seja do vosso querer”. Podemos vencer essa luta porque é o Espírito Santo que nos dá o “poder de querer e de fazer aquilo que é bom e agradável a Deus”. Eis a exortação: “Digo, porém, andai no Espírito (obedecei às suas indicações) e jamais satisfareis a concupiscência da carne” (Gl. 5:16-17).   Por isso, a Bíblia está tão cheia de exortações, apelando para a nossa capacidade para escolher o que Deus requer de seu povo. Temos que agir como “filhos da obediência” (1Pe. 1:14).

5. O Homem no Estado de Glória. “É no estado de glória que a vontade do homem se tornará perfeita e imutavelmente livre para o bem só. Referências. Ap. 22:3-4; Hb. 13:23; 1Jo. 3:2; Jd. 24; Sl 16:11;17:15; 23:6.  Parte 5ª”. Porque o Apóstolo escreveu: “Ora, de um e outro lado, estou constrangido, tendo o desejo de partir e estar com Cristo, o que é incomparavelmente melhor.” (Fp 1:23). Certamente, ele tinha diversas razões. Mas, talvez a razão principal foi o desejo de ser definitivamente liberto de todos os pecados restantes que ainda existiam nele; um anseio de estar no meio “dos justos aperfeiçoados” (Hb. 12:23). Todos os salvos que têm ânsias por uma vida  aperfeiçoada têm a mesma experiência do Ap. Paulo: “E, por isso, neste tabernáculo, gememos (por causa da corrupção que ainda age em nossa vida), aspirando por sermos revestidos da nossa habitação celestial” (2Co. 5:2). Como será essa “habitação celestial”? O Ap. João nos dá este relance: “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo como ele é” (1Jo. 3:2). E, no livro do Apocalipse, temos esta esperança: No céu “os servos (do Senhor) o servirão, contemplarão a sua face, e na sua fronte está o nome dele” (Ap. 22:3-4). O Ap. Pedro nos faz lembrar de uma verdade preciosa: “Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua muita misericórdia, nos regenerou para uma viva esperança, mediante a ressurreição de Jesus Cristo dentro os mortos, para uma herança incorruptível, reservada nos céus para vós outros que sois guardados pelo poder de Deus, mediante a fé para a salvação preparada para revelar-se  no último tempo” (1Pe. 1:3-5). Essa “viva esperança” nos prepara para o estado de glória, quando “a vontade do homem se tornará perfeita e imutavelmente livre para o bem só”. E, enquanto aguardamos o nosso chamado para a glória, temos esta promessa: “Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na Casa do Senhor para todo o sempre” (Sl. 23:6). O Salmista tinha esta confiança: “Eu, porém, na justiça contemplarei a tua face; quando acordar, eu me satisfarei com a tua semelhança” (Sl. 17:15).


No ano de 1970, conversando com um pastor idoso e mui piedoso sobre o meu interesse na teologia dos reformadores, ele me deu este conselho, que procuro obedecer até hoje: Sim, devemos ter uma base sólida na teologia dos reformadores, mas, no púlpito, a Igreja não quer ouvir Teologia Sistemática, antes, ela quer ouvir a voz de Deus falando através das Escrituras Sagradas, pois, por meio delas, os ouvintes podem tornar-se sábios para a salvação pela fé em Jesus Cristo (2Tm. 3:15). Que esse conselho seja mais praticado nos púlpitos das nossas Igrejas.

terça-feira, 29 de setembro de 2015

INCENTIVOS BÍBLICOS


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: 2 Timóteo 1:3-9

Introdução: Timóteo era um jovem que se tornou “sábio para salvação pela fé em Cristo Jesus” (2Tm.3:15). A sua fé era verdadeira e “sem fingimento”. Porém, como jovem, ele sentia receios para enfrentar diversas responsabilidades inerentes à vida cristã. Por isso, o Ap. Paulo o exortou: “Por esta razão, pois, te admoesto que reavives o dom de Deus que há em ti”. Esse dom que ele recebeu é, em primeiro instante, a dádiva da fé. Por razões diferentes, essa fé pode experimentar inibições diante de situações difíceis. Por exemplo, no caso de doenças. A doença tem a tendência de ocupar todos os nossos pensamentos, não deixando lugar para o exercício da fé. Não devemos permitir que o problema nos domine, antes, é a fé que deve nos controlar. A fé não é um mero sentimento, pelo contrário, é uma ação positiva. “Pela fé, Abraão quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança, e partiu sem saber aonde ia” (Hb. 11:8). Ele agiu, sabendo que Deus iria cuidar dele. Vamos ilustrar o uso desta dádiva  de Deus. Temos o caso de certo homem que tinha muito medo de compromissos financeiros. Mas ele recebeu uma herança de muito dinheiro que iria resolver toda a sua insegurança. Contudo, quando as contas mensais começaram a chegar, ele entrou novamente em pânico, perguntando a si mesmo: Como posso pagar tantas contas? Ele não se lembrou da sua herança até que alguém o desafiou: Não seja tolo, por que você não está usando a sua herança? Semelhantemente, Jesus disse a seus discípulos: “Onde está a vossa fé?” (Lc.8:25). Como se estivesse perguntando: Por que não estão usando a vossa fé que Deus lhes deu? Não devemos deixar as dificuldades do momento impedirem o uso da nossa fé. “Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus? (1Jo. 5:5). Seja qual for o desafio, agimos de acordo com a necessidade, acreditando que Deus há de nos auxiliar, conforme a sua promessa. A fé, quando devidamente usada, sempre nos conduz à presença de Cristo Jesus. Eis a direção que devemos seguir: “Não andeis ansiosos de cousa alguma; em tudo, porém, sejam conhecidas diante de Deus, as vossas petições, pela oração e pela súplica, com ações de graça. E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fl. 4:6-7).

Vamos examinar o versículo sétimo da nossa leitura que nos dará as razões pelas quais podemos viver a vida cristã de maneira que glorifique o nosso Deus. “Porque Deus não nos tem dado espírito de covardia (ou temor), mas de poder, de amor, e de moderação (ou, domínio próprio, equilíbrio).”   

1. A Dádiva de Poder. Notemos o que Deus não tem nos dado. Ele não tem nos dado um espírito de covardia, ou de temor. Então, o que é que Deus nos tem dado? Ele tem nos dado um espírito de poder, pelo qual podemos enfrentar, corajosamente, toda e qualquer situação, seja a perseguição, o serviço de Deus, a doença ou a morte. Como o Apóstolo tem dito: “Em todas estas coisas, porém, somos mais que vencedores, por meio daquele que nos amou”, Jesus Cristo. (Rm. 8:31-37).

Timóteo é encorajado a participar, sem temores, dos sofrimentos do Ap. Paulo “como bom soldado de Jesus Cristo” (2 Tm 2:3). Ora, o soldado não pode demonstrar sinal de covardia em sua profissão. Se isso acontecer, ele vai prejudicar não apenas a sua própria segurança, mas, também, aquela de seus colegas. De onde vem a coragem do cristão? Ele vive “embraçando sempre o escudo da fé, com o qual podereis apagar todos os dardos inflamados do maligno” (Ef. 6:16). Armado assim, ele tem poder para enfrentar vitoriosamente  qualquer situação, inclusive o sofrimento que pode afligi-lo no exercício de sua profissão. Deus é honrado quando usamos as suas dádivas, aquelas de poder, para a sua glória.

Timóteo é exortado a manter “a fé e a boa consciência, porquanto alguns, tendo rejeitado a boa consciência, vieram a naufragar na fé” (1Tm. 1:19). O nosso poder na vida cristã depende da nossa fé. Como podemos manter a nossa fé acesa? Temos que alimentá-la com a leitura e o estudo da Palavra de Deus. Nas Escrituras, descobrimos a vontade de Deus para resolver toda e qualquer situação. E, uma vez reconhecendo a vontade de Deus, temos que agir de acordo. A exortação é esta: “Tornai-vos, pois, praticantes da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos” (Tg. 1:22). Devemos lembrar da observação do Apóstolo: “Não vos sobreveio tentação (situação difícil) que não fosse humana (algo deste mundo e não do outro); mas Deus é fiel e não permitirá que sejais tentados além das vossas forças; pelo contrário, juntamente com a tentação, vos proverá livramento, de sorte que a possais suportar” (1Co. 10:13). E qual é essa providência? O dom de poder que Deus tem concedido a todos os seus filhos e filhas que  Ele mesmo recebeu por adoção.

Timóteo é incentivado a ser diligente no exercício de seu ministério: “Conjuro-te, perante Deus e Cristo Jesus, que há de julgar vivos e mortos, pela manifestação e pelo seu reino; prega a palavra, insta (insistir, teimar)  quer seja oportuna, quer não; corrige, repreende, exorta com toda longanimidade e doutrina” (2 Tm. 4:1-2). Como testemunhas de Jesus Cristo, todos nós temos que praticar uma diligência semelhante, dentro da esfera do nosso ministério particular. “Tudo quanto fizerdes, fazei-o de todo o coração, como para o Senhor e não para homens” (Cl. 3:24). Mas, como podemos exercer essa diligência com a devida fidelidade? Deus não nos obriga a trabalhar segundo as nossas próprias forças, pelo contrário, Ele tem nos dado o poder necessário. O Ap. Paulo testemunhou: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Fl. 4:13). Não há necessidade de sentir receios diante das nossas responsabilidades cristãs, pois, a dádiva de Deus, o seu poder, é eficaz, seja qual for o desafio que temos que enfrentar e aceitar. Dons são dados para serem usados para a glória de Deus.     

2. A Dádiva do Amor. Nascidos de novo, temos o  poder para amar a Deus, bem como o nosso próximo. Essa disposição é a dádiva de Deus, concedida a fim de autenticar a nossa comunhão com Ele. “O amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado” (Rm. 8:5b). “Deus é amor, e aquele que permanece no amor permanece em Deus, e Deus nele” (1Jo.4:16). Com qual intensidade devemos amar a Deus? O amor não pode ser mesquinho e dividido por causa de outros interesses. O padrão é este: “Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. Este é o grande e primeiro mandamento” (Mt. 22:37:38). Esse amor tem que ser a manifestação da plenitude do nosso ser. Notemos a tríplice descrição: todo o coração – toda a alma – todo o entendimento.  A plenitude do nosso amor deve corresponder com a plenitude do amor de Deus. Quando Deus ama, esse amor é derramado sobre o seu povo; quando Deus teve que dar, Ele deu o seu Filho para redimir o seu povo. Ele não o poupou. Um amor maior é impossível. Como podemos perceber, o amor não é um mero sentimento, ele é, antes de tudo, uma ação, o ato de entregar a própria vida em favor do amado. “Nisto conhecemos o amor: que  Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar nossa vida pelos irmãos” (1Jo. 3:16). Como é bom poder confessar: “Cristo me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl. 2:20b).

Devemos usar o dom desse amor que Deus tem nos dado para servir. O exemplo de Cristo deve ser imitado. Ele confessou: “ A minha comida consiste em fazer a vontade daquele que me enviou e realizar a sua obra” (Jo.4: 34). E, para agir assim, temos que praticar a exortação do Ap. Paulo: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional: E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente para que experimenteis  qual seja a boa e agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm. 12:1-2). Serviço a Deus sempre começa com um ato de auto-apresentação. “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb.10:9).

Essa dádiva de Deus tem que ser usada, não apenas para amar a Deus, mas, também, para amar o nosso próximo. O segundo mandamento semelhante ao primeiro é: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois mandamentos (amor a Deus e ao próximo) dependem toda a lei e os profetas” (Mt. 22:39-40). O Ap. Paulo observou “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o cumprimento da lei é o amor” (Rm. 13:10). O Ap. João comentou: “Amados, amemos-nos uns aos outros, porque o amor procede de Deus; e todo aquele que ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Aquele que não ama não conhece a Deus, pois Deus é amor” (1Jo. 4:1-2). Deus nos deu esse amor para que pudéssemos autenticar a nossa comunhão com Ele.

Novamente, afirmamos que o amor é muito mais do que um mero sentimento, antes, é uma ação positiva. Qual é a maneira mais prática para demonstrar essa dádiva de Deus? “Nisto conhecemos o amor: que Cristo deu a sua vida por nós; e devemos dar a nossa vida pelos irmãos. Ora, aquele que possuir recursos deste mundo e vir o seu irmão padecer necessidade, e fechar-lhe o seu coração, como pode permanecer nele o amor de Deus?” (1Jo.3:16-17). Por que é tão importante praticar esse amor ao nosso irmão? Porque este será o padrão que Cristo usará no Dia do Juízo. Quando vemos o nosso irmão com fome, damos-lhe de comer; com sede, damos-lhe de beber; forasteiro, damos-lhe hospedagem; nu, damos-lhe vestimento; enfermos, visitamos; preso, damos-lhe apoio. Fazendo assim, estaremos usando a dádiva de Deus para a sua glória. Notemos que essas coisas devem ser praticadas como a Cristo. A nossa aprovação, ou, reprovação, será baseada de acordo com a prática, ou, a negligência, destes atos de amor, (Mt. 25:34-46). Não temos nenhuma desculpa para não praticar o amor, porque, juntamente com essa dádiva, Deus nos deu o poder para praticá-la, seja qual for a pessoa.

3. A Dádiva de Moderação. Este dom que recebemos de Deus, a moderação, foi dado para ajudar-nos a manter uma prudência e um auto-controle nas variadas circunstâncias da vida cristã. Apesar de possuir as dádivas de poder e amor, somos ainda capazes de perder o equilíbrio em nossas reações. Por que? Esse tesouro (os dons de Deus) está em vasos de barro, peças frágeis que podem ser danificadas quando recebem maus tratos. Por que Deus age assim? Para que “a excelência do poder seja de Deus, e não de nós” (2 Co. 4:7). Vamos ilustrar o uso dessa moderação: O Ap. Paulo está num navio prestes a ser naufragado por causa de uma grande tempestade. No perigo, para todos, exceto o Apóstolo, “dissipou-se, afinal, toda a esperança de salvamento”.  No meio desse desespero, “Paulo rogava a todos que se alimentassem (...) pois nenhum de vós perderá nem mesmo um fio de cabelo” (At. 27:18-36). Por que o  Apóstolo conseguiu manter a moderação, a calma, nessa situação perigosa? Ele mesmo nos dá resposta: “Eu confio em Deus que sucederá do modo por que me foi dito” (At. 27:25). O cristão que entra em pânico por causa de qualquer tempestade, evidentemente, não está usando as dádivas de poder, amor e moderação que  Deus lhe concedeu; e, assim, Deus não está sendo glorificado no meio da tempestade. Por que algumas pessoas entram em pânico  quando os ventos são contrários, enquanto outras conseguem manter a moderação? O momento em que olhamos para a circunstância e deixamos que ela tome conta das nossas emoções, o resultado não pode ser outro senão o desespero e opressão. Todos nós estamos lembrando o que aconteceu quando Pedro, “reparando, porém, na força do vento, teve medo; e, começando a submergir, gritou: Salva-me Senhor!” (Mt. 14:30). Como evitar essa reação negativa? No momento em que chegar qualquer dificuldade, devemos reafirmar a nossa confiança na graça sustentadora do nosso Deus e manter os nossos olhos fixos no Senhor Jesus Cristo, o Autor e Consumador da nossa fé, (Hb. 12:2). Deus nos deu o dom da moderação, o auto-controle, para ser usado em toda e qualquer situação. Em nossos dias, será que Jesus tem necessidade de perguntar: Onde está a sua moderação? Por que não está usando o dom que Deus lhe concedeu? Não acredita que Deus é poderoso para te socorrer? O Apóstolo nos advertiu: “Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós o perverso coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo” (Hb. 3:12). O mesmo princípio opera nos casos de doença grave e morte. O desespero toma conta porque é o problema que está dominando e impedindo a intervenção do Deus de toda consolação. Timóteo tinha  uma constituição mais frágil, mas em vez de deixar as doenças dominarem os seus pensamentos, ele tinha que praticar o bom senso e a moderação. Por isso, o Apóstolo lhe aconselhou: “Não continues a beber somente água; usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas enfermidades” (1Tm 5:23). Não tenhamos medo de usar recursos humanos porque isso não significa  uma falta de fé, antes, é a manifestação dela.

Na vida cristã, a prática da moderação é de suma necessidade, porque o cristão vive entre duas possibilidades  de experiências contraditórias. O desânimo, porque, “através de muitas tribulações, nos importa entrar no reino de Deus” (At. 14:22). E, uma alegria exagerada, “porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas de justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo” (Rm. 14:17) O que glorifica a Deus é um procedimento equilibrado, sem excessos de desânimo e sem excessos de alegria. “Portanto, vede prudentemente como andais, não como néscios e sim, como sábios, remindo o tempo, porque os dias são maus” (Ef. 5:15-16).


Conclusão: Deus, em sua misericórdia entranhável, tem nos dado três dádivas imprescindíveis: poder, para que possamos viver como testemunhas fiéis; amor, para que possamos amar a Deus e ao nosso próximo de uma maneira convincente, pois, procedendo assim, autenticamos a nossa comunhão com Deus, seja qual for a circunstância; moderação, para que tenhamos auto-controle e equilíbrio no meio de situações provocantes. O Apóstolo faz esta conclusão: “Tendo, pois, ó amados, tais promessas (e dádivas), purifiquemo-nos de toda impureza, tanto da carne como espírito, aperfeiçoando a nossa santidade no temor de Deus” (2 Co. 7:1).       

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

A PRUDÊNCIA CONTRA A IMPRUDÊNCIA


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica:  Salmo 2:1-12

Introdução: Este Salmo nos mostra qual é a natureza da corrupção humana. O pecado é a transgressão da lei e uma rebelião contra o único legislador do universo, e contra as normas morais e espirituais que Ele prescreveu para toda a humanidade. Se o pecado fosse permitido a continuar impune, aniquilaria o domínio soberano de Deus e o destronizaria. Essa é a verdade a respeito de todos os pecados; e, especialmente, quanto à rejeição de Jesus Cristo. O clamor universal é este: “Não queremos que este (Jesus) reine sobre nós” (Lc. 19:1). Aqueles que recusam prestar obediência à Jesus Cristo estão negando a autoridade do próprio Deus que o enviou. Vamos examinar como este Salmo descreve as manifestações do pecado.

Este Salmo precioso tem uma seqüência de quatro pontos: A destemperança dos povos provoca em Deus uma desafronta; por isso, Ele fez uma declaração quanto aos seus propósitos diante da pecaminosidade humana. Por causa do prometido juízo, os povos são exortados a tomar uma decisão a respeito de Jesus Cristo e da necessidade de refugiar-se nele, a fim de serem salvos.

1. A Grande Destemperança, Vs. 1-3. O primeiro versículo faz uma pergunta séria: “Por que enfurecem os gentios e os povos imaginam coisas vãs?”. Qual é a razão dessa fúria e de tantos sonhos impossíveis? É o pecado que provoca essa grande destemperança. O diabo é “o pai da mentira” (Jo. 8:44). Ele incita os povos para acreditar que podem se rebelar contra a lei de Deus e vencer impunes. E, para promulgar essa mentira diabólica, ele reúne as lideranças a fim de dar uma aparência formal de autoridade a seus ditames. No mundo inteiro, são os governantes que, em vez de promoverem os interesses do reino de Deus, fazem de tudo, através de suas legislações liberais, para prejudicar e impedir a plena expressão do ministério da Igreja. O problema não é uma falta do conhecimento das leis de Deus, antes, é uma revolta contra essas leis. O grande anseio dessas lideranças é livrar-se  de Deus e de suas leis. O seu objetivo principal é resumido em sua própria declaração: “Rompamos os seus laços e sacudamos de nós as suas algemas” (V.3).

Mas, de uma maneira mais específica, estes “príncipes conspiram contra o Senhor e contra o seu Ungido”, Jesus Cristo, (V.2). Basta ler os Evangelhos para reconhecer a verdade dessa conspiração. Logo no início de seu ministério, Jesus sentiu a fúria deste ódio: “Os fariseus conspiravam contra ele sobre como lhe tirariam a vida” (Mt. 12:14). Até hoje, se falarmos de Jesus como o melhor amigo, ninguém faz objeção séria, porém, se falarmos sobre o seu direito soberano de reinar sobre a nossa vida, provocaremos uma onda de resistências e até perseguições. Os povos não querem que Cristo reine sobre as suas vidas e sobre os seus interesses pessoas. Qual é a atitude de Deus diante dessa insurreição?  Vemos...

2. A Grande Desafronta, Vs. 4-6. Deus sente uma forte indignação. Qual é a primeira manifestação desta desafronta? “Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles” (V4). O riso de Deus, nesse contexto, deve ser um som extremamente terrificante, porque, na verdade, Ele está zombando da loucura dessa rebelião. Como um homem, feito do pó da terra, pode prevalecer contra o Deus Todo-Poderoso? Quem pode suportar as zombarias de Deus e suas manifestações de ira? A luta entre os dois contendores é totalmente desigual. Mesmo em nossos dias, a ira de Deus contra os ímpios se manifesta através de circunstâncias adversas. “Por causa da ira do Senhor dos Exércitos, a terra está abrasada, e o povo é pasto de fogo (Is. 9:19). Contudo, a plenitude dessa ira é reservada para o Dia Final. “Na sua ira, a seu tempo, lhes há de falar e no seu furor os confundirá” (V.5.) O que Deus vai falar a esses insurretos naquele Dia? “Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno, preparado para o diabo e seus anjos” (Mt. 25:41). Sim, “Horrível cousa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb. 10:31).

Como Deus realizará essas manifestações da sua justiça? Ele mesmo responde: “Eu, porém, constituí o meu Rei sobre o meu santo monte Sião” (V.6). É de suma importância que acreditemos que Deus realiza todos os seus propósitos a respeito do homem pecador pela mediação exclusiva de Jesus Cristo. “Este é o designo que se  formou concernente  a toda a terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o Senhor dos Exércitos o determinou; quem, pois, o invalidará? A sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?” (Is. 14:26-27).
O Pai valoriza e “ama ao seu Filho, e todas as cousas tem confiado às suas mãos” (Jo. 3:35). Estamos, agora, prontos para ouvir...

3. A Grande  Declaração, Vs. 7-9. Nesses versículos, Cristo está repetindo o que o Pai lhe disse nos tempos da eternidade. O assunto é o seu decreto inalterável. Cristo, como o Profeta de Deus, é aquele que revela os propósitos da Divindade; por isso, Ele começa, dizendo: “Proclamarei o decreto do Senhor” (V.7a). Cristo tem três assuntos para revelar:

a) A declaração pública de que o homem, Jesus de Nazaré, é o Cristo, o Filho de Deus, (At. 2:36; 18:5). “Porquanto, nele, habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl. 1:9). “Ele (o Pai) me disse: Tu és meu Filho, eu, hoje, te gerei” (V.16). Essa declaração foi feita quando Cristo ressuscitou dentre os mortos, (Rm. 1:4). O impacto da ressurreição silenciou todos os argumentos contra a Divindade de Cristo. A sua ressurreição é o prometido “sinal de Jonas” (Lc. 11:29-30).

b) A herança oferecida a Jesus Cristo. O Pai o convidou: “Pede-me, e eu te darei as nações por herança” (V.8). Aqui temos uma referência ao ministério intercessor de Cristo e como Ele suplica pela salvação de seu povo. E, de fato, Ele ajuntou para si mesmo uma “grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas” (Ap. 7:9). A intercessão de Cristo garante a salvação total de todo o seu povo; “e nenhum deles se perdeu” (Jo. 17:10).

c) Como Cristo conseguirá receber essa prometida herança? “Com vara de ferro as regerás e as  despedaçarás como um vaso de oleiro” (V.9). Cristo consegue as suas conquistas através de um domínio soberano e inflexível. O decreto afirma: “O reino do mundo se tornou de nosso Senhor e do seu Cristo, e ele reinará pelos séculos dos séculos” (Ap. 11:15). Esse reinado é tão soberano e seguro que ninguém pode resistir, (Rm. 9:19-24). À luz desse reinado, queremos saber o que devemos fazer em termos de preparo espiritual. Portanto, a necessidade de tomar...

4. A Grande Decisão, Vs. 10:12. Em vez de ser despedaçado pela ira de Cristo, é melhor sujeitar-se à sua regência, tomando as devidas decisões.

Primeiro, o texto se dirige às lideranças mundiais: “Agora, pois, ó reis, sede prudentes; deixai-vos advertir, juizes da terra. Servi ao Senhor com temor e alegrai-vos nele com tremor” (Vs. 10-11). Em vez de levantar-se contra o Senhor em rebelião, é melhor ser prudente e submeter-se a seu reinado. A advertência foi dada, é melhor obedecer e conservar a sua vida. Qual seria a evidência de uma decisão séria?  Servindo ao Senhor com temor e respeitando a sua majestade. Essa obediência não pode ser insincera e de má vontade, antes, deve ser realizada com alegria e tremor. Em outras palavras, por esse serviço as lideranças devem legislar leis justas que promovem a glória de Deus.  

Em segundo lugar, a advertência é dirigida aos povos em geral. “Beijai o Filho para que não se irrite e não pereçais no caminho; porque dentro em pouco se lhe inflamará a ira” (V.12a). O beijo, nesse contexto, é o ato de adoração. Os povos beijavam o deus Baal, (1Rs. 19:18). Mas, a ordem de Deus é “Não adorarás outro deus; pois o nome do Senhor é zeloso, sim, Deus zeloso é Ele” (Ex. 34:14). O resumo do nosso culto é este: “Beijai o Filho”, ou seja: “Ouve, ó Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor! Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc. 12:29-30).

E, finalmente, qual é a recompensa de tomar essas duas decisões? “Bem-aventurados todos os que nele se refugiam” (v.12). Beijar o filho, Jesus Cristo, é um ato de reconciliação, uma confiança na veracidade de sua Palavra, um sinal de submissão à sua autoridade e uma manifestação da adoração que lhe devemos. Eis o caminho para uma verdadeira bem-aventurança.

Conclusão: O Salmo começou descrevendo a fúria dos povos, uma fúria dirigida “contra o Senhor e o seu Ungido”, Jesus Cristo. Qual é a razão que provoca essa rebelião? Eles não aceitam as leis e o domínio de Deus. Por isso, a luta é para romper os laços e sacudir de si mesmos as restrições que a lei lhes impõe.

Mas, qual é a atitude de Deus diante dessa insurreição? “Ri-se aquele que habita nos céus; o Senhor zomba deles”. A rebelião é destinada a falhar e deixar os povos em plena confusão.

Qual é a providência que Deus deu, a fim de estabelecer ordem e justiça entre os povos? Ele enviou o seu próprio Filho, para reinar,  soberanamente, com uma vara de ferro, a fim de tomar posse da sua herança.


Qual é o conselho dado aos povos? Beijai o Filho e dai-lhe o culto que Ele tem o direito de receber. Esse é o caminho que nos oferece uma verdadeira segurança espiritual. Bem-aventurados todos os que se refugiam em Jesus Cristo, porque, nele, terão a salvação eterna. 

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

UMA MENSAGEM ESPIRITUAL


Rev. Ivan G. G. Ross

Leitura Bíblica: Isaías 40:1-11

Introdução: Nesta leitura, temos um relance da situação política e espiritual de Israel nos dias do profeta Isaías. A nação tinha se degenerado moralmente até o ponto de Deus querer cumprir as suas ameaças de castigo contra o povo, por causa da sua desobediência generalizada. Em Levíticos 26:33, Deus predissera que a nação seria desterrada e levada ao cativeiro. “Espalhar-vos-ei por entre as nações e desembainharei a espada atrás de vós; a vossa terra será assolada, e as vossas cidades serão desertas”. Agora, no tempo de Isaías, esta ameaça está se preparando para ser cumprida.

Quando um país recebe um castigo divino por causa de seus pecados, os piedosos também participam de tudo o que acontece. Em Israel, Daniel e seus três amigos, todos de sangue real, foram rebaixados à escravidão e levados ao cativeiro. Enfim, o povo de Deus não fica isento das consequências negativas causadas pela desobediência nacional. Mas, para estes, a dor da tribulação é suavizada pela consciência evidente da presença sustentadora de Deus, que continua acompanhando e abençoando os seus servos fiéis, mesmo quando estão em cativeiro. Lembramos da história de José no Egito: “O Senhor abençoou a casa do egípcio por amor de José – O Senhor, porém, era com José, e lhe foi benigno, e lhe deu mercê perante o carcereiro” (Gn. 39:5,21). Daniel e seus três amigos, bem como José, são testemunhas dessa presença do Senhor.

No caso de Israel, ou de qualquer outro povo, Deus demonstra a sua boa vontade para com as pessoas mediante a pregação do evangelho, uma mensagem de perdão para os arrependidos; um perdão fundamentado sobre o fato de que o Senhor de todas as misericórdias já providenciou um resgate que satisfez todas as exigências da lei, pois o salário do pecado foi recebido por um Fiador, Jesus Cristo, que morreu em nosso lugar na cruz do Calvário. Portanto, os mensageiros do evangelho são ordenados a proclamar: “Consolai, consolai o meu povo, diz o Senhor Deus. Falai ao coração de Jerusalém, bradai-lhe que já é findo o tempo da sua milícia (luta), que a sua iniquidade está perdoada” (Vs. 1-2). Mas, para que o povo possa receber essas boas novas, três acontecimentos são necessários:

1. A Necessidade de uma Preparação Vs. 3-5. A profecia nos faz lembrar do ministério de João Batista, o precursor e preparador do caminho para o ministério de Jesus Cristo. A Bíblia usa uma linguagem figurativa para descrever esse ministério. “Todo vale será aterrado, e nivelados todos os montes e outeiros; o que é tortuoso será retificado, e os lugares escabrosos aplanados”. Tudo isso significa que João Batista iria criar uma expectativa no coração do povo, a esperança do cumprimento das profecias messiânicas, o prometido Salvador. No início, o povo pensava que João Batista era o Messias, mas ele corrigiu as pessoas, dizendo: “Eu não sou o Cristo, mas fui enviado como seu precursor” (Jo. 3:28). Essa obra de preparação consistia na proclamação de três grandes princípios:

a)      A necessidade de arrependimento. “Dizia ele (João Batista), pois, às multidões que saíam para serem batizadas: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos do arrependimento”. Ele definiu o arrependimento como um abandono de todas as confianças alheias; por exemplo: “Temos por pai a Abraão”. Meus pais são crentes fiéis. Ou, eu procuro cumprir os meus deveres, etc. Mas arrependimento é mais do que isso; é uma mudança radical nas atitudes básicas. O egoísta passa a ser altruísta. O ladrão não rouba mais, antes, ele trabalha com suas próprias mãos. Aquele que maltratava as pessoas, passa a ser misericordioso. O trabalhador vive contente com o soldo que recebe, (Lc. 3:7-14). Esses frutos do arrependimento são as evidências práticas de uma vida transformada pela regeneração.
b)      A necessidade de crer no juízo vindouro. A realidade deste “Dia” serve para inibir os impulsos pecaminosos da nossa natureza. João Batista advertia o povo, dizendo: “E também já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo” (Lc. 3:9). E o Ap.Paulo explicou: “Porque importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2Co. 5:10). Quando o Ap. Paulo dissertou perante Felix “acerca da justiça, do domínio próprio e do juízo vindouro”, o homem ficou amedrontado, (At. 24:25). Por isso, a advertência de “fugir da ira vindoura” (Lc. 3:7). “Horrível coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb. 10:31).
c)       A necessidade de crer em Jesus Cristo. A primeira vinda de Cristo foi profetizada desta maneira: “A glória do Senhor se manifestará, e toda a carne a verá, pois a boca do Senhor o disse” (V5). O Ap. João testificou: “E o verbo se fez carne e habitou entre nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória como do unigênito do Pai” (Jo. 1:14).   A glória de Cristo é o seu poder para buscar e salvar pecadores, tais como qualquer um de nós. O ministério de João Batista chegou ao ponto máximo quando ele viu Jesus, e olhando para Ele, declarou a todos ao seu redor: “Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo. 1:29). Agora devemos ouvir e crer no que a Escritura diz: “Quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se mantém rebelde contra o Filho não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo. 3:36). Portanto, para crer em Cristo, temos que nos aproximar dEle pela fé. Como Ele mesmo disse: “O que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo. 6:37). A obra de preparação se cumpre quando chegamos a Cristo pela fé e o recebemos como nosso Salvador.

2. A Necessidade de uma preordenação. Vs. 6-8.  A pregação do evangelho não se limita à exposição de arrependimento, o juízo vindouro e fé em Jesus Cristo. O ministro foi preordenado para incluir mais três elementos: a brevidade da nossa vida; a realidade da morte; e, a eternidade da palavra de Deus.

a)      A brevidade da nossa vida. Ouve-se uma voz anunciando uma única palavra: “Clama”. E o ministro de Deus que está sempre atento à voz do seu Senhor, responde, perguntando: “Que hei de clamar?” E a resposta é: Proclame a preordenação da brevidade da vida humana: “ Toda carne é erva, e toda a sua glória como a flor da erva” (V.6). Por um momento, vemos a vida humana coroada de belezas, consecuções e vitórias; contudo, toda essa glória é como a flor da erva que logo murcha e desvanece. O pregador descreve essa glória como uma “vaidade e correr atrás de vento” (Ec. 2:26). Existem valores mais importantes do que essas glórias momentâneas. A brevidade da nossa vida deve nos ensinar a buscar glórias que jamais desvanecerão.
b)      A realidade da nossa morte. A morte é vista como uma intervenção divina na vida do homem. Soprando nele o hálito do Senhor, o que acontece? “Seca-se a erva, e caem as flores” (V7). Devemos lembrar: “E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo” (Hb. 9:27). Apesar de Adão ter alcançado tantos anos, a sua história termina com esta nota sombria: “E morreu” (Gn 5:5).  A longevidade não ameniza a dor da morte. Ezequias recebeu esta preordenação da parte do Senhor: “Põe em ordem a tua casa, porque morrerás e não viverás” (2Rs. 20:1). O rei recebeu tempo para se preparar antes de morrer. Porém, não foi assim com um certo homem rico, porque enquanto comia, bebia e regozijava-se, Deus, de repente, lhe disse: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma; e o que tens preparado, para quem será?” (Lc. 12:16-21). A lição é esta: Estejamos preparados enquanto temos tempo, porque não sabemos em que dia a morte nos visitará.
c)      A eternidade da palavra de Deus. O texto está estabelecendo um contraste entre a transitoriedade da vida humana e a permanência da palavra de Deus. “Seca-se a erva, e cai a sua flor, mas a palavra do nosso Deus permanece eternamente”, (V.8). Por que este contraste? Devemos entender que não há nada neste mundo que podemos guardar para sempre. Portanto, em vez de construir sobre aquilo que é transitório, devemos buscar o tesouro que jamais passará: “Ora, o mundo passa, bem como a sua concupiscência; aquele, porém, que faz a vontade de Deus permanece eternamente” (1Jo. 2:17). Eis o objetivo principal para cada um de nós. Juntamente com a devida consagração de nossa vida, descobrimos “qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm 12:2). Esta é a preordenação que Deus estabeleceu para o seu povo: Conhecer a sua vontade em toda a sua abrangência.   

3. A necessidade de uma Preanunciação. (Vs. 9-11). Novamente, a palavra dirigida ao pregador e o que ele tem que anunciar: “Tu, ó Sião que anuncias boas novas, sobe a um monte alto!” A sua mensagem tem que ser ouvida pelo maior número de pessoas possível. “Tu que anuncias boas novas a Jerusalém, ergue a tua voz fortemente; levante-a, não temas, e dize às cidades de Judá”. Os povos de todos os lugares têm que ouvir essas boas-novas. Quais são essas notícias que têm tamanha urgência? Destacamos três: O que Deus já está fazendo; o que Deus ainda fará; e, como Deus cuida de seu povo.

a)      O que Deus está fazendo, (V9). “Eis aí está o vosso Deus”. Esta frase é uma exclamação de admiração, ao reconhecer que Deus continua trabalhando entre os povos deste mundo, dando-lhes as boas-novas de salvação, anunciando que o perdão dos pecados está ao alcance de todos os que o buscam. Esse perdão é oferecido gratuitamente, porque um Fiador pagou a dívida judicial de seu povo. O piedoso Zacarias louvou a Deus por essas mesmas verdades: “Bendito o Senhor, Deus de Israel, porque visitou e redimiu o seu povo, e nos suscitou plena e poderosa salvação na casa de Davi, seu servo, como prometeu desde a antiguidade, por boca dos seus santos profetas” (Lc. 1:68-70). O que Deus preanunciou, Ele está cumprindo em nossos dias. “Eis aí está o nosso Deus!” O Fiel cumpridor de cada uma de suas mui grandes e preciosas promessas. Louvado seja o seu santo nome.
b)      O que Deus ainda fará. “Eis que o Senhor Deus virá com poder, o seu braço dominará; o seu galardão está com ele, e diante dele, a sua recompensa” (V.10). Este versículo tem, talvez, uma dupla aplicação. Em nossos dias, o Senhor vem ao seu povo mediante a pregação do evangelho, como dissemos no primeiro ponto. Ele vem com seu braço estendido, dominando e julgando todos os inimigos de seu povo para que as pessoas estejam livres para crer em Jesus Cristo. O galardão que vem com Ele é a salvação eterna para todos os que crêem; e a recompensa de crer é saber que todas os nossos pecados são gratuitamente perdoados. O Ap.João afirmou: “Estas cousas vos escrevi, a fim de saberdes que tendes a vida eterna, a vós outros que credes em o nome do Filho de Deus”. Mas o segundo sentido do versículo é igualmente válido, e se refere, talvez, à segunda vinda de Jesus Cristo. Naquele dia, veremos a grandeza de seu poder através do ajuntamento de todas as nações perante o seu trono. “Quando vier o Filho do homem na sua majestade e todos os anjos com ele, então, se assentará no trono da sua glória; e todas as nações serão reunidas em sua presença” para serem julgadas segundo as suas obras. Assim, cada um dos indivíduos receberá de acordo com o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo, (Mt. 25:31-32; 2Co. 5:10). Notemos o destaque dado ao galardão: “cada um receberá”. Cristo prometeu: “E eis que venho sem demora, e comigo está o galardão que tenho para retribuir a cada um segundo as suas obras” (Ap. 22:12). Portanto, a exortação para cada um de nós é: “Vigiai, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor” (Mt 24:42).
c)      Como Deus cuida de seu povo. Vamos sentir a preciosidade desta verdade: “Como pastor, apascenta os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele guiará mansamente” (V11). Notemos as três atitudes desse “bom pastor”:
                                I.      “Como pastor apascenta o seu rebanho”. A responsabilidade do pastor é suprir todas as necessidades de seu rebanho. O salmista confessou confiantemente: “ O Senhor é o meu pastor, nada me faltará” (Sl. 23:1). E, semelhantemente, o Ap. Paulo: “ E o meu Deus, segundo a sua riqueza em glória, há de suprir, em Cristo Jesus, cada uma das vossas necessidades” (Fl. 4:19). O “nada me faltará” se refere às três necessidades básicas: alimento, vestimenta e moradia. Tendo essas coisas, “estejamos contentes” (1Tm 6:8). Mas, pela experiência pessoal, sabemos que Deus, em sua bondade, nos dá muito mais do que o básico: “O meu cálice transborda” (Sl. 23:5-6).    
                             II.      O cuidado do Senhor para com as crianças: “Entre seus braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio”. Vemos Jesus “ tomando-as nos braços e impondo-lhes  as mãos as abençoava” (Mc.10:16). Crianças e pessoas com deficiências físicas, por causa de suas limitações, recebem um cuidado especial. E, quando não podem andar sozinhas, Ele as “levará no seio”, perto de seu coração. O amor de Deus para com seu povo é indizivelmente maravilhoso e confortador.
                           III.      O cuidado do Senhor para com as mães. Por causa das responsabilidades maternas, as mães nem sempre conseguem acompanhar o ritmo dos demais membros da Igreja. Mas o Senhor não fica impaciente com elas. “As que amamentam, ele guiará mansamente”. Por causa dessas disposições de condescendência, Ele nos convida: “Vinde a mim todos os que estais cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para a vossa alma. Porque o meu jugo é suave e meu fardo é leve” (Mt. 11:28-30).


Conclusão: A nossa leitura começou com esta ordem: “ Consolai, consolai o meu povo, diz o vosso Deus”. Consolamos e saciamos os anseios do povo de Deus através da exposição da sua natureza. Ele que ser conhecido como o Deus perdoador, que apaga as nossas transgressões, (Is. 43:25). Por causa da brevidade da nossa vida, Ele quer que estejamos preparados para aquele dia solene, quando “cada um de nós dará contas de si mesmo a Deus” (Rm. 14:12). E, finalmente, Deus quer que o seu povo tenha confiança na sua condescendência. Ele é o Bom Pastor que cuida do seu rebanho, “Oh! Provai e vede que o Senhor é bom; bem-aventurado o homem que nele se refugia” (Sl. 34:8).

segunda-feira, 21 de julho de 2014

ESTAMOS NA FÉ?




“Examinai-vos a vós mesmos se realmente estais na fé” (2 Co. 13:5).

Muitas das mensagens que se ouvem nas Igrejas são exposições, ensinando como o povo deve se comportar na prática de uma ética cristã. Contudo, apesar de ouvir tantas exortações claras para praticar o que se ouve, especialmente no que se refere ao nosso relacionamento com os demais membros da Igreja, não estamos ouvindo de um convívio harmonioso entre os circunstantes. Somos exortados para que o nosso “amor seja sem hipocrisia”. Pois o amor não pode ser de ânimo dobre, falando com a boca, porém, agindo ao contrário, (Rm. 12:9). Mas, na prática, estamos amando com alegria e singeleza de coração? (At. 2:46). Pelo que se ouve entre os membros da Igreja, não é bem assim. Somos exortados: “amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros” (Rm. 10:12). Mas esse princípio está sempre entre nós? Parece que não. Sabemos que rixas, fofocas, rivalidades e críticas são bastante comuns em todos os departamentos da Igreja. Por que as exortações éticas não estão surtindo o devido efeito? Será que estamos lidando com um povo que ainda não “está na fé”, que nunca teve a experiência de um encontro salvador e santificador com Cristo Jesus?

O Apóstolo está respondendo essa pergunta no texto escolhido para a nossa mensagem. “Examinai-vos a vós mesmos (e não uns aos outros, como é o costume de muitos) se realmente estais na fé”. É de suma importância que descubramos a respeito do nosso estado espiritual. Afinal, existem apenas duas possibilidades, ou estamos na fé ou estamos entre os “reprovados”. Não existe um meio termo, só é possível estar ou em um estado ou em outro.

Mas como podemos fazer esse auto-exame? Ofereço algumas perguntas que devem receber uma resposta honesta, pois estamos lidando com o nosso destino na eternidade.

1. Você tem uma preocupação espiritual? Milhares de pessoas não têm nenhuma inquietação quanto ao destino de sua alma depois da morte. Vivem como as pessoas nos dias de Noé: “Comiam e bebiam, casavam e davam-se em casamento”, enfim, viviam uma vida mais ou menos normal, porém, sem nenhum cuidado em favor de sua alma; aquela parte do ser que jamais deixará de existir. Mas, qual foi o fim dessas pessoas tranqüilas e omissas? Elas não perceberam a insensatez da sua negligência “senão quando veio o dilúvio e os levou a todos” para uma eternidade onde “haverá choro e ranger de dentes” (Mt. 24:38-39; 22:13). E o que pode ser dito com respeito ao homem que alcançou uma certa prosperidade e disse à sua alma: “tens em depósito muitos bens para muitos anos: descansa, come, bebe e regala-te”? A palavra de Deus para aquele homem egocêntrico foi: “Louco, esta noite te pedirão a tua alma” (Lc. 12:16-21). Não viva sem pensar na sua alma e onde ela estará na eternidade. Cristo advertiu: “O tempo está cumprido, e o reino de Deus está próximo: arrependei-vos e crede no evangelho” (Mc 1:15). E o Apóstolo acrescentou: “Se, pois, se tornou firme a palavra falada por meio de anjos, e toda transgressão ou desobediência recebeu justo castigo, como escaparemos nós se negligenciarmos tão grande salvação?” (Hb. 2:2-3). Os dias do homem são incertos, por isso: “Eis, agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2Co. 6:2). Não a perca!

2. Você está tentando salvar-se a si mesmo pelas obras da lei de Deus? Você já demonstrou que tem uma preocupação pelo estado de sua alma; mas, agora, está tentando resolver o seu problema mediante os seus próprios esforços. Essa atitude foi a ruína dos judeus. “Porquanto, desconhecendo a justiça de Deus (o que Deus requer do homem para que seja salvo) e procurando estabelecer a sua própria (vontade para se salvar), não se sujeitaram à que vem de Deus ( o que Ele colocou nas Escrituras Sagradas). Porque o fim da lei é Cristo, para justiça de todo aquele que crê” (Rm. 10:3-4). Convém lembrar o que a Bíblia estabelece: “Sabendo, contudo, que o homem não é justificado (salvo) por obras da lei e sim mediante a fé em Jesus Cristo”. E o Apóstolo acrescentou: “Também temos crido em Cristo Jesus, para que fôssemos justificados por fé em Cristo e não por obras da lei, pois, por obras da lei, ninguém será justificado (inocentado e recebido por Deus)” (Gl. 2:16). Seja prudente, ande no caminho que Deus lhe deu em Cristo Jesus.

3. Você sabe como pode ser salvo? Eis o resumo em toda a sua simplicidade acessível. “Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3:16).Crer em Cristo significa que entendemos a razão da sua morte na cruz. Ele, como fiador do seu povo, pagou toda a sua dívida diante da lei de Deus, que foi incorrida pela transgressão dessa mesma lei. Crer em Cristo significa que o pecador sente a culpa de seu pecado, arrepende-se dele e o confessa, pedindo o perdão. Crer em Cristo significa vir e descansar na veracidade de sua promessa de um perdão inteiramente gratuito. Tudo se resume nesta palavra: “E o testemunho é este: que Deus nos deu a vida eterna; e esta vida está no seu Filho. Aquele que tem o Filho tem a vida; aquele que não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1 Jo. 5:11-12). Não demore, venha a Cristo e receba já a sua salvação. Cristo prometeu: “Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo. 6:37).

4. Você tem certeza da sua conversão? Cristo ensinou: “Não pode a árvore boa (o pecador convertido) produzir frutos maus, nem a árvore má (o pecador não convertido) produzir frutos bons. (...) Assim, pois, pelos frutos os conhecereis” (Mt. 7:18, 20). Quais são alguns desses frutos?  Aquele que crê em Jesus Cristo foi “selado com o Santo Espírito da promessa” (Ef. 1:13). É Ele que opera em seu povo as evidências da sua conversão. “Mas o fruto do Espírito é: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão, domínio próprio” (Gl. 5: 22-23). Você está vivendo a realidade da sua conversão? “No zelo, não sejais remissos; sede fervorosos de espírito servindo ao Senhor” (Rm. 12:11).

5. Você tem uma vida santa e irrepreensível? Deus escolheu o seu povo para que tivesse um padrão de comportamento. Esta é a evidência infalível da sua eleição. O Apóstolo afirmou: “Se alguém está em Cristo, é nova criatura; as cousas antigas (os costumes impuros) já passaram; eis que se fizeram novas (uma vida santa e irrepreensível)” (2Co. 5:17). A santidade é de tal modo necessária que, sem ela, ninguém verá o Senhor, (Hb.12:14). Cristo ensinou: “Assim brilhe também a vossa luz (a vossa santidade) diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras (as evidências da vossa santidade) e glorifiquem o vosso Pai que está nos céus” (Mt. 5:16).

6. Você está usando os meios da graça? Este termo é composto de pelo menos cinco elementos: leitura diária das Escrituras Sagradas, (Jo. 5:39; 1Tm. 4:13); oração incessante, (At. 12:5; 1Ts. 5:17); assiduidade nos cultos da Igreja, (At. 2:46; Hb. 10:25);  participação da Ceia do Senhor, (At. 20:7; 1Co. 11:26); e, respeito ao Dia do Senhor com o devido descanso, seguindo o exemplo de Deus, (Is. 58:13-14; Hb. 4:4; Ef. 5:1). Com a devida observância desses recursos, o cristão crescerá na graça e no conhecimento do seu Senhor e Salvador, (2Pe. 3:18). Deus deu esses meios para o nosso desenvolvimento espiritual, portanto, não seja negligente naquilo que Deus lhe deu para a segurança da sua alma.

7. Você vive em plena comunhão com Cristo, ou seja, em plena dependência de seu sustento? Ele mesmo disse: “Como não pode o ramo produzir fruto de si mesmo se não permanecer na videira, assim, nem vós o podeis dar, se não permanecerdes em mim. Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto (a presença do fruto do Espírito Santo); porque sem mim nada podeis fazer” (Jo. 15-4-5). Como o ramo depende da seiva que recebe do tronco, assim, o cristão depende da sua união com Cristo para viver e frutificar para a glória de Deus. O Ap. Paulo experimentou a realidade dessa comunhão, por isso, podia confessar: “Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus que me amou e a si mesmo se entregou por mim” (Gl. 2:19-20). Você tem esse tipo de comunhão com Cristo? Então aplique-se ao devido uso dos meios da graça para experimentar toda sorte de benção espiritual em sua vida.

8. Você tem uma vida consagrada a Deus? Cada cristão sente que é um devedor diante de Deus por causa das inúmeras bênçãos recebidas. Por isso, paira sobre a sua mente uma pergunta: “Que darei ao Senhor por todos os seus benefícios para comigo?” (Sl. 116:12). O Ap. Paulo deu esta resposta: “Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional.” Mas como essa oferta deve ser feita? O Ap. continua: “E não vos conformeis com este século, mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Rm. 12:1-2). Consagração a Deus significa que Ele tem toda a liberdade para moldar a vida de seu povo de acordo com a sua própria vontade. A sua vida está sendo moldada pela palavra de Deus ou pelas influências deste século? Deus  quer direitos totais sobre a vida de seu povo.

9. Você está servindo a Cristo? Este serviço obrigatório é realizado mediante o amor aos irmãos na fé. Como Cristo disse: “Sempre que o fizestes a um destes meus pequeninos irmãos, a mim o fizestes”. Quando um cristão cuida do esfomeado, sedento, desabrigado, desvestido ou encarcerado, é um ato de amor aceitável a Cristo. Este serviço aos irmãos na fé, quando feito inconscientemente, é reconhecido como se fosse feito ao próprio Cristo. É importante observar que este amor específico será o padrão usado para estabelecer a diferença entre aquele que serviu a Cristo e aquele que serviu os seus próprios interesses, (Mt. 25:31-46). “ E ele (Cristo) morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si mesmos, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou” (2Co. 5:15).

10. Você anseia pela Vinda de Cristo? O Ap. Paulo vivia na expectativa da Vinda do Senhor. Por quê?  Entre outras razões, porque é o Dia quando Jesus Cristo “há de julgar os vivos e os mortos, para que cada um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo” (2Tm. 4:1; 2Co. 5:10). Para o Apóstolo, este Dia seria o momento para receber a sua recompensa por seu serviço a Cristo. “Já agora a coroa de justiça me está guardada, a qual o Senhor, reto juiz, me dará naquele Dia”. E, para o consolo do povo de Deus, ele logo acrescenta: “E não somente a mim, mas também a todos quantos amam a sua vinda” (2Tm. 4:8). A Bíblia encerra a sua mensagem, registrando o anseio do povo salvo por Cristo: “Vem, Senhor Jesus!” (Ap. 22:20).


Conclusão:  Reconhecemos que a Igreja visível é composta de “joio no meio do trigo”, e, “os maus entre os justos” (Mt. 13:25, 49). É de suma importância que você saiba já se está “realmente na fé”. O Dia do Juízo é autorizado para declarar o seu estado na eternidade e não para oferecer uma segunda oportunidade para se fazer as pazes com Deus. “Eis agora, o tempo sobremodo oportuno, eis, agora, o dia da salvação” (2 Co. 6:2). Não brinque com o destino da sua alma!