Leitura
Bíblica: 2 Tessalonicenses 2:13-15.
Introdução:
Estou usando a palavra “resgate” porque a nossa salvação foi adquirida mediante
o pagamento de um preço. O Apóstolo escreveu: “Porque fostes comprados por bom
preço; glorificai, pois, a Deus no vosso
corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus” (1Co. 6:20) Fomos
resgatados a fim de pertencermos a Deus.
Esta é a salvação: pertencer a Deus, corpo e espírito. Mas qual foi esse bom
preço que Cristo pagou? O Apóstolo Pedro responde: “Sabendo que não foi
mediante coisas corruptíveis, como prata ou ouro, que fostes resgatados do
vosso fútil procedimento que vossos pais vos legaram, mas pelo precioso sangue,
como de cordeiro sem defeito e sem mácula, o sangue de Cristo” (1Pe. 1:18-19).
Nesse
contexto, o Apóstolo Paulo escreveu: “Entretanto, devemos sempre dar graças a
Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor”. O nosso resgate deve ser o motivo de
agradecimento incessante, porque, através dele, Deus demonstrou o seu amor para
conosco. O texto chave ensina: “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos
amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação (o
que encobre) pelos nossos pecados” (1Jo. 4:10). O texto lido descreve como o
nosso resgate aconteceu.
1.
A Consecução do nosso Resgate. Quais foram os passos necessários para que o
nosso resgate fosse conseguido? Em primeiro lugar, temos que entender o sentido
da frase: “Porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação”. A nossa
salvação é fruto de uma soberana intervenção de Deus. “Não fostes vós que me
escolhestes a mim; pelo contrario, eu vos escolhi a vós outros” (Jo. 15:16).
Por que Deus tinha que agir soberanamente a fim de nos salvar? Por sermos
pecadores e “mais amigos dos prazeres que amigos de Deus” (2Tm. 3:4), a nossa
salvação, mediante a própria escolha, é uma impossibilidade (Mc. 10:23-37).
Jamais escolheríamos, voluntariamente, algo que fere a nossa própria vontade.
Devemos lembrar: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e
desesperadamente corrupto: quem o conhecerá?” (Jr. 17:9). O coração corrupto do
homem é o seu inimigo mortal, que luta contra qualquer aproximação a Deus. Nesse
contexto de impossibilidade espiritual, o Apóstolo exclama: “Entretanto, devemos sempre dar
graças a Deus por vós, irmãos amados pelo Senhor, porque Deus vos escolheu
desde o princípio para a salvação”. Não convém fazer perguntas desnecessárias
quanto à soberania de Deus na eleição de pecadores, basta descansar nas palavras de Cristo: “Todo
aquele que o Pai me dá, esse virá a mim; e o que vem a mim, de modo nenhum o lançarei fora ... Em
verdade, em verdade vos digo: quem crê em mim tem a vida eterna” (Jo. 6:37,47).
A
segunda frase que temos que entender: “Vos chamou mediante o nosso evangelho”.
Vamos ouvir o que o Breve Catecismo da nossa Igreja fala sobre o nosso chamado
ou, vocação: “Vocação eficaz é a obra do Espírito Santo, pela qual
convencendo-nos do pecado e da nossa miséria, iluminando o nosso entendimento
pelo conhecimento de Cristo, e renovando
a nossa vontade, nos persuade e habilita a alcançar Jesus Cristo, que nos é
oferecido de graça no evangelho” (Resp. 31). Cada frase deste ensino merece a
mais profunda ponderação. Deus nunca revelou com antecedência o seu propósito
para salvar um indivíduo mediante a sua soberana eleição, antes, o seu modo de
revelar a sua vontade é sempre mediante a livre e irrestrita pregação do
evangelho. A nossa primeira responsabilidade é ouvir a palavra da verdade, o
evangelho da nossa salvação, e crer em Jesus Cristo, (Ef. 1:13). A promessa é
esta: “Se, com a tua boca, confessares Jesus como Senhor e, em teu coração
creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm. 10:9). A
nossa compreensão dos propósitos soberanos de Deus vem somente depois de crer,
depois de sermos unidos com Ele, pela fé em Cristo. Os tessalonicenses
reconheceram a sua eleição somente depois da sua conversão e o abandono de seus
pecados. “A firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, reconhecendo,
irmãos, amados de Deus, a vossa eleição” (1Ts 1:3-9). Somos exortados a
confirmar a nossa vocação (chamado) e eleição. Notemos a seqüência: primeiro,
temos que crer em Cristo Jesus, conformando a nossa vida a Ele e, com isso,
podemos confirmar a nossa eleição, praticando, espontaneamente, os deveres
cristãos, “pois desta maneira é que vos será amplamente suprida a entrada no
reino eterno de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe. 1:3-11).
2.
A Constituição do nosso Resgate. O nosso resgate tornou-se reconhecido pela
atuação de três verdades inseparáveis: fé na verdade, a salvação e a
santificação.
a) O primeiro passo para reconhecer o nosso resgate é fé na verdade do
evangelho de Jesus Cristo. Existem muitas coisas que podem nos dar uma medida
de alegria no coração. Mas Cristo disse que a melhor fonte de alegria é a
Palavra de Deus. “Bem-aventurados são os que ouvem a palavra de Deus e a
praticam” (Lc. 27:28). O Salmista experimentava essa alegria, dizendo: “Quanto
amo a tua lei! É a minha meditação, todo dia!” (Sl. 119:97). Por que a Palavra
de Deus merece tanta prioridade? Porque todas as experiências espirituais começam
com o ouvir dessa Palavra, inclusive a própria fé, que “vem pela pregação e a
pregação pela palavra de Cristo” (Rm. 10:17). Tudo depende da atuação da fé,
isto é, crer na realidade de um objeto invisível, pois sem fé é impossível
agradar a Deus (Hb. 11:6). A importância da fé (crer) pode ser reconhecida, conclusivamente, neste
versículo: “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se
mantém rebelde (uma atitude de incredulidade) contra o Filho não verá a vida,
mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo. 3:36).
b) Salvação. O alvo da nossa fé é que obtenhamos “a salvação que está em
Cristo Jesus, com eterna glória”. A salvação na Bíblia abrande muito mais do que a vida eterna. Cristo veio para salvar
o seu povo dos pecados deles, (Mt. 1:21). Essa salvação inclui o livramento do
domínio escravizador do pecado mediante
uma verdadeira regeneração pelo poder do
Espírito Santo. Quando cremos em Cristo, somos espiritualmente unidos com Ele,
participando de todas as experiências de
Cristo quando Ele deu a sua vida em resgate por muitos. O fruto dessa união: “O
pecado não terá domínio sobre vós; pois não estais debaixo da lei e sim da
graça” (Rm. 6:14). A graça de Deus é um novo princípio de direção atuando em
nossa vida, mediante o Espírito Santo que habita em nós. “Digo, porém, andai no
Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (Gl. 5:16). Sim, a
nossa salvação é libertadora e redunde para uma vida abundante em harmonia com
a vontade de Deus.
c) Santificação. Inseparavelmente ligado à nossa salvação, no sentido
pleno da experiência, está a nossa santificação, uma vida santa e
irrepreensível perante o Senhor. A realidade da nossa salvação se revela pela santidade da nossa vida. Veja
como o Apóstolo descreve essa verdade: “Mas graças a Deus porque outrora,
escravos do pecado, contudo, viestes a obedecer de coração, à forma de doutrina
a que fostes entregues; e, uma vez libertados do pecado, fostes feitos servos
da justiça”, praticantes do que é reto diante de Deus, (Rm. 6:17-18). O
Apóstolo continua dizendo, realçando a realidade da nossa salvação: “Agora,
porém, libertados do pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso
fruto para a santificação e, por fim, a
vida eterna; porque o salário do pecado (o que recebemos) é a morte, mas o dom
gratuito de Deus é a vida eterna em Cristo Jesus, nosso Senhor (Rm. 6:22-23).
Podemos resumir a doutrina da santificação citando o ensino do Breve Catecismo
da nossa Igreja: “Santificação é a obra da livre graça de Deus, pela qual somos
renovados em todo o nosso ser, segundo a imagem de Deus, habilitados a morrer
cada vez mais para o pecado e a viver para a retidão” (Resp.35). Devemos
lembrar que a santificação é de tal modo necessária, que sem ela ninguém verá o
Senhor, (Hb. 12:14).
3.
A Consumação do nosso resgate. Por causa do nosso resgate, podemos alcançar
“ a glória do nosso Senhor Jesus Cristo”. É o privilégio de poder “ contemplar
a sua face” e estar com Ele para sempre; será o ápice da nossa salvação, (Ap. 22:3-4). Mas, o que
significa essa palavra “glória”? No Novo
Testamento, a glória se refere ao caráter imaculado de Jesus Cristo, revelado
em seus atributos divinos; e, por causa disso, a sua posição exaltada à destra
de Deus. Ele é “o Senhor dos senhores e o Rei dos reis” (Ap. 19:16). E, depois
de completar a sua obra redentora, “assentou-se à direita da Majestade, nas
alturas, tendo-se tornado tão superior aos anjos quanto herdou mais
excelente nome do que eles” (Hb. 1:3). E,
quando lemos o testemunho dos discípulos, percebemos que eles reconheceram algo
diferente na pessoa de Jesus Cristo: “E o Verbo se fez carne e habitou entre
nós, cheio de graça e de verdade, e vimos a sua glória, glória como do
Unigênito do Pai” (Jo. 1:14).Qual foi a glória que os discípulos contemplaram?
“A glória como do Unigênito do Pai”. Até certo ponto, eles estavam começando a
reconhecer a fulgurância da sua graça e a majestade da sua verdade que se manifestaram
em todas as suas obras e palavras; os atributos e a sua Divindade brilhando através do véu da sua natureza humana. Em outras palavras, João e
os demais discípulos fixaram o seu olhar adorador sobre o que é a possessão natural
de Um, cujo nome é: O Unigênito do Pai.
Jesus
manifestou a sua glória, o brilho da sua Divindade, nas bodas de Caná, (Jo.
2:11). Ele deu a sua aprovação dos laços matrimoniais. Ele fez conhecido o seu
atributo de misericórdia, suprindo as necessidades numa situação possivelmente
constrangedora. Assim, Ele é poderoso para suprir todas as necessidades físicas
e espirituais do seu povo, para que seja conduzido a Deus, (1Pe. 3:18). O
atributo de seu amor se manifestou naquela festa, revelando a sua prontidão
para dar tudo gratuitamente. “Cristo nos amou e se entregou a si mesmo por nós”
(Ef. 5:2). E, finalmente, Ele demonstrou que Ele, de fato, é o Filho de Deus,
cheio de graça e de verdade. A sua glória é que Ele é “poderoso para socorrer
os que são tentados”, (Hb. 2:18). Ele é o nosso Salvador no sentido mais
abrangente possível da palavra.
Na
transfiguração, os discípulos, Pedro, João e Tiago, foram privilegiados para
ter um relance da glória celestial de Jesus Cristo. O que é que eles
contemplaram? “O seu rosto (de Jesus) resplandecia como o sol e as suas vestes
tornaram-se brancas como a luz”. E, logo em seguida, ouviram uma voz vinda da
nuvem luminosa, que dizia: “Este é o meu Filho amado em quem me comprazo, a ele
ouvi” (Mt. 17:1-8). A transfiguração teve, entre outras razões, um duplo
propósito:
a) Para preparar Cristo, o nosso Mediador e Substituto, para enfrentar,
com coragem, tudo o que era necessário para resgatar o seu povo da sentença
condenatória da lei, a saber: um julgamento, cruel e injusto, e, finalmente,
depois de ser brutalmente açoitado, foi crucificado, como se fosse o pior dos
criminosos. “Todavia, ao Senhor, agradou moê-lo, fazendo-o enfermar; quando der
ele a sua alma como oferta pelo pecado (...) foi contado com os transgressores;
contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores
intercedeu” (Is. 53:10,12). Nesse
contexto, apesar do aparente abandono, a transfiguração deu a Cristo não apenas
o apoio total do Pai, mas, também, a experiência da glória que o aguardava.
b) Para fortalecer e confirmar a fé desses três discípulos, e,
indiretamente, da Igreja, quanto à verdadeira identidade de Jesus Cristo como
Filho Unigênito do Deus vivo e verdadeiro.
Em
João capítulo 17, Jesus fez repetidas referências à sua glória eterna. Em sua
oração ao Pai, Ele disse: “Eu te glorifiquei na terra, consumando a obra que me
confiaste a fazer; e agora, glorifica-me, ó Pai, contigo mesmo, com a glória
que eu tive junto de ti, antes que houvesse mundo” (Vs. 4 e 5). Vamos ouvir
outra parte comovente dessa oração: “Pai, a minha vontade é que onde eu estou,
estejam também comigo os que me deste, para que vejam a minha glória que me
conferiste, porque me amaste antes da fundação do mundo” (V.24). Em resposta a
essa oração, fomos resgatados para alcançarmos “a glória de nosso Senhor Jesus
Cristo”. E, com certeza, veremos como o
Pai atende os pedidos de seu Filho.
E,
nesse meio termo, o testemunho de Cristo perante o Sinédrio, que estava no
processo de condená-lo à morte por crucificação. Diante de seus juízes, Ele
falou da sua Segunda Vinda com poder e muita glória, dizendo: “Eu vos
declaro que, desde agora, vereis o Filho
do homem assentado à direita do Todo-poderoso e vindo sobre as nuvens do céu”
(Mt. 26:64). Devemos cultivar a mesma esperança dos tessalonicenses, que
aguardavam a vinda do Filho de Deus, que ressuscitou dentre os mortos, sabendo
que Ele nos livrará da ira vindoura, (1Ts.1:10). Naquele dia, alcançaremos “a
glória do nosso Senhor Jesus Cristo”, e teremos toda a eternidade para descobrir
mais e mais, a glória da sua Pessoa, mediante os seus atributos divinos.
Conclusão:
Temos visto como Cristo conseguiu o nosso resgate e o que foi constituído como
resultado. E, para a consumação do nosso resgate, alcançaremos, de uma maneira
mais completa, a glória do nosso Senhor Jesus Cristo. Agora, munidos com essa
esperança, o Apóstolo nos exorta: “Assim, pois, irmãos, permanecei firmes e
guardai as tradições que vos foram
ensinadas, seja por palavra (a pregação do evangelho) ou epístola nossa” (V.15).
A perseverança, mesmo no meio de tribulações, é de suma importância, porque,
sem ela, jamais alcançaremos o alvo, a salvação da nossa vida. Como o Apóstolo
confessou, e o que nós devemos imitar também: “Porque para mim tenho por certo
que os sofrimentos do tempo presente não podem ser comparados com a glória a
ser revelada em nós” (Rm. 8:18). “Amados, agora, somos filhos de Deus, e ainda
não se manifestou o que haveremos de ser. Sabemos que, quando ele se
manifestar, seremos semelhantes a ele, porque haveremos de vê-lo com ele é”
(1Jo. 3:2).
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