Leitura
Bíblica: Salmo 19: 1-14
Introdução: Existem três livros que Deus tem dado a cada
pessoa, para que elas tenham um conhecimento básico da sua existência e da sua
vontade. O primeiro livro é visível à humanidade toda: A Expansão do Universo.
“Os céus proclamam a glória de Deus, e o firmamento anuncia as obras das suas
mãos”. A existência e a harmonia que reina entre as multidões desta vastidão
revelam que o seu Autor é um Ser de
poder infinito, dotado com os atributos de soberania, sapiência e misericórdia.
Por isso, o homem que nega a realidade de Deus está negando a visibilidade do
que os seus olhos estão contemplando. Por isso, tal homem é indesculpável e
merece a indignação e a reprovação eterna. Contudo, esse livro é insuficiente
para as necessidades atuais do homem, porque não fala nada sobre o que Deus
requer do pecador e nem como ele pode ser salvo da ira vindoura. Por causa dessa
lacuna, Deus, em sua muita misericórdia, nos deu um segundo livro, as Escrituras
Sagradas, revelando o que o homem deve
crer sobre Deus e o dever que Ele requer dos homens. Por isso, a nossa Igreja
recebe e crê de coração que as Escrituras Sagradas – o Antigo e o Novo
Testamento – são a Palavra de Deus, a
única regra de fé e prática. A importância insubstituível desse livro está no fato de que,
crendo na sua veracidade, tornamo-nos “sábios para a salvação pela fé em Jesus
Cristo” (2Tm. 3:15). E ainda resta um terceiro livro, a nossa consciência. A
lei escrita que Deus deu a seu povo não está nas mãos de todas as nações, por
isso, quando Ele nos criou “à sua imagem, conforme a sua semelhança”, Ele
gravou o resumo da lei sobre a natureza de cada pessoa que nasce neste mundo. O
Apóstolo, descrevendo a importância desse livro, disse: “Estes (todos os
homens), mostram a norma da lei gravada no seu coração, testemunhando-lhes
também a consciência e os seus pensamentos, mutuamente acusando-se ou
defendendo-se, no dia em que Deus, por meio de Jesus Cristo, julgar os segredos
dos homens, de conformidade com o meu evangelho”, a mensagem que Deus lhe deu
por revelação, (Rm. 2:14-15; Gl 1:11-12). A existência desses três livros é
apresentada claramente no Salmo 19. Portanto, demonstremos reverência e temor
diante da realidade dessas revelações. O Salmista confessou: “Arrepia-se-me
a carne com temor de ti, e temo os teus
juízos”. (Sl. 119:120).
1.
A Revelação na Expansão, Vs, 1-6. “Os céus proclamam a glória de Deus”. Mas o que é essa glória? É a manifestação de
sua natureza imensurável e de seu caráter incólume. Ele é um Deus cheio de
atributos superlativos e gloriosamente atuantes. A primeira evidência dessa
glória é a criação do mundo e de tudo o que nele há. O Ap. Paulo nos deu um
parecer desse portento, dizendo: “O que de Deus se pode conhecer é manifesto
entre eles (todos os homens), porque Deus lhes manifestou. Porque os
atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua
própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo
percebidos por meio das coisas criadas”. E veja a conclusão do Apóstolo: Por
causa dessa revelação dada na criação, “tais homens são, por isso,
indesculpáveis; porquanto, tendo o conhecimento de Deus, não o glorificaram
como Deus, nem lhe deram graças; antes, se tornaram nulos em seus próprios
raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato” (Rm. 1:19-21). A
negligência dessa revelação, dada por Deus através da criação, conduz o homem à
sua própria destruição.
O
Salmista toma duas realidades no universo e, numa linguagem singularmente
poética, descreve as maravilhas da sua finalidade. Primeira: a sucessão
ininterrupta da comunicação entre o dia e a noite: “Um dia discursa o outro
dia, e uma noite revela conhecimento a outra noite. Não há linguagem, nem há
palavras, e deles não se ouve nenhum som; no entanto, por toda a terra, se faz
ouvir a sua voz, e as suas palavras, até aos confins do mundo”. Essa sucessão
de dia após dia demonstra a glória do poder organizador de Deus. Tanto o dia
como a noite têm o seu propósito inalterável, aquele de anunciar a existência e
a glória sapiente de Deus. Pela luz do dia vemos a providência de Deus para os
homens, e a noite para lhes oferecer descanso. A lua foi dada para marcar o
tempo; o sol obedece à hora certa de seu ocaso. Os animais obedecem ao seu
lugar na criação. Agora, é o momento do homem. Ele sai para o seu trabalho e
para os seus encargos até à tarde. E, diante dessa atividade que reflete tão
claramente a glória soberana de Deus, o Salmista exclama: “Que variedade, Senhor,
nas tuas obras! Todas com sabedoria as fizeste; cheia está a terra das tuas
riquezas” (Sl. 104: 19-24).
A
segunda realidade é o sol. Na linguagem poética, o Senhor pôs uma tenda para o
sol, um lugar no meio dos astros, a fim de lhe dar uma liberdade de movimento.
“O qual como noivo que sai dos seus
aposentos, se regozija como herói, a percorrer o seu caminho. Principia numa
extremidade dos céus e até a outra vai o seu percurso.” Como o noivo sai do seu
aposento, vestido de uma ostentação chamativa, assim, o sol se levanta com um
esplendor pomposo que prende a nossa respiração, tamanha é sua glória. E, se
ficamos tão maravilhados com a majestade reinante do sol, qual será a nossa
reação quando estivermos face a face com Cristo, “o sol nascente das alturas”?
(Lc. 1:78). O salmista continua a sua descrição do efeito benéfico do sol: “E
nada refoge (esconde) ao seu calor”. Toda a criação sente a presença salubre do
sol, uma manifestação visível da glória de Deus. Com reverência e admiração,
podemos perguntar: “Quando contemplo os teus céus, obra dos teus dedos, e a lua
e as estrelas que estabeleceste, que é o homem, que dele te lembres? E o filho
do homem, que o visites?” (Sl. 8:3-4). E,
de fato, Deus nos visitou mediante o envio de seu próprio Filho, Jesus Cristo.
“Ele é o resplendor da glória e a expressão exata de seu Ser, sustentando todas as coisas pela palavra
do seu poder” (Hb.1:3).
2.
A Revelação nas Escrituras, Vs. 7-11. Das palavras inaudíveis da expansão, passamos a ouvir as
palavras audíveis do próprio Deus, dando-nos uma revelação verbal de si mesmo,
mediante palavras compreensíveis. Essa revelação chama-se “a lei de Deus”,
abrangendo todos os detalhes da sua vontade, ensinando o que o homem deve crer
sobre Deus e o dever que Ele requer de cada pessoa. O Salmista emprega seis
palavras para descrever a natureza dessa lei e o seu poder benéfico sobre a
vida do homem.
(1) “A
lei do Senhor é perfeita”, e se refere aos ensinos que Deus tem nos dado. O
nosso testemunho deve ser “Para mim vale mais a lei que procede da tua boca do
que milhares de ouro ou de prata... pois na tua lei está o meu prazer” (Sl.
119:72,77). E qual o efeito da lei sobre a nossa vida? Ela converte e restaura
a alma, conduzindo-a de volta para uma vida de paz com Deus, “De maneira que a
lei nos serviu de aio (instrutor) para nos conduzir a Cristo”, “ no qual temos
a redenção, pelo seu sangue, a remissão
dos pecados, segundo a riqueza da sua
graça” (Gl. 3:24; Ef. 1:7).
(2) “O
testemunho do Senhor é fiel”, e se refere à palavra dada; ela é a verdade. O
Apóstolo confirmou esse pensamento, dizendo: “Porque quantas são as promessas
de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por ele é o amém, para glória
de Deus, por nosso intermédio” (2Cr. 1:20). E qual o efeito desse testemunho?
“Dá sabedoria aos símplices”. O Apóstolo comentou: “Expondo estas coisas (os
testemunhos) aos irmãos, serás bom ministro de Cristo Jesus, alimentado com as
palavras da fé e da boa doutrina que tens seguido” (1Tm. 4:6).
(3) Os
preceitos do Senhor são retos”, e se referem aos regulamentos que direcionam o
procedimento. O Apóstolo confessou: “Porque este é o amor de Deus: que
guardemos os seus mandamentos; ora, os seus mandamentos não são penosos” (1Jo.
5:3). E qual o efeito? “Alegram o coração”. O Salmista disse: “Quanto amo a tua
lei! É a minha meditação, todo dia!” (Sl. 119:97).
(4) “O
mandamento do Senhor é puro”, e se
refere à norma que padroniza a vida moral e espiritual do homem. Nessa lei não
há nenhuma injustiça. A missão dela é séria, porque “ninguém será justificado
diante de Deus por obras da lei, em razão de que pela lei vem o pleno
conhecimento do pecado” (Rm. 3:20). O Apóstolo confessou: “Mas eu não teria
conhecido o pecado, senão por intermédio da lei; pois não teria eu conhecido a
cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás” (Rm. 7:7). A cobiça é a causa de
todo tipo de crime que leva o homem à
destruição. Porém, quando reconhecida, confessada e abandonada, “Deus é fiel e
justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo.
1:9). E qual o efeito do mandamento? Ele “ilumina os olhos”, para que possamos
reconhecer o nosso estado espiritual diante do Deus santo.
(5) “O
temor do Senhor é límpido”, e se refere à reverência e adoração diante do
Senhor. O temor ensina como devemos servir a Deus “de modo agradável, com
reverência e santo temor” (Hb. 12:28). E qual o efeito? Essa atitude de temor é
imutável, e “permanece para sempre”.
(6) “Os
juízos do Senhor são verdadeiros e todos igualmente justos”, e se referem às
declarações da vontade de Deus. O que o Senhor determina para o seu povo é
sempre o melhor para o seu bem total e jamais será confundido. O Apóstolo
reconheceu essa verdade em termos da “boa, agradável e perfeita vontade de
Deus” (Rm. 12:2). Eis a nossa oração: “Ensina-me a fazer a tua vontade, pois tu
és o meu Deus; guie-me o teu bom Espírito por
terreno plano” (Sl. 143:10).
Agora,
ainda falando sobre a revelação escrita, temos duas frases que descrevem o que
o homem de Deus sente diante dessa iluminação. Ela é uma preciosidade, por isso,
deseja conformar-se mais e mais às suas normas. “São mais desejáveis do que
ouro, mais do que muito ouro depurado; e são mais doces do que o mel e o
destilar dos favos.” Mas essa lei
penetra a consciência, admoestando e ensinado a reconhecer as recompensas que
recebe, quando obedecida. “Além disso (a preciosidade dos preceitos do Senhor),
por eles se admoesta o teu servo; em os
guardar, há grande recompensa”. E, agora, uma palavra para despertar a nossa
crença: “De fato, sem fé é impossível agradar a Deus, porquanto é necessário
que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe e que se torna galardoador dos que o buscam”
(Hb.11:6).
3.
A Revelação na Experiência, Vs. 12:14. Quando contemplamos os céus, a lua e
as estrelas, somos inconscientemente
levados a refletir sobre o seu Autor. Concluímos
que Ele deve ser um Indivíduo, um Deus, com poder e sabedoria indescritíveis.
Contudo, Ele pode ser conhecido. A Bíblia afirma: “Porquanto o que de Deus se
pode conhecer é manifesto entre os homens, porque Deus lhes manifestou. Porque
os atributos invisíveis de Deus, assim o seu eterno poder, como também a sua
própria divindade, claramente se reconhecem, desde o princípio do mundo, sendo
percebidos por meio das coisas que foram criadas. Tais homens são, por isso,
indesculpáveis”, se não tomarem conhecimento dele, (Rm. 1:19-20). Mas Deus não
se revelou somente no silêncio da Expansão, mas, também, com palavras que
podemos ouvir e entender, palavras que revelam a sua vontade para todos os
homens. Como? “Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas
maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias, falou pelo Filho” (HB.
1:1-2). Quando Jesus Cristo foi transfigurado, a voz do Pai anunciou: “Este é o
meu Filho amado, em quem me comprazo; a ele ouvi” (Mt. 17:5). Agora, em
nossos dias, a voz de Cristo se percebe mediante o ouvir e a leitura atenciosa
das Escrituras Sagradas. Ele mesmo disse: “Em verdade vos digo: quem ouve a
minha palavra e crê naquele que me enviou tem a vida eterna, não entra em
juízo, mas passou da morte para a vida eterna” (Jo. 5:24).
À
medida que ouvimos e lemos a Palavra de Deus, sentimos a realidade da nossa
imperfeição moral. Somos pecadores e condenados diante da lei de Deus. Por
isso, o Salmista pergunta: “Quem há que possa discernir as próprias faltas?”
Sentimos que a totalidade do nosso ser é contaminada pelo pecado. Tudo o que
falamos e produzimos tem a marca da imperfeição, o que nos faz inaceitáveis
diante do Deus perfeito em santidade. O profeta lamentou: “Mas todos nós somos
como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; todos nós
murchamos como a folha e as nossas iniqüidades, como vento, nos arrebatam” (Is.
64:6). Mas a Bíblia nos oferece uma esperança: “Se confessarmos os nossos
pecados (a Deus o Pai, em nome de Jesus Cristo) Ele é fiel e justo para nos
perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça” (1Jo. 1:9). Com essa
expectativa, o salmista se fortaleceu, pedindo: “Absolve-me das (transgressões)
que me são ocultas”. Não apenas das visíveis, mas, também, das invisíveis e
secretas. Como é consolador sentir a misericórdia do nosso Deus: “Se
observares, Senhor, iniqüidades, quem, Senhor, subsistirá? Contigo, porém, está
o perdão, para que te temam” (Sl. 130:3-4). É igualmente consolador saber que o
Senhor “não nos trata segundo os nossos
pecados, nem nos retribui consoante as nossas iniqüidades. Pois quanto o céu se
alteia acima da terra, assim é grande a sua misericórdia para com os que o temem”
(Sl. 103:10-11).
Em
seguida, o Salmista faz dois pedidos urgentes: “Também da soberba (aquela
auto-suficiência) guarda o teu servo, que ela não me domine; então serei
irrepreensível e ficarei livre da grande transgressão”, daquela tendência do
homem pecador para confiar em suas próprias capacidades para se salvar, e, com
isso, desprezar o que somente Deus pode fazer por meio da sua graça. E,
continuando, consciente das suas próprias imperfeições, pede, de coração
ansioso: “As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam
agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu”. As nossas
palavras têm causado, muitas vezes, desgostos cortantes, por isso, o pedido do
Salmista. O Apóstolo comentou: “Porque todos tropeçamos em muitas coisas. Se
alguém não tropeça no falar, é perfeito varão capaz de refrear também todo o
corpo” (Tg. 3:2). Nesse contexto, notemos como o Salmista se fortaleceu,
citando dois preciosos atributos do Senhor: “Rocha minha”. Sobre essa Rocha, o
Deus vivo e verdadeiro, depositamos todas as nossas esperanças espirituais.
Confiamos na misericórdia do nosso Deus para suprir, em Cristo Jesus, cada uma
das nossas necessidades, (Fp; 4:19). E ele continua: Ele é “Redentor meu”.
Jesus Cristo é “aquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos
pecados” (Ap. 1:5). Convém entender a centralidade de Jesus Cristo na vida
cristã. “Por isso, quem crê no Filho tem a vida eterna; o que, todavia, se
mantém rebelde contra o Filho (rejeitando os seus direitos sobre a nossa vida)
não verá a vida, mas sobre ele permanece a ira de Deus” (Jo. 3:36) .
Conclusão:
O Salmo 19 tem uma seqüência que começa com a revelação da natureza, ou seja, as
obras da criação. Assim, descobrimos a existência de um Deus criador e vivo.
Depois, somos introduzidos à revelação sobrenatural, ou seja, às Escrituras
Sagradas, que nos ensinam tudo o que precisamos saber sobre Deus e o que Ele
requer de nós. E, por fim, a revelação em nossa própria experiência, ou seja, o
poder das Escrituras sobre a nossa consciência. Elas nos ensinam que somos
pecadores e, por natureza, filhos da ira de Deus. Mas a Bíblia não nos deixa
nesse estado de desespero, antes, ela nos conduz a Jesus Cristo, “ no qual
temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos nossos pecados, segundo a
riqueza da sua graça”. Agora, temos um único dever inicial: crer, de coração,
em Jesus Cristo como Senhor e Salvador. Que façamos assim.
Nenhum comentário:
Postar um comentário