Leitura
Bíblica: Efésios 3:7-8
Introdução:
O Ap. Paulo nunca cessou de ficar maravilhado com o fato de ser “constituído
ministro da graça de Deus”. E, logo em seguida, acrescenta: “A mim, o menor de todos
os santos, me foi dada esta graça de pregar aos gentios o evangelho das
Insondáveis Riquezas de Cristo”. Por
qual razão ele ficou tão maravilhado? Ele nunca se esqueceu da sua vida
anterior; um perseguidor da Igreja. Como pode um Deus tão santo escolher tal
pecador para ser o seu ministro? Essa lembrança o humilhava, fazendo-o
confessar, de coração contrito: “Porque eu sou o menor dos apóstolos, que mesmo
não sou digno de ser chamado apóstolo, pois persegui a Igreja de Deus” (1Co.
15:9). Nesse contexto, podemos entender a razão pela qual repetia tantas vezes
o dom da graça de Deus. Somos salvos pela graça de Deus, (Ef. 2:8). O sentido
desta palavra, “graça”, está neste versículo: “Quando, porém, se manifestou a
benignidade de Deus, nosso Salvador, e o seu amor para com todos, não por obras
de justiça praticadas por nós, mas segundo sua misericórdia, ele nos salvou”
(Tt. 3:4-5). Deus não buscou em nós um mérito chamativo, antes, quando escolheu
o seu povo, Ele manifestou a sua benignidade e a sua misericórdia para com os
seus escolhidos. E, a partir desse ato, Ele “nos salvou mediante o lavar
regenerador e renovador do Espírito Santo” (Tt.3:5). Temos que reconhecer que
tudo o que temos é devido ao dom gratuito da graça de Deus. Como o Salmista
exclamou: “Não a nós, Senhor, não a nós, mas ao teu nome dá glória, por amor da
tua misericórdia e da tua fidelidade” (Sl. 115:1).
Com
essa introdução, estamos prontos para entender a exultação do Apóstolo para
“pregar aos gentios (pecadores) o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo”.
Devemos lembrar que essa graça não se limitou aos apóstolos, antes, é o dever
dos membros da Igreja, porque todos nós somos as testemunhas de Cristo, e temos
uma experiência da sua graça em nossa vida. As insondáveis riquezas de Cristo
são tão incalculáveis quanto a distância que Ele afasta de nós os nossos pecados
perdoados, (Sl. 103: 11-12). Por causa disso, a nossa compreensão dessas
riquezas é extremamente limitada. A Bíblia, porém, nos oferece muitas
indicações dessa riqueza, tais como:
1.
A Condescendência de Cristo. Para entender a condescendência de Cristo,
devemos sentir o contraste entre o seu estado na eternidade, antes da fundação
do mundo, e como Ele deixou tudo a fim de entrar neste mundo como servo.
a) O
seu estado na eternidade, “conhecido, com efeito, antes da fundação do mundo,
porém, manifestado no fim dos tempos, por amor de vós” (1Pe 1:20). Ele não foi
criado, porque Ele é “desde os dias da eternidade” (Mq. 5:2). Veja como a
Bíblia O introduz: “No princípio era o Verbo (Cristo, a Palavra viva de Deus),
e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com
Deus. Todas as coisas foram criadas por intermédio dele, e, sem ele, nada do
que foi feito se fez” (Jo. 1:1-3). Vemos Cristo na eternidade, assentado à
direita da majestade, coroado de glória e honra, com um nome que está acima de
todo nome, (Hb. 1:3; 2:7; Fp. 2:7). Por isso, Cristo podia falar da glória que
Ele teve, junto do Pai, antes que houvesse mundo, (Jo. 17:5). Na Bíblia,
percebemos uma igualdade entre o Pai e seu Filho Jesus Cristo. Ele confessou:
“Quem me vê a mim vê o Pai” e “Eu e o Pai somos um” (Jo. 14:9; 10:30). Agora,
chegando o tempo da encarnação de Jesus Cristo, lemos: “Pois ele, subsistindo
em forma de Deus, não julgou como usurpação o ser igual a Deus” (Fp. 2:6). Este
é aquele que veio para dar a sua vida em resgate por muitos, (Mc. 10:45).
Assim, temos um relance das insondáveis riquezas de Cristo; o dom de Deus para
nós, pecadores.
b) Como
Ele entrou neste mundo para servir. Apesar de ser igual a Deus, pois, “nele,
habita, corporalmente, toda a plenitude da Divindade” (Cl. 2:9), Ele, “a si
mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, tornando-se em semelhança de
homens; e, reconhecido em figura humana, a si mesmo se humilhou, tornando-se
obediente até à morte e morte de cruz” (Fp. 2:7-8). Quem pode sondar a
condescendência desse ato? A Bíblia descreve essa transição, dizendo: “Vindo,
porém, a plenitude do tempo, Deus enviou
seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para resgatar os que estavam
sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos” (Gl. 4:4-5). Uma das
insondáveis riquezas de Cristo é o que Ele fez a fim de que sejamos chamados
filhos de Deus. “Nisto consiste o amor: não em que nós tenhamos amado a Deus,
mas em que ele nos amou e enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos
pecados” (1Jo. 4:10). Agora, por causa dessa insondável riqueza de Cristo,
podemos comparecer perante o tribunal de Deus sem medo, porque os nossos
pecados estão encobertos e perdoados, pois Ele é a nossa propiciação; aquele
que encobre o nosso pecado.
2.
A Concordância de Cristo. Quando o conselho da Divindade (a
intercomunicação entre Pai, Filho e Espírito Santo) elaborou o plano para
redimir o seu povo mediante uma morte substitutiva, Jesus Cristo, imediatamente,
se apresentou, dizendo: “Eis aqui estou para fazer, ó Deus, a tua vontade” (Hb.10:9).
Ele sabia tudo o que essa decisão envolveria; encarnar-se, viver no meio de
pecadores, ser desprezado, e, finalmente, morto por crucificação. Esse ato não
foi uma imposição feita por ninguém, antes, foi uma decisão inteiramente livre
e espontânea. E qual a explicação? “Cristo nos amou e se entregou a si mesmo
por nós, como oferta e sacrifício a Deus, em aroma suave” (Ef. 5:2). Nesse ato,
percebemos as insondáveis riquezas do amor de Cristo. Falando da sua morte
vicária, Ele disse: “Ninguém a tira de mim; pelo contrário, eu espontaneamente
a dou. Tenho autoridade para a entregar e também para reavê-la. Este mandato
recebi de meu Pai” (Jo. 10:18). Observemos dois aspectos de concordância que
Cristo assumiu:
a) A
sua vida entre os pecadores. A Bíblia registra estes lamentáveis feitos quanto
à recepção que Cristo recebeu dos homens: “Veio para os que eram seus, e os
seus ( o povo que confessava o nome de Deus) não o receberam” (Jo.1:11). A
partir dessa rejeição, Ele “era desprezado e o mais rejeitado entre os homens;
homem de dores e que sabe o que é padecer; e, como um de quem os homens
escondem o rosto, era desprezado, e dele não fizeram caso” (Is. 53:3). E,
apesar de seus atos de misericórdia, lemos, repetidamente: Os fariseus
conspiravam contra ele, em como lhe tirariam a vida, (Mc. 3:6). Cristo já
previu e aceitou calmamente o que lhe aconteceria, dizendo aos discípulos:
“Pois será ele (o Filho do homem) entregue aos gentios, escarnecido, ultrajado
e cuspido; e, depois de o açoitarem, tirar-lhe-ão a vida”. Mas, embora sabendo
que tudo isso aconteceria, Ele não quis desistir da sua missão redentora. Por
quê? Porque soube que “ao terceiro dia ressuscitaria” (Lc. 18:31-33). Quem pode
medir as insondáveis riquezas do amor de Cristo, quando aceitou o desafio de
dar a sua vida dessa maneira por nós, pecadores, que, por natureza, não temos o
temor de Deus!
b) O
que aconteceu quando Cristo estava dando a sua vida? Estava “carregando ele
mesmo em seu corpo, sobre o madeiro, os nossos pecados” (1Pe. 2:24). Temos que
entender e acreditar que, dentro dos propósitos do conselho da Divindade,
Cristo estava pagando o preço da nossa redenção. E, por causa da sua morte
vicária, Cristo recebeu esta promessa: “Ele verá o fruto do penoso trabalho de
sua alma e ficará satisfeito; o meu servo, o Justo, com o seu conhecimento,
justificará a muitos, porque as iniqüidades deles levará sobre si” (Is. 53:11).
Novamente, vamos meditar sobre as insondáveis riquezas de Cristo, acreditando,
agora, que, nele, “temos a redenção,
pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef.
1:7). O que está implícito nesse ato de crer? A Bíblia nos dá este exemplo: “E,
do modo por que Moises levantou a
serpente (de bronze) no deserto, assim
importa que o Filho do homem seja levantado, para que todo o que nele
crê tenha a vida eterna” (Jo. 3:14-15). Quando um israelita foi mordido por uma
serpente abrasadora, “se olhava para a de bronze, sarava”(Nm. 21:9). Sem qualquer
obra meritória, apenas em obediência à providência de Deus, um simples olhar
pela fé era suficiente para ser salvo. O primeiro passo é sempre crer no que
Cristo fez por nós, e todas as demais questões serão resolvidas.
3.
A Constância de Cristo. Quando Cristo estava perto de dar a sua vida em resgate por muitos, ele
deixou para todos os seus seguidores uma abundância de promessas auxiliadoras.
Ouça o que o Ap. Pedro diz: “Visto como, pelo seu divino poder nos tem sido
doadas todas as coisas que conduzem à vida e à piedade, pelo conhecimento
completo daquele que nos chamou para a sua própria glória e virtude, pelas
quais nos têm sido doadas as suas
preciosas e mui grandes promessas, para
que, por elas, vos torneis co-participantes da natureza divina, livrando-vos da
corrupção, das paixões que há no mundo” (2Pe. 1:3-4). Por estarmos em Cristo,
temos a promessa de receber quatro dádivas que são essenciais para se ter uma vida cristã; cada uma
revelando as insondáveis riquezas de Cristo. E, pela constância de Cristo,
podemos experimentar a suficiência de
suas promessas para suprir cada uma de nossas necessidades, porque Ele mesmo
prometeu: “E eis que estou convosco todos os dias até a consumação do século”
(Mt. 28:20). Eis as quatro dádivas: “Mas vós sois de Deus em Cristo Jesus, o
qual se nos tornou da parte de Deus: sabedoria, e justiça, e santificação e
redenção” (1Co. 1:30).
a) Sabedoria.
Nós somos insensatos, mas a nossa sabedoria provém de Cristo. Como podemos
receber essa sabedoria? Pela oração e pela leitura das Escrituras. “Se, porém,
algum de vós necessita de sabedoria, peça a Deus, que a todos dá liberalmente e
nada lhes impropera; e ser-lhe-á concedida” (Tg.1:5). “Compreendo mais do que
todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos” (Sl. 119:99). O Apóstolo
Paulo, em suas orações pelas igrejas, pediu que elas transbordassem “em toda a
sabedoria e entendimento espiritual; a fim de viverdes de modo digno do Senhor,
para o seu inteiro agrado” (Cl. 1:9-11). Precisamos dessa sabedoria para que a
insensatez da nossa imaturidade não impeça o progresso do evangelho. O
importante é que nos tornemos “sábios para a salvação pela fé em Cristo Jesus”
(2Tm 3:15).
b) Justiça.
Nós somos culpados, mas a nossa justiça provém de Cristo. A pergunta pungente
continua inquietando o coração de muitos: “Na verdade, sei que assim é; porque,
como pode o homem ser justo para com Deus?” (Jó 9:2). Por seu próprio esforço,
é uma impossibilidade. “E é evidente que, pela lei, ninguém é justificado
diante de Deus” (Gl. 3:11). A nossa única esperança é acreditar na providência
de Deus para a nossa justiça. “Seremos justificados gratuitamente, por sua
graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm. 3:24). A exortação é
esta: “Mas revisti-vos do Senhor Jesus Cristo e nada disponhais para a carne”
(Rm. 13:14). É um ato de fé. Cremos e agimos de acordo com o contexto. E qual
será o resultado? “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por
meio de nosso Senhor Jesus Cristo” (Rm. 5:1).
c) Santificação.
Nós somos corrompidos, mas a nossa santificação provém de Cristo. A nossa
santificação foi providenciada mediante a morte, sepultamento e ressurreição de
Jesus Cristo. Romanos 6 deve ser estudado cuidadosamente a fim de entender
melhor esse assunto. Mas devemos esclarecer um ponto de suma importância.
Quando o Apóstolo usa a palavra “batismo” nesse capítulo, ele não está fazendo
nenhuma referência ao sacramento do batismo que a Igreja observa, antes, o
termo se refere à nossa união com Cristo, conforme a exposição do versículo 5.
Resumidamente, quando Cristo morreu, Ele morreu para o pecado; e nós, unidos
com Ele, também morremos para o pecado. Semelhantemente, quando Cristo foi
sepultado, nós fomos sepultados com Ele. O poder do pecado sobre a nossa vida
ficou encerrado, foi sepultado para nunca mais nos escravizar. E, por fim,
quando Cristo ressuscitou, nós, também, ressuscitamos com Ele, para andarmos em
novidade de vida. O que significa tudo isso? “Agora, porém, libertados do
pecado, transformados em servos de Deus, tendes o vosso fruto para a
santificação e, por fim, a vida eterna” (Rm. 6:22). Agora, vamos sempre lembrar
da verdade intocável: “ E, assim, se alguém está em Cristo (unido com Ele), é
nova criatura; as coisas antigas já passaram; e eis que se fizeram novas” (2Co.
5:17).
d) Redenção.
Nós somos encarcerados, mas a nossa redenção provém de Cristo. Nos tempos
antigos, o endividado ficava na prisão até que fosse paga toda a sua dívida
(Lc. 12:58-59). Mas como podia um encarcerado pagar a sua dívida? Ele era
dependente de um resgatador e, se não tivesse um, morreria no cárcere. Assim,
nós, também, ficamos impossibilitados de pagar a dívida do nosso pecado. Mas
Deus, em sua misericórdia infinita, providenciou um Resgatador para o seu povo,
um que pagaria toda a sua dívida. Jesus Cristo é este Resgatador, “ no qual
temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da
sua graça” (Ef. 1:7). Em cada um desses quatro itens, temos uma mina das
insondáveis riquezas de Cristo. Que elas sejam o assunto em nossas meditações
espirituais todos os dias!
Conclusão:
Vamos lembrar que nós somos as testemunhas de Jesus Cristo. Portanto, devemos
cultivar o mesmo sentimento que houve no Ap. Paulo: “A mim, o menor de todos os
santos, me foi dada esta graça de pregar (testemunhar) aos gentios (pecadores)
o evangelho das insondáveis riquezas de Cristo”. E, finalmente, vamos sentir a
responsabilidade implícita na palavra do Apóstolo: “Ora, além disso, o que se
requer dos despenseiros (o que nós somos) é que cada um deles seja encontrado
fiel” (1Co. 4:2).
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