Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura Bíblica: Hebreus 1:1-7
Introdução: Vamos
meditar sobre a doutrina da nossa fé. Por que julgo necessário abordar esse
assunto? Porque Cristo disse: “Contudo, quando vier o Filho do homem, achará,
porventura, fé na terra?” (Lc. 18:8). Evidentemente, chegando perto da Segunda
Vinda de Cristo, a fé salvadora em Jesus Cristo será algo bem insólito. Qual a
razão desse acontecimento? Novamente, Cristo explica: “E, por se multiplicar a
iniquidade, o amor se esfriará de quase todos. Aquele, porém, que perseverar
até o fim, esse será salvo” (Mt. 24:12-13). Qual é a causa desse esfriamento? É
o aumento assustador da iniquidade, mas não apenas isso, parece que, apesar das
nossas orações, Deus não está respondendo. A iniquidade continua aumentando
cada vez mais; assim nasce o desânimo. O Apóstolo descreveu essa situação,
dizendo: “Sabe, porém, isto: nos últimos dias,
sobrevirão tempos difíceis, pois os homens serão egoístas, avarentos,
jactanciosos, arrogantes, blasfemadores, desobedientes aos pais, ingratos,
irreverentes, desafeiçoados, implacáveis, caluniadores, sem domínio de si,
cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos,
enfatuados, mais amigos dos prazeres que amigos de Deus, tendo forma de
piedade, negando-lhe, entretanto, o
poder. Foge também destes” (2 Tm. 3:1-5). O domínio desses pecados, em nossos
dias, é uma realidade inegável. Mas a Bíblia ensina: “Todo o que é nascido de
Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo.
5:4). Uma das atividades principais de Satanás é minar a fé do povo de Deus. A
tática é bem sutil: em vez de negar a fé, ele procura redirecioná-la. Em vez de
olhar firmemente para o nosso Senhor e Salvador, ele encoraja a pessoa a usar a
sua fé para cuidar da sua vida física, buscando a cura das enfermidades; ou
para aumentar a sua situação financeira; enfim, o mais importante é o bem estar
nesta vida. Com essa preocupação, Cristo, e a vida eterna ficam praticamente
excluídos. Qual é o fim principal da nossa fé? “A salvação da nossa alma”, pela
fé em Jesus Cristo, (Pe. 1:6-9). Sabendo que toda a nossa esperança espiritual
depende da nossa fé, Satanás não se cansa de tentar desviá-la, por isso, o
alerta é: “Sede sóbrios e vigilantes. O diabo, vosso adversário, anda em derredor,
como leão que ruge procurando alguém para devorar, resisti-lhe firmes na fé”
(1Pe. 5:8-9). A chave é “Permanecei firmes na fé” (1Co. 16:13).
Agora, vamos definir a fé verdadeira, a fé que nos dá o poder para
contemplar o invisível: “Visto que andamos por fé e não pelo que vemos” (1Co.
5:7). Vamos imaginar que estamos olhando dentro da negridão do espaço vazio e
silencioso. De repente, ouvimos uma voz; o nosso coração se enche com uma
certeza: algo há de acontecer. A voz dá uma ordem: “Haja luz”, e, imediatamente,
as trevas desaparecem. “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela
palavra de Deus de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”. O primeiro versículo
define a natureza da fé: “Ora, a fé é a certeza de coisas que se esperam”.
Quais são as “coisas que se esperam”? As
revelações que Deus tem falado e prometido. E, sabendo que o que a palavra que
Deus fala não pode se descumprir, temos a convicção de fatos (que Deus tem
falado), “fatos que não se vêem”. Não há
necessidade de buscar uma definição melhor. Cremos na veracidade de tudo o
que Deus tem falado, pois ele não pode
mentir, (Tt 1:2). As promessas que Deus tem nos dado são todas registradas nas
Escrituras Sagradas, por isso, podemos confiar em cada uma. “Porque quantas são
as promessas de Deus, tantas têm nele o sim; porquanto também por Ele é o amém
para glória de Deus, por nosso intermédio”, isto é, os ministros de Deus
glorificam a Deus quando anunciam a sua confiança na infalibilidade dessas
promessas, (2Co. 1:30). Mas, quais são as pessoas que podem viver essa fé?
Somente aquelas que são nascidas de novo.
O homem natural, não regenerado, não pode e nem pensa nas possibilidades
da fé, porque os seus desejos estão concentrados em agradar a sua própria carne.
A nossa espiritualidade começa somente depois de termos sido regenerados e
dotados com os dons concedidos pelo Espírito Santo. A fé é o dom principal,
pois sem o uso dela, “é impossível agradar a Deus”. Vamos usar duas ilustrações
a fim de descobrir como a fé foi praticada pelos heróis de Hebreus, capítulo
onze.
A Primeira Ilustração é de Noé, V.7. Ele ouviu a palavra de
Deus, avisando-o da destruição vindoura de todos os seres vivos por causa da
corrupção maliciosa dos homens. Qual foi a reação de Noé ao ouvir essa
revelação? Ele creu e temeu, porque soube que o mundo inteiro seria atingido,
inclusive ele e sua família. Mas Deus
foi misericordioso e revelou-lhe o meio pelo qual ele e a sua família seriam
salvos. Deus lhe ordenou para aparelhar uma arca para a salvação de sua
família. Noé obedeceu e, imediatamente, começou a construção, “pela qual
condenou o mundo (que zombava da sua fé na palavra de Deus) e se tornou
herdeiro da justiça”. Notemos três passos que descrevem a sua fé: Ele ouviu a
palavra de Deus dando-lhe instruções; creu nela; e agiu de acordo com a
orientação recebida. Assim, ele e a sua família, pela fé, foram salvos daquela
destruição.
A Segunda ilustração é de Abraão. “Pela fé, Abraão, quando
chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e
partiu sem saber aonde ia”. Notemos, novamente, os mesmos três passos que
sempre caracterizam a verdadeira fé: Abraão ouviu a ordem da palavra de Deus;
creu na veracidade da promessa; e agiu de acordo com as instruções. Ele não
ficou decepcionado. A fé sempre se manifesta pela obediência. Pela fé, Abraão,
quando chamado, obedeceu.
No Novo Testamento, a fé obedece aos mesmos três passos: “Depois que
ouvistes a palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação, tendo nele também
crido, fostes selados com o Santo Espírito da promessa, o qual é o penhor da
nossa herança, até ao resgate da sua propriedade, em louvor da sua glória” (Ef.
1:13-14). Para nos tornarmos nascidos de novo, temos que ouvir uma mensagem específica:
“A palavra da verdade, o evangelho da vossa salvação”; depois de ouvir, temos
que crer no que ouvimos, não apenas de maneira intelectual, mas, sim, “com o
coração” (Rm. 10:10); depois de crer, temos que agir, isto é: entregar nossa
vida aos cuidados de Jesus Cristo. Como Ele mesmo disse: “Vinde a mim, todos os
que estais cansados e sobrecarregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o
meu jugo e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis
descanso para a vossa alma” (Mt. 11:28-29). E, para ratificar esses três passos,
ouvir, crer e agir, recebemos o dom do Espírito Santo, o qual “testifica com o
nosso espírito que somos filhos de Deus” (Rm. 8:16).
Fé e crer são quase sinônimos. Quando cremos, reconhecemos a
veracidade da palavra ouvida; fé significa que vemos a substância da palavra
indicada, embora seja invisível. Simeão recebeu a promessa de que “não passaria
pela morte antes de ver o Cristo do Senhor”. Ele creu. E, movido pelo Espírito, agiu pela
fé, foi ao templo, e lá teve o privilégio de tomar nos braços o recém-nascido
Salvador, e disse: “Agora, Senhor, podes despedir em paz o teu servo, segundo a
tua palavra, porque os meus olhos já viram a tua salvação” (Lc. 2:25-30). Cremos
que Jesus Cristo nos deu a promessa da vida eterna e, pela fé, já estamos
vislumbrando as glórias de estarmos com Ele para sempre.
Existem muitas realidades, embora invisíveis, mas que aceitamos pela
fé, porque são revelações dadas por Deus, para a nossa instrução e consolo
espiritual. “Pela fé, entendemos que foi o universo formado pela palavra de
Deus, de maneira que o visível veio a existir das coisas que não aparecem”. No
início, não existia nenhuma coisa material, senão uma vastidão ilimitada do
nada. Então, como surgiu o universo, que é material? As especulações humanas
são incontáveis, porém, sempre baseadas em algo existente. Contudo, no início,
não havia nada, nem uma forma de gás, portanto, tais hipóteses devem ser
equívocas. Por que o homem natural insiste
nesses estudos? Porque ele tenta explicar tudo sem a necessidade de admitir a
existência de um Deus poderoso e criador.
Esse ponto nos leva a considerar outra verdade que aceitamos pela fé,
embora seja invisível aos olhos humanos. “De fato, sem fé, é impossível agradar
a Deus, porquanto é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que Ele
existe e que se torna galardoador dos que o buscam”. Quanto à existência de
Deus, o Apóstolo ensinou: “Porquanto o que de Deus se pode conhecer é
manifestado entre os homens, porque Deus lhes manifestou” (Rm. 1:19). As obras
da criação declaram a sua existência, por isso, os homens são indesculpáveis
diante de Deus no Dia do julgamento, se não crerem e testemunharem da sua
realidade.
Outra verdade que devemos aceitar pela fé é a auto-revelação de Deus.
Ele tem prazer em manifestar-se ao homem, visto que é “galardoador dos que o
buscam”. Que tipo de galardão podemos esperar da mão de Deus? Talvez depende do
que nos motivou a buscá-lo. Se nós orarmos: “Ensina-me a fazer a tua vontade,
pois tu és o meu Deus; guia-me o teu bom Espírito por terreno plano” (Sl.
143:10). O galardão será uma resposta favorável. Ele mesmo dos dará a revelação
da sua vontade. Essa foi a experiência do Apóstolo Paulo, (At. 22:14-15; Gl.
1:11-12). Sempre pedimos baseado no que está revelado nas Escrituras Sagradas.
Pela fé, podemos confessar: “De manhã, Senhor, ouves a minha voz e as minhas
súplicas” (Sl. 5:3). Pela fé, acreditamos que o nosso Deus está sempre
acessível e pronto para ouvir a nossa oração, apoiado pelo ensino da Bíblia,
porque Ele é “galardoador dos que o buscam”.
Para algumas pessoas, o maior desafio à sua fé é crer que “Deus é
amor” (1Jo.4:6). Sem anular os demais atributos divinos, cremos que Ele nos “atrai
com cordas humanas, com laços de amor” (Os.11:4). O seu amor é eterno,
(Jr.31:3). Mas, o incrédulo intercepta: Se Deus é amor, por que Ele deixa tanta
selvageria acontecer contra inocentes? Embora não tenhamos respostas para tudo,
cremos que Deus é soberano e que Ele é servido em deixar certas coisas
negativas acontecerem para nos convencer da crueldade do pecado que existe no
coração de cada ser humano. Temos que
sentir um verdadeiro nojo do pecado, não apenas o que está em outrem, mas
também, presente em nossa própria vida (Ez.6:9). Pela FÉ, cremos que o Senhor
tem domínio absoluto sobre tudo o que acontece neste mundo. Cristo, falando sobre o domínio de Deus, disse: “Não
se vendem cinco pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em
esquecimento diante de Deus. Até os cabelos da vossa cabeça estão todos
contados. Não temais! Bem mais valeis do que muitos pardais” (Lc. 12:6-7). Com
essas palavras, reafirmamos a nossa fé, confessando ao Senhor: “O teu reino é
de todos os séculos e o teu domínio
subsiste por todas as gerações. O Senhor é fiel em todas as suas palavras e
santo em todas as suas obras” (Sl. 145:13). Mas, para o povo de Deus, a sua fé
afirma: “Sabemos que todas as coisas
cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados
segundo o seu propósito” (Rm. 8:28). Apesar de não entendermos, no momento,
tudo o que acontece em nossa vida,
Cristo disse: “O que eu faço não o sabes
agora; compreendê-lo-ás depois” (Jo. 13:7).
Talvez José não entendeu a razão de ser
tratado com tanta injustiça, porém, quando Faraó lhe disse: “Visto que Deus te fez saber
tudo isto, ninguém há tão ajuizado e sábio como tu. Administrarás a minha casa,
e à tua palavra obedecerá todo o meu povo; somente no trono eu serei maior que tu"; então, José entendeu o
motivo de tudo o que lhe sobreviera desde a traição de seus irmãos, (Gn.
41:39-40). Mais tarde, José pôde perdoar os seus irmãos, dizendo-lhes: “Eu sou
José, vosso irmão, a quem vendestes para o Egito. Agora, pois, não vos
entristeçais, nem irriteis contra vós mesmos por me haverdes vendido para aqui;
porque, para conservação da vida, Deus
me enviou adiante de vós” (Gn.45:3-4; 50:19-21). Assim, podemos descansar na
soberania divina.
Para terminar, queremos demonstrar como Deus ama. “Porque Deus amou ao
mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele
crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo. 3:16). Esse é um apelo universal
e irrestrito para toda a humanidade, porém, a condição é única: temos que crer
que foi Deus que tomou a iniciativa para nos salvar, enviando o seu próprio
Filho para “buscar e salvar o perdido” (Lc. 19:10). “Nisto se manifestou o amor
de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para
vivermos por meio dele” (em total dependência dele, não apenas nesta vida, mas,
também, para aquela que teremos depois da nossa partida deste mundo). Nisto
consiste o amor: não em que nós temos
amado a Deus, mas em que Ele nos amou e
enviou o seu Filho como propiciação pelos nossos pecados” (1Jo. 4:9-10). Todos
nós somos pecadores e, se comparecermos em tal estado perante o tribunal,
a sentença da morte (uma eternidade sem
a presença consoladora de Deus) será irrevogável. Pela fé, cremos que Deus
abriu, em Cristo, a oportunidade de salvação, porque, somente nele, “temos a
redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua
graça” (Ef. 1:7). Pela fé, cremos que Cristo foi enviado “como propiciação
pelos nossos pecados”, o único que pode encobrir o nosso pecado, para que nunca
mais se levante contra nós para nos condenar. “Filhinhos, agora permanecei em
Cristo, para que quando Ele se manifestar, tenhamos confiança e dele não nos
afastemos envergonhados na sua vinda” (1Jo. 2:28). Com essas verdades gravadas
em nossa mente, somos exortados: “Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo
(aquele que encobre o nosso pecado) e nada disponhais para a carne no tocante
às suas concupiscências” (Rm. 13:14). O nosso desejo para cada um de vocês, é
“crescei na graça e no conhecimento do nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo. A
Ele seja a glória tanto agora como no dia eterno” (2Pe. 3:18). Amém.
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