Leitura Bíblica: Atos 8:26-40
Introdução: Vamos recordar, por um momento, o que aconteceu naquele Dia de Pentecostes, quando o Espírito Santo foi derramado, de acordo com a profecia do profeta Joel, (At. 2:16). Enquanto o Ap. Pedro explicava as Escrituras, o Espírito Santo estava agindo poderosamente, convencendo os seus ouvintes de seus pecados, (At. 2:37). Naquele dia, quase três mil pessoas se converteram e passaram a crer que o conhecido Jesus, crucificado, morto e ressuscitado, foi, de fato, o prometido Cristo. Qual foi a disposição desses recém-convertidos? “Louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor dia a dia os que iam sendo salvos” (At. 2:47).
Mas, dessa cena de alegria no Senhor, houve, de repente, uma mudança dramática. Os inimigos do povo de Deus reagiam com uma violência assustadora. “Naquele dia, levantou-se grande perseguição contra a Igreja em Jerusalém (onde o Espírito Santo fora derramado, dando início à necessária obra de regeneração entre os povos); e todos, exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judéia e Samaria” (At. 8:1).
Devemos fazer uma pergunta séria: Por que o Senhor permitiu essa perseguição que causou tanto sofrimento aos recém-convertidos? É um recurso que Deus usou a fim de ensinar ao seu povo lições essenciais. Ele fez Israel passar por necessidades para sondar seus corações: “Recordar-te-ás de todo o caminho pelo qual o Senhor, teu Deus, te guiou no deserto estes quarenta anos, para te humilhar, para te provar, para saber o que estava no teu coração, se guardarias ou não os seus mandamentos. Ele te humilhou, e te deixou ter fome, e te sustentou com o maná, que tu não conhecias, nem teus pais o conheciam, para te dar a entender que não só de pão viverá o homem, mas de tudo o que procede da boca do Senhor viverá o homem” (Dt. 8:2-3). Agora, podemos fazer uma segunda pergunta importante: Qual foi a lição que a Igreja primitiva tinha que aprender? Ela, em sua grande alegria e conforto espiritual em Jerusalém, estava se esquecendo das últimas palavras de Cristo: “Sereis as minhas testemunhas tanto em Jerusalém como em toda a Judéia e Samaria e até os confins da terra” (At. 1:8). Por causa dessa perseguição, a Igreja se achou nas “regiões da Judéia e Samaria ... pregando a palavra” (At.8:1,4). Por causa dessa dispersão, também, Felipe recebeu a oportunidade abençoada para evangelizar o eunuco e vê-lo convertido e “seguindo o seu caminho, cheio de júbilo”. Por que esse júbilo? Porque, agora, tinha entendido o sentido das Escrituras e tinha crido, de todo o coração, que “Jesus Cristo é o Filho de Deus” (At. 8:37). Vamos prosseguir e entender as circunstâncias desse encontro de Felipe com o eunuco.
1. A Disponibilidade do Eunuco. Quem era esse homem que Deus separou para revelar-lhe o seu amor? Ele era “alto oficial de Candace, rainha dos etíopes, superintendente de todo o seu tesouro, que viera adorar em Jerusalém”. O que mais podemos dizer? Por ser etíope, ele era negro e desprezado pelos judeus; porém, não por Deus. Esse eunuco foi o cumprimento de uma das mais preciosas profecias do Antigo Testamento; uma verdade que a Igreja tinha que reconhecer e aceitar. Na reunião especial dos apóstolos e presbíteros em Jerusalém: “Havendo grande debate, Pedro tomou a palavra e lhes disse: Irmãos, vós sabeis que, desde há muito, Deus me escolheu dentre vós para que, por meu intermédio, ouvissem os gentios a palavra do evangelho e cressem. Ora, Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, concedendo o Espírito Santo a eles, como também a nós (os judeus) nos concedera. E não estabeleceu distinção alguma entre nós (os judeus) e eles (os gentios), purificando-lhes pela fé o coração. Agora, pois, por que tentais a Deus, pondo sobre a cerviz dos discípulos (a necessidade da circuncisão) um jugo que nem nossos pais puderam suportar, nem nós? Mas cremos que fomos salvos pela graça do Senhor Jesus, como também aqueles o foram” (At. 15:7-11). Como é bom entender: “Dessarte, não pode haver judeu, nem grego; nem escravo, nem liberto; nem homem, nem mulher; porque todos vós sois um em Cristo Jesus. E, se sois de Cristo, também sois descendentes de Abraão e herdeiros segundo a promessa” (Gl. 3:28-29).
Como é que esse eunuco, um gentio, chegou a ter interesse no culto ao Deus verdadeiro? Não sabemos nada sobre a vida anterior desse homem, mas a Bíblia nos oferece a melhor e a mais segura resposta. Deus, em toda a sua soberania, responde: “Fui achado pelos que não me procuravam, revelei-me aos que não perguntavam por mim” (Rm. 10:20). De uma maneira misteriosa, o Espírito Santo começou a despertar a consciência desse eunuco. Como oficial de uma país, talvez tivesse oportunidade para viajar e visitar outros países à procura de negócios. Nessas andanças, ele conheceu outras culturas e religiões, inclusive a dos judeus e o seu modo diferente de praticar a sua crença. Pela ação do Espírito Santo, o seu interesse foi despertado. Não sabemos nada sobre o processo da sua experiência espiritual, mas ele reconheceu a verdade do Deus cultuado pelos judeus e começou a “adorar em Jerusalém”. O próximo passo do Espírito Santo foi colocar uma porção das Escrituras Sagradas em suas mãos. O Espírito Santo lhe deu o Livro de Isaías, e ele começou a ler por si mesmo a Palavra de Deus. Encontramos com ele voltando para o seu país, “assentando no carro, vinha lendo o profeta Isaías”. Esse é sempre o costume do Espírito Santo, que vivifica o interessado para ouvir e ler as Escrituras, porque “a fé vem pela pregação, e a pregação pela palavra de Cristo” (Rm. 10:17). As pessoas em “Beréia eram mais nobres que os Tessalônicos; pois receberam a palavra com toda a avidez, examinando as Escrituras todos os dias para ver se as coisas eram, de fato, assim. Com isso, muitos deles creram, mulheres gregas de alta posição e não poucos homens” (At. 17:11-12). Por isso, o Espírito Santo insiste em colocar a Palavra de Deus nas mãos daqueles que estão recebendo o seu ministério vivificador. Agora, estamos prontos para ouvir mais sobre o poder da Palavra de Deus na vida do eunuco. Ele estava com dificuldades para entender a parte que estava lendo; mas o Espírito Santo lhe enviou um homem que o ajudou a entender a palavra profética.
2. A Disponibilidade de Filipe. Filipe foi um dos sete homens escolhidos para servir a Deus como diácono na Igreja em Jerusalém. Esses homens tinham uma boa reputação entre o povo e foram escolhidos como cristãos cheios do Espírito Santo e de sabedoria, (At. 6:3). Agora, por causa da perseguição, todos fugiram, deixando para trás os seus bens, a fim de se salvar, pois esse encalço já fechara muitos fiéis nas prisões, enquanto outros tinham sido assassinados, (At. 26:10). Embora a perseguição possa causar muito sofrimento, ela não tem poder para prejudicar a fé daqueles que estão “arraigados e alicerçados” em Jesus Cristo; e, como prova, vemos Filipe, agora em Samaria, ainda cheio do Espírito Santo, pregando o Evangelho com um poder extraordinário: “Pois os espíritos imundos de muitas pessoas saíram gritando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos foram curados. E houve grande alegria naquela cidade” (At. 8:7-8).
Enquanto estava realizando um trabalho intenso, onde o Senhor estava visitando muitas pessoas com bênçãos especiais, “um anjo do Senhor falou a Filipe, dizendo: Dispõe-te e vai para o lado sul, no caminho que desce de Jerusalém a Gaza; este se acha deserto. Ele se levantou e foi”. Para esse homem de Deus, não foi difícil deixar um trabalho movimentado e abençoado, porque ele tinha uma prioridade em sua vida: obediência a Deus, sem se preocupar com circunstâncias. Não sabemos quais foram os pensamentos íntimos desse servo de Deus, indo para um lugar desértico; deixando as multidões aos cuidados de Deus. Filipe tinha a mesma disposição do patriarca: “Pela fé, Abraão, quando chamado, obedeceu, a fim de ir para um lugar que devia receber por herança; e partiu sem saber aonde ia” (Hb. 11:8). A Bíblia dá muita ênfase sobre a importância da obediência. Por sermos regenerados pelo Espírito Santo, somos reconhecidos como “filhos da obediência” (1Pe. 1:14). Por causa de seu compromisso para obedecer a Deus em tudo, Pedro e os demais apóstolos recusaram obedecer à determinação do Sinédrio, o tribunal mais importante em Israel, confessando: “Antes, importa obedecer a Deus do que aos homens” (At. 5:29). E, qual foi o preço desse ato de desobediência à lei? Eles foram açoitados, as autoridades repetindo a advertência para não falarem mais em nome do Senhor Jesus Cristo. Mas, será que eles ficaram intimidados, depois de serem açoitados? Não, de forma alguma. “E eles se retiraram do Sinédrio regozijando-se por terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome. E, todos os dias, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e pregar Jesus Cristo” (At. 5:40-42). Somente depois de obedecer a Deus é que entenderemos os seus propósitos de dar ordens a seus servos. Filipe obedeceu à ordem e foi para o lugar indicado, e, lá, encontrou com o eunuco, sedento para ouvir a explicação do texto que estava lendo. Cremos que Filipe foi o homem mais indicado para essa missão, pois estava cheio do Espírito Santo e de sabedoria.
3. A Disponibilidade do Eleito. Filipe, em obediência à palavra do Senhor, logo se achou no caminho indicado pelo anjo, e, evidentemente, no mesmo momento, o carro do eunuco apareceu, andando a passo fácil, porque Filipe não apenas podia acompanhar o carro, mas, também, podia ouvir o que o eunuco estava lendo. Talvez Filipe tivesse concluído: Agora estou entendendo por quê o Senhor me enviou a esse lugar. É mais uma oportunidade para pregar Jesus Cristo e este crucificado.
Novamente, seguindo a direção do Espírito Santo, Filipe ouviu a ordem: “Aproxima-te desse carro e acompanha-o”. E o texto continua descrevendo a obediência desse servo de Deus: “Correndo Filipe, ouviu-o ler o profeta Isaías e perguntou: Compreendes o que vens lendo?” E, com uma certa perplexidade, o eunuco respondeu: “Como poderei entender se alguém não me explicar?”. Agora, vamos dar uma pausa por um momento a fim de refletir sobre a soberania de Deus e como Ele tem acesso à consciência e à vontade de qualquer pessoa. Por que o eunuco, um alto oficial de uma rainha, convidou um estranho que, por acaso, encontrou numa estrada solitária, “a subir e a sentar-se junto a ele?” O Espírito Santo estava agindo, fazendo com que o eunuco entendesse que Filipe era um servo de Deus enviado por Ele. E, com essa convicção, estava pronto para ouvir a explicação de Filipe.
“Ora, a passagem da Escritura que estava lendo era esta: Foi levado como ovelha ao matadouro; e, como um cordeiro mudo perante o seu tosquiador, assim ele não abriu a boca. Na sua humilhação, lhe negaram justiça; quem lhe poderá descrever a geração? Porque da terra a sua vida é tirada”. Eis a dificuldade do eunuco: “Peço-te que me expliques a quem se refere o profeta. Fala de si mesmo ou de algum outro? Que momento propício para pregar o evangelho de Jesus Cristo e este crucificado!
“Então, Felipe explicou; e começando por esta passagem da Escritura, anunciou-lhe Jesus”. Não temos o registro da sua explicação; porém, seguindo o texto de Isaías, podemos sugerir três temas: A) Filipe identificou o Sofredor no texto como Jesus Cristo, O filho de Deus, “que é o resplendor da glória e a expressão exata de seu Ser” (Hb. 1:3). Assim, Jesus Cristo foi Deus, “manifestado na carne”, (1Tm. 3:16). “Emanuel, que quer dizer: Deus conosco”, (Mt. 1:23). B) Filipe explicou o sofrimento de Cristo em termos de sacrifício, como oferta a Deus, (Ef. 5:2). “Pois também Cristo morreu, uma única vez, pelos pecados, o justo pelos injustos, para conduzir-nos a Deus; morto, sim, na carne, mas vivificado no espírito”, isto é, ressuscitado dentro os mortos, (1Pe. 3:18). C) Filipe enfatizou a necessidade de crer nessas verdades, testemunhar delas, e consagrar a sua vida à obediência. Cristo disse: “Aquele que tem os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama; e aquele que me ama será amado por meu pai, e eu também o amarei e me manifestarei a ele” (Jo. 14:21).
A certa altura, o eunuco sentiu a necessidade de ser identificado com o povo de Deus, por isso perguntou: “Eis aqui água; que impede que seja eu batizado? Filipe respondeu: É licito, se crês de todo o coração. E, respondendo ele, disse: Creio que Jesus Cristo é o filho de Deus”. E, logo depois do ato do batismo, “o Espírito do Senhor arrebatou Filipe, não vendo mais o eunuco; e este foi seguindo o seu caminho, cheio de júbilo”. Não sabemos mais a respeito do eunuco, mas quanto ao seu futuro e permanência na fé, confessamos junto com o Ap. Paulo: “Estou plenamente certo de que aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até o Dia de Cristo Jesus” (Fp.1:6).
Conclusão: A história do eunuco está sendo repetida constantemente na vida de muitas outras pessoas. De uma maneira misteriosa, o Espírito Santo desperta a consciência de seu povo escolhido para buscar, através das Escrituras, a verdade que saciará a sua necessidade espiritual. E, se tiver alguma dificuldade para entender o plano da salvação, o mesmo Espírito Santo providenciará uma pessoa fiel para lhe conduzir à certeza da salvação pela fé em Jesus Cristo. Devemos orar para que mais pessoas sejam atraídas a Jesus Cristo, pois, “nele temos a redenção pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça”. Amém.
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