Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura Bíblica: Hebreus 12:1-3
Introdução: Vamos contemplar, por um momento, o sentido da vida
cristã: Temos uma carreira para completar; mas, não estamos sozinhos, temos uma
grande nuvem de testemunhas que assumiram a mesma carreira e a completaram
vitoriosamente. E, se perguntarmos: Como elas conseguiram vencer todos os
obstáculos? Respondemos: Elas contemplaram o galardão, olhando firmemente para
o Autor e Consumador da sua fé, Jesus Cristo.
E, se perguntarmos: O que é necessário para entrar nessa carreira? O
texto lido responde: Temos que nos desembaraçar “de todo peso e do pecado que
tenazmente nos assedia”. É impossível viver a vida cristã carregando pesos e
pecados. Temos que ficar inteiramente livres deles, a fim de completar
vitoriosamente a carreira cristã. Mas, quais são esses pesos e pecados? Os
pesos são os hábitos desnecessários que ocupam o nosso tempo, que poderia ser
utilizado para o nosso crescimento espiritual. Embora esses pesos não sejam
pecados explícitos, eles podem tornar-se pecados quando provocam omissões em
nossos deveres espirituais. Temos que amar a Deus com a totalidade do nosso
ser, porém, quando deixamos os prazeres desta vida inibir a nossa devoção a
Deus, estamos pecando contra Ele. Esses são os pecados que tenazmente nos
assediam. A dificuldade para dar “a Deus o que é de Deus” (Mt. 22:21). A
prioridade que temos de dar a Deus é uma das disciplinas mais exigentes na vida
cristã. “Porque a carne milita contra o Espírito, e o Espírito contra a carne,
porque são opostos entre si, para que não façais o que, porventura, seja do
vosso querer” (Gl. 5:17). O cristão tem de lembrar, constantemente: “Não vos
enganeis, as más conversações corrompem os bons costumes” (1Co. 15:33). Temos
que ser cuidadosos com a fonte das nossas informações.
Com essa parte introdutória, reconhecemos a impossibilidade de entrar
na carreira, que é a vida cristã, carregando pesos e pecados. Esses
impedimentos têm que ser abandonados a fim de deixar-nos livres para “servirmos
a Deus de modo agradável, com reverência e santo temor” (Hb. 12:28). Vamos ao
texto da nossa leitura.
1. O Desafio do Cristão. “Corramos, com perseverança, a carreira que
nos está proposta”. Essa carreira é a vida cristã, em toda a sua abrangência. Começamos
a correr a partir do momento em que somos regenerados e cremos em Jesus Cristo
como nosso Senhor e Salvador; e terminamos somente na hora da nossa morte
física. Reconhecemos que a natureza dessa carreira é bem específica, porque o
seu percurso é estabelecido pelo próprio Deus. Portanto, a primeira
característica dessa vida é submissão à soberana vontade de Deus. A palavra
“submissão” é composta de duas partes: “sub”, isto é, sob ou debaixo de alguém;
e “missão”, ou seja, a prática da nossa vocação. O Ap. Pedro nos desafia: “Humilhai-vos,
portanto, sob a poderosa mão de Deus, para que Ele, em tempo oportuno, vos
exalte” (1Pe. 5:6). E, outra vez: “Servos, sede submissos, com todo o temor ao vosso
senhor, não somente se for bom e cordato, mas também ao perverso; porque isto é
grato, que alguém suporte tristezas, sofrendo injustamente por motivo de sua
consciência para com Deus” (1Pe. 2:18-19). Em outras palavras, vivemos a vida
cristã sob a direção do Espírito Santo. “Pois todos os que são guiados pelo
Espírito de Deus são filhos de Deus” (Rm. 8:14). Quando estamos sendo guiados,
entende-se que somos submissos ao nosso Guia. Devemos lembrar do título que
Deus nos deu: “Somos filhos da obediência” (1Pe. 1:14).
Essa carreira deve ser corrida com “paciência e perseverança”. A vida
cristã é sempre composta de circunstâncias agradáveis, bem como desagradáveis.
As negativas têm a tendência de tentar deixar-nos desanimados. Mas, é
justamente nessas circunstâncias que temos que usar "paciência e
perseverança”. Não podemos deixar as dificuldades impedirem a nossa corrida. É
importante lembrar que circunstâncias negativas nunca acontecem por acaso; tudo
está sob a poderosa direção do Deus que ama o seu povo redimido. Nesse contexto,
Cristo disse: “Não se vendem cinco
pardais por dois asses? Entretanto, nenhum deles está em esquecimento diante de
Deus. Até os cabelos da nossa cabeça estão todos contados. Não temais! Bem mais
valeis do que muitos pardais” (Lc.
12:6-7). Quando nós conseguimos acreditar que tudo o que acontece vem da direção e cuidado de
Deus, teremos forças para correr com
paciência em nossa vida, para o nosso bem espiritual, para que tenhamos o fruto
da justiça. “Por isso, restabelecei as mãos descaídas e os joelhos trôpegos; e
fazei caminhos retos para os pés, para que
não se extravie o que é manco; antes, seja curado” (Hb. 12:11-13). E a palavra
de exortação, que se aplica a cada um de nós: “Com efeito, tendes necessidade
de perseverança, para que, havendo feito
a vontade de Deus, alcanceis a promessa” (Hb. 10:36).
2. O Desafogo do Cristão. “Temos a rodear-nos tão grande nuvem de testemunhas”. O que nos
consola é que nós não somos os primeiros
a entrar nessa carreira, pois existe uma grande nuvem de testemunhas que
experimentaram as mesmas dificuldades que nós estamos enfrentando e, apesar
disso, completaram a carreira vitoriosamente, confessando: “Em todas estas
coisas, porém, somos mais que vencedores por meio daquele que nos amou”, o nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo, (Rm.
8:37). Mas, o maior exemplo para nós é o próprio Jesus! Por isso, o Apóstolo
disse: “Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim, andai nele, nele
radicados e edificados e confirmados na
fé, tal como fostes instruídos, crescendo em ações de graças” (Cl. 2:6). Ele é o precursor, que assumiu a mesma carreira
que nós recebemos, juntamente com todas as circunstâncias que caracterizam esse
caminho.
Quais são algumas das dificuldades que Cristo teve que suportar?
“Considerai, pois, atentamente, aquele que suportou tamanha oposição dos
pecadores contra si mesmo”. Isto é: medite, cuidadosamente, no que Cristo
experimentou, lembrando de quem Ele é; o próprio Filho de Deus, aquele que é
digno de receber a mesma honra que damos ao Pai, (Jo. 5:23). Contudo, “era
desprezado e o mais rejeitado entre os homens; homem de dores e que sabe o que
é padecer; e como um de quem os homens escondem o rosto, era desprezado, e dele
não fizemos caso” (Is. 53:3). É quase insuportável ser desprezado e rejeitado.
Cristo “veio para o que era seu, e os seus não o receberam” (Jo.1:11). Mas, por
que estamos falando dessa maneira? “Para que não vos fatigueis, desmaiando em
vossas almas”. O que Cristo suportou, como homem, semelhante a nós, foi muito
maior do que nós teremos que suportar. A comparação é sempre útil, a fim de nos
fortalecer em nossas tribulações.
Por que Jesus suportou tamanha contradição? Ele estava chegando ao
ápice de sua caminhada. “Jesus, o qual em troca da alegria que lhe estava
proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da ignomínia, e está assentado à
destra de Deus”. Como Cristo andou, andemos nós também. Ele é o nosso exemplo.
Nesse contexto, o Ap. Paulo escreveu: “Ora, se somos filhos, somos também
herdeiros, herdeiros de Deus, e co-herdeiros com Cristo; se com Ele sofremos,
também com Ele seremos glorificados” (Rm. 8:17). Há uma semelhança entre o que
Cristo experimentou e o que nós teremos que suportar na pista de corrida, que é
a vida cristã. Assim como Cristo foi glorificado, nós também seremos glorificados.
Mas, qual é a diferença entre os sofrimentos de Cristo e os nossos?
Ele estava sofrendo vicariamente por causa das nossas transgressões, dando
satisfação a Deus por causa das nossas iniquidades. O nosso sofrimento, por
outro lado, é parte do preço que pagamos
por sermos fiéis a Jesus Cristo. Ferir a justiça de Deus é um crime
seríssimo e não pode passar como se fosse nada. O preço dessa transgressão é
além de qualquer possibilidade humana. Somente o sofrimento e a morte de Cristo
poderiam expiar os nossos pecados e
apaziguar a ira de Deus. Graças a Deus por Cristo Jesus, porque, agora, “nele
temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da
sua graça” (Ef. 1:7).
3. O Desapego do Cristão. Agora, qual é o nosso dever? “Olhando
firmemente para o Autor e Consumador da fé, Jesus Cristo”. Mas não é tão fácil
manter os olhos fixos em nosso Salvador. A experiência de Pedro nos ensina do
perigo de desviar os olhos de Cristo. No momento em que ele tirou os olhos
daquele que o convidou, ele começou a “submergir”. Mas, por que ele tirou os
olhos de seu Mestre? Ele “reparou na força do vento, e teve medo” (Mt.
14:22-33). Com os olhos fixos em Jesus, não teve medo de sair do barco e andar
por sobre as águas. Mas, com os olhos desviados, teve medo e começou a se
perder. No caminho para o céu existem muitas distrações cujo objetivo principal
é desviar os nossos olhos de Cristo e colocar-nos no perigo de perdição. Quais
são algumas dessas seduções tão
cativantes?
Em vez de manter os olhos firmemente fixos em Jesus Cristo, há uma
tendência para olhar e cuidar dos nossos próprios interesses. Cristo falou da
“fascinação das riquezas”, a ambição de ganhar muito dinheiro; esquecendo que
“o amor ao dinheiro é raiz de muitos males; e alguns, nessa cobiça, se
desviaram da fé e a si mesmos se atormentaram com muitas dores” (1Tm. 6:10).
Por que Ananias e Safira mentiram sobre a quantia de seu dinheiro? A
“fascinação” cegou-lhes a consciência. O dinheiro que eles reservaram para si
era mais importante que a verdade, (At. 5:1-11). Por que o jovem retirou-se
triste da presença de Jesus? A “fascinação” das suas muitas propriedades
cegou-lhe quanto às prioridades. Cuidar dos bens deste mundo era mais
importante que vender tudo e seguir a Jesus. Os bens deste mundo, para ele,
eram mais palpáveis do que “um tesouro no céu” (Mc. 10:17-22). Temos que
desapegar-nos do amor ao dinheiro. Por que “um rico dificilmente entrará no
reino dos céus”? (Mt. 19:23). Porque “ninguém pode servir a dois senhores;
porque ou há de aborrecer-se de um e amar ao outro, ou se devotará a um e
desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt. 6:24). Deus
não pode aceitar um coração dividido. A ordem é esta: “Amarás, pois, o Senhor,
teu Deus, de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo
o teu entendimento e de toda a tua força” (Mc. 12:30). É impossível
olhar para Jesus Cristo e, ao mesmo tempo, contemplar, com amor, os bens deste
mundo. Não esqueça da confusão e tristeza do jovem rico.
Outro mal é olhar para o seu próximo com a intenção de julgá-lo
precipitadamente, “pois, com o critério com que julgardes, sereis julgados”
(Mt. 7:1-2). “O amor não pratica o mal contra o próximo; de sorte que o
cumprimento da lei é o amor” (Rm. 13:10). Não podemos olhar para Cristo com
aquela devoção sincera no coração e, ao mesmo tempo, olhar para o próximo com
más intenções. Cristo disse: “Novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos
outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros” (Jo.
13:34). O mandamento é novo no sentido de que, agora, temos um exemplo para
seguir. Amamos como Cristo nos amou. E, para amar, tanto a Deus como ao
próximo, temos que nos desapegar de todo e qualquer impedimento, para que estejamos livres para praticar a vontade
de Deus, olhando firmemente para Jesus, o Autor e Consumador da nossa fé. Com a
prática desse amor, teremos a certeza de que somos nascidos de novo, (1Jo. 4:7). Mencionamos dois males que
impedem a nossa vitória na vida cristã: a fascinação das riquezas e a tendência
de julgar o nosso próximo precipitadamente. Se não nos desapegarmos desses dois
males, será impossível correr “com
perseverança, a carreira que nos está proposta”.
Conclusão: Temos tentado descrever certos aspectos da vida
cristã, que é comparada a uma pista de corrida. Para chegar ao ponto final,
vitoriosamente, temos que correr com perseverança e paciência, sem deixar
outros interesses nos embaraçarem. O segredo é olhar firmemente para Jesus
Cristo.
Vimos, em primeiro lugar, o desafio que cada cristão tem que
aceitar. Temos que correr a vida cristã com perseverança e paciência. Sim,
existem obstáculos, mas, olhando firmemente para Jesus Cristo, venceremos.
Vimos, em segundo lugar, o desafogo
do cristão. O que nos consola é que não somos os únicos nessa corrida. Existe
uma grande nuvem de testemunhas que terminaram
a carreira vitoriosamente, olhando firmemente para Jesus Cristo. Sim,
Ele enfrentou tanto sofrimento por amor a nós e venceu gloriosamente. Nós, de forma semelhante,
venceremos, se mantermos os olhos fixos em Jesus Cristo. E, em terceiro lugar,
vimos o desapego do cristão. Ele não pode correr vitoriosamente quando
seus olhos estão desviados de Jesus Cristo. Temos que desapegar-nos da
fascinação das riquezas, porque, se não, teremos que enfrentar os perigos que
podem nos afastar da vida eterna. E, também, temos que nos desapegar de
qualquer tendência que possa prejudicar o nosso próximo. Temos que amá-lo, como
Cristo nos amou. Novamente, seremos vitoriosos na prática desses três
princípios na medida que mantermos os nossos olhos fixos em Jesus Cristo,
imitando o seu exemplo. A vida cristã é uma carreira, um estilo de vida que
engrandece o Nome do nosso Deus. Que o Espírito Santo nos fortaleça para esse
fim.
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