Rev. Ivan G. G. Ross
Leitura
Bíblica: Romanos 13:8-10
Introdução:
É fácil discernir a transição dos versículos 1 a 7 para 8 a 10. O V.7 fala
sobre a nossa dívida diante das autoridades civis, e o V. 8 fala sobre a nossa
dívida diante do nosso próximo. Se amamos a Deus, amaremos as suas instituições,
cumprindo os nossos deveres perante elas. E, semelhantemente, se amamos a Deus,
amaremos o nosso próximo, cumprindo os nossos deveres perante ele. A Bíblia
diz: “Ora, temos, da parte de Deus, este mandamento: que aquele que ama a Deus
ame também a seu irmão em Cristo” (1Jo. 4:21). É o amor ao irmão que define o
nosso amor a Deus. “Aquele que ama seu irmão permanece na luz, e nele não há
nenhum tropeço. Aquele, porém, que odeia a seu irmão está em trevas, e não sabe
por onde vai, porque as trevas lhe cegam os olhos” (1Jo. 2:10-11). Em Romanos
12:9-21, aprendemos como amar o nosso próximo; e em capítulo 13:8-10, somos
ensinados quais são as obrigações do amor.
1)
A Persistência do Amor, V8. Temos que persistir na prática do amor. O Ap.
Pedro perguntou: “Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, que eu
lhe perdoe? Até sete vezes?
Respondeu-lhe Jesus: Não te digo até sete vezes, mas até setenta vezes sete”
(Mt. 18:21-22). O texto está ensinando que, se amarmos uns aos outros, teremos
o poder para perdoar todas as ofensas contra nós, sem qualquer limitação. “O
amor é paciente e benigno; o amor não arde em ciúmes, não se ufana, não se
ensoberbece, não se conduz inconvenientemente, não procura os seus interesses,
não se exaspera, não se ressente do mal; não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade, tudo sofre, tudo
crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba” (1Co. 13:4-8). Essa é a natureza do amor que devemos ao
nosso próximo.
O
nosso texto diz: “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor com que
vos ameis uns aos outros; pois quem ama
o próximo tem cumprido a lei”. Esse versículo ensina pelo menos duas verdades,
uma negativa e uma positiva.
a) A
verdade negativa. “A ninguém fiqueis devendo coisa alguma, exceto o amor”. A
única dívida permitida é o amor que devemos a todos. Pagamos essa dívida amando
o nosso próximo com um amor persistente, que nunca desiste. As demais dívidas
são proibidas. Está implícita nessa palavra uma advertência quanto à nossa vida
financeira. Não devemos acumular dívidas perante as autoridades. A ordem é:
“Pagai a todos o que lhes é devido: a quem tributo, tributo; a quem imposto,
imposto”. Devemos perguntar: Por que
pessoas têm dívidas? Uma das razões é que há um desejo de possuir mais e mais,
por isso vivem além de suas entradas, e
isso é pecado. Outra coisa é a intensa
propaganda para comprar com pagamentos fáceis durante tantos meses; ou, tomar um empréstimo a fim de adquirir mais
rapidamente aquele sonho do coração. Tudo parece tão fácil! Mas, e o pagamento
das mensalidades? E se acontecer uma doença, exigindo despesas inesperadas? Tomar outro empréstimo? Temos
que saber como cuidar de nossas
finanças. É tão fácil perder o nosso testemunho cristão por causa de dívidas
não pagas na hora certa. Cuidar das nossas finanças é uma maneira importante
para glorificar o nome de nosso Deus. Temos que resistir as tentações do
consumo e do pecado da cobiça.
b) A
verdade positiva. Não tendo preocupações com dívidas, seremos livres para amar
o nosso próximo sem restrições, assim
como “ Cristo nos amou e se entregou a si
mesmo por nós” (Ef. 5:2). Dessa maneira, o amor é o cumprimento da lei.
2.
A Persuasão do amor, V9. Somos persuadidos pelo amor a obedecer aos mandamentos que Deus nos
deu no Decálogo. Jesus recebeu esta pergunta: “Mestre, qual é o grande
mandamento na lei? Respondeu-lhe Jesus: Amarás o Senhor, teu Deus, de todo o
teu coração, de toda a tua alma e de todo o teu entendimento. O segundo,
semelhante a este, é: Amarás o teu próximo como a ti mesmo. Destes dois
mandamentos dependem toda a lei e os profetas” (Mt. 22:36-40). Todas as leis
morais são resumidas magistralmente nessa resposta. O Apóstolo cita apenas quatro
dessas leis a fim de demonstrar a persuasão do amor. Em Mateus 5, Cristo
descreveu a abrangência da lei. Ela alcança não apenas o ato físico, mas, também, os desejos íntimos do
coração. “Eu, porém, vos digo: qualquer que olhar para uma mulher com intenção
impura, no coração, já adulterou com ela” (Mt. 5:28). Vamos examinar as quatro
leis citadas pelo Apóstolo.
a) “Não
adulterarás”. Cremos que Satanás foi “homicida desde o princípio e jamais se
firmou na verdade. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio,
porque é mentiroso e pai da mentira” (Jo. 8:44). Ele emprega a sua depravação
moral para incitar a humanidade, já prejudicada por uma natureza corrompida,
para praticar todo tipo de perversão sexual, sabendo que, desta maneira, ela
será destruída física e espiritualmente. Nesse contexto, o Apóstolo exorta “que
cada um de vós saiba possuir o próprio corpo (o membro sexual) em santificação
e honra” (1Ts. 4:3-6). O Breve Catecismo da nossa Igreja, por meio de perguntas
e respostas, nos dá uma exposição: “Que exige o sétimo mandamento? O sétimo
mandamento exige a preservação da nossa
própria castidade (pureza sexual), e da de nosso próximo, no coração, nas
palavras e nos costumes. Que proíbe o sétimo mandamento? O sétimo mandamento
proíbe todos os pensamentos, palavras e ações impuras”.
b) “Não
matarás”. Notemos que Cristo não fala nada do ato físico em sua exposição (Mt.
5:21-26), antes, Ele destaca o problema das atitudes erradas diante do próximo:
“Eu, porém, vos digo que todo aquele que (sem motivo) se irar contra o seu
irmão estará sujeito a julgamento; e quem proferir um insulto a seu irmão
estará sujeito a julgamento do tribunal; e quem lhe chamar: tolo (imprestável),
estará sujeito ao inferno de fogo” (Mt.5:22). Notemos como o perigo desse
pecado se intensifica: julgamento, julgamento do tribunal e inferno de fogo. É impossível
servir a Deus se tivermos qualquer desgosto em nosso coração contra o nosso
irmão, (Mt. 5:23-26). Para obedecer ao sexto mandamento, o Breve Catecismo
destaca a importância de “preservar a nossa própria vida e a de nossos
semelhantes”. E proíbe o atentado contra a nossa própria vida ou a do nosso
próximo. O Catecismo ainda acrescenta a proibição do uso “imoderado de comida,
bebidas, trabalho e recreios; as palavras provocadoras... e tudo o que tende à
destruição da vida de alguém”.
c) “Não
furtarás”. O Apóstolo escreveu: “Aquele que furtava não furte mais; antes,
trabalhe, fazendo com as próprias mãos o que é bom, para que tenha com que
acudir ao necessitado” (Ef. 4:28). E, em outro lugar, acrescenta: “Se alguém
não quer trabalhar, também não coma” (2Ts 3:10). O trabalho honesto impede a
prática de muitos pecados. “Mais vale o bom nome do que as muitas riquezas, e o
ser estimado é melhor do que a prata e o ouro” (Pv. 22:1).
d) “Não
cobiçarás”. Esse é o único mandamento que se refere diretamente à nossa vida
interior, às disposições do nosso coração; todos os demais se referem a atos
físicos: “Não matarás”. Novamente, deixamos o Breve Catecismo falar: “O décimo
mandamento proíbe todo descontentamento com a nossa própria condição, toda
inveja ou pesar à vista da prosperidade de nosso próximo”. A cobiça, ambição de
possuir o que é de outro, é a causa de tantos crimes arrepiantes. O Ap. Paulo
podia confessar: “Quanto à justiça que há na lei, irrepreensível” (Fp. 3:6).
Ele não era um homem culpado de pecados abertos, antes, era homem moralmente
correto. Contudo, quando o Espírito Santo começou agir em sua vida, ele
confessou: “Mas eu não teria conhecido o pecado, senão por intermédio da lei;
pois não teria eu conhecido a cobiça, se a lei não dissera: Não cobiçarás” (Rm.
7:7). O Espírito Santo usou o décimo mandamento para convencê-lo da corrupção
da sua vida anterior, das suas ambições carnais, em vez de buscar e praticar a
vontade de Deus. “Os cuidados do mundo e a fascinação das riquezas sufocam a
palavra e fica infrutífera” (Mt. 13:22). Há muitas pessoas em nossos dias que
têm uma vida moralmente aceitável, porém, serão condenadas por Deus por causa
da transgressão do décimo mandamento, por ambições mundanas. O Apóstolo termina
essa parte com uma frase retórica: “E, se há qualquer outro mandamento...”. Ele
não está questionando a existência de outros mandamentos; está dizendo que
esses quatros são suficientes para demonstrar as obrigações do amor, como
Cristo disse: “Se me amais, guardareis os meus mandamentos” (Jo. 14:15).
Obediência é o fruto primário do amor.
3.
A Permanência do Amor, V.10. “Todas as coisas deste mundo hão de passar,
porém, o amor jamais acaba” (1Co.13:8). Descrevendo a natureza do amor, o texto
afirma: “O amor não pratica o mal contra o próximo”. Voltando para os quatro
mandamentos citados, podemos explicar:
“Não adulterarás”. No casamento, o adultério é um mal contra o cônjuge; é uma falta
de fidelidade e amor. Adultério, no
sentido mais abrangente e bíblico, é o abuso do propósito original para o sexo;
é uma falta de amor a Deus, porque está zombando do que Ele determinou. Se
amamos a Deus, seremos constrangidos a não praticar tais desvios. A ordem é
esta: “Fugi da impureza (sexual). Qualquer
outro pecado que uma pessoa cometer é fora do corpo; mas aquele que
pratica a imoralidade (perversões sexuais) peca contra o próprio corpo” (1Co.
6:18). E convém lembrar: “Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo
que o homem semear, isso também ceifará” (Gl. 6:7). E, também: “Horrível coisa
é cair nas mãos do Deus vivo” (Hb. 10:31).
O
mesmo princípio vale para todos os mandamentos. O amor não faz mal ao próximo,
por isso, não matamos, não fazemos nenhuma coisa que possa injuriar o nosso
próximo, e nem o que possa prejudicar o seu nome. Respeitamos a sua vida, pois
ele também foi criado por Deus. O amor não faz mal ao próximo, por isso, não
tentamos roubá-lo. Respeitamos os seus bens, porque reconhecemos que eles
pertencem exclusivamente a ele. O amor não faz mal ao próximo, por isso, não
cobiçamos o que pertence a ele. O segredo é contentamento com aquilo que Deus
tem nos dado, sem ter olhos cobiçosos nos bens de outrem. “De fato, grande
fonte de lucro é a piedade com contentamento. Porque nada temos trazido para o
mundo, nem coisa alguma podemos levar dele.
Tendo sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1Tm. 6:6-8).
O descontentamento com o que Deus tem nos confiado pode levar o ambicioso a ser
condenado por causas da transgressão do décimo mandamento.
Se o
amor não pode fazer o mal contra o próximo, como podemos perdoá-lo se ele tem
nos prejudicado em alguma coisa séria? Se nós somos cristãos de verdade, o amor
virá em nosso auxílio, porque somos ensinados: “Acima de tudo, porém, tende
amor intenso uns para com os outros, porque o amor cobre multidão de pecados”
(1Pe. 4:8). Por que Deus consegue perdoar os nossos pecados? Porque eles são
cobertos pelas perfeições de seu Filho amado,
Jesus Cristo. “Ele é a propiciação (cobertor) pelos nossos pecados”
(1Jo. 2:2). O amor de Deus para conosco soube como cobrir o nosso pecado. Ele
nos deu o seu próprio Filho, para que nele tenhamos a redenção, pelo seu
sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça, (Ef. 1:7).
“Assim como o Senhor vos perdoou, assim também perdoai vós”(Cl. 3:13). Que
possamos deixar o amor alcançar o seu
pleno potencial em nossa vida e ações.
Conclusão:
O resumo dos nossos deveres espirituais é: “Amarás o teu próximo como a ti mesmo, o amor não
pratica o mal contra o próximo; de sorte
que o cumprimento da lei é o amor”. E, para nos encorajar: “Porque este é o amor de Deus: que guardemos os seus
mandamentos; ora, os seus mandamentos
não são penosos; porque o que é nascido
de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé” (1Jo.
5:3-4).